L`O S S E RVATOR E ROMANO
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L`O S S E RVATOR E ROMANO
y(7HB5G3*QLTKKS( +_!"!$!z!,! Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’OSSERVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Cidade do Vaticano Ano XLVIII, número 5 (2.450) quinta-feira 2 de fevereiro de 2017 Aos consagrados Francisco pediu que valorizem a vida fraterna em comunidade Dizer não à cultura do provisório «Imergidos na chamada cultura do fragmento, do provisório, que pode levar a viver “à la carte” e a ser escravos das modas», a vida consagrada está a sofrer uma “hemorragia” «que enfraquece a própria Igreja». Por isso, é necessário valorizar a vida fraterna em comunidade, oferecendo ao mundo um testemunho de «esperança e alegria». Eis quanto recomendou o Papa Francisco à plenária da Congregação para os institutos de vida consagrada e as sociedades de vida apostólica, recebida na manhã de 28 de janeiro. O Pontífice enumerou os «fatores que influenciam a fidelidade nesta mudança de época, em que resulta difícil assumir compromissos sérios e definitivos». O primeiro fator é o contexto social hodierno marcado pela «cultura do provisório», a qual «induz à necessidade de ter sempre algumas “portas laterais” abertas sobre outras possibilidades». Além disso «vivemos em sociedades onde as regras económicas substituem as morais, ditam leis e impõem sistemas de referências»; sociedades onde reina «a ditadura do dinheiro». O segundo elemento diz respeito «ao mundo juvenil» considerado «não negativo», mas contudo «complexo, rico e desafiador. O terceiro fator indicado «provém da própria vida consagrada, onde além de tamanha santidade, não faltam situações de contra testemunho». Entre elas «a rotina, o cansaço, as divisões internas, a busca de poder — os arrivistas — um serviço da autoridade que por vezes se torna autoritarismo e, outras vezes, um “deixar fazer”». Mas o Papa sugeriu também um itinerário centrado na esperança e na alegria, remarcando enfim a importância inclusive do acompanhamento. PÁGINAS 6 E Na audiência geral dedicada à esperança o apelo do Papa Depois das ordens executivas do presidente norte-americano Responder ao grito da terra e dos pobres Fechamento não é progresso Um apelo angustiado «a fim de que as Igrejas locais respondam com determinação ao grito da terra e dos pobres» foi lançado pelo Papa Francisco no final da audiência geral de quarta-feira 1 de fevereiro. Saudando como de costume os grupos linguísticos presentes na Sala Paulo VI, o Pontífice dirigiu-se em particular à delegação do Movimento católico mundial pelo clima, agradecendo «o compromisso a cuidar da casa comum nestes tempos de grave crise socioambiental». Precedentemente, dando prosseguimento às reflexões sobre a esperança cristã à luz das leituras bíblicas, Francisco comentou o trecho da primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses (5, 4-11) sobre o tema da morte, para reafirmar com vigor que «também a nossa ressurreição e a dos nossos saudosos entes queridos não é algo que poderá verificar-se ou não, mas é uma reali- GIUSEPPE FIORENTINO Sharon Cummings, «Hope» (detalhe) dade certa, enquanto radicada» na ressurreição de Cristo. Em síntese, o cristão tem «a certeza» de estar «a caminho rumo a algo que existe». PÁGINA 12 A resistência não violenta Comissão mista internacional Mais fortes que as armas O caminho dos mártires ANTONELLA LUMINI NA PÁGINA 4 PÁGINA 3 Estão perfeitamente em sintonia com as promessas feitas durante a campanha eleitoral as ordens executivas que Donald Trump assinou imediatamente depois de ter assumido a presidência dos Estados Unidos. Do muro na fronteira com o México fez o seu cavalo de batalha nos meses que precederam a vitória contra Hillary Clinton. E também a promessa de limitar a imigração dos países de maioria islâmica foi um dos pontos fulcrais do seu programa. Muitos tinham considerado as suas propostas irrealizáveis ou classificaram-nas como exageros típicos do clima pré-eleitoral. E talvez também por esta razão todas as sondagens, sem exceção alguma, tinham prognosticado até ao último dia a vitória de Hillary Clinton na corrida para a Casa Branca. Ao contrário, quem venceu foi Trump. Mas não devemos pensar que o seu triunfo é devido aos projetos de fechamento. O candidato republicano pôde entrar na sala oval porque soube ocupar um espaço que a classe política de Washington — não por acaso indicada por Trump como o inimigo número um — não conseguiu aproveitar. Ou seja, elaborou um programa cujo ponto deveras significativo é a retomada da produção