L`O S S E RVATOR E ROMANO
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y(7HB5G3*QLTKKS( +/!"!#!z![! Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’OSSERVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL EM PORTUGUÊS Unicuique suum Non praevalebunt Cidade do Vaticano Ano XLVIII, número 4 (2.449) quinta-feira 26 de janeiro de 2017 Francisco presidiu às vésperas para o encerramento da semana de oração pela unidade dos cristãos Aprender uns dos outros para uma reconciliação autêntica recordou que a «Palavra de Deus» nos encoraja a «tirar força da memória, a recordar o bem recebido do Senhor; mas pede-nos também que deixemos o passado para trás a fim de seguir Jesus no presente e, n’Ele, viver uma vida nova». Portanto, o Papa exorta-nos a consentir «Àquele que renova todas as coisas que nos oriente para um futuro novo, aberto à esperança que não desilude, um futuro onde seja possível superar as divisões». Em síntese, o Papa exortou os cristãos a não se basearem em «programas, cálculos e benefícios, a não se abandonar a oportunidades e modas passageiras» mas a aprenderem «uns dos outros, sem esperar que primeiro sejam os outros a aprender de nós». «Deixar de viver para nós mesmos, buscando os nossos interesses e a promoção da nossa imagem» para «reproduzir a imagem de Cristo, vivendo para Ele e de acordo com Ele, com o seu amor e no seu amor», foi a recomendação que o Santo Padre fez durante a celebração das Vésperas presididas na basílica de São Paulo Extramuros no final da tarde de quarta-feira, 25 de janeiro, festa da conversão de São Paulo, no encerramento da semana de oração pela unidade dos cristãos. «Olhar para trás é útil e muito necessário para purificar a memória», afirmou o Pontífice, mas «fixar-se no passado, delongando-se a lembrar as injustiças sofridas e cometidas e julgando com parâmetros apenas humanos, pode paralisar e impedir de viver o presente». Por conseguinte, o Papa PÁGINA 5 À Rota o Papa pediu mais atenção aos noivos e aos recém-casados Mensagem para o dia das comunicações sociais O amor precisa da verdade Ver com os óculos certos A «relação entre fé e matrimónio», e em particular «as perspetivas de fé inerentes ao contexto humano e cultural no qual se forma a intenção matrimonial», estiveram no centro do discurso dirigido pelo Papa Francisco a juízes, oficiais, advogados e colaboradores do Tribunal apostólico da Rota romana, recebidos na manhã de sábado, 21 de janeiro, por ocasião da inauguração do ano judiciário. Formação e acompanhamento são os dois termos em volta dos quais o Pontífice desenvolveu a sua reflexão, que partiu da premissa de que é «necessário como nunca aprofundar a relação entre amor e verdade, porque «o amor precisa da verda- de». A este propósito Francisco disse estar ciente de «que a mentalidade difundida tende a obscurecer o acesso às verdades eternas», envolvendo «as atitudes e os comportamentos dos próprios cristãos». E «este contexto, carente de valores religiosos e de fé, condiciona também o consenso matrimonial». Eis por que, sugeriu o Papa, «face a esta situação, é preciso encontrar remédios válidos». E indicou como um dos primeiros «a formação dos jovens, mediante um adequado caminho de preparação destinado a redescobrir o matrimónio e a família segundo o desígnio de Deus». PÁGINAS 8 E 9 As boas notícias não fazem notícia: num sistema informativo global onde parece que vigora este paradoxo singular, é preciso trabalhar ao serviço de «uma comunicação construtiva que, ao rejeitar os preconceitos em relação ao outro, favoreça uma cultura do encontro, graças à qual se possa aprender a olhar para a realidade com convicta confiança». Foi a recomendação do Papa Francisco na mensagem para o quinquagésimo primeiro dia mundial das comunicações sociais, que se celebra a 28 de maio próximo, solenidade da Ascensão do Senhor. Apresentado na terça-feira 24 de janeiro, na Sala de imprensa da Santa Sé, o texto papal é um decidido apelo a «romper o círculo vicioso da angústia e deter a espiral do medo, resultante do hábito de fixar a atenção nas “más notícias” (guerras, terrorismo, escândalos e todo o tipo de falência nas vicissitudes humanas). Não se trata, naturalmente — advertiu o Pontífice — de promover desinformação onde é ignorado o drama do sofrimento», nem de «cair num otimismo ingénuo que não se deixe tocar pelo escândalo do mal». «A todos queria convidar — escreveu — a oferecer aos homens e Invocada a conversão dos criminosos Contra todas as máfias Marc Chagall, «Amantes com flores» (1949) PÁGINA 13 David Datuna, «Pontos de vista» mulheres do nosso tempo relatos permeados pela lógica da “boa notícia”». Trata-se de um compromisso que deve ser enfrentado com a consciência de que «em si mesma, a realidade não tem um significado unívoco. Tudo depende do olhar com que a enxergamos, dos “óculos” que decidimos pôr para a ver: mudando as lentes, também a realidade parece diversa». Então, qual poderia ser o ponto de partida bom para ler a realidade com os «óculos» certos? Para o Pontífice «os óculos adequados para decifrar a realidade só podem ser os da boa notícia: partir da Boa Notícia por excelência, ou seja, o Evangelho de Jesus». PÁGINA 7 L’OSSERVATORE ROMANO página 2 quinta-feira 26 de janeiro de 2017, número 4 No Angelus o Pontífice convidou os cristãos a levar a palavra de Jesus a cada contexto humano Luz da periferia Oração pelas vítimas do terramoto e votos aos orientais para o ano novo lunar Dado que a luz de Cristo se difundiu da periferia — visto que a Galileia é geograficamente periférica — é necessário continuar a «levar a palavra a todas as periferias», reafirmou o Papa Francisco comentando o Evangelho do terceiro domingo do tempo comum, no Angelus de 22 de janeiro, recitado com os fiéis presentes na praça de São Pedro. Queridos irmãos e irmãs, bom dia! A hodierna página evangélica (cf. Mt 4, 12-23) narra o início da pregação de Jesus na Galileia. Ele deixa Nazaré, uma aldeia situada nos montes, e estabelece-se em Cafarnaum, importante centro nas margens do lago, habitado essencialmente por pagãos, ponto de cruzamento entre o Mediterrâneo e o interior da Mesopotâmia. Esta escolha indica que os destinatários da sua pregação não são apenas os seus conterrâneos, mas quantos desembarcam na cosmopolita «Galileia das gentes» (v. 15; cf. Is 8, 23): assim se chamava. Vista da capital Jerusalém, aquela terra é geograficamente periférica e religiosamente impura, porque estava cheia de pagãos, por causa da mistura com os que não pertenciam a Israel. Da Galileia não se esperavam certamente grandes coisas para a história da salvação. No entanto, precisamente dali — exatamente dali — se espalha aquela “luz” sobre a qual meditámos nos domingos passados: a luz de Cristo. Difundese precisamente da periferia. A mensagem de Jesus imita a do Batista, anunciando o «reino dos céus» (v. 17). Este reino não comporta a instauração de um novo poder político, mas o cumprimento da aliança entre Deus e o seu povo que inaugurará uma época de paz e de justiça. Para realizar este pacto de aliança com Deus, cada um está chamado a converter-se, transformando a sua maneira de pensar e de viver. Isto é importante: converter-se não significa só mudar o modo de viver, mas também a forma de pensar. É uma transformação do pensamento. Não se trata de mudar de roupa, mas de costumes. O que diferencia Jesus de João Batista é o estilo e o método. Jesus escolhe ser um profeta itinerante. Não fica à espera das pessoas, mas vai ao seu encontro. Jesus está sempre na rua! As suas primeiras saídas missionárias dão-se ao longo das margens do lago de Galileia, em contacto com a multidão, sobretudo com os pescadores. Ali Jesus não só proclama a vinda do reino de Deus, mas procura companheiros para a sua missão de salvação. Neste mesmo lugar encontra dois pares de irmãos: Simão e André, Tiago e João; chama-os dizendo: «Segui-me, e far-vos-ei pescadores de homens» (v. 19). A chamada alcança-os no auge das suas atividades diárias: o Senhor revela-se a nós não de forma extraordinária ou sensacional, mas na quotidianidade das nossas vidas. Ali devemos encontrar o Senhor; e ali Ele revela-se, faz sentir ao nosso coração o seu amor; e ali — com este diálogo com Ele no dia a dia da vida — muda o nosso coração. A resposta dos quatro pescadores é imediata e pronta: «No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram» (v. 20). Com efeito, sabemos que tinham sido discípulos do Batista e que, graças ao seu testemunho, já tinham Apresentação dos cordeirinhos Caros irmãos e irmãs! monsenhor Bartolacci. Participaram também duas religiosas da Sagrada Família de Nazaré, que segundo a tradição que remonta a 1884, se ocupam da preparação dos cordeirinhos na sua casa romana no bairro Esquilino. No final, sob a guia do decano de sala, os cordeirinhos foram entregues ao mosteiro. L’OSSERVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt GIOVANNI MARIA VIAN diretor Giuseppe Fiorentino vice-diretor Cidade do Vaticano [email protected] www.osservatoreromano.va iniciado a acreditar em Jesus como Messias (cf. Jo 1, 35-42). Nós, cristãos de hoje, temos a alegria de proclamar e testemunhar a nossa fé porque houve aquele primeiro anúncio, porque houve aqueles homens humildes e corajosos que responderam generosamente à chamada de Jesus. Nas margens do lago, numa terra inimaginável, nasceu a primeira comunidade dos discípulos de Cristo. A consciência destes primórdios suscite em nós o desejo de levar a palavra, o amor e a ternura de Jesus a todos os contextos, inclusive ao mais inacessível e relutante. Levar a Palavra a todas as periferias! Todos os espaços de vivência humana são terreno no qual lançar a semente do Evangelho, a fim de qu e traga frutos de salvação. A Virgem Maria nos ajude com a sua intercessão materna a responder com alegria à chamada de Jesus, a colocar-nos ao serviço do Reino de D eus. No final da prece mariana o Pontífice recordou a semana ecuménica, expressou proximidade para com as vítimas do terramoto e da tempestade na Itália central, e falou do ano novo lunar que se celebra no Extremo Oriente. Memória litúrgica de santa Inês Na manhã de sábado, 21 de janeiro, na capela Urbano VIII do Palácio apostólico, o Papa Francisco presidiu à cerimónia de apresentação dos cordeirinhos — benzidos na basílica de Santa Inês fora dos muros na via Nomentana — cuja lã será utilizada para confeccionar os pálios. O rito, realizado na memória litúrgica da virgem e mártir romana, foi dirigido por monsenhor Marini, mestre das celebrações litúrgicas pontifícias. Estavam presentes entre outros o arcebispo Gänswein, prefeito da Casa Pontifícia, com monsenhor Sanchirico; D. Pio Vito Pinto, decano do Tribunal da Rota Romana, com o pró-decano monsenhor Monier e Kim Ki-Chang, «Jesus chama os primeiros apóstolos» Redação via del Pellegrino, 00120 Cidade do Vaticano telefone +390669899420 fax +390669883675 Estamos na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Este ano ela tem como tema uma expressão, tirada de São Paulo [Pablo], que nos indica o caminho a seguir. E diz assim: «É o amor de Cristo que nos impele para a reconciliação» (cf. 2 Cor 5, 14). Na próxima quarta-feira concluiremos a Semana de Oração com a celebração das Vésperas na Basílica de São Paulo Extramuros, na qual participarão os irmãos e as irmãs das outras Igrejas e Comunidades cristãs presentes em Roma. Convido-vos a perseverar na oração, a fim de que se cumpra o desejo de Jesus: «Para que todos sejam um» (cf. Jo 17, 21). TIPO GRAFIA VATICANA EDITRICE L’OSSERVATORE ROMANO don Sergio Pellini S.D.B. diretor-geral Nos últimos dias, o terramoto e as fortes nevadas submeteram a uma dura prova muitos nossos irmãos e irmãs da Itália central, especialmente nos Abruzos, Marcas e Lácio. Estou próximo das famílias que tiveram vítimas entres os seus entes queridos com a oração e o afeto. Encorajo quantos estão comprometidos com grande generosidade nas obras de socorro e de assistência; assim como as Igrejas locais, que se prodigalizam para aliviar os sofrimentos e as dificuldades. Muito obrigado por esta proximidade, pelo vosso trabalho e pela ajuda concreta que lhes levais. Obrigado! E convido-vos a rezar juntos a Nossa Senhora pelas vítimas e também por aqueles que se comprometem nas obras de socorro com grande generosidade. [Oração da Ave-Maria] No Extremo Oriente e em várias partes do mundo, milhões de homens e mulheres preparam-se para celebrar do ano novo lunar no dia 28 de janeiro. A minha cordial saudação chegue a todas as suas famílias, com os bons votos a fim de que eles se tornem cada vez mais uma escola onde se aprende a respeitar o próximo, a comunicar e a cuidar uns dos outros de forma desinteressada. Possa a alegria do amor propagar-se no seio das famílias e delas irradiarse para toda a sociedade. Saúdo todos vós, fiéis de Roma e peregrinos de vários países, em particular o grupo de jovens de Panamá e os estudantes do Instituto “D iego Sánchez” de Talavera la Real (Espanha). Saúdo os sócios da União Católica de Professores, Dirigentes, Educadores e Formadores, que terminou o 25º Congresso nacional, e desejolhes um frutuoso trabalho educativo, em colaboração com as famílias. Sempre em colaboração com as famílias! A todos desejo um bom domingo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista! Assinaturas: Itália - Vaticano: € 58.00; Europa: € 100.00 - U.S. $ 148.00; América Latina, África, Ásia: € 110.00 - U.S. $ 160.00; América do Norte, Oceânia: 162.00 - U.S. $ 240.00. Administração: telefone +390669899480; fax +390669885164; e-mail: [email protected] Serviço fotográfico Para o Brasil: Impressão, Distribuição e Administração: Editora santuário, televendas: 0800160004, fax: 00551231042036, e-mail: [email protected] telefone +390669884797 fax +390669884998 [email protected] Publicidade Il Sole 24 Ore S.p.A, System Comunicazione Pubblicitaria, Via Monte Rosa, 91, 20149 Milano, [email protected] número 4, quinta-feira 26 de janeiro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO «Se o sal perder o seu sabor não serve para mais nada. Ai de uma Igreja que perder o sabor! Ai de um sacerdote, de um consagrado, de uma congregação que perder o sabor»: eis quanto recomendou o Pontífice aos padres pregadores, celebrando na tarde de sábado, 21 de janeiro, na basílica papal de São João de Latrão, a missa de encerramento do jubileu pelos oitocentos anos da confirmação da ordem dominicana. A palavra de Deus hoje apresentanos dois cenários humanos opostos: por um lado, o “carnaval” da curiosidade mundana, por outro, a glorificação do Pai mediante as boas obras. E a nossa vida move-se sempre entre estes dois cenários. Com efeito, eles pertencem a todas as épocas, como demonstram as palavras de São Paulo a Timóteo (cf. 2 Tm 4, 1-5). E também São Domingos juntamente com os seus primeiros irmãos, há oitocentos anos, movimentava-se entre estes dois cenários. Com os dominicanos o Papa concluiu as celebrações jubilares Sabor do Evangelho Paulo advertiu Timóteo que deveria anunciar o Evangelho no meio de um contexto onde as pessoas procuram sempre novos “mestres”, “fábulas”, doutrinas diversas, ideologias... «Prurientes auribus» (2 Tm 4, 3). É o “carnaval” da curiosidade mundana, da sedução. Por esta razão, o Apóstolo instruiu o seu discípulo usando também alguns verbos fortes: «insiste», «admoesta», «repreende», «exorta» e depois «vigia», «suporta os sofrimentos» (vv. 2.5). Estudo, pregação e inquisição PAOLO VIAN Dado que ambos nasceram do despertar evangélico do século XII, explicado por Marie-Dominique Chenu naquela obra-prima esquecida que é A teologia no século XII (1957), dominicanos e franciscanos têm algumas caraterísticas em comum, não obstante a diversidade substancial das respetivas