industrial no território 7 norte-americano, como resposta ao empobrecimento causado pela globalização. Contudo, só uma análise muito superficial pode fazer pensar que a luta contra as distorções de uma globalização mal gerida caminhe de mãos dadas com o fechamento das fronteiras ou com a construção de muros cada vez mais altos. É a própria história dos Estados Unidos que demonstra tudo isto, tendo construído o seu poder económico, e por conseguinte a sua influência política, graças ao trabalho dos imigrantes. Que, ademais, ainda são um recurso precioso, como testemunham as reações de muitas personalidades de primeiro plano do novo capitalismo «com estrelas e riscas» face à decisão de limitar a imigração. De Tim Cook de Apple (Steve Jobs era de origem síria) a Mark Zuckerberg de Facebook, o distanciamento da iniciativa de Trump foi unânime. Mas se não é uma surpresa que o silicon valley da Califórnia pós-hippie esteja por sua natureza distante do novo presidente, certamente é inédita a atitude dos gigantes das finanças como Goldman Sachs, que conta com a presença de algumas figuras mais proeminentes no seio da nova administração. Não obstante tudo, uma mensagem foi CONTINUA NA PÁGINA 3 L’OSSERVATORE ROMANO página 2 quinta-feira 2 de fevereiro de 2017, número 5 A cena do martírio LUCETTA SCARAFFIA filme de Scorsese está a suscitar amplos debates, dentro e fora do mundo católico, precisamente pela riqueza dos temas que trata. Refere-se ao Japão do século XVII, mas também ao hoje, época de perseguição dos cristãos por causa da sua fé, e propõe uma série de perguntas às quais há muito tempo já não estávamos acostumados a responder. Certamente a primeira é a crucial: tem sentido morrer por Deus? Hoje como outrora esta questão abala profundamente o sentido da fé e o valor que atribuímos à vida, a cobardia e a coragem, a esperança e o desespero. A resposta dos camponeses japoneses sugere que é mais fácil ter a coragem de morrer — se sabemos que vamos para o paraíso, onde estaremos muito melhor que no mundo em que vivemos — para quem vive neste mundo em situações de opressão e de dificuldades extremas. O Debate sobre «Silence» Grandes questões esquecidas Esta pergunta faz surgir outra: existe ainda algo nas nossas sociedades pelo qual se está disposto a morrer? Na realidade, pensamos que já não há nada pelo qual vale a pena oferecer a vida, aliás, não ousamos nem sequer formular a questão. Contudo, este não é o único so- Em nome do Papa Missão em Alepo Em nome do Papa Francisco, de 18 a 23 de janeiro, o secretário delegado do dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, monsenhor Giampietro Dal Toso, fez uma visita a Alepo, juntamente com o cardeal Mario Zenari, núncio apostólico na Síria, e com o conselheiro da nunciatura, monsenhor Thomas Habib. Tratou-se da primeira visita oficial por parte de representantes da Santa Sé depois do fim das hostilidades em Alepo. A delegação pôde encontrar-se com as comunidades cristãs e com os seus pastores, que expressaram gratidão ao Pontífice pela sua solicitude constante para com a amada Síria. Além disso, visitou as instituições de caridade católica e alguns campos de refugiados. Em particular, foi criado um centro de assistência humanitária gerido pela Caritas Alepo no bairro de Hanano. Durante a missão teve lugar um momento de oração ecuménico organizado por ocasião da semana para a unidade dos cristãos e foram supervisionadas as condições de algumas estruturas hospitalares católicas, à luz de um futuro projeto de reconstrução e implementa- ção das mesmas. Além disso, houve encontros com os representantes do islão, durante os quais foi sublinhada a responsabilidade das religiões na educação para a paz e a reconciliação. Durante a visita, as autoridades civis e religiosas homenagearam a delegação, manifestando um agradecimento especial pelo gesto do Papa de elevar à dignidade cardinalícia o representante pontifício no país e reconhecendo nisto a proximidade particular de Francisco à martirizada população da Síria. Por fim, durante os encontros com os organismos de caridade católicos sobressaiu a importância da assistência proporcionada por eles em benefício de toda a população síria. Com o apoio da Igreja universal e graças ao contributo generoso da comunidade internacional, esta ajuda poderá intensificar-se no futuro para fazer frente às crescentes necessidades das pessoas. Entre as urgências imediatas, devem ser assinaladas as relativas às necessidades alimentares, ao vestuário, à educação, à assistência no campo da saúde e aos alojamentos. L’OSSERVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt GIOVANNI MARIA VIAN diretor Giuseppe Fiorentino vice-diretor Cidade do Vaticano [email protected] www.osservatoreromano.va Redação via del Pellegrino, 00120 Cidade do Vaticano telefone +390669899420 fax +390669883675 traição? A questão num certo sentido permanece aberta, mas a fidelidade de Rodrigues a Jesus é testemunhada pelo pequeno crucifixo que a esposa japonesa lhe põe nas mãos depois da morte. Uma sepultura budista, mas nas mãos o óbolo para o paraíso cristão... O tema da traição e do perdão permanece subentendido em todas as vicissitudes, representado pelo japonês cobarde e traidor que contudo, com o seu insistente pedido de perdão, restitui ao jesuíta Rodrigues o papel sacerdotal, e que no final morre como mártir. Mas a questão que mais intrigou os comentadores leigos — em primeiro lugar o filósofo Roberto Esposito — foi o silêncio de Deus, do qual o romance e depois o filme assumiram o nome. O silêncio de Deus que esteve no centro das reflexões e da experiência de místicos e filósofos, e que se apresentou como questão dramaticamente atual depois da tragédia do Shoah. Uma resposta possível, sugerida pelo filósofo, é que este eclipse de Deus no momento mais dramático deixaria o homem livre para decidir e, por conseguinte, também para descobrir que as diferenças religiosas não têm valor algum, portanto a apostasia não seria pecado. Esta in- bressalto que o filme provoca na consciência do espectador: ele propõe outras três questões graves. Uma relativa às possibilidades de inculturação da fé cristã: os camponeses japoneses que sofrem sob as terríveis perseguições são deveras cristãos ou construíram uma religião sincretista, na qual acreditam cegamente mas que no final tem pouco a ver com a tradição cristã? Nunca o saberemos, mas a pergunta paira sobre toda a vicissitude, pondo em crise o projeto de evangelização dos jesuítas desde o início. A resposta de Ferreira a esta pergunta é negativa: os cristãos japoneO filme de Scorsese está a suscitar ses não são verdaamplos debates deiros cristãos, toda a obra de conRefere-se ao Japão do século XVII versão na qual mas também ao hoje, época de perseguição muitos se comprometeram, até perdos cristãos por causa da sua fé dendo a vida, foi e propõe uma série de perguntas às quais uma falência. E nisto encontra a há muito tempo já não estávamos justificação da sua acostumados a responder apostasia. Contudo, na raiz da apostasia dos dois jesuítas insere-se outra razão: o sofrimento que a sua terpretação deixou-me muito perplerejeição causava a alguns campone- xa: no filme de Scorsese a contínua ses inermes. Um cristão é senhor de referência à paixão de Cristo — desdoar a sua vida, mas não a do outro. de o Getsémani até ao brado de JeE é através deste intercâmbio de sus na cruz — sugere que o caminho destino que os japoneses conseguem da apostasia para salvar os outros é provocar a rendição dos dois missio- uma via de amor semelhante a do nários. Mas aceitar que se renegue o crucificado. cristianismo para salvar outros de A complexidade da questão, ou torturas horríveis, para crentes ver- melhor dizendo das questões, que o dadeiros significa perder a própria filme propõe constituem o centro do alma: tem sentido danar a alma pe- seu interesse e desempenham sem los outros? Porventura não é este o dúvida uma função de despertador supremo sacrifício que Cristo pede de consciências adormecidas. E, por aos dois jesuítas? Este não é o ato conseguinte, razão principal do intede caridade suprema, e não uma resse e do debate que está a suscitar. TIPO GRAFIA VATICANA EDITRICE L’OSSERVATORE ROMANO don Sergio Pellini S.D.B. diretor-geral Assinaturas: Itália - Vaticano: € 58.00; Europa: € 100.00 - U.S. $ 148.00; América Latina, África, Ásia: € 110.00 - U.S. $ 160.00; América do Norte, Oceânia: 162.00 - U.S. $ 240.00. 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Ecum. Vat. Cost. Lumen gentium, 11). Ao encorajar-vos a prosseguir, acalento a esperança de que a vossa obra possa indicar sendas preciosas ao nosso percurso, facilitando o caminho rumo àquele dia tão esperado em que teremos a graça de celebrar o Sacrifício do Senhor no mesmo altar, como sinal da comunhão eclesial plenamente restabelecida. II, Queridos irmãos em Cristo! Ao dar-vos as jubilosas boas-vindas, agradeço-vos a vossa presença e as gentis palavras que o Metropolita Bishoy me dirigiu em nome de todos. Agradeço também o bonito ícone, tão significativo, do sangue de Cristo, que nos revela a redenção do ventre de Nossa Senhora. Muito bonita! Através