experiências. Sem dúvida, foram os grandes aliados, os providenciais instrumentos do papado da baixa idade média, na luta contra a heresia e no renovado impulso missionário interno e externo. Mas Domingos é um cónego, formado no contexto de uma cultura clerical à qual o leigo Francisco, no início, é absolutamente alheio. Disto derivam diferenças importantes, na própria estrutura das tipologias de vida religiosa. Entre as muitas, os seguidores de Domingos estabelecem com a pobreza e com os estudos uma relação que não parece contrastada nem difícil como a dos franciscanos, atravessados e até dilacerados por desacordos internos entre os diferentes espíritos do movimento que os primeiros não conhecem, pelo menos não na medida triste e desoladora dos segundos. Mas nas suas múltiplas diversidades, no imaginário coletivo, dominicanos e franciscanos compartilham um destino análogo: são considerados substancialmente religiosos «medievais», como se a riqueza da sua história se esgotasse na fase inicial do seu caminho. O mérito de dois volumes, publicados em concomitância com o oitavo centenário (1216-2016) da confirmação da Ordem dos Pregadores por parte de Honório III, é de nos ajudar a considerar a história da Ordem no período completo, multiforme e surpreendente do seu de- senvolvimento. As fórmulas são diferentes. Massimo Carlo Giannini, historiador da era moderna, oferece em oito capítulos um perfil denso, linear e unitário da história da Ordem (Massimo Carlo Giannini, I Domenicani, Bolonha, Il Mulino, 2016 — Universale Paperbacks, 711 — 236 páginas). Ao contrário, Gianni Festa e Marco Rainini, historiadores dominicanos jovens e brilhan- «O Papa Honório III aprova a ordem» (Anónimo do século XVI) tes (o primeiro, conhecido tanto pelas pesquisas sobre Pietro da Verona e Giovanni Dominici, como pela compilação de um bonito volume sobre a «santa dos Gonzaga», a cidadã de Mântua Osanna Andreasi; e o segundo, especialista em Gioacchino da Fiore e no seu ambiente, de Liber figurarum a Raniero da Ponza), promoveram e prepararam um volume com muitas vozes (L’Ordine dei Predicatori. I Domenicani: storia, figure e istituzioni [12162016], por G. Festa e M. Rainini, Bari, Laterza, 2016 — Quadrante — 210, XI + 490 páginas). Trata-se de 19 contributos subdivididos em três partes (História; Figuras; Instituições, Escritos, Pensamento), que voltam a percorrer as vicissitudes e proezas da Ordem. Assim são eficazmente revisitados não apenas personagens conhecidos, quase inevitáveis «topoi» sobrecarregados de perigos de banalização e de repetição que sempre ameaçam os lugares-comuns (Domingos e Tomás de Aquino, os místicos do Reno e Catarina de Sena, Jerónimo Savonarola e Bartolomeu de Las Casas), ma são apresentadas também figuras que a maioria desconhece (Bartolomeu dos Mártires, «um bispo santo no Concílio de Trento») e outras quase nossas contemporâneas (Marie-Jean-Joseph Lataste, o biblista Giuseppe Girotti, o bispo de Orano Pierre Claverie, nos vários cenários das prisões femininas do segundo Império francês, no campo de concentração nazista de Dachau e na Argélia ensanguentada pelo fundamentalismo islâmico). Depois, a presença dominicana é considerada nos âmbitos da pregação e do estudo, da vida religiosa feminina e da inquisição, da mística e da literatura italiana, até à contribuição mais propriamente histórica e teológica, da Paris do século XIII à escola de Salamanca, do neotomismo dos finais do século XIX à École biblique do padre Lagrange, do trabalho filológico da Comissão leonina para a edição crítica dos escritos de Tomás à vivacidade inovadora da escola de Le Saulchoir, até à «nouvelle théoloCONTINUA NA PÁGINA 4 página 3 É interessante ver como já então, há dois milénios, os apóstolos do Evangelho se encontravam diante deste cenário, que nos nossos dias se desenvolveu muito e se globalizou por causa da sedução do relativismo subjetivista. A tendência à busca de novidades típicas do ser humano encontra o ambiente ideal na sociedade da aparência, no consumo, na qual muitas vezes se reciclam coisas velhas, mas o importante é fazer com que pareçam como novas, atraentes, cativantes. Inclusive a verdade é camuflada. Movemo-nos na chamada “sociedade líquida”, sem pontos fixos, minada, desprovida de referências firmes e estáveis; na cultura do efémero, do descartável. Diante deste “carnaval” mundano destaca-se nitidamente o cenário oposto, que encontramos nas palavras de Jesus que acabamos de ouvir: «que eles glorifiquem o vosso Pai que está nos céus» (Mt 5, 16). E como ocorre esta passagem da superficialidade pseudofestiva para a glorificação, que é festa verdadeira? Ocorre graças às boas obras daqueles que, tornando-se discípulos de Jesus, se tornaram “sal” e “luz”. «Assim brilhe a vossa luz diante dos homens — diz Jesus — para que eles vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus» (Mt 5, 16). No meio do “carnaval” de ontem e de hoje, esta é a resposta de Jesus e da Igreja, este é o apoio sólido no meio do ambiente “líquido”: as boas obras que podemos realizar graças a Cristo e ao seu Espírito Santo, e que fazem nascer no coração a ação de graças a Deus Pai, o louvor, ou pelo menos a admiração e a pergunta: “porquê?”, «por que aquela pessoa se comporta dessa maneira?»: ou seja, a inquietude do mundo diante do testemunho do Evangelho. Mas para que ocorra este «sobressalto» é preciso que o sal não perca o sabor e a luz não se esconda (cf. Mt 5, 13-15). Jesus diz muito claramente: se o sal perder o seu sabor não serve para mais nada. Ai do sal que perder o seu sabor! Ai de uma Igreja que perder o sabor! Ai de um padre, de um consagrado, de uma congregação que perder o sabor! Hoje damos glória ao Pai pela obra que São Domingos, cheio da luz e do sal de Cristo, realizou há oitocentos anos; uma obra ao serviço do Evangelho, pregado com a palavra e com a vida; uma obra que, com a graça do Espírito Santo, fez com que muitos homens e mulheres fossem ajudados a não se perder no meio do “carnaval” da curiosidade mundana, mas, ao contrário sentissem o sabor da sã doutrina, o sabor do Evangelho, e se tornassem, por sua vez, luz e sal, artesãos de boas obras... e verdadeiros irmãos e irmãs que glorificam a Deus e ensinam a glorificar a Deus com as boas obras da vida. L’OSSERVATORE ROMANO página 4 quinta-feira 26 de janeiro de 2017, número 4 Pessoas reunidas para homenagear as vítimas do massacre do Bataclan Uma resposta à fragilidade psíquica do Ocidente face à violência Ter esperança no meio do tumulto ex-Jugoslávia entre 1992 e 1995, há sete décadas que a Europa não coom o retorno do terrorismo e nhece a guerra no próprio território. De repente, com a Ucrânia, a Sídos conflitos, os «discursos sobre a guerra» multiplicam- ria, o Iraque e o jihadismo homicida se, até produzir uma desencorajado- no meio de nós, várias tragédias ra cacofonia. Não desejamos acres- complexas põem-nos de novo com centar uma análise a este excesso de os pés no chão. A violência, sobretu«recomendações». Portanto, limita- do bélica, torna-se brutalmente o mo-nos a recordar dois elementos que é: um componente «natural» que, se refletirmos bem, nos dão um das nossas sociedades, ao qual o fimotivo para esperar. Inclusive no lósofo cristão René Girard dedicou a meio de semelhantes aversões. Escre- sua obra inteira. Digamos claramente, acostumados com a paz aqui, vo-o sem o mínimo moralismo. acabámos por pensar que fosse a condição natural de uma sociedade. Girard recorda-nos que, ao Há muito tempo desaprendemos contrário, efetivamente a condição «natural» do a pensar no modo de enfrentar mundo é a violência, e a guerra. Tudo isto permitiu que portanto deve ser contida, combatida (tamque viesse à tona a incrível bém dentro de nós), evivulnerabilidade das nossas sociedades tada, «vigiada». Este retorno da guerra na Europa surpreendeu os governantes do velho Antes de tudo, constatamos que continente, os quais hesitaram nas há setenta anos, nós europeus nos tí- suas primeiras reações, às vezes denhamos habituado a considerar a sordenadas. Em vez de dar garantias paz como a condição natural de aos cidadãos, por vezes — involuntauma sociedade. De facto, se excluir- riamente — contribuíram para os asmos as — já distantes — guerras colo- sustar ainda mais como fez a grande niais dos anos cinquenta e sessenta e imprensa. Há muito tempo «desaas trágicas mas breves atrocidades na prendemos» a pensar no modo de enfrentar a guerra. Tudo isto permitiu que viesse à tona a incrível vulnerabilidade das nossas sociedades. Ainda devemos entender por que esta fragilidade, sobretudo psíquica, se tenha agravado tanto assim. Na França, só para dar um exemplo, os crimes horríveis do Bataclan (13 de novembro de 2015) e de Nice (14 de JEAN-CLAUDE GUILLEBAUD C Riqueza da história dominicana julho de 2016) foram suficientes para fazer vacilar o Estado por um momento. E no entanto, no passado, violências dez ou cem vezes maiores foram vividas com dor imensa mas com mais sangue-frio. Penso nos bombardeios sobre Londres em 1941 por parte da Luftwaffe nazista que cada noite ceifavam algumas centenas de vidas. E que nunca sobrepujou os ingleses. Uma constatação análoga pode ser feita comparando os balanços de duas guerras muito longas: a do Vietname que durou dez anos (1965-1975) e a do Iraque, onze anos (2003-2014). Entretanto, a comoção, a dor, o luto, a cólera suscitada nos Estados Unidos pelo número de vítimas — civis e militares — de um lado e de outro foi de uma intensidade análoga. Mesmo se o custo da guerra do Vietname foi doze vezes mais elevado do que a do Iraque, trinta anos depois. Isto significa que no Ocidente a sensibilidade coletiva à violência bélica cresceu consideravelmente. Agora comove-nos e indigna-nos muito mais que no passado próximo. Embora às vezes haja interrupções, aliás alguns breves retrocessos, o sentido desta evolução é claro: tornam-nos alérgicos à violência. Incluída a vio- lência diária, urbana, quotidiana. Ainda que a longo prazo está a diminuir — como observam os historiadores — mas temos a sensação de que esteja a aumentar. É a nossa «perceção», não a realidade, que muda. Por quê? Fiel a René Girard (falecido a 5 de novembro de 2015), sugiro uma explicação. Aliás retomo a terminologia deste grande filósofo: é a ação constante, permanente, impercetível do «fermento evangélico» que pouco a pouco nos salva da violência desenfreada, quer ela seja vindicadora ou simplesmente bárbara. Esta «boa nova» torna-se ainda mais preciosa se pensarmos que, em toda a parte, Deus é instrumentalizado pelos violentos ou recrutado à força para bárbaros massacres. CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 3 gie», de Marie-Dominique Chenu e Yves Congar. Sem dúvida, tem razão Giannini quando realça a necessidade de ir além dos estereótipos, como a interpretação sombria do inquisidor Bernardo Gui da versão cinematográfica de O nome da rosa (1986), de Jean-Jacques Annaud. Ao longo do tempo, a instituição muda, adapta-se, adquire novas formas e estratégias. Mas como frisa o mestre-geral da Ordem, Bruno Cadoré, na apresentação do volume publicado pela editora Laterza, o multiforme serviço dominicano é prestado retrospetivamente, em profunda continuidade e em constante fidelidade às instituições originárias, reformuladas em diferentes épocas e circunstâncias: anunciar Cristo, servir a Igreja e a Sé Apostólica, defendendo sempre o povo cristão, os pobres e os deserdados contra os incontáveis lobos que os ameaçam. Reunida a 18 de janeiro Comunicado conjunto da comissão bilateral permanente de trabalho entre a Santa Sé e o Estado de Israel A Comissão Bilateral Permanente de Trabalho entre a Santa Sé e o Estado de Israel reuniu-se a 18 de janeiro em sessão plenária, em Jerusalém, para dar continuidade às negociações com base no Artigo 10 § 2 do Fundamental Agreement entre a Santa Sé e o Estado de Israel de 1993. O encontro foi presidido pelo Senhor Tzachi Hanegbi, Ministro da Cooperação Regional do Estado de Israel, e por Monsenhor Antoine Camilleri, Subsecretário para as Relações com os Estados. A Sessão Plenária reconheceu os progressos obtidos pela Comissão de trabalho relativos às negociações com base no Artigo 10 § 2, apreciando o facto de terem sido realizadas numa atmosfera reflexiva e construtiva. Além disso, a Plenária reconheceu o trabalho realizado pelo Ministério da Justiça em relação à aplicação do Acordo Bilateral de 1997 sobre a Personalidade Jurídica. As Partes concordaram os passos futuros, na perspetiva da próxima Plenária prevista para março de 2017 na Cidade do Vaticano. Depois da reunião da Comissão Bilateral Permanente de Trabalho, a Santa Sé e o Estado de Israel realizaram uma sessão de consultas bilaterais no Ministério dos Negócios Estrangeiros. As Delegações trataram temas de interesse comum e analisaram novas oportunidades de cooperação. número 4, quinta-feira 26 de janeiro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 5 O Santo Padre presidiu ao encerramento da semana de oração pela unidade dos cristãos Aprender uns dos outros para uma reconciliação autêntica Orientemo-nos «para um futuro novo, aberto à esperança que não desilude, onde será possível superar as divisões», afirmou o Sumo Pontífice na homilia pronunciada durante as vésperas de encerramento da Semana de oração pela unidade dos cristãos. A celebração teve lugar no final da tarde de quartafeira 25 de janeiro, na basílica de São Paulo Extramuros. O encontro com Jesus na estrada para Damasco transforma radicalmente a vida de Paulo. A partir de então, para ele, o sentido da existência já não está em confiar nas próprias forças para observar escrupulosamente a Lei, mas em aderir com todo o seu ser ao amor gratuito e imerecido de Deus, a Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. Conhece, assim, a irrupção duma vida nova, a vida segundo o Espírito, na qual, pelo poder do Senhor ressuscitado, experimenta perdão, confidência e conforto. E Paulo não pode guardar para si mesmo esta novidade: é impelido pela graça a proclamar a feliz notícia do amor e da reconciliação que Deus oferece plenamente em Cristo à humanidade. Para o Apóstolo dos Gentios, a reconciliação do homem com Deus, da qual foi feito embaixador (cf. 2 Cor 5, 20), é um dom que vem de Cristo. Vê-se isto claramente no texto da II Carta aos Coríntios, onde se foi buscar, este ano, o tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos: «O amor de Cristo impelenos para a reconciliação» (cf. 2 Cor 5, 14-20). «O amor de Cristo»: não se trata do nosso amor por Cristo, mas do amor que Cristo tem por nós. Da mesma forma, a reconciliação para a qual somos impelidos não é simplesmente iniciativa nossa: é primariamente a reconciliação que Deus nos oferece em Cristo. Antes de ser esforço humano de crentes que procuram superar as suas divisões, é um dom gratuito de Deus. Como resultado deste dom, a pessoa perdoada e amada é chamada, por sua vez, a proclamar o evangelho da reconciliação em palavras e obras, a viver e dar testemunho duma existência reconciliada. Nesta perspetiva, podemos hoje perguntar-nos: Como é possível proclamar este evangelho de reconciliação depois de séculos de divisões? O próprio Paulo nos ajuda a encontrar o caminho. Ele sublinha que a reconciliação em Cristo não se pode realizar sem sacrifício. Jesus deu a sua vida, morrendo por todos. De modo semelhante os embaixadores de reconciliação, em seu nome, são chamados a dar a vida, a não viver mais para si mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por eles (cf. 2 Cor 5, 14-15). Como ensina Jesus, só quando perdemos a vida por amor d’Ele é que verdadeiramente a temos ganha (cf. Lc 9, 24). É a revolução que Paulo viveu, mas é também a revolução cristã de sempre: deixar de viver para nós mesmos, buscando os nossos interesses e pro- moção da nossa imagem, mas reproduzir a imagem de Cristo, vivendo para Ele e de acordo com Ele, com o seu amor e no seu amor. Para a Igreja, para cada Confissão Cristã, é um convite a não se basear em programas, cálculos e benefícios, a não se abandonar a oportunidades e modas passageiras, mas a procurar o caminho com o olhar sempre fixo na cruz do Senhor: lá está o nosso programa de vida. É um convite também a sair de todo o isolamento, a superar a tentação da autorreferência, que impede de individuar aquilo que o Espírito Santo realiza fora do nosso próprio espaço. Poderá realizar-se uma autêntica reconciliação entre os cristãos, quando soubermos reconhecer os dons uns dos outros e formos capazes, com humildade e docilidade, de aprender uns dos outros — aprender uns dos outros —, sem esperar que primeiro sejam os outros a aprender de nós. Se vivermos este morrer para nós mesmos por amor de Jesus, o nosso estilo velho de vida é relegado para o passado e, como aconteceu a São Paulo, entramos numa nova forma de existência e comunhão. Com Paulo, poderemos dizer: «O que era antigo passou» (2 Cor 5, 17). Olhar para trás é útil e muito necessário para purificar a memória, mas fixarse no passado, delongando-se a lembrar as injustiças sofridas e cometidas e julgando com parâmetros apenas humanos, pode paralisar e impedir de viver o presente. A Palavra de A guarda suíça pontifícia celebra aniversário de fundação Vontade e paciência A Guarda suíça pontifícia comemorou os 511 anos da sua fundação. Para a ocasião, o franciscano conventual Rocco Rizzo, reitor do Colégio dos penitencieiros do Vaticano, presidiu à concelebração eucarística, na tarde de domingo, 22 de janeiro, na igreja de Santa Maria da Piedade no Campo Santo Teutónico. Os penitencieiros foram convidados pelo comandante, Christoph Graf, em sinal de gratidão pelo grande esforço demonstrado durante o jubileu extraordinário da misericórdia. No final da missa, o vice-comandante Philippe Morard, leu o discurso preparado pelo comandante, no qual reafirmou a importância da disciplina, indicando em particular na «vontade» e na «paciência» os requisitos essenciais para a vida comunitária e espiritual das guardas. Deus encoraja-nos a tirar força da memória, a recordar o bem recebido do Senhor; mas pede-nos também que deixemos o passado para trás a fim de seguir Jesus no presente e, n’Ele, viver uma vida nova. Àquele que renova todas as coisas (cf. Ap 21, 5), consintamos-Lhe que nos oriente para um futuro novo, aberto à esperança que não desilude, um futuro onde será possível superar as divisões e os crentes, renovados no amor, encontrar-se-ão plena e visivelmente unidos. Enquanto avançamos pelo caminho da unidade, recordamos este ano de modo particular o quinto centenário da Reforma Protestante. O facto de católicos e luteranos poderem hoje recordar, juntos, um evento que dividiu os cristãos e de o fazerem com a esperança posta sobretudo em Jesus e na sua obra de reconciliação, constitui um marco significativo, alcançado – graças a Deus e à oração – através de cinquenta anos de mútuo conhecimento e de diálogo ecuménico. Implorando de Deus o dom da reconciliação com Ele e entre nós, dirijo as minhas cordiais e fraternas saudações a Sua Eminência o Metropolita Gennadios, representante do Patriarcado Ecuménico, a Sua Graça David Moxon, representante pessoal em Roma do Arcebispo de Cantuária, e a todos os representantes das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais aqui reunidos. Saúdo com particular alegria os membros da Comissão Mista para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais, a quem desejo um fecundo trabalho na Sessão Plenária que se desenrola nestes dias. Saúdo também os alunos do Instituto Ecuménico de Bossey — vios esta manhã muito contentes —, que visitam Roma para aprofundar o seu conhecimento da Igreja Católica, e os jovens ortodoxos e todos os ortodoxos orientais que estudam em Roma, graças às bolsas de estudo do Comité de Colaboração Cultural com as Igrejas Ortodoxas, sediado no Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Aos Superiores e a todos os Colaboradores deste Dicastério, exprimo a minha estima e gratidão. Amados irmãos e irmãs, a nossa oração pela unidade dos cristãos é participação na oração que Jesus dirigiu ao Pai, antes da Paixão, «para que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Nunca nos cansemos de pedir a Deus este dom. Na expectativa paciente e confiada de que o Pai conceda a todos os crentes o bem da plena comunhão visível, prossigamos o nosso caminho de reconciliação e diálogo, encorajados pelo testemunho heroico de tantos irmãos e irmãs, de ontem e de hoje, unidos no sofrimento pelo nome de Jesus. Aproveitemos todas as oportunidades que a Providência nos oferece para rezar juntos, anunciar juntos, amar e servir juntos sobretudo quem é mais pobre e negligenciado. L’OSSERVATORE ROMANO página 6 quinta-feira 26 de janeiro de 2017, número 4 O Papa a uma delegação ecuménica finlandesa Com a simplicidade das crianças de Oração pela Unidade dos Cristãos, que nos chama à aproximação a partir da conversão. Com efeito, o verdadeiro ecumenismo baseia-se na conversão comum a Jesus Cristo como nosso Senhor e Redentor. Se nos aproximarmos juntos d’Ele, aproximar-nos-emos também uns dos outros. Nestes dias invoquemos mais intensamente o Espírito Santo para que suscite em Invocamos a unidade dos cristãos nós esta converporque invocamos Cristo são, que torna possível a reconciQueremos viver a unidade liação. porque queremos seguir Cristo Por esta via, cae viver o seu amor tólicos e luteranos de vários países, (@Pontifex_pt) juntamente com diversas comunidades que partilham o caminho Queridos irmãos e irmãs! ecuménico, percorremos uma etapa significativa, quando, a 31 de outuSaúdo com alegria todos vós que, bro passado, nos reunimos em nesta Delegação ecuménica, viestes Lund, na Suécia, para comemorar o em peregrinação da Finlândia a Ro- início da Reforma com uma oração ma por ocasião da Festa de Santo comum. Esta comemoração conjunta Henrique. Agradeço ao Bispo lutera- da Reforma teve um significado imno de Turku as suas gentis palavras portante a nível humano e teológico— em espanhol! Há mais de trinta espiritual. Depois de cinquenta anos anos é um bonito hábito que a vossa de diálogo ecuménico oficial entre peregrinação coincida com a Semana católicos e luteranos, conseguimos «Precisamos da simplicidade das crianças, elas ensinam-nos o caminho que leva a Jesus». Disse o Papa Francisco no discurso dirigido à delegação ecuménica vinda da Finlândia por ocasião da festa de Santo Henrique, recebida na manhã de quinta-feira, 19 de janeiro. expor claramente as perspetivas sobre as quais hoje podemos dizer que estamos de acordo. Por isto estamos gratos. Ao mesmo tempo mantemos vivo no coração o arrependimento sincero pelas nossas culpas. Neste espírito, em Lund foi recordado que a intenção de Martinho Lutero, há quinhentos anos, era renovar a Igreja, não dividi-la. Aquele encontro deu-nos a coragem e a força de olhar em frente, em nosso Senhor Jesus Cristo, para o caminho ecuménico que estamos chamados a percorrer juntos. Ao preparar a comemoração conjunta da Reforma, católicos e luteranos tomaram maior consciência também do facto de que o diálogo teológico permanece essencial para a reconciliação e deve ser levado em frente com dedicação constante. Assim, naquela comunhão concorde que permite que o Espírito Santo aja, poderemos chegar a ulteriores convergências acerca dos conteúdos da doutrina e do ensinamento moral da Igreja e poderemos aproximarnos cada vez mais da unidade plena e visível. Rezo ao Senhor para que acompanhe com a sua bênção a Comissão de diálogo luterano-católica da Finlândia, que está a trabalhar com dedicação numa interpretação sacramental conjunta da Igreja, da Eucaristia e do ministério eclesial. Por conseguinte, o ano de 2017, comemorativo da Reforma, representa para católicos e luteranos uma ocasião privilegiada para viver a fé de maneira mais autêntica, redescobrir juntos o Evangelho, procurar e testemunhar Cristo com renovado impulso. Na conclusão do dia comemorativo de Lund, olhando para o futuro, o nosso comum testemunho de fé diante do mundo infundiu-nos coragem, quando juntos nos comprometemos a apoiar quantos sofrem, os que se encontram em necessidade, aqueles que estão expostos a perseguições e violências. Ao fazer isto, como cristãos já não estamos divididos, mas unidos no caminho rumo à plena comunhão. Além disso, apraz-me recordar que os cristãos finlandeses festejam este ano o centenário do Conselho Ecuménico Finlandês, que é um instrumento importante para promover a comunhão de fé e vida entre vós. Por fim, em 2017 a vossa Pátria, a Finlândia, completa cem anos como Estado independente. Que este aniversário encoraje todos os cristãos do vosso país a professar a fé no Senhor Jesus Cristo — como fez com grande zelo Santo Henrique — testemunhando-a hoje diante do mundo e traduzindo-a também em gestos concretos de serviço, de fraternidade e de partilha. Ao desejar que esta vossa peregrinação contribua para fortalecer ulteriormente a boa colaboração entre ortodoxos, luteranos e católicos na Finlândia e no mundo, e que o comum testemunho de fé, esperança e caridade, com a intercessão de Santo Henrique, dê frutos abundantes, invoco de coração a graça e a bênção de Deus sobre todos vós. E, amado irmão Bispo, desejo agradecer-lhe o bom gosto de ter trazido os netinhos: precisamos da simplicidade das crianças, elas ensinar-nos-ão o caminho que leva a Jesus Cristo. Obrigado, muito obrigado! Discurso aos organizadores da exposição sobre a história dos jubileus realizada no senado italiano A misericórdia é o âmago de cada ano santo «Há um elemento essencial, o coração de cada Ano Santo, que nunca se deve perder de vista: no Jubileu encontram-se a bondade de Deus e a fragilidade do homem»: disse o Papa na audiência aos organizadores da exposição «Antiquorum habet» sobre a história dos jubileus, realizada no senado da República italiana de março a junho de 2016. O Pontífice recebeu-os no final da manhã de quintafeira, 19 de janeiro na Sala do Consistório. Estimadas Senhoras e Senhores! Obrigado por terdes vindo. Saúdo-vos cordialmente, começando pelo Senhor Presidente do Senado, Deputado Pietro Grasso, ao qual agradeço as suas gentis palavras. Este encontro oferece-me a oportunidade de vos expressar o meu profundo agradecimento pela Exposição relativa à história dos Jubileus, realizada no Senado da República no ano passado. Ela documentou numerosos aspetos dos Anos Santos, a partir do primeiro, proclamado pelo Papa Bonifácio VIII com a Bula Antiquorum habet. A partir de 1300, cada Jubileu marcou a história de Roma: arquitetura, acolhimento dos peregrinos, arte e atividades assistenciais e caritativas. Mas há um elemento essencial, o coração de cada Ano Santo, que nunca se deve perder de vista: no Jubileu encontram-se a bondade de Deus e a fragilidade do homem, que tem sempre necessidade do amor e do perdão do Pai. Com efeito, é próprio de Deus ser misericordioso, e sobretudo nisto se manifesta a sua omnipotência. O Senhor [dirige-se ao Presidente Grasso] falou do acolhimento como do cerne de cada Jubileu; e é este o grande acolhimento: quando Deus nos acolhe, sem fazer perguntas, perdoa-nos, abraça-nos, beija-nos e diz-nos estas bonitas palavras: «meu filho, minha filha». Ao agradecer aos organizadores e aos voluntários da Exposição, e ao Senado que a hospedou, pela obra de sensibilização histórica e cultural oferecida em benefício dos visitantes, desejo que cada um continue a obter da experiência jubilar frutos espirituais abundantes e duradouros. Que a Virgem Maria, Mãe de Misericórdia os obtenha. Bula «Antiquorum habet» Obrigado, Senhor Presidente, por esta visita. Rezo pelo seu alto serviço institucional e pelo trabalho de todos vós. Abençoo-vos juntamente com os vossos familiares. E também vós, por favor, rezai por mim. Muito obrigado. número 4, quinta-feira 26 de janeiro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 7 Na mensagem para o dia das comunicações sociais o Papa convidou a ter um novo olhar sobre a realidade Ver com os óculos certos «A realidade, em si mesma, não tem um significado unívoco»: tudo depende «do olhar com que a enxergamos», dos «óculos» com os quais se escolhe observá-la. Eis quanto recordou o Papa Francisco na mensagem para o quinquagésimo dia mundial das comunicações sociais, que se celebra no próximo dia 28 de maio, solenidade da Ascensão do Senhor. sistema comunicativo onde vigora a lógica de que uma notícia boa não desperta a atenção, e por conseguinte não é uma notícia, e onde o drama do sofrimento e o mistério do mal facilmente são elevados a espetáculo, podemos ser tentados a anestesiar a consciência ou cair no desespero. Gostaria, pois, de dar a minha contribuição para a busca dum estilo comunicativo aberto e criativo, que não se prontifique a conceder papel de protagonista ao mal, mas procure evidenciar as possíveis soluções, inspirando uma abordagem propositiva e responsável nas pessoas a quem se comunica a notícia. A todos queria convidar a oferecer aos homens e mulheres do nosso tempo relatos permeados pela lógica da «boa notícia». ponde ao seu conteúdo e, principalmente, que este conteúdo é a própria pessoa de Jesus. Esta boa notícia, que é o próprio Jesus, não se diz boa porque nela não se encontra sofrimento, mas porque o próprio sofrimento é vivido num quadro mais amplo, como parte integrante do seu amor ao Pai e à humanidade. Em Cristo, Deus fez-Se solidário com toda a situação humana, revelando-nos que não estamos sozinhos, porque temos um Pai que nunca pode esquecer os seus filhos. «Não tenhas medo, que Eu estou contigo» (Is 43, 5): é a palavra consoladora de um Deus desde sempre envolvido na história do seu povo. No seu Filho amado, esta promessa de Deus — «Eu estou contigo» — assume toda a nossa fraqueza, chegando ao ponto de sofrer a nossa morte. N’Ele, as próprias trevas e a «Não tenhas medo, que Eu estou contigo» (Is 43, 5) Comunicar esperança e confiança no nosso tempo Graças ao progresso tecnológico, o acesso aos meios de comunicação possibilita a muitas pessoas ter conhecimento quase instantâneo das notícias e divulgá-las de forma capilar. Estas notícias podem ser boas ou más, verdadeiras ou falsas. Já os nossos antigos pais na fé comparavam a mente humana à mó da azenha que, movida pela água, não se pode parar. Mas o moleiro encarregado da azenha tem possibilidade de decidir se quer moer, nela, trigo ou joio. A mente do homem está sempre em ação e não pode parar de «moer» o que recebe, mas cabe a nós decidir o material que lhe fornecemos (cf. Cassiano o Romano, Carta a Leôncio Igumeno). Gostaria que esta mensagem pudesse chegar como um encorajamento a todos aqueles que diariamente, seja no âmbito profissional seja nas relações pessoais, «moem» tantas informações para oferecer um pão fragrante e bom a quantos se alimentam dos frutos da sua comunicação. A todos quero exortar a uma comunicação construtiva, que, rejeitando os preconceitos contra o outro, promova uma cultura do encontro por meio da qual se possa aprender a olhar, com convicta confiança, a realidade. Creio que há necessidade de romper o círculo vicioso da angústia e deter a espiral do medo, resultante do hábito de se fixar a atenção nas «notícias más» (guerras, terrorismo, escândalos e todo o tipo de falimento nas vicissitudes humanas). Não se trata, naturalmente, de promover desinformação onde é ignorado o drama do sofrimento, nem de cair num otimismo ingénuo que não se deixe tocar pelo escândalo do mal. Antes, pelo contrário, queria que todos