de vós, dirijo uma cordial saudação aos Chefes das Igrejas Ortodoxas Orientais, meus venerados irmãos. Olho com gratidão para o trabalho da vossa Comissão, fundada em 2003 e que chegou ao décimo quarto encontro. No ano passado iniciastes um aprofundamento sobre a natureza dos Sacramentos, em particular do Batismo. Precisamente no Batismo redescobrimos o fundamento da comunhão entre os cristãos; Católicos e Ortodoxos Orientais podemos repetir quanto afirmava o Apóstolo Paulo «Em um só Espírito fomos batizados todos nós» e pertencemos a «um só corpo» (1 Cor 12, 13). Ao longo desta semana pudestes refletir ulteriormente sobre aspetos históricos, teológicos e eclesiológicos da santa Eucaristia, «fonte e centro de toda a vida cristã», que admiravel- Muitos de vós pertencem a Igrejas que assistem quotidianamente ao alastrar-se da violência e a ações terríveis, perpetradas pelo extremismo fundamentalista. Estamos cientes de que situações de sofrimento tão trágico se radicam mais facilmente em contextos de pobreza, injustiça e exclusão social, causadas também pela instabilidade gerada por interesses particulares, muitas vezes externos, e por conflitos precedentes, que produziram condições de vida miseráveis, desertos culturais e espirituais nos quais é fácil manipular e instigar ao ódio. Todos os dias as vossas Igrejas estão próximas do sofrimen- to, chamadas a semear concórdia e a reconstruir pacientemente a esperança, confortando com a paz que vem do Senhor, uma paz que juntos devemos oferecer a um mundo ferido e dilacerado. «Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele», escrevia ainda são Paulo (1 Cor 12, 26). Estes vossos sofrimentos são os nossos sofrimentos. Uno-me a vós na oração, invocando o fim dos conflitos e a proximidade de Deus às populações profundamente desgastadas, especialmente as crianças, os doentes e os idosos. Sobretudo tenho a peito os bispos, os sacerdotes, os consagrados e os fiéis, vítimas de sequestros cruéis, e todos aqueles que foram feitos reféns ou reduzidos à escravidão. Possam ser de grande apoio às comunidades cristãs a intercessão e o exemplo de muitos nossos mártires e santos, eles que deram corajosamente testemunho a Cristo e alcançaram a unidade plena. E nós o que esperamos? Eles revelam-nos o âmago da nossa fé, que não consiste numa genérica mensagem de paz e reconciliação, mas no próprio Jesus, crucificado e ressuscitado: Ele é a nossa paz e a nossa reconciliação (cf. Ef 2, 14; 2 Cor 5, 18). Como seus discípulos, somos chamados a testemunhar em toda a parte, com vigor cristão, o seu amor humilde que reconcilia o homem de todos os tempos. Ali on- de violência chama violência e violência semeia morte, a nossa resposta é o fermento puro do Evangelho que, sem ceder às lógicas da força, faz brotar frutos de vida também da terra árida e alvoradas de esperança depois das noites de terror. O centro da vida cristã, o mistério de Jesus morto e ressuscitado por amor, é o ponto de referência também para o nosso caminho rumo à unidade plena. Os mártires, mais uma vez, indicam-nos o caminho: quantas vezes o sacrifício da vida levou os cristãos, aliás divididos sobre muitas questões, a estar unidos. Mártires e santos de todas as tradições eclesiais já são em Cristo um só (cf. Jo 17, 22); os seus nomes estão escritos no único e indiviso martirológio da Igreja de Deus. Tendo-se sacrificado por amor na terra, habitam a única Jerusalém celeste, próximos do Cordeiro imolado (cf. Ap 7, 13-17). A sua vida oferecida em dom apela-nos para a comunhão, a percorrer mais rapidamente o caminho rumo à unidade plena. Assim como na Igreja primitiva o sangue dos mártires foi semente de novos cristãos, também hoje o sangue de numerosos mártires seja semente de unidade entre os crentes, sinal e instrumento de um porvir em comunhão e em paz. Queridos irmãos, estou-vos grato porque trabalhais para este objetivo. Ao agradecer-vos a vossa visita, invoco sobre vós e sobre o vosso ministério a bênção do Senhor e a proteção da Santa Mãe de Deus. E se vos parece bom, cada um na própria língua, podemos rezar o PaiNosso juntos. Mensagem do Santo Padre aos participantes Milhares de americanos participaram recentemente em Washington na «March for life», encontro tradicional, nascido em 1974, promovido pelos movimentos e organizações próvida com o apoio da Conferência episcopal americana. O evento foi realizado na capital federal no aniversário da sentença «Roe vs Wade», com a qual a 22 de janeiro de 1973 o supremo tribunal legalizou a interrupção da gravidez. Aos partici- Em Washington na marcha pela