procurássemos ultrapassar aquele sentimento de mau-humor e resignação que muitas vezes se apodera de nós, lançando-nos na apatia, gerando medos ou a impressão de não ser possível pôr limites ao mal. Aliás, num Reino de Deus com a semente, cuja força vital irrompe precisamente quando morre na terra (cf. Mc 4, 134). O recurso a imagens e metáforas para comunicar a força humilde do Reino não é um modo de reduzir a sua importância e urgência, mas a forma misericordiosa que deixa, ao ouvinte, o «espaço» de liberdade para a acolher e aplicar também a si mesmo. Além disso, é o caminho privilegiado para expressar a dignidade imensa do mistério pascal, deixando que sejam as imagens — mais do que os conceitos — a comunicar a beleza paradoxal da vida nova em Cristo, onde as hostilidades e a cruz não anulam, mas realizam a salvação de Deus, onde a fraqueza é mais forte do que qualquer poder humano, onde o falimento pode ser o prelúdio da maior realização de tudo no amor. Na verdade, é precisamente assim que amadurece e se entranha a esperança do Reino de Deus, ou seja, «como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce» (Mc 4, 26-27). O Reino de Deus já está no meio de nós, como uma semente escondida a um olhar superficial e cujo crescimento acontece no silêncio. Mas quem tem olhos, tornados limpos pelo Espírito Santo, consegue vê-lo germinar e não se deixa roubar a alegria do Reino por causa do joio sempre presente. Os horizontes do Espírito A boa notícia A vida do homem não se reduz a uma crónica asséptica de eventos, mas é história, e uma história à espera de ser contada através da escolha duma chave interpretativa capaz de selecionar e reunir os dados mais importantes. Em si mesma, a realidade não tem um significado unívoco. Tudo depende do olhar com que a enxergamos, dos «óculos» que decidimos pôr para a ver: mudando as lentes, também a realidade aparece diversa. Então, qual poderia ser o ponto de partida bom para ler a realidade com os «óculos» certos? Para nós, cristãos, os óculos adequados para decifrar a realidade só podem ser os da boa notícia: partir da Boa Notícia por excelência, ou seja, o «Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus» (Mc 1, 1). É com estas palavras que o evangelista Marcos começa a sua narração: com o anúncio da «boa notícia», que tem a ver com Jesus; mas, mais do que uma informação sobre Jesus, a boa notícia é o próprio Jesus. Com efeito, ao ler as páginas do Evangelho, descobre-se que o título da obra corres- morte tornam-se lugar de comunhão com a Luz e a Vida. Nasce, assim, uma esperança acessível a todos, precisamente no lugar onde a vida conhece a amargura do falimento. Trata-se duma esperança que não dececiona, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações (cf. Rm 5, 5) e faz germinar a vida nova, como a planta cresce da semente caída na terra. Visto sob esta luz, qualquer novo drama que aconteça na história do mundo torna-se cenário possível também duma boa notícia, uma vez que o amor consegue sempre encontrar o caminho da proximidade e suscitar corações capazes de se comover, rostos capazes de não se abater, mãos prontas a construir. A confiança na semente do Reino Para introduzir os seus discípulos e as multidões nesta mentalidade evangélica e entregar-lhes os «óculos» adequados para se aproximar da lógica do amor que morre e ressuscita, Jesus recorria às parábolas, nas quais muitas vezes se compara o A esperança fundada na boa notícia que é Jesus faz-nos erguer os olhos e impele-nos a contemplá-Lo no quadro litúrgico da Festa da Ascensão. Aparentemente o Senhor afasta-Se de nós, quando na realidade são os horizontes da esperança que se alargam. Pois em Cristo, que eleva a nossa humanidade até ao Céu, cada homem e cada mulher consegue ter «plena liberdade para a entrada no santuário por meio do sangue de Jesus. Ele abriu para nós um caminho novo e vivo através do véu, isto é, da sua humanidade» (Heb 10, 19-20). Através «da força do Espírito Santo», podemos ser «testemunhas» e comunicadores duma humanidade nova, redimida, «até aos confins da terra» (cf. At 1, 7-8). A confiança na semente do Reino de Deus e na lógica da Páscoa não pode deixar de moldar também o nosso modo de comunicar. Tal confiança que nos torna capazes de atuar — nas mais variadas formas em que acontece hoje a comunicação — com a persuasão de que é possível enxergar e iluminar a boa notícia presente na realidade de cada história e no rosto de cada pessoa. Quem, com fé, se deixa guiar pelo Espírito Santo, torna-se capaz de discernir em cada evento o que acontece entre Deus e a humanidade, reconhecendo como Ele mesmo, no cenário dramático deste mundo, esteja compondo a trama duma história de salvação. O fio, com que se CONTINUA NA PÁGINA 12 L’OSSERVATORE ROMANO número 4, quinta-feira 26 de janeiro de 2017 página 8/9 Marc Chagall «Noivos de perfil» (1950) Formação e acompanhamento: são os dois termos em volta dos quais o Papa Francisco desenvolveu a sua reflexão, no discurso dirigido aos membros da comunidade do Tribunal apostólico da Rota romana, recebidos em audiência na manhã de 21 de janeiro, na sala Clementina, por ocasião da inauguração do ano judiciário. Em seguida, a tradução do discurso do Santo Padre. Prezados Juízes Oficiais, Advogados e Colaboradores do Tribunal Apostólico da Rota Romana Dirijo a cada um de vós as minhas cordiais saudações, a começar pelo Colégio dos Prelados Auditores com o Decano, Mons. Pio Vito Pinto, a quem agradeço as palavras, e o pró-Decano que acaba de ser nomeado para esta função. Desejo a todos vós que trabalheis com serenidade e com amor fervoroso pela Igreja durante este Ano judiciário que hoje nós inauguramos. Agora gostaria de voltar a abordar o tema da relação entre fé e matrimónio, em particular as perspetivas de fé ínsitas no contexto humano e cultural em que se forma a intenção matrimonial. Baseando-se no ensinamento da Sagrada Escritura, São João Paulo II esclareceu bem «quão profunda é a ligação entre o conhecimento da fé e da razão [...]. O caráter peculiar que distingue o texto bíblico reside na convicção de que existe uma unidade profunda e indivisível entre o conhecimento da razão e da fé» (Carta Encíclica Fides et ratio, 16). Portanto, quanto mais se afasta das perspetiva de fé, tanto mais «o homem se afasta destas regras, corre o risco da falência e acaba por se encontrar na condição do “insensato”. Segundo a Bíblia, nesta insensatez encerra-se uma À Rota romana Francisco pediu mais atenção aos noivos e aos jovens casais O amor precisa da verdade Novo catecumenado na preparação para o matrimónio ameaça contra a vida. É que o insensato se ilude, pensando que conhece muitas coisas, mas na realidade não é capaz de fixar o olhar nas realidades essenciais. E isto impede-lhe de pôr ordem na sua mente (cf. Pr 1, 7) e de assumir uma atitude correta para consigo mesmo e para com o ambiente ao seu redor. Depois, quando chega a afirmar que “Deus não existe” (cf. Sl 14 [13], 1), isso revela com absoluta clareza quanto é deficiente o seu conhecimento e quão distante ele está da verdade plena a respeito da realidade, da sua origem e do seu destino» (Carta Encíclica Fides et ratio, 18). Por sua vez, no último discurso que vos dirigiu, o Papa Bento XVI recordava que «só quando nos abrimos à verdade de Deus é possível compreender, e realizar concretamente também na vida conjugal e familiar, a verdade do homem como seu filho, regenerado pelo batismo [...]. A rejeição da proposta divina, com efeito, conduz a um desequilíbrio profundo em todas as relações humanas [...], incluída a matrimonial» (26 de janeiro de 2013, n. 2). È necessário como nunca aprofundar a relação entre amor e verdade. «O amor tem necessidade da verdade [...]. Apenas na medida em que o amor estiver fundado na verdade é que poderá perdurar no tempo, superar o instante efémero e permanecer firme para sustentar um caminho comum. Se o amor não tivesse relação com a verdade, estaria sujeito à alteração dos sentimentos e não superaria a prova do tempo. Ao contrário, o amor verdadeiro unifica todos os elementos da nossa personalidade, tornando-se uma luz nova que aponta para Saudação do decano Além do barulho de vozes deturpadas «Para além do tumulto de vozes deturpadas e enganadoras», o magistério pontifício «exaltou incessantemente a alegria do verdadeiro amor conjugal de milhões de casais no santo povo de Deus, sem ceder diante dos ventos da interpretação pessimista das realidades humanas, indicados como contrários ao coração do evangelho» enquanto subtraem «aos fiéis cristãos a esperança e a misericórdia, dons certos do Espírito de Jesus», frisou o decano do tribunal, Mons. Pio Vito Pinto, na saudação dirigida ao Papa no início da audiência. Depois de mencionar alguns episódios da história recente do tribunal, que hoje resulta composto por quase dois terços de estrangeiros, o decano elogiou o processo de internacionalização e de reforma empreendido pelo Papa Francisco, no qual se insere também a nomeação do francês monsenhor Maurice Monier como pró-decano. Em seguida, apresentou a família de Stefano e Lucia, de origem italiana, mas residentes em Miami (EUA) há mais de vinte anos, com os seus dez filhos. Dois deles já são casados, um está para casar, outro seguiu a própria vocação sacerdotal e foi chamado para desempenhar o seu ministério numa diocese africana. «Pequeno, mas feliz presságio — comentou — do tema do próximo sínodo: as vocações». Após ter definido Francisco «o depositário e defensor infalível da única fé ensinada pelos santos apóstolos Pedro e Paulo», Mons. Pio Vito Pinto agradeceu às «famílias que não dividem, não levantam muros, mas dão testemunho». Como aquele oferecido por uma «família em nascimento», composta por Elisabetta e Luigi e pelo seu filhinho — que no último momento não puderam comparecer à audiência por motivos de saúde — que há mais de vinte anos, recordou o decano, estão também «ausentes do sacramento da Eucaristia» mas que como «crentes e praticantes carregaram a cruz da obediência à fé católica», através de um calvário de grandes sofrimentos na lentidão do processo canónico. Na conclusão, outras palavras de gratidão ao Pontífice: «Vós encorajastes a nós e a todos os juízes eclesiásticos do mundo — disse — a fazer do processo e da sentença não o deleite de cursos universitários nem de publicações eruditas e menos ainda de ilícitos e absurdos lucros», ensinando «a ver no irmão infeliz o rosto comovido do crucificado» com o «integralismo evangélico que caracterizou o Papa São João XXIII» e que, concluiu o decano, «revive no vosso ministério». uma vida grande e plena. Sem a verdade, o amor não pode oferecer um vínculo sólido, não consegue arrancar o “eu” do seu isolamento, nem libertá-lo do instante fugaz para edificar a vida e produzir fruto» (Carta Encíclica Lumen fidei, 27). Não podemos ignorar que uma mentalidade difundida tende a ofuscar o acesso às verdades eternas. Uma mentalidade que envolve, muitas vezes de modo vasto e minucioso, as atitudes e os comportamentos dos próprios cristãos (cf. Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 64), cuja fé se debilita e perde a sua originalidade de critério interpretativo e ativo para a existência pessoal, familiar e social. Desprovido de valores religiosos e de fé, este contexto não pode deixar de condicionar também o consenso matrimonial. As experiências de fé de quantos pedem o casamento cristão são muito diferentes. Alguns participam ativamente na vida da paróquia; outros aproximam-se dela pela primeira vez; outros ainda levam uma vida de oração até intensa; alguns, ao contrário, são guiados por um sentimento religioso mais genérico; e às vezes há pessoas que se afastaram da fé ou dela são carentes. Perante esta situação, é necessário encontrar soluções válidas. Indico um primeiro remédio na formação dos jovens, mediante um caminho de preparação adequado, destinado a descobrir de novo o casamento e a família em conformidade com o desígnio de Deus. Trata-se de ajudar os futuros esposos a sentir e a apreciar a graça, a beleza e a alegria do amor autêntico, salvo e redimido por Jesus. A comunidade cristã à qual os nubentes se dirigem está chamada a anunciar cordialmente o Evangelho a estas pessoas, a fim de que a sua experiência de amor possa tornar-se um sacramento, um sinal eficaz da salvação. Nesta circunstância, a missão redentora de Jesus alcança o homem e a mulher na realidade da sua vida de amor. Este momento torna-se para toda a comunidade uma extraordinária ocasião de missão. Hoje, mais do que nunca, esta preparação apresenta-se como uma verdadeira oportunidade de evangelização dos adultos e, muitas vezes, dos chamados distantes. Com efeito, são numerosos os jovens para os quais o aproximar-se das núpcias constitui uma ocasião para voltar a encontrar a fé, desde há muito tempo relegada às margens da própria vida; além disso, eles encontram-se num momento particular, caracterizado com frequência também pela disponibilidade a rever e a mudar a orientação da própria existência. Portanto, pode ser um tempo favorável para renovar o seu encontro com a pessoa de Jesus Cristo, com a mensagem do Evangelho e com a doutrina da Igreja. Por conseguinte, é necessário que os agentes e os organismos responsáveis pela pastoral familiar sejam animados por uma forte preocupação de tornar cada vez mais eficazes os itinerários de preparação para o sacramento do matrimónio, para o crescimento não somente humano, mas sobretudo da fé dos noivos. A finalidade fundamental dos encontros consiste em ajudar os noivos a realizar uma inserção gradual no mistério de Cristo, na Igreja e com a Igreja. Isto comporta um amadurecimento progressivo na fé, através do anúncio da Palavra de Deus, da adesão e do seguimento generoso de Cristo. Ou seja, o objetivo desta preparação consiste em ajudar os noivos a conhecer e a viver a realidade do casamento que tencionam celebrar, para que o possam fazer não apenas válida e licitamente, mas também de modo fecundo, e para que estejam dispostos a fazer de tal celebração uma etapa do seu percurso de fé. Para realizar tudo isto, são necessárias pessoas com uma competência específica, adequadamente preparadas para este serviço, uma sinergia oportuna entre sacerdotes e casais. Neste espírito, sinto que devo reiterar a necessidade de um «novo catecumenato» em preparação para o casamento. Acolhendo os votos dos Padres do último Sínodo Ordinário, é urgente atuar concretamente aquilo que já foi proposto na Familiaris consortio (cf. n. 66), ou seja, que assim como para o batismo dos adultos o catecumenato faz parte do processo sacramental, também a preparação para o matrimónio se torne uma parte integrante de todo o procedimento sacramental do casamento, como antídoto que impede o multiplicar-se de celebrações matrimoniais nulas ou então inconsistentes. Um segundo remédio consiste em ajudar os recém-casados a percorrer o caminho da fé e na Igreja, inclusive depois da celebração do matrimónio. É preciso encontrar, com coragem e criatividade, um projeto de formação para os jovens esposos, com iniciativas destinadas a uma consciência crescente do sacramento recebido. Trata-se de os encorajar a ter em consideração os vários aspetos da sua vida conjugal de todos os dias, que constitui um sinal do amor de Deus, encarnado na história dos homens. Cito dois exemplos: antes de tudo o amor, do qual a nova família vive, tem a sua raiz e fonte última no mistério da Trindade, e é por isso que traz esta marca, não obstante as dificuldades e as formas de pobreza com as quais se deve medir na sua vida quotidiana. Outro exemplo: a história de amor do casal cristão faz parte da história sagrada, porque é habitada por Deus e porque Deus nunca falta ao compromisso que assumiu com os noivos no dia do casamento; com efeito, Ele é «um Deus fiel e não pode renegar-se a si mesmo» (2 Tm 2, 13). A comunidade cristã está chamada a receber, acompanhar e ajudar os jovens casais, proporcionando ocasiões e instru- mentos adequados — a partir da participação na Missa dominical — para cuidar da vida espiritual tanto dentro da vida familiar como no âmbito da programação pastoral na paróquia ou nas agremiações. Muitas vezes os jovens são deixados a si mesmos, talvez simplesmente porque frequentam pouco a paróquia; isto acontece acima de tudo com o nascimento dos filhos. Mas é exatamente nestes primeiros momentos da vida familiar que é necessário garantir uma maior proximidade e um forte apoio espiritual, inclusive na tarefa de educação dos filhos, em relação aos quais são as primeiras testemunhas e portadores da dádiva da fé. No itinerário de desenvolvimento humano e espiritual dos jovens casais é desejável que haja grupos de referência com os quais poder percorrer um caminho de formação permanente: através da escuta da Palavra, do diálogo sobre temáticas que dizem respeito à vida das famílias, à oração e à partilha fraternal. Estes dois remédios que indiquei têm por finalidade favorecer um contexto de fé idóneo onde celebrar e viver o matrimónio. Um aspeto tão determinante para a solidez e a verdade do sacramento nupcial exorta os párocos a estar cada vez mais conscientes da delicada tarefa que lhes foi confiada na gestão do percurso sacramental matrimonial dos futuros nubentes, tornando neles inteligível e real a sinergia entre foedus e fides. Trata-se de passar de uma visão claramente jurídica e formal da preparação dos futuros esposos, para uma fundação sacramental ab initio, isto é, a partir do caminho rumo à plenitude do seu foedus-consenso, que Cristo elevou a sacramento. Isto exigirá a contribuição generosa de cristãos adultos, homens e mulheres, que acompanham o sacerdote na pastoral familiar para construir «a obra-prima da sociedade», ou seja, «a família: o homem e a mulher que se amam» (Catequese, 29 de abril de 2015), em conformidade com «o plano luminoso de Deus» (Saudação durante o Consistório Extraordinário, 20 de fevereiro de 2014). O Espírito Santo, que guia sempre e em tudo o Santo Povo de Deus, assista e sustenha quantos, sacerdotes e leigos, se comprometem e ainda se hão de comprometer neste setor, a fim de que nunca percam o entusiasmo nem a coragem de trabalhar em prol da beleza das famílias cristãs, não obstante as armadilhas desastrosas da cultura dominante do efémero e do provisório. Estimados irmãos, como eu já disse várias vezes, na época em que vivemos é necessária uma grande coragem para se casar. E quantos têm a força e a alegria de dar este passo importante devem sentir ao seu lado o afeto e a proximidade concreta da Igreja. É com estes votos que vos renovo o desejo de bom trabalho para o novo ano que o Senhor nos oferece. Asseguro-vos a minha oração e também eu conto com a vossa, e concedo-vos de coração a Bênção apostólica. L’OSSERVATORE ROMANO página 10 quinta-feira 26 de janeiro de 2017, número 4 Missas matutinas em Santa Marta Quinta-feira 19 de janeiro A luta no coração O coração de cada cristão é teatro de uma «luta». Todas as vezes que o Pai «nos atrai» a Jesus, há «outro alguém que faz guerra contra nós», sublinhou o Papa Francisco na homilia, durante a qual, comentando o Evangelho do dia (Mc 3, 7-12) analisou as razões que impelem o homem a seguir Jesus e examinou como esta sequela nunca está isenta de dificuldades, aliás, se não combatêssemos todos os dias contra uma série de «tentações», correríamos o risco de uma religiosidade formal e ideológica. No trecho evangélico, observou o Pontífice, «pronuncia-se por três vezes a palavra “multidão”: seguia-o uma grande multidão, vinda de todas as partes; uma grande multidão; e a multidão lançava-se sobre ele, para o tocar». Uma multidão «com um entusiasmo fervoroso, que seguia Jesus calorosamente e vinha de todas as partes: de Tiro e Sidónia, da Idumeia e da Transjordânia». Muitos «percorriam este caminho a pé para encontrar o Senhor». E perante esta insistência surge uma pergunta: «Por que vinha esta multidão? Porquê este entusiasmo? Do que precisava». As motivações sugeridas por Francisco podem ser multíplices. «O próprio Evangelho diz-nos que havia doentes que queriam ser curados», mas havia também numerosos que iam «para o ouvir». Aliás, «estas pessoas gostavam de ouvir Jesus, porque não falava como os seus doutores, mas com autoridade. Isto mexia com o coração». Certamente, sublinhou o Papa, «era uma multidão que vinha espontaneamente: não a levavam de autocarro, como vemos muitas vezes quando se organizam manifestações e tantos devem ir para “verificar” a presença, para não perder depois o posto de trabalho». Portanto, esta gente «ia porque sentia algo». E eram tão numerosos «que Jesus teve que pedir uma barca e afastar-se um pouco da margem do rio, para que não o esmagasse». Mas qual era o verdadeiro motivo, o profundo? Segundo o Pontífice «o próprio Jesus no Evangelho explica» esta espécie de «fenómeno social» e diz: «Ninguém pode vir ter comigo se não o atrair o Pai». Com efeito, esclareceu Francisco, se é verdade que esta multidão ia ter com Jesus porque «necessitava» ou porque «alguns eram curiosos» o motivo real encontra-se no facto de que «esta multidão era atraída pelo Pai. Era o Pai que atraía as pessoas a Jesus». E Cristo «não ficava indiferente, como um mestre estático que proferia as suas palavras e depois lavava as mãos. Não! Esta multidão mexia com o coração de Jesus». Precisamente no Evangelho lê-se que «Jesus estava comovido, porque via estas pessoas como rebanho sem pastor». Portanto, explicou o Pontífice, «o Pai, através do Espírito Santo, atrai as pessoas a Jesus». É inútil ir pro- curar «todas as argumentações». Qualquer motivo pode ser «necessário», mas «não é suficiente para fazer levantar um dedo. Não podes mover-te» dar «um passo só com as argumentações apologéticas». Ao contrário, o que é deveras necessário e decisivo é «que seja o Pai quem te atrai a Jesus». A inspiração decisiva para a reflexão do Pontífice chegou quando examinou as últimas linhas do breve excerto evangélico proposto pela liturgia: «É curioso» — observou — que neste trecho ao falar «de Jesus, da multidão, do entusiasmo, também do amor com o qual Jesus os recebia e os curava» encontra-se um final um pouco insólito. Com efeito, está escrito: «Os espíritos impuros quando o viam prostravam-se aos seus pés e gritavam “Tu és o Filho de Deus!”». Mas precisamente esta — disse o Papa — «é a verdade; esta é a realidade que cada um de nós sente quando Jesus se aproxima», ou seja, «que os espíritos impuros procuram impedi-lo, fazem guerra contra nós». Alguém poderia objetar: «Mas, padre, eu sou muito católico; eu vou sempre à missa... Mas nunca, nunca tenho estas tentações. Graças a Deus!». Mas não. A resposta é: «Não! Reza, porque estás no caminho errado!» pois «uma vida cristã sem tentações não é cristã: é ideológica, é gnóstica, mas não é cristã». Com efeito, acontece que «quando o Pai atrai as pessoas a Jesus, há outro alguém que atrai de forma contrária e faz guerra dentro de ti!». Não é por acaso que São Paulo «fala da vida cristã como de uma luta: uma luta de todos os dias. Para vencer, para destruir o império de satanás, o império do mal». E é precisamente por esta razão, acrescentou o Papa, que «Jesus veio, para destruir satanás! Para destruir a sua influência sobre os nossos corações». Com esta observação final no trecho evangélico sublinha-se o essencial: «parece que, nesta cena», desaparecem «quer Jesus, quer a multidão e apenas permanecem o Pai e os espíritos impuros, ou seja, o espírito do mal. O Pai que atrai as pessoas a Jesus e o espírito do mal que procura destruir sempre!». Assim compreendemos — concluiu o Pontífice — que «a vida cristã é Sandip Roychowdhury, «A luta da vida» uma luta» na qual «ou te deixas atrair por Jesus, por meio do Pai, ou podes dizer “Fico tranquilo, em paz!... Mas nas mãos desta gente, destes espíritos impuros”». Contudo, «se quiseres avançar deves lutar! Sentir o coração que luta, para que Jesus vença». Por conseguinte, é a conclusão, cada cristão deve fazer este exame de consciência e perguntar-se: «Sinto esta luta no meu coração?». Este conflito «entre o conforto ou o serviço aos outros, entre o divertir-me um pouco ou rezar e adorar o Pai, entre uma coisa e outra?». Sinto «o desejo de fazer o bem» ou há «algo que me detém, que me torna rígido?». E ainda: «Penso que a minha vida comove o coração de Jesus? Se não acredito nisto — admoestou o Papa — devo rezar muito para poder crer, para que me seja concedida esta graça». Sexta-feira 20 de janeiro Um coração novo «A debilidade de Deus» é que, perdoando-nos, chega a esquecer os nossos pecados. E portanto está sempre pronto para nos fazer radicalmente «mudar de vida, não só a mentalidade e o coração». Mas, da nossa parte, tem que haver o compromisso a viver até ao fim esta «nova aliança», esta «recriação», pondo de lado a tentação de condenar e os desatinos da mundanidade, e reavivando sempre a nossa «pertença» ao Senhor. Eis as indicações práticas sugeridas pelo Papa na missa celebrada em Santa Marta. A liturgia, observou imediatamente Francisco, «contém uma prece, uma oração muito bonita, que nos faz compreender a profundidade da obra de Jesus Cristo: “Ó Deus, tu que maravilhosamente criaste o mundo, mas mais admiravelmente o recriaste”, ou seja, com o sangue de Jesus, com a redenção». Precisamente «esta renovação, esta recriação é aquilo de que fala hoje a primeira leitura», tirada da carta aos Hebreus (8, 6-13). Estamos diante da promessa do Senhor: «Eis que virão dias nos quais eu estabelecerei uma nova aliança. Mas não será como a que fiz com os seus pais”». É portanto «uma aliança nova e a nova aliança que Deus estabelece em Jesus Cristo é a recriação: renova todas as coisas». É este o significado de «renovar todas as coisas pela raiz, não só na aparência». Esta nova aliança — explicou o Papa — tem as suas próprias características». Lê-se ainda na carta aos Hebreus: «Esta é a aliança que eu estabelecerei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: porei as minhas leis nas suas mentes e inscrevê-las-ei nos seus corações». Isto significa, afirmou Francisco, que «a lei do Senhor não é só um modo de agir externo», porque «a aliança que ele fará é gravar a lei na mente e no coração: muda a nossa mentali- dade». Por isso «na nova aliança há uma mudança de mentalidade, há uma mudança de coração, uma mudança de sentir, de agir: é uma maneira diversa de ver as coisas». Para fazer compreender este ponto, o Pontífice recorreu a um «exemplo: posso ver a obra de uma pessoa, pensemos num arquiteto» e avaliá-la «com uma atitude fria, técnica, objetiva», dizendo: «está bem, tecnicamente está bem». Ou então, prosseguiu o Papa, «posso vê-la com inveja porque fez uma coisa boa que eu não sou capaz de fazer», e esta é outra atitude». Mas, ainda, «a posso ver com benevolência, até com alegria», dizendo: «parabéns, foste excecional, gosto muito disto, também eu estou feliz!». Portanto são «três atitudes diversas». «A nova aliança — disse Francisco — muda o nosso coração e mostranos a lei do Senhor com este novo coração, com esta nova mente». Depois, referindo-se «aos doutores da lei que perseguiam Jesus», o Papa recordou que «faziam tudo o que a lei prescrevia, tinham o direito na mão, tudo. Mas a sua mentalidade estava distante de Deus, era uma mentalidade egoísta, centrada sobre eles mesmos: o seu coração era um coração que condenava». Em suma, viviam «sempre a condenar». Mas eis que «a nova aliança nos muda o coração e a mente: dá-se uma mudança de mentalidade». Retomando o trecho da carta aos Hebreus, o Pontífice pôs em evidência como «o Senhor vai em frente: “Gravarei as minhas leis na sua mente e imprimi-las-ei nos seus corações. Porque eu perdoarei as suas iniquidades e não me recordarei dos seus pecados”». Precisamente refletindo sobre estas palavras, acrescentou Francisco, «por vezes gosto de pensar, quase a brincar com o Senhor: “Tu não tens boa memória!”». Esta «é a debilidade de Deus: quando Deus perdoa, esquece». A ponto que «o Senhor nunca dirá “vais pagar!”: ele esquece, porque perdoa». Perante «um coração arrependido, perdoa e esquece: “Eu esquecerei, não recordarei os pecados deles”». E «também este é um convite a não fazer recordar ao Senhor os pecados, ou seja, a não voltar a pecar: “Tu perdoasteme, tu esqueceste, mas eu tenho que...”». Trata-se precisamente de uma verdadeira «mudança de vida: a nova aliança renova-me e faz-me mudar de vida, não só de mentalidade e de coração, mas de vida». Ela estimula a «viver assim, sem pecado, longe do pecado». E «esta é a recriação: assim o Senhor recria todos nós». O trecho da carta aos Hebreus propõe depois «uma terceira característica, uma mudança de pertença». Com efeito, lê-se: «Serei o seu Deus e eles serão o meu povo». É «aquela pertença» que leva a dizer: «Tu és o único Deus para mim, os outros deuses não existem». Porque, acrescentou Francisco, «os outros deuses, como dizia um idoso que conheci, são disparates: “só tu és o meu Deus e eu sou teu, este povo é teu”». Por conseguinte, insistiu o Pontífice, «mudança de mentalidade, de CONTINUA NA PÁGINA 11 número 4, quinta-feira 26 de janeiro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 11 Missas matutinas em Santa Marta CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 10 coração, de vida e de pertença: esta é a recriação que o Senhor faz de modo mais maravilhoso do que a primeira criação». Em conclusão, Francisco sugeriu que pedíssemos «ao Senhor para continuar esta aliança, para ser fiéis; o selo desta aliança, desta fidelidade, ser fiel a esta obra que o Senhor faz para mudar a nossa mentalidade e coração». Recordando sempre que «os profetas diziam: “o Senhor mudará o teu coração de pedra em coração de carne”». Eis então, reafirmou o Papa, o compromisso a «mudar o coração, a vida, a não voltar a pecar e a não fazer recordar ao Senhor com os nossos pecados de hoje aquilo que ele esqueceu, e a mudar de pertença: nunca pertencer à mundanidade, ao espírito do mundo, aos disparates do mundo, só ao Senhor». Segunda-feira 23 de janeiro Três maravilhas São três «as grandes maravilhas do sacerdócio de Jesus: ofereceu a vida por nós uma vez por todas; continua também agora a rogar por cada um de nós; voltará para nos levar consigo». Ao homem é pedido que «não feche o coração» para «se deixar perdoar pelo Pai». E precisamente a missa faz compreender plenamente esta linda verdade, disse o Papa Francisco. «Cantai ao Senhor um canto novo, porque fez maravilhas»: com as palavras do salmo responsorial o Pontífice abriu a sua meditação, repetindo que «o Senhor fez maravilhas». E com as palavras do salmo 97 continuou: «O Senhor fez grandes coisas, grandes maravilhas». Mas, acrescentou, «a maior maravilha é o seu Filho sacerdote». Na primeira leitura, explicou, «o autor da carta aos Hebreus (9, 15.24-28) apresenta-nos Cristo sacerdote, mediador da aliança que Deus faz com os homens: Jesus é o sumo sacerdote». E «o sacerdócio de Cristo — podemos dizer, daquilo que se vê aqui — realiza-se em três momentos, três etapas». A primeira etapa, afirmou, «consiste na redenção: Cristo ofereceu-se uma vez para sempre, pelo perdão dos pecados». Ele «faz a comparação com os sacerdotes da antiga aliança que, todos os anos, deviam oferecer sacrifícios». Eis a novidade: com Cristo é «uma vez para sempre, e isto é uma maravilha; e com esta maravilha Ele fez-nos filhos, levounos ao Pai, perdoou os nossos pecados, recriou a harmonia da criação com a sua vida». «A segunda maravilha, de certo modo ligada ao pecado, é a que o Senhor faz agora», prosseguiu o Papa. Com efeito, «agora o Senhor intercede, roga por nós: sim, neste momento, enquanto nós rezamos Ele roga por nós, certamente por todos, Jesus em vestes sacerdotais (séc. VIII, Roma basílica de Santa Maria Antiqua) por cada um de nós». É «a intercessão, o sacerdote que intercede: primeiro ofereceu a vida em resgate; agora, vivo, diante do Pai, intercede». Na última ceia, recordou, o Senhor «disse: “Roguei por vós, para que a vossa fé não desfaleça”». Portanto, Jesus «roga por nós e isto é uma segurança: Cristo, nosso sacerdote, roga por nós». De resto, observou, «quantas vezes dizemos ao sacerdote: “Padre, reze por mim, pelo meu filho, pela minha família, temos este problema...”». Fazemo-lo «porque sabemos que a oração do sacerdote tem uma certa força, precisamente no sacrifício da missa». E «neste momento é Jesus quem roga por nós, por cada um de nós, e isto é uma maravilha, uma segunda maravilha». «A terceira maravilha será o fim, quando Ele voltar», afirmou o Pontífice. Ele «voltará como sacerdote, sim, desligado do pecado: a primeira vez deu a sua vida pelo perdão dos pecados; a segunda vez — agora — roga por nós, porque somos pecadores e vamos em frente na vida cristã; mas quando vier pela terceira vez não estará ligado ao pecado, será para tornar o reino definitivo». E a «palavra mais bonita daquele dia» será: «Vinde, bem-aventurados, vinde a mim!». Assim «nos levará todos ao Pai: é este o sacerdócio de Cristo, do qual nos fala a primeira leitura, e trata-se da grande maravilha que nos faz cantar um canto novo». Francisco indicou também «dois pontos contrastantes na liturgia de hoje». Por um lado, «há esta grande maravilha, este sacerdócio de Jesus em três etapas — aquela em que perdoa os pecados uma vez para sempre; aquela em que intercede agora por nós; e aquela que terá lugar quando Ele voltar — mas há também o contrário, “a blasfémia imperdoável”», como se lê no trecho do Evangelho de Marcos (3, 22-30). E «é duro — comentou — ouvir Jesus dizer isto: mas é Ele quem o diz, e se o diz é verdade». Com efeito, Marcos escreve, citando as palavras do Senhor: «Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos filhos dos homens — e sabemos que o Senhor perdoa tudo, se abrirmos um pouco, totalmente, o coração! — os pecados e todas as blasfé- mias que disserem — até as blasfémias serão perdoadas! — mas quem tiver blasfemado contra o Espírito Santo não será perdoado eternamente: é réu de culpa eterna». Assim esta pessoa, «quando o Senhor voltar, ouvirá estas palavras: “Afasta-te de mim!”». E isto porque, explicou, «a grande unção sacerdotal de Jesus foi o Espírito Santo quem a fez no seio de Maria: os sacerdotes, na celebração de ordenação, são ungidos com o óleo; e fala-se sempre da unção sacerdotal». Até «Jesus, como sumo sacerdote, recebeu esta unção». E «a primeira unção» foi «a carne de Maria por obra do Espírito Santo». Assim, quem «blasfema sobre isto, fálo sobre o fundamento do amor de Deus, que é a redenção, a recriação; blasfema sobre o sacerdócio de Cristo». «O Senhor perdoa tudo — explicou — mas quem diz tais coisas está fechado ao perdão, não quer ser perdoado, nem se deixa perdoar». Precisamente «esta é a fealdade da blasfémia contra o Espírito Santo: não se deixar perdoar, porque renega a unção sacerdotal de Jesus feita pelo Espírito Santo». E assim, prosseguiu, «hoje ouvimos, nesta liturgia da palavra, as grandes maravilhas do sacerdócio de Cristo que se oferece a si mesmo pelo perdão dos pecados, que continua a rogar por nós agora e que voltará para nos levar com Ele». È verdadeiramente uma «grande maravilha». Mas, acrescentou, «também ouvimos que há uma “blasfémia imperdoável” e não porque o Senhor não quer perdoar tudo, mas porque certas pessoas são tão fechadas que não se deixam perdoar: a blasfémia contra esta grande maravilha de Jesus». Concluindo, Francisco sugeriu que «hoje nos fará bem, durante a missa, pensar que aqui no altar se faz a memória viva — porque ali Ele estará presente — do primeiro sacerdócio de Jesus, quando oferece a sua vida por nós; há também a memória viva do segundo sacerdócio, porque Ele rogará aqui; mas também nesta missa — di-lo-emos após o Pai-Nosso — há o terceiro sacerdócio de Jesus, quando Ele voltar como nossa esperança da glória». Portanto, insistiu o Papa, «nesta missa pensemos nestas coisas boas e peçamos ao Senhor a graça de que o nosso coração nunca se feche — nunca se feche! — diante desta maravilha, desta grande gratuidade». Terça-feira 24 de janeiro Um depois do outro Elos de uma longa corrente de «eisme!» que começa com Abraão e chega até hoje, passando por aquele decisivo de Jesus ao Pai. Segundo o Papa Francisco assim são os cristãos chamados todos os dias para «fazer a vontade do Senhor», inseridos no desígnio providencial da história da salvação. Uma realidade aprofundada graças à meditação sobre as leituras deste dia. A liturgia, observou o Pontífice, em continuidade com a do dia anterior, fez refletir «sobre o sacerdócio de Jesus, o sacerdócio definitivo, único». Ponto de partida, mais uma vez, foi a primeira leitura tirada da carta aos Hebreus (10, 1-10) na qual é tratado o tema do sacrifício. «Os sacerdotes — explicou Francisco — naquela época, ofereciam sacrifícios que deviam ser oferecidos continuamente, ano após ano, porque não eram definitivos, de uma vez para sempre». A mudança decisiva foi realizada com «o sacerdócio de Jesus que faz o único sacrifício de uma vez para sempre». Uma diferença substancial: «naqueles sacrifícios renova-se cada ano a memória dos pecados com o pedido de perdão», pelo contrário, Cristo diz: «Não quiseste sacrifícios nem oblação, mas formaste-me um corpo. E afirma: “Eis que venho — ó Deus — para fazer a tua vontade”». Foi precisamente este, sugeriu o Papa, «o primeiro passo» de Jesus no mundo: «venho para fazer a tua vontade». E a vontade do Pai era que «com este sacrifício se abolissem todos os sacrifícios e este permanecesse o único». Portanto lê-se na Escritura: «Tu não quiseste, tu não recebeste com agrado os sacrifícios nem as ofertas, nem os holocaustos, nem as vítimas pelo pecado. Eis que venho para fazer a tua vontade». Precisamente esta palavra de Jesus, disse o Pontífice, encerra uma história de «eis-me» encadeados — a história da salvação é isto: uma sucessão de “eis-me” encadeados». Tudo teve início com Adão que «se escondeu porque temia o Senhor»: a partir de então o Senhor começou «a chamar e a ouvir a resposta de homens e mulheres que dizem: “Eisme. Estou disposto. Estou disposta”». Até chegar «ao último “eisme”, o de Jesus: “para fazer a tua vontade”». O Papa recordou brevemente esta história evocando Abraão, Moisés, os profetas Isaías e Jeremias. E também: o pequeno Samuel, que ouve a voz do Senhor e responde: «Eis-me, Senhor». Até chegar «ao último grande “eis-me” de Maria: “Faça-se a vontade de Deus. Sou a serva. Eis-me”». Trata-se de «uma história de “eisme”», mas — frisou Francisco — de «“eis-me”» não automáticos». De facto, em cada uma das narrações bíblicas mencionadas constatamos que «o Senhor dialoga com aqueles que convida». Abraão até «negociou» com ele para «não destruir as duas cidades». Do mesmo modo, Isaías objetava: «Mas, são pecadores, não posso...», e Jeremias: «Mas sou um menino, não sei falar...» e o Senhor tranquilizava-o: «Eu farei com que fales!». Para Elias que se lamentava: «Tenho medo, quero morrer, não, tenho medo, não quero», a resposta foi: «Levanta-te: come, bebe e vai!». «O Senhor — disse o Papa resumindo com uma única consideração todas estas citações — dialoga sempre com aqueles que convida a percorrer esta estrada e a responder “eis-me”. Tem tanta paciência, muita paciência». E acrescentou um ulterior exemplo recordando «os raciocínios de Job, que não compreende», e as respostas do Senhor que «o corCONTINUA NA PÁGINA 12 página 12 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 26 de janeiro de 2017, número 4 Fé, esperança e busca Encontros e desencontros com Deus ANTÓNIO BAGÃO FÉLIX A linguagem da fé, a linguagem da razão, a linguagem da consciência, convergem através de duas dimensões: a dúvida e a busca, que, no seu conjunto, não se confundem com ceticismo, relativismo ou niilismo. Entre o dogma de fé, a convicção da razão e o sentimento da consciência, estamos diante de um teste à nossa fortaleza ou à nossa fragilidade. Saber porque somos, porque pensamos e porque sentimos leva-nos, ontologicamente, ao divino. Deus deu-nos a liberdade, sem a qual não seríamos irrepetíveis, diferentes e sujeitos de responsabilidades e sem a qual não seríamos sequer capazes de duvidar da certeza do Absoluto. O Criador deu-nos até a liberdade suprema de O negar. Neste contexto, realço o baluarte intemporal da oração, porque tudo está na ligação com O que nos concedeu o dom da vida. Na oração, não se diz apenas. Dialoga-se. Ouve-se. Reflete-se. Na oração, mais do que ir ao encontro, o importante é saber receber o encontro. De portas abertas, sem as nossas circunstâncias, com graça e alegria. Até no silêncio, que é uma forma de respeito, uma expressão do amor, uma oportunidade para a plenitude do encontro. A oração no sofrimento, na súplica, na dor, no pedido de perdão é necessária, mas a oração na alegria, na ausência de nós e do nosso egoísmo, na felicidade, é a mais pura forma de nos darmos. A oração não é um “deve e haver”, uma espécie de registo contabilístico da nossa relação com Deus. A oração é uma entrega sem contrapartidas, a não ser a da ajuda na busca d’Ele. Sem alarde, que essa não é a maneira de se ser em fé. Com alegria Se me aparto de ti, Deus da bondade Se me aparto de ti, Deus da bondade, Que ausência tão cruel! Como é possível Que me leve a um abismo tão terrível O pendor infeliz da humanidade! Conforta-me Senhor, que esta saudade Me despedaça o coração sensível; Se a teus olhos na cruz sou desprezível, Não olhes para a minha iniquidade! Ver com os óculos certos CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 7 tece esta história sagrada, é a esperança, e o seu tecedor só pode ser o Espírito Consolador. A esperança é a mais humilde das virtudes, porque permanece escondida nas pregas da vida, mas é semelhante ao fermento que faz levedar toda a massa. Alimentamola lendo sem cessar a Boa Notícia, aquele Evangelho que foi «reimpresso» em tantas edições nas vidas dos Santos, homens e mulheres que se tornaram ícones do amor de Deus. Também hoje é o Espírito que semeia em nós o desejo do Reino, através de muitos «canais» vivos, através das pessoas que se deixam conduzir pela Boa Notícia no meio do drama da história, tornando-se como que faróis na escuridão deste mundo, que iluminam a rota e abrem novas sendas de confiança e esperança. Vaticano, 24 de janeiro de 2017 À suave esperança me entregaste, E o preço de teu sangue precioso Me afiança que não me abandonaste. Se, justo, castigar-me te é forçoso lembra-te que te amei, e me criaste para habitar contigo o Céu lustroso! [Marquesa de Alorna (1750-1839) — in Rosa do Mundo, 2001 — Poemas para o futuro, Assírio & Alvim, 2001] que a fé nos concede, com a dúvida que torna a fé mais livre e consistente. A oração começa no mais singelo sinal: o da cruz. Uns segundos apenas para nos aproximarmos d’Ele, na pequenez da nossa insignificância. O sinal, no que ele representa de comunhão entre o que somos e o que procuramos ser, a ponte entre a nossa fraqueza e a nossa fé. Da cruz, como o maior símbolo de entrega e de resgate de Deus feito Homem. Meu Deus! clamam, em situações de desespero, crentes, como até ateus e agnósticos. Minha Mãe! dizem os filhos, novos ou velhos, como a primeira palavra na aflição, mesmo que da mãe só reste a presença da saudade. Entre Meu Deus e Minha Mãe não há tempo, nem espaço. Há os encontros na intimidade natural e sobrenatural do alfa terreno com o ómega divino e do alfa divino com o ómega terreno. O princípio e o fim na expressão transcendente do mistério, o princípio e o fim na expressão uterina da nossa natureza. Se Deus é a nossa intimidade absoluta, a Mãe é a nossa cumplicidade plena. Por isso, não concebo Deus sem a Mãe, a nossa. Nem a Mãe, nosso anjo da guarda, sem a proteção de Deus de todos. Eis a síntese da vida, esse dom de Deus trazido ao mundo pela Mãe e certificado no mundo através do Senhor pela Graça de sua Mãe. Tudo com o sentido do bem soberano da vida, perante a imortalidade da alma e a esperança da ressurreição. O porquê? O para quê? O para Ilustração de Nuno Quaresma onde? O como? A esperança exige um nexo de causalidade. Dentro de nós para Ele, para nós mesmos e para o que nos é exterior. A esperança é generosa, mas não acomodada. Não se dá com a demissão, a indiferença, o ceticismo, o destino, o conto de fadas. Alimenta-se da busca. Da inquietude. Do inconformismo. Do combate. Da ansiedade. Do ânimo. Afinal, lutamos porque temos esperança! A esperança na ressurreição começa na vida cá, no nosso testemunho e nos nossos valores. A esperança é “iluminadora e encorajadora, mas também a mais misteriosa virtude” (Bento XVI, Spe salvi). Ou como se pode ler (e sentir) na chamada oração da Paz de São Francisco, “onde houver desespero, que eu leve a esperança”. (Tirado do Boletim Salesiano de janeiro-fevereiro de 2017 — Por vontade do autor este texto não segue o Novo Acordo Ortográfico) Um depois do outro mo Jonas que não queria fazer o na duramente» porque «fingimos» e que o Senhor lhe pedia?». Ou en- dizemos: «Tudo bem... nada de perrige», até chegar o seu «eis-me»: tão: «finjo que faço a vontade do guntas: faço isto e nada mais»! En«Senhor, tu tens razão: eu conhecia- Senhor, mas só externamente, como tre as respostas possíveis poderia este só de ouvir falar, agora os meus os doutores da lei que Jesus conde- tar também aquela de olhar «para o outro lado como fizeram o leviolhos viram-te». Neste ponto o ta e o sacerdote diante daquele Pontífice introduziu um ensinapobre homem ferido, espancamento válido para todos os hodo pelos salteadores e abandomens de hoje: «A vida cristã é nado quase morto». isto: um “eis-me”, um “eis-me” Então, prosseguiu o Pontíficontínuo». ce, dado que o Senhor chama «Um atrás do outro» todos «cada um de nós», e «todos os os «eis-me» pronunciados se dias»: devemos questionar-nos: encontram na Bíblia. «É bom», «Como é a minha resposta ao disse o Papa, «ler a Escritura» Senhor?». É a resposta do «eisindo buscar precisamente «as me»? «ou me escondo? Fujo? respostas das pessoas ao SeFinjo? Olho para o outro lanhor», todas as vezes que aldo?». guém respondeu: «Eis-me, esAlguém poderia até ter uma tou aqui para fazer a tua vontadúvida: «Pode-se discutir» com de». Bom e envolvente, porque o Senhor? «Sim! — disse Fran— explicou Francisco — esta «licisco — Ele aprecia isto. Ele turgia da palavra de hoje nos gosta de discutir connosco». convida a refletir: “Mas como Por isso, contou o Papa, quanvai o meu “eis-me” ao Senhor? do alguém me diz: «Mas, paE o “eis-me” da minha vida, codre, quando eu rezo muitas vemo está?». Exatamente quando zes, enraiveço-me com o Serevemos as Escrituras damo-nos nhor...», a resposta é: «também conta de que a resposta não é isto é oração! Deus gosta quanbanal: «Escondo-me como do te enraiveces e lhe dizes na Adão para não responder? Ou cara o que sentes, porque é pai! quando o Senhor me chama, Mas também isto é um “eisem vez de dizer “eis-me” ou “o Dante Gabriel Rossetti, «Ecce Ancilla Domini» (1850) me”». que queres de mim?”, fujo, coCONTINUAÇÃO DA PÁGINA 11 número 4, quinta-feira 26 de janeiro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 13 Francisco denunciou a chaga da criminalidade organizada e invocou a conversão dos criminosos Contra todas as máfias O dinheiro dos negócios sujos está ensanguentado e produz um poder iníquo Um renovado apelo a lutar contra todos os tipos de máfia foi lançado pelo Papa Francisco na manhã de 23 de janeiro, durante a audiência concedida à Direção nacional antimáfia e antiterrorismo italiana, recebidos na sala do Consistório. Ilustres Senhoras e Senhores Estou feliz por vos receber, a vós que representais a Direção Nacional Antimáfia e Antiterrorismo. Saúdovos cordialmente e agradeço ao Dr. Franco Roberti as suas palavras. As funções que vos foram confiadas pelo Estado dizem respeito à perseguição dos delitos das três grandes organizações criminosas de tipo mafioso: máfia, camorra e ’ndrangheta. Elas encontram um terreno fértil para realizar os seus projetos deploráveis, explorando carências económicas, sociais e políticas. Entre as vossas competências há também a luta contra o terrorismo, que adquire um aspeto cada vez mais cosmopolita e devastador. Desejo manifestar-vos o meu apreço e o meu encorajamento pela vossa atividade, difícil e perigosa, e contudo mais indispensável do que nunca para o resgate e a libertação do poder das associações criminosas, que se tornam responsáveis por violências e opressões manchadas de sangue humano. A sociedade tem necessidade de ser curada da corrupção, das extorsões, do tráfico ilícito de drogas e de Telegrama ao presidente norte-americano Trump Dignidade humana e liberdade No dia da tomada de posse na Casa Branca de Donald Trump, quadragésimo quinto presidente dos Estados Unidos da América, o Pontífice enviou-lhe um telegrama de bons votos do qual apresentamos a tradução. No momento da sua tomada de posse como quadragésimo quinto presidente dos Estados Unidos da América, apresento-lhe os meus cordiais bons votos e a certeza das minhas preces a fim de que Deus Omnipotente lhe conceda sabedoria e força no desempenho do seu alto cargo. Num tempo em que a nossa família humana está afligida por graves crises humanitárias que requerem respostas políticas clarividentes e unidas, rezo para que as suas decisões sejam guiadas pelos ricos valores espirituais e éticos que forjaram a história do povo americano e o compromisso da sua nação pela promoção da dignidade humana e da liberdade em todo o mundo. Sob a sua guia, possa a grandeza da América continuar a ser medida antes de mais com base na sua solicitude pelos pobres, os marginalizados e os necessitados que, como Lázaro, estão diante da nossa porta. Com estes sentimentos, peço ao Senhor que lhe conceda, bem como à sua família, e a todo o amado povo americano, as suas bênçãos de paz, concórdia e prosperidade material e espiritual. FRANCISCO armas, do tráfico de seres humanos, entre os quais numerosas crianças, reduzidas à escravidão. Trata-se de autênticos flagelos sociais e, ao mesmo tempo, de desafios globais que a coletividade internacional é chamada a enfrentar com determinação. Nesta perspetiva, tomei conhecimento de que a vossa atividade de combate ao crime se desenvolve oportunamente em colaboração com os colegas de outros Estados. Este trabalho, levado a cabo em sinergia e com meios eficazes, constitui uma proteção eficaz e uma guarnição de segurança para a coletividade. A sociedade tem grande confiança no vosso profissionalismo e na vossa experiência de magistrados de investigação, comprometidos no combate e na erradicação do crime organizado. Exorto-vos a dedicar todos os esforços, especialmente na luta contra o tráfico de pessoas e o contrabando de migrantes: trata-se de crimes muito graves que atingem os mais frágeis entre os frágeis! A este propósito, é necessário incrementar as atividades de tutela das vítimas, prevendo a assistência jurídica e social a estes nossos irmãos e irmãs em busca de paz e de futuro. Aqueles que fogem dos seus países por causa da guerra, das violências e das perseguições têm o direito de receber hospitalidade adequada e salvaguarda idónea nos países que se definem civis. Para completar e fortalecer a vossa preciosa obra de repressão, são necessárias intervenções educacionais de longo alcance, destinadas de modo especial às novas gerações. Com esta finalidade, as várias agências no campo da educação, entre as quais famílias, escolas, comunidades cristãs, realidades desportivas e culturais, são chamadas a favorecer uma consciência de moral e de legalidade visando modelos de vida honestos, pacíficos e solidários que, gradual- mente, vençam o mal e aplainem o caminho para o bem. Trata-se de começar a partir das consciências para purificar os propósitos, as escolhas e as atitudes dos indivíduos, de tal forma que o tecido social se abra à esperança de um mundo melhor. O fenómeno mafioso, como repressão de uma cultura de morte, deve ser contrastado e combatido. Ele opõe-se radicalmente à fé e ao Evangelho, que são sempre favoráveis à vida. Quantos seguem Cristo têm pensamentos de paz, de fraternidade, de justiça, de acolhimento e de perdão. Quando a linfa do Evangelho escorre nos discípulos de Cristo, amadurecem frutos bons que se podem reconhecer também a partir de fora, com comportamentos correspondentes que o Apóstolo Paulo identifica com «caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade» (Gl 5, 22). Penso nas numerosas paróquias e associações católicas que são testemunhas destes frutos. Elas desempenham um trabalho louvável no território, em vista de favorecer o povo, uma promoção cultural e social destinada a extirpar progressivamente pela raiz a erva daninha da criminalidade organizada e da corrupção. Nestas iniciativas, manifesta-se igualmente a proximidade da Igreja em relação a quantos vivem situações dramáticas e têm necessidade de ser ajudados a sair da espiral da violência e a regenerar-se na esperança. Caros irmãos e irmãs, o Senhor vos dê sempre a força para ir em frente, para não desanimar e para continuar a lutar contra a corrupção, a violência, a máfia e o terrorismo. Estou consciente de que o trabalho por vós realizado comporta também o risco da vida, como bem sei; e o risco de outros perigos para vós e para as vossas famílias. O modo mafioso de agir causa estas coisas. Por isso, exige um suplemento de paixão, de sentido do dever e de força de espírito mas também, da nossa parte, de todos os cidadãos que beneficiam do vosso trabalho [um suplemento] de ajuda, de oração e de proximidade. Asseguro-vos que estou muito perto de vós no vosso trabalho e que rezo por vós. Ao mesmo tempo, o Senhor justo e misericordioso toque o coração dos homens e das mulheres das várias máfias, a fim de que parem, deixem de praticar o mal, se convertam e mudem de vida. O dinheiro dos negócios sujos e dos delitos mafiosos está ensanguentado e produz um poder iníquo. Todos nós sabemos que o diabo «entra pelos bolsos»: eis a primeira corrupção! Sobre vós, as vossas famílias e o vosso trabalho, invoco a ajuda do Senhor. Repito-vos: estou próximo de vós! E enquanto vos peço, também a vós, que oreis por mim, abençoo-vos de coração. O Senhor vos abençoe, bem como as vossas famílias. L’OSSERVATORE ROMANO página 14 quinta-feira 26 de janeiro de 2017, número 4 Diálogo com Mussie Zerai Uma voz para quem não a tem ROSSELLA FABIANI Éa história de uma vida, mas ao mesmo tempo, a de centenas de outras vidas. Aquelas dos desesperados que fogem para a Europa e que o «padre Moisés» há anos ajuda de todas as maneiras. O «padre Moisés» é Mussie Zerai, sacerdote escalabriniano, eritreu de Asmara, por sua vez refugiado, que chegou à Itália em 1992 com 17 anos, fundador da associação humanitária Habeshia, candidato ao Nobel para a paz em 2015, inserido pelo semanário Time entre as cem personalidades mais influentes de 2016 na categoria «pioneiros», que acabou de publicar a sua autobiografia, escrita juntamente com o jornalista da Rai, Giuseppe Carrisi (Florença, Giunti, 2017, 224 páginas). Um livro que se enlaça em duplo sentido com as vicissitudes e com o destino dos migrantes. «Nasceu como um testemunho para dizer concretamente o quê e como se pode fazer, partindo da minha experiência pessoal. Porque cada um de nós deve ser promotor de solidariedade e justiça. A quem se sente esmagado pelo problema enorme das migrações e acredita que nada pode fazer, digo: começa a ajudar quem está ao teu lado». Também Mussie Zerai antes de ajudar os outros, a ponto de ser apelidado como «anjo dos migrantes», foi ajudado. «Encontrei-me com o meu primeiro benfeitor quando eu tinha 16 anos, ele era o abade dos cistercienses de Casamari em visita à Eritreia e Etiópia. Conheci-o no avião que de Asmara me levava a Adis Abeba onde eu tinha ido a fim de obter os documentos para entrar na Itália. Ajudei-o um pouco servindo de intérprete e disse-lhe que, se tudo corresse bem, dali a pouco tempo estaria em Roma. Ele ofereceu-me hospitalidade na casa que os cistercienses possuem na praça de Trevi. Cheguei lá à noite, estava tudo escuro e não me dei conta de onde estava. De manhã acordei com o rumor da água e das pessoas. Perguntei a um monge se eram abelhas. Ele olhou para mim admirado, fez-me subir ao teto e mostrou-me aquela maravilha. O meu segundo benfeitor foram dois gémeos, dois jovens voluntários e que hoje são pianistas famosos. Perguntaram-me desde quando eu não falava com os meus parentes. Pagaram-me a refeição e ofereceram-me um cartão telefónico. Isto foi importantíssimo para mim, mas todos podem fazer o mesmo, todos podem comprar um cartão telefónico de 5 euros». Agora o «padre Moisés» tem um telemóvel que está sempre ligado. Esse número começou a circular entre os migrantes depois que, em 2003, visitou como intérprete uma prisão líbica e deu-o a um refugiado eritreu que em seguida o escreveu na parede, acompanhando-o com uma frase: «Em caso de necessidade, ligai para este número». Desde então Mussie Zerai recebe telefonemas continuamente: «Nos últimos cinco ou seis anos penso que contribuí para salvar pelo menos cento e sessenta mil pessoas. A minha tarefa é servir de voz a quem não tem voz. Isto dá-me a força para continuar. Os migrantes sofrem as violências mais atrozes. Como a dos traficantes que com frequência se transformam em escravistas que sequestram quem tenta fugir para pedir um resgate às famílias e assim obter mais dinheiro, quando não matam para vender os órgãos, como aconteceu no Egito, no Sinai e ainda acontece noutros lugares para onde foram deslocadas as rotas das migrações». No subtítulo do livro do padre Zerai está escrito: «Na viagem do desespero o seu número de telefone é a última esperança». Se a ajuda mais eficaz é a que vem de baixo — «a fórmula ajudemo-los na sua casa, transformou-se em exploremo-los na sua casa e as remessas dos emigrantes até agora foram o único instrumento para melhorar as condições de vida de quem permanece» — para enfrentar a questão migratória Mussie Zerai propõe Padre Mussie Zerai uma estratégia em três pontos. «O primeiro, a longo prazo, é intervir na raiz do problema: se for a guerra, é preciso acabar com ela; se for a ditadura, a violação dos direitos, é preciso exercer pressões diplomáticas sobre os governos que oprimem os seus cidadãos; se for a fome é necessário apostar num efetivo desenvolvimento económico. Mas estas não são questões que se resolvem de hoje para amanhã. Eis então o segundo ponto: começar a proteger quem foge para os países próximos. Se não a fuga continua para outros países e os únicos que lucram com isto são os traficantes». Mas como se pode deveras ajudar a África? «A África é o continente mais rico de todos em matérias-primas e em potencialidades agrícolas. Audiência ao presidente da República do Paraguai A 20 de janeiro o Papa Francisco recebeu em audiência Horacio Manuel Cartes Jara, presidente da República do Paraguai, o qual se encontrou sucessivamente com o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, acompanhado pelo arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados. Os colóquios, realizados num clima de cordialidade, focalizaram as boas relações existentes entre a Santa Sé e o Paraguai. Foram tratados temas de interesse comum, como o desenvolvimento integral da pessoa humana, a luta contra a pobreza e a paz social. Nesta perspetiva, evidenciaram a colaboração com a Igreja católica e o contributo que ela oferece no âmbito social, formativo e na assistência aos mais necessitados. Durante os diálogos houve um intercâmbio de opiniões sobre a situação política e social regional, com referência especial ao desenvolvimento das instituições democráticas. Não precisa de ajuda, precisa de justiça. A pobreza mais grave da África é a de liderança. Não há líderes que coloquem o bem-estar dos povos no centro do seu programa. É a África que se deve ajudar a si mesma. Inclusive redescobrindo a sua cultura, as suas raízes. Por exemplo, há um livro da autoria de um monge cisterciense, que é um recenseamento dos sítios e dos vestígios cristãos no planalto da Etiópia e na Eritreia. Existem iniciativas para reunir as tradições orais, as poesias, para fazer pesquisas arqueológicas. Algo começa a mover-se. Lentamente e nem em todos os países. Mas o papel da cultura e da espiritualidade pode ser decisivo. A minha experiência é uma prova disto. Senti a minha vocação aos 14 anos, quando vivia em Asmara. Mas meu pai, que migrou quando eu tinha quatro anos e telefonava uma vez por mês para a minha avó com a qual eu vivia, disse que devia estudar e decidir quando fosse maior de idade. Depois, também eu deixei a Eritreia e a vocação voltou com vigor em 2000, no ano do jubileu». Mussie Zerai desempenhou muitos trabalhos: vendedor de frutas na praça Vittorio, de jornais, camareiro num teatro paroquial. Fez sobretudo voluntariado na paróquia da comunidade eritreia em Roma. «Abria a igreja que durante a noite se tornava dormitório. Servia de intérprete aos jovens que chegavam, às mulheres que trabalhavam como domésticas, a todos que tinham um problema. Certa vez uma senhora disse-me: não precisamos só de ajuda material mas também de auxílio espiritual. Para mim tornou-se claro o desejo de ser sacerdote. Mas sacerdote dos migrantes. Recordei-me que em 1997 tinha visto na tv a beatificação de Giovanni Scalabrini, o qual dedicou a sua vida a ajudar os migrantes e pensei: precisamos de pessoas como ele. Foi como a conclusão de um ciclo. Em setembro de 2000 comecei a minha formação sacerdotal e em 2010 recebi a ordenação na igreja de Santo Estêvão dos Abissínios». Desde 2011 o padre Zerai é responsável pelos 14 centros dos eritreus que vivem na Suíça e, desde 2014, é coordenador de todos os católicos eritreus que vivem na Europa. Mas o telefone do «padre Moisés» está sempre ligado para todos os migrantes. L’OSSERVATORE ROMANO número 4, quinta-feira 26 de janeiro de 2017 página 15 INFORMAÇÕES Audiências O Senhor Cardeal Zenon Grocholewski, Prefeito Emérito da Congregação para a Educação Católica (para os Institutos de Estudos); D. Vincenzo Paglia, Presidente da Pontifícia Academia para a Vida; D. Giuseppe Sciacca, Secretário do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica; e D. Robert Rivas, Arcebispo de Castries (Santa Lúcia). chael Neary, Arcebispo de Tuam; D. Brendan Kelly, Bispo de Achonry; D. John Kirby, Bispo de Clonfert; D. Kevin Peter Doran, Bispo de Elphin, com o Bispo Emérito D. Christopher Jones; D. John Fleming, Bispo de Killala; D. Fintan Monahan, Bispo de Killaloe; e D. Liam S. MacDaid, Bispo Emérito de Clogher; e os Rev.mos Monsenhores Michael Ryan, Administrador Diocesano de Ossory; Michael McLaughlin, Administrador Diocesano de Galway and Kilmacduagh; e Joseph McGuinness, Administrador Diocesano de Clogher. A 20 de janeiro A 21 de janeiro Sua Ex.cia o Senhor James Kwame Bebaako-Mensah, Embaixador de Gana, em visita de despedida. Os Senhores Cardeais Angelo Amato, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos; Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos; e Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; Mons. Pio Vito Pinto, Decano do Tribunal da Rota Romana, com o Pró-Decano, Mons. Maurice Monier; e o Colégio dos Prelados Auditores do Tribunal da Rota Romana. O Papa Francisco recebeu em audiências particulares: A 19 de janeiro Os seguintes Prelados da Conferência Episcopal da Irlanda, em visita «ad limina Apostolorum»: D. Eamon Martin, Arcebispo de Armagh; D. Francis Duffy, Bispo de Ardagh; D. Donal McKeown, Bispo de Derry; D. Noël Treanor, Bispo de Down and Connor; D. John McAreavey, Bispo de Dromore; D. Philip Leo O’Reilly, Bispo de Kilmore; D. Michael Smith, Bispo de Meath; D. Philip Boyce, Bispo de Raphoe; D. Kieran O’Reilly, Arcebispo de Cashel and Emly; D. William Crean, Bispo de Cloyne; D. John Buckley, Bispo de Cork and Ross; D. Raymond Browne, Bispo de Kerry; D. Brendan Leahy, Bispo de Limerick, com o Bispo Emérito D. Donal Brendan Murray; D. Alphonsus Cullinan, Bispo de Waterford and Lismore; D. Diarmuid Martin, Arcebispo de Dublim, com os Auxiliares D. Eamonn Oliver Walsh e D. Raymond W. Field; D. Denis Brennan, Bispo de Ferns; D. Denis Nulty, Bispo de Kildare and Leighlin; D. Mi- A 23 de janeiro O Senhor Cardeal Stanisław Ryłko, Arcipreste da Basílica Papal de Santa Maria Maior; D. Ghaleb Bader, Núncio Apostólico no Paquistão; e D. Lázaro You Heung-sik, Bispo de Daejeon (Coreia). Renúncias O Santo Padre aceitou a renúncia: No dia 23 de janeiro De D. Antonios Aziz Mina ao governo pastoral da Eparquia de Guizé dos Coptas (Egito). Congregação para as causas dos santos Promulgação de decretos No dia 20 de janeiro, o Papa Francisco recebeu em audiência o Senhor Cardeal Angelo Amato, S.D.B., prefeito da Congregação para as causas dos santos, durante a qual o Sumo Pontífice autorizou a Congregação a promulgar os decretos relativos: — ao milagre, atribuído à intervenção do venerável servo de Deus Arsénio de Trigolo (no século: José Migliavacca), sacerdote professo da ordem dos Frades menores capuchinhos, fundador da congregação das irmãs de Maria Santíssima Consoladora; nascido a 13 de junho de 1849 e falecido no dia 10 de dezembro de 1909; — às virtudes heroicas do servo de Deus Raimundo Jardón Herrera, sacerdote diocesano; nascido no dia 21 de janeiro de 1887 e falecido a 6 de janeiro de 1934; — às virtudes heroicas do servo de Deus João Sáez Hurtado, sacerdote diocesano; nascido no dia 18 de dezembro de 1897 e falecido a 8 de agosto de 1982; — às virtudes heroicas do servo de Deus Inácio Beschin (no século: José), sacerdote professo da ordem dos Frades menores; nascido a 26 de agosto de 1880 e falecido no dia 29 de outubro de 1952; — às virtudes heroicas do servo de Deus José Wech Vandor, sacerdote professo da Sociedade salesiana de São João Bosco; nascido a 29 de outubro de 1909 e falecido no dia 8 de outubro de 1979; — às virtudes heroicas do servo de Deus Francisco Convertini, sacerdote professo da Sociedade salesiana de São João Bosco; nascido a 29 de agosto de 1898 e falecido no dia 11 de fevereiro de 1976; — às virtudes heroicas da serva de Deus Santina Maria das Dores (no século: Maria Addolorata De Pascali), fundadora da congregação das irmãs Discípulas do Sagrado Coração; nascida no dia 10 de junho de 1897 e falecida a 19 de maio de 1981; e — às virtudes heroicas do servo de Deus João Tyranowski, leigo; nascido no dia 9 de fevereiro de 1901 e falecido a 15 de março de 1947. No dia 24 de janeiro De Thomas Antony Vazhapilly ao governo pastoral da Diocese de Mysore (Índia). Nomeações O Sumo Pontífice nomeou: A 19 de janeiro Legado para a celebração do XXV Dia Mundial do Doente, que terá lugar em Lourdes (França) a 11 de fevereiro, o Senhor Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado. A 20 de janeiro Bispo da Diocese de Kerema (Papua-Nova Guiné), o Rev.do Pe. Pedro Baquero, S.D.B., até hoje Vigário Provincial dos Salesianos de PapuaNova Guiné e Ilhas Salomão. D. Pedro Baquero, S.D.B., nasceu em Manila (Filipinas), no dia 15 de setembro de 1970. Recebeu a Ordenação sacerdotal a 8 de dezembro de 1999. A 21 de janeiro Núncio Apostólico na Índia e no Nepal, D. Giambattista Diquattro, Arcebispo Titular de Giromonte, até hoje Núncio Apostólico na Bolívia. Núncio Apostólico no Uzbequistão, D. Celestino Migliore, Arcebispo Titular de Canosa, atualmente Núncio Apostólico na Federação Russa. James T. Schuerman, ambos do clero da mesma Arquidiocese, até esta data Reitor da Cathedral of Saint John the Evangelist em Milwaukee, o primeiro, e Pároco da Saint Francis de Sales Parish em Lake Geneva, o segundo, simultânea e respetivamente eleitos Bispos Titulares de Tagamuta e de Girba. D. Jeffrey R. Haines nasceu no dia 6 de outubro de 1958, em Milwaukee (EUA). Foi ordenado Sacerdote a 17 de maio de 1985. D. James T. Schuerman nasceu em Milwaukee (EUA) a 5 de abril de 1957. Recebeu a Ordenação sacerdotal no dia 17 de maio de 1986. Disposições especiais O Papa confirmou: No dia 24 de janeiro A eleição canónica realizada sob a norma do n. 130 dos Estatutos, nomeando Prelado da Prelatura Pessoal da Santa Cruz e Opus Dei, o Rev.mo Mons. Fernando Ocáriz, até hoje Vigário Auxiliar da mesma Prelatura. Prelados falecidos Adormeceram no Senhor: A 20 de janeiro A 23 de janeiro D. José Luis Astigarraga Lizarralde, ex-Vigário Apostólico de Yurimaguas (Peru). Administrador Apostólico sede vacante da Eparquia de Guizé dos Coptas (Egito), Sua Beatitude D. Ibrahim Isaac Sedrak, atualmente Patriarca de Alexandria dos Coptas. O saudoso Prelado nasceu em Azcoitia (Espanha), a 4 de maio de 1940. Recebeu a Ordenação sacerdotal no dia 1 de fevereiro de 1964. Foi ordenado Bispo em 29 de fevereiro de 1992. Auxiliar de San Antonio (EUA), o Rev.mo Mons. Michael J. Boulette, do clero da mesma Arquidiocese, até agora Diretor do centro espiritual «Saint Peter upon the Water» em Ingram, simultaneamente eleito Bispo Titular de Geron. A 21 de janeiro D. Michael J. Boulette nasceu a 4 de junho de 1950, em Hudson Falls (EUA). Recebeu a Ordenação sacerdotal no dia 19 de março de 1976. A 24 de janeiro D. Francesco Saverio Salerno, ex-Secretário do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica. O ilustre Prelado nasceu em Caserta (Itália), no dia 27 de agosto de 1928. Foi ordenado Sacerdote a 16 de março de 1952. Recebeu a Ordenação episcopal em 6 de janeiro de 1998. D. José de Jesús Madera Uribe, exAuxiliar do Ordinariato Militar dos Estados Unidos da América. Auxiliar da Arquidiocese de Bamenda (Camarões), o Rev.do Pe. Michael Miabesue Bibi, até esta data Secretário Chanceler da mesma Arquidiocese, simultaneamente eleito Bispo Titular de Amudarsa. O venerando Prelado nasceu em San Francisco (EUA), no dia 27 de novembro de 1927. Recebeu a Ordenação sacerdotal a 15 de junho de 1957. Foi ordenado Bispo em 4 de março de 1980. D. Michael Miabesue Bibi nasceu a 28 de julho de 1971, em Bamessing (Camarões). Foi ordenado Sacerdote no dia 26 de abril de 2000. D. Pietro Bottacioli, Bispo Emérito de Gubbio (Itália). A 24 de janeiro Bispo de Mysore (Índia), o Rev.do Pe. Kannikadass William Antony, do clero de Mysore, Pároco de Saint Joseph’s Church e porta-voz (Public Relation Officer) da mesma Diocese. D. Kannikadass William Antony nasceu a 27 de fevereiro de 1965, em Polibeta (Índia). Recebeu a Ordenação sacerdotal em 18 de maio de 1993. Auxiliares de Milwaukee (EUA), os Rev.dos Padres Jeffrey R. Haines e A 22 de janeiro O saudoso Bispo nasceu no dia 15 de fevereiro de 1928, em Umbertide (Itália). Foi ordenado Sacerdote a 1 de outubro de 1950. Recebeu a Ordenação episcopal em 16 de maio de 1989. Igrejas Católicas O rientais O Sínodo dos Bispos da Igreja Arquiepiscopal-Mor Sírio-Malancar aceitou a renúncia ao governo pastoral da Eparquia de Puthur (Índia), apresentada por D. Geevarghese Mar Divannasios Ottathengil. L’OSSERVATORE ROMANO página 16 quinta-feira 26 de janeiro de 2017, número 4 Stacy Tompkins, «Judite mata Holofernes» Na audiência geral o Papa falou da figura de Judite A coragem das mulheres Mulher «de grande beleza e sabedoria», mas sobretudo de «coragem», Judite fala com «a força de um profeta», indicando aos homens «o caminho da confiança» em Deus, frisou o Papa Francisco durante a audiência de quarta-feira 25 de janeiro, na sala Paulo VI, dedicando a catequese à figura bíblica que «dá nova força ao seu povo em perigo mortal, conduzindo-o pelos caminhos da esperança». Eis a reflexão do Sumo Pontífice. Bom dia, estimados irmãos e irmãs! Entre as figuras femininas que o Antigo Testamento nos apresenta, sobressai a de uma grande heroína do povo: Judite. O Livro bíblico que tem o seu nome descreve a imponente campanha militar do rei Nabucodonosor que, reinando em Nínive, amplia os confins do império derrotando e subjugando todos os povos ao seu redor. O leitor entende que se encontra diante de um inimigo grande e invencível, que semeia morte e destruição, e chega até à Terra Prometida, pondo em perigo a vida dos filhos de Israel. Com efeito, o exército de Nabucodonosor, sob a guia do general Holofernes, impõe o cerco a uma cidade da Judeia, Betúlia, interrompendo o fornecimento de água, minando assim a resistência da população. A situação torna-se dramática, a tal ponto que os habitantes da cidade vão ter com os anciãos para lhes pedir que se rendam aos inimigos. As suas palavras são desesperadas: «Agora não há ninguém para nos socorrer, e Deus entregou-nos nas mãos deles, para morrermos de sede, na miséria extrema. Chegaram a dizer isto: “Deus entregou-nos nas mãos deles”; o desespero daquela gente era grande. Entregai toda a cidade em cativeiro ao povo de Holofernes e a todo o seu exército» (Jt 7, 25-26). O fim já parece iniludível, esgotou-se a capacidade de se confiar a Deus. E quantas vezes nós chegamos a situações limite, quando nem sequer sentimos a capacidade de ter confiança no Senhor. É uma tentação horrível! E, paradoxalmente, parece que para fugir da morte não há outra coisa a fazer, a não ser entregar-se nas mãos de quem mata. Sabem que estes soldados entrarão para saquear a cidade, raptar as mulheres como escravas e depois matar todos os outros. É exatamente este «o limite». E diante de tanto desespero, o chefe do povo procura propor um pretexto de esperança: resistir mais cinco dias, à espera da intervenção salvífica de Deus. Mas é uma esperança frágil, que o leva a concluir: «Mas se esses cinco dias passarem sem que nos venha o socorro, então farei segundo o que dizeis» (7, 25). Pobrezinho: estava sem saída. Concedem cinco dias a Deus — e nisto consiste o pecado — são concedidos cinco dias a Deus para intervir; cinco dias de espera, mas já na perspetiva do fim. Concedem cinco dias a Deus para os salvar, mas sabem que não têm confiança, esperam o pior. Na realidade, no meio do povo já ninguém é capaz de esperar. Estavam desesperados. É nesta situação que Judite entra em cena. Viúva, mulher de grande beleza e sabedoria, fala ao povo com a linguagem da fé. Corajosa, repreende o pov0 na cara (dizendo): «Agora tentais o Senhor TodoPoderoso [...]. Não, irmãos, não provoqueis o Senhor nosso Deus! Se não quiser ajudar-nos nestes cinco dias, Ele tem o poder, nos dias que quiser, para nos ajudar ou então para nos exterminar diante dos nossos inimigos. [...] Por isso, aguardando a salvação da sua parte, supliquemos-lhe que venha em nosso auxílio e Ele escutará a nossa voz, se bem lhe aprouver» (8, 13.14-15.17). É a linguagem da esperança! Batamos à porta do Coração de Deus, Ele é Pai e pode salvar-nos! Aquela mulher, viúva, corre o risco de fazer má figura diante dos outros! Mas é corajosa, vai em frente! Esta é a minha opinião: as mulheres são mais corajosas do que os homens (aplausos na sala). E com a força de um profeta, Judite repreende os homens do seu povo para os reconduzir à confiança em Deus; com o olhar de um profeta, ela vê mais além do horizonte limitado proposto pelos chefes e que o medo torna ainda mais restrito. Sem dúvida Deus intervirá — afirma ela — enquanto a proposta dos cinco dias de espera é um modo para o tentar e para se subtrair à sua vontade. O Senhor é Deus de salvação — e crê nisto — independentemente da forma que ela assuma. Libertarse dos inimigos e deixar viver é salvação, mas nos seus planos insondáveis também a entrega à morte pode ser salvação. Como mulher de fé, ela sabe isto. Depois, conhecemos o fim, como termina a história: Deus salva. Caros irmãos e irmãs, nunca coloquemos condições a Deus mas, ao contrário, deixemos que a esperança vença os nossos receios. Confiar em Deus quer dizer entrar nos seus desígnios sem nada pretender, aceitando inclusive que a sua salvação e o seu auxílio cheguem a nós de modo diverso das nossas expetativas. Pedimos ao Senhor vida, saúde, afetos, felicidade; e é justo fazê-lo, mas com a consciência de que até da morte Deus sabe haurir vida, que é possível experimentar a paz inclusive na doença e que até na solidão pode haver serenidade, e bem-aventurança no pranto. Não somos nós que podemos ensinar a Deus o que Ele deve fazer, aquilo de que temos necessidade. Ele sabe-o me- lhor do que nós e devemos ter confiança porque os seus caminhos e os seus pensamentos são diferentes dos nossos. A senda que Judite nos indica é a via da confiança, da espera na paz, da oração e da obediência. É o caminho da esperança. Sem fáceis resignações, fazendo tudo o que está ao nosso alcance, mas permanecendo sempre no sulco da vontade do Senhor, porque — bem sabemos — ela rezou muito, falou tanto ao povo e depois partiu com coragem para procurar o modo de se aproximar do chefe do exército e conseguiu cortar-lhe a cabeça, degolá-lo. É intrépida na fé e nas obras. E procura sempre o Senhor! Com efeito, Judite tem um plano, coloca-o em prática com sucesso e leva o povo à vitória, mas sempre com a atitude de fé de quem aceita tudo das mãos de Deus, convicta da sua bondade. Deste modo, uma mulher cheia de fé e de coragem dá nova força ao seu povo em perigo mortal e leva-o pelos caminhos da esperança, apontando-o também a nós. Quanto a nós, se tivermos um pouco de memória, quantas vezes ouvimos palavras sábias e corajosas de pessoas humildes, de mulheres simples que na opinião de alguns — sem as desprezar — eram ignorantes... Mas são palavras da sabedoria de Deus! As palavras das avós... Quantas vezes as avós sabem pronunciar a palavra certa, uma palavra de esperança, porque têm a experiência da vida, sofreram muito, confiaram em Deus e o Senhor concedenos a graça de nos dar o conselho da esperança. E, percorrendo estes caminhos, será alegria e luz pascal confiar-nos ao Senhor com as palavras de Jesus: «Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice! Contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua» (Lc 22, 42). Esta é a prece da sabedoria, da confiança e da esperança. No final o Santo Padre proferiu ainda, entre outras, as seguintes saudações. Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa, especialmente a quantos vieram do Brasil, convidando todos a permanecer fiéis a Cristo Jesus. Ele desafia-nos a sair do nosso mundo limitado e estreito para o Reino de Deus e a verdadeira liberdade. O Espírito Santo vos ilumine para poderdes levar a Bênção de Deus a todos os homens. A Virgem Mãe vele sobre o vosso caminho e vos proteja! Enfim dirijo um pensamento especial aos jovens, aos doentes e aos recém-casados. Hoje celebramos a Festa da Conversão de São Paulo. Amados jovens, a figura de Paulo seja para todos vós modelo do discipulado missionário. Prezados doentes, oferecei as vossas esperanças pela causa da unidade da Igreja de Cristo. E vós, diletos recém-casados, inspirai-vos no exemplo do Apóstolo das nações, reconhecendo na vossa vida familiar o primado de Deus e do amor.