vida pantes na quadragésima quarta edição, o Papa Francisco ofereceu o seu «caloroso» apoio. Numa mensagem assinada pelo cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, e enviada ao núncio apostólico nos Estados Unidos, D. Christoph Pierre, o Santo Padre afirmou: «É tão grande o valor de uma vida humana e é tão inalienável o direito à vida da criança inocente que cresce no ventre materno, que de modo algum é possível apresentar como um direito sobre o próprio corpo a faculdade de tomar decisões em relação a tal vida, que é um fim em si mesma, e que nunca pode ser objeto de domínio por parte de outro ser humano». Além disso, o Papa Francisco disse que «espera que este evento, no qual muitos Fechamento não é progresso CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1 enviada a todos os funcionários para sublinhar que o instituto «não apoia estas políticas». Essas tomadas de posição explicam-se com a simples constatação que fechar as portas aos migrantes significa privar o país de recursos potencialmente muito importantes. E é necessário recordar que a iniciativa do presidente diz respeito às pessoas provenientes de sete países considerados de risco em termos de terrorismo, com exclusão daqueles que mantêm relações económicas mais estreitas com os Estados Unidos. Certamente, ainda é muito cedo para falar de um Trump isolado, e o próprio presidente — segundo o qual o bloqueio parcial do aeroporto de Nova Iorque não é devido aos protestos, mas a um problema relativo ao sistema da Delta Airlines — apressou-se a afirmar que a maioria dos norte-americanos está do seu lado. Mas, sem dúvida, Trump deverá ter em consideração as reações da sociedade civil, provenientes inclusive da parte católica, em relação a uma iniciativa que não só pode revelar-se prejudicial para a esfera económica, mas que, no que concerne à recusa do acolhimento dos refugiados, parece realmente ir contra a tradição norte-americana de tutela dos direitos humanos. Duríssimas também as reprovações do âmbito político internacional relativamente às ordens executivas do presidente. Da Onu à Ue o coro foi unânime. Mas num mundo que tolera a perseguição dos cristãos no Médio Oriente, a tragédia dos rohingya ou os arames farpados no centro da Europa realmente ninguém se pode considerar inocente. cidadãos americanos manifestam a favor dos nossos irmãos e irmãs mais indefesos, possa contribuir para uma mobilização das consciências em defesa da vida e para medidas eficazes que garantam a sua adequada proteção jurídica». Na marcha de Washington, caracterizada por numerosos cartazes que convidavam a «pôr fim à prática do aborto» e «a escolher a vida» participaram diversas autoridades políticas. Como nos anos anteriores, a manifestação foi precedida por uma novena de oração e de arrependimento e por uma vigília noturna no santuário da Imaculada Conceição, que prosseguiu na cripta com as confissões, a recitação do terço, a oração noturna e a ostensão do Santíssimo Sacramento. A vigília e a marcha pela vida são consideradas pela Igreja nos Estados Unidos o momento culminante da novena de oração e penitência que nesses dias envolveu milhares de fiéis de todas as dioceses do país. No decorrer dos anos o número de adesão à marcha pela vida cresceu progressivamente chegando a contar, por exemplo em 2010, cerca de 300.000 presenças. L’OSSERVATORE ROMANO página 4 quinta-feira 2 de fevereiro de 2017, número 5 A resistência não violenta de Dietrich Bonhoeffer, Edith Stein e Jerzy Popiełuszko Mais fortes que as armas ANTONELLA LUMINI oje, na era do mundo global, dispomos dos instrumentos para conhecer o que acontece até longe de nós: guerras, genocídios, povos em fuga e perseguições. No entanto, muitas vezes tudo isto acontece no silêncio ou na indiferença do mundo. Também no presente, como no passado, muitos preferem não escolher, permanecendo à janela como espetadores que assistem a um naufrágio»: são as palavras inquietadoras de Anselmo Palini, na conclusão do seu livro Più forti delle armi. Dietrich Bonhoeffer, Edith Stein, Jerzy Popiełuszko (Roma, Editrice Ave, 2016, 346 páginas), com as quais formula interrogações urgentes à nossa época. Ainda nos questionamos como foi possível que quantos sabiam o que acontecia na Alemanha nazista nada tenham feito. Infelizmente, a mesma pergunta continua a ser válida inclusive nos nossos dias. Sabemos, vemos, assistimos ao vivo a destruições, execuções e violências de todos os tipos, como se se tratasse de cenas de um filme, já habituados ao horror das imagens, que praticamente já não conseguimos distinguir se são reais ou virtuais, como se estivéssemos anestesiados. Dietrich Bonhoeffer e Edith Stein, vítimas do regime nazista, Jerzy Popiełuszko, vítima do regime comunista polaco nos anos de Solidarność, de quem já se falou abundantemente, interpelam com força as consciências. Testemunham com a própria vida a possibilidade de atravessar a história permanecendo fiéis a si mesmos, sem se deixar esmagar pelas turbulências do engano, da violência e da opressão mais horrível. «Resistentes não violentos, não responderam ao mal com o mal, mas sim com palavras de verdade e com gestos de justiça». Pondo-se completamente em jogo, «até à própria vida antepuseram o primado da consciência e a fidelidade aos valores da paz e da liberdade». O sentido da memória não consiste apenas em chamar a atenção para acontecimentos de uma época histórica ainda próxima, mas em despertar as consciências, muitas vezes entorpecidas diante da realidade. Através de uma reconstrução pontual com base nos documentos, o autor consegue realçar a vida destas três grandes figuras, levando-as a sobressair como pontos de luz na obscuridade do tempo. O que os irmana é a determinação a enfrentar a realidade, a arcar com o sofrimento do mundo, encarnando até ao fundo aquele amor que ultrapassa os limites humanos. Diz Bonhoeffer: «Não se vencem as batalhas com as armas, mas com Deus (...) inclusive quando o caminho leva rumo à cruz». E afirma Edith Stein: «Quantos entendem que tudo isto é a Cruz de Cristo deveriam assumi-la sobre si em nome do próximo». Em 1938, quando se desencadeiam as perseguições contra os judeus e ganha terreno a ideologia da raça, o governo das Igrejas oficiais convida todos os pastores a fazer um juramento de fidelidade a Hitler. Bonhoeffer toma uma posi- «H ção explícita: «A Igreja permaneceu emudecida quando deveria ter gritado, porque o sangue dos inocentes clamava aos céus». Ele prefere «analisar os grandes acontecimentos da história universal a partir de baixo, da perspetiva de quantos são excluídos (...) dos oprimidos, dos desprezados e, em síntese, de todos os sofredores». Edith Stein Sem dúvida, é difícil ler a história enquanto a vivemos; é muito mais fácil interpretá-la a posteriori, quando as causas amadureceram os seus efeitos nefastos. Mas precisamente o Evangelho exorta a acordar, a captar os sinais do que acontece: «Hipócritas! Sabeis distinguir os aspetos do céu e da terra; como, pois, não sabeis reconhecer o tempo presente?» (Lc 12, 56). Também Edith Stein sente imediatamente o perigo que o nazismo representa não apenas para o povo judeu, mas inclusive para o povo alemão: «Quem transformará esta culpa horrível numa bênção para ambas as estirpes? Só quem não permitir que estas feridas abertas pelo ódio gerem mais ódio». Em 12 de abril de 1933 escreve a Pio XI para lhe pedir que não se cale, mas dali a poucos meses será ratificada a Concordata entre o Vaticano e o governo nazista. Pouco tempo depois o Papa publicará a encíclica Mit brennender Sorge (Com ardente preocupação) na qual, embora não de modo explícito, condena o nazismo. A Igreja ao contrário, como bem sabemos, toma a clara posição de condenação dos regimes comunistas, assumindo uma função dinâmica para a sua derrocada, sobretudo durante o pontificado de João Paulo II. Jerzy Popiełuszko, que desde 1982 celebrava missas pela pátria em Varsóvia, com grande afluência de fiéis, principalmente de operários, tornou-se testemunha de uma Igreja ao lado «de quantos vivem desprovidos de liberdade e cujas consciências são violadas». Numa das numerosas homilias, afirma: «Não vendamos o nosso ideal por um prato de lentilhas» e convida a esperar, dizendo que a mudança depende «de todos nós, da nossa solicitude pelos nossos irmãos inocentes, prisioneiros, da nossa existência vivida cada dia na verdade». Também hoje atravessamos um tempo de turbulências. Desde o fim da segunda guerra mundial, talvez pela primeira vez, sentimos que regredimos, como se os valores adquiridos com tanta dificuldade tivessem sido engolidos pela fúria de um vento contrário que ao mesmo tempo cancela até as ilusões, deixando todos è mercê da ansiedade e do medo em relação ao futuro. Revelam-se os enormes abusos da injustiça, mas diante de contradições insolúveis e do aniquilamento de povos ferozmente ofendidos na própria dignidade, só podemos contar com a consciência, com a finalidade de lhe permitir recuar. A história não se detém, é como um rio em cheia; se não se intervém, ele transborda. É necessário dar um passo atrás, enquanto ainda há tempo. Renunciar a algo, pôr-se em questão. Poder e abusos considerados direitos adquiridos in- quietam e interrogam. Todos somos chamados a responder, como em Nínive. O Ocidente acostumou-se a um teor excessivo, e por isso o próprio Papa Francisco exorta todos a um novo estilo de vida. Se a população mundial tivesse que viver neste nível, seriam necessários vários planetas Terra. Falta a medida, o abuso é grande. «Resistência e capitulação», como para Bonhoeffer, exigem firmeza nos valores e rendição do ego. Para cada mulher e homem de fé, não podem deixar de significar rendição a Deus e à sua vontade, que certamente não consiste em destruir para punir, mas em fazer com que a humanidade se converta e possa corrigir as graves consequências da injustiça. Se não se der um passo atrás nem houver o arrependimento, cada confronto levará a um conflito de interesses egoístas contrastantes, e as palavras tornar-se-ão um cálculo torvo, cada vez mais cínico e cego. Enquanto não nos colocarmos em estado de rendição, seremos todos cúmplices de um sistema. Só dando um passo atrás poderemos encontrar a medida de uma relação entre seres humanos, já sem máscaras, nus. A humanidade ocidental é viciada, prisioneira de demasiadas necessidades induzidas, decadente. O espetro dos poderes fortes ocorre quando o ego se arvora em ídolo, levando a crer que pode resolver as contradições do mundo. A supremacia é o maior perigo e sobressai exatamente do sentido de máxima impotência, quando todos se deixam arrebatar pelo medo e tendem a elevar quem grita mais alto, prometendo a resolução de todos os males. É no momento de máxima cegueira que a falsidade impera e seduz os deserdados, levando-os a crer que na terra nasceu um salvador, mas que na verdade é apenas um vendedor ambulante. Quando o perigo incumbe, «resistência e capitulação» tornam-se as únicas palavras que ainda falam. Rendição a Deus e resistência às seduções do engano, confiando-se à luz do Espírito: é isto, como afirma Bonhoeffer, que «salvará a alma das gerações vindouras». Francisco recebeu uma delegação do European Jewish Congress No dia da memória das vítimas do Shoah, 27 de janeiro, o Papa recebeu em audiência uma delegação de cinco membros da European Jewish Congress, acompanhados pelo salesiano Norbert Hofmann, secretário da Comissão para as relações religiosas com o judaísmo do Pontifício conselho para a promoção da unidade dos cristãos. Numa entrevista concedida à Rádio Vaticano o religioso evidenciou que o encontro foi muito significativo e demonstrou mais uma vez o diálogo fecundo que decorre entre católicos e judeus. De resto, acrescentou Hofmann, o próprio Pontífice recordou que a sua família, na Argentina, com frequência recebia visitas dos judeus. Um hábito amistoso que depois ele manteve. Durante a audiência o presidente do European Jewish Congress, Moshe Kantor, face ao aviltamento ético atual fez votos a fim de que sejam reforçados os valores partilhados por judeus e cristãos. Por sua vez, o Papa disse que o dia da memória é uma comemoração importante para todos e não só para os judeus, a fim de que uma tragédia como a do Shoah nunca mais se repita. L’OSSERVATORE ROMANO número 5, quinta-feira 2 de fevereiro de 2017 página 5 No Angelus o Santo Padre pediu Solidariedade constante e menos burocracia «Às populações da Itália central que ainda sofrem as consequências do terramoto e das difíceis condições atmosféricas» não devem faltar «o apoio constante das instituições e a solidariedade constante». Com este apelo lançado no final do Angelus de 29 de janeiro o Papa Francisco auspiciou que «qualquer tipo de burocracia não faça esperar nem sofrer ulteriormente» estas pessoas. Precedentemente o Pontífice tinha comentado para os fiéis presentes na praça de São Pedro o Evangelho do domingo, centrado sobre as bemaventuranças. Queridos irmãos e irmãs, bom dia! A liturgia deste domingo faz-nos meditar sobre as Bem-Aventuranças (cf. Mt 5, 1-12a), que abrem o grande sermão chamado “da montanha”, a “magna charta” do Novo Testamento. Jesus manifesta a vontade de Deus de conduzir os homens à felicidade. Esta mensagem já estava presente na pregação dos profetas: Deus está próximo dos pobres e dos oprimidos e liberta-os de quantos os maltratam. Mas nesta sua pregação Jesus segue um caminho particular: começa com o termo «bem-aventurados», ou seja, felizes; prossegue com a indicação da condição para ser tais; e conclui fazendo uma promessa. O motivo da bem-aventurança, ou seja, da felicidade, não consiste na condição exigida — por exemplo, «pobres em espírito», «aflitos», «famintos de justiça», «perseguidos»... — mas na promessa sucessiva, que deve ser acolhida com fé como dom de Deus. Parte-se da condição de mal-estar para se abrir ao dom de Deus e aceder ao mundo novo, o «reino» anunciado por Jesus. Este não é um mecanismo automático, mas um caminho de vida na esteira do Senhor, motivo pelo qual a realidade de malestar e de aflição é considerada numa perspetiva nova e experimentada segundo a conversão que se realiza. Não podemos ser bem-aventurados se não nos convertermos, se não formos capazes de apreciar e viver os dons de Deus. Quero meditar sobre a primeira bem-aventurança: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus» (v. 4). O pobre em espírito é quem assumiu os sentimentos e as atitudes daqueles pobres que na sua condição não se rebelam, mas sabem ser humildes, dóceis, disponíveis à graça de Deus. A felicidade dos pobres — dos pobres em espírito — tem uma dúplice dimensão: em relação aos bens e em relação a Deus. Relativamente aos bens, aos bens materiais, esta pobreza em espírito é sobriedade: não necessariamente renúncia, mas capacidade de apreciar o essencial, de partilhar; capacidade de renovar todos os dias a admiração pela bondade das coisas, sem sucumbir à opacidade do consumo voraz. Quanto mais tenho, mais quero; quanto mais tenho, mais quero: esse é o consumo voraz. E isso mata a alma. E o homem ou a mulher que faz isso, que tem essa atitude “quanto mais tenho, mais quero”, não é feliz e não alcançará a felicidade. Em relação a Deus é louvor e reconhecimento que o mundo é bênção e que na sua origem está o amor criador do Pai. Mas é também abertura a Ele, docilidade à sua senhoria: Ele é o Senhor, Ele é o Grande, eu não sou grande porque tenho muitas coisas! É Ele: Ele que quis o mundo para todos os homens e o quis para que os homens fossem felizes. O pobre em espírito é o cristão que não confia em si mesmo, nas riquezas materiais, não se obstina nas suas opiniões pessoais, mas escuta com respeito e aceita de bom grado as decisões de outros. Se nas nossas comunidades existissem mais pobres em espírito, haveria menos divisões, contrastes e polémicas! A humildade, como a caridade, é uma virtude essencial para a convivência nas comunidades cristãs. Os pobres, nesse sentido evangélico, parecem-se com aqueles que mantêm viva a meta do Reino dos céus, fazendo entrever que este é antecipado de forma germinal na comunidade fraterna, que à posse privilegia a partilha. Gostaria de sublinhar isto: à posse privilegiar a partilha. Ter sempre o coração e as mãos abertas (faz o gesto), não fechadas (faz o gesto). Quando o coração está fechado (faz o gesto), é um coração apertado: nem sequer sabe como amar. Quando o coração está aberto (faz o gesto), se encaminha para a senda do amor. A Virgem Maria, modelo e primícia dos pobres em espírito, porque totalmente dócil à vontade do Senhor, nos ajude a abandonar-nos a O cardeal Turkson denunciou as discriminações sociais A lepra desafio ainda não vencido «É demasiado cada novo caso de lepra, é demasiada cada forma resídua de estigma causada por esta doença, é demasiada toda a lei que discrimina os doentes e qualquer forma de indiferença». O cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, prefeito do Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, não usou eufemismos na mensagem para o sexagésimo quarto Dia mundial de luta contra a lepra, que se celebrou no domingo 29 de janeiro. Eloquente o tema escolhido para 2017: «Erradicação da lepra e reinserção das pessoas atingidas pela hanseníase: um desafio ainda não vencido». «A pesquisa de terapias farmacológicas eficazes — escreveu o cardeal — e o forte compromisso a nível planetário difundido por muitos organismos e realidades nacionais e internacionais, com a Igreja católica em primeira linha», permitiram realizar importantes progressos na luta contra a lepra. «Mas ainda há muitíssimo a fazer», relevou o purpurado. Antes de tudo, «devemos comprometer-nos a todos os níveis para que em todos os países sejam modificadas as políticas familiares, trabalhistas, escolares, desportivas e de qualquer outro tipo que discriminam direta ou indiretamente estas pessoas». Os governos devem «elaborar planos exequíveis que envolvam as pessoas doentes». Além disso — observou o cardeal Turkson na mensagem — «é fundamental reforçar a pesquisa científica para descobrir novos remédios e obter melhores instrumentos diagnósticos, que aumentem as possibilidades de diagnose precoce». De facto, em grande parte «os novos casos só são identificados quando a infeção já provocou lesões permanentes». Infelizmente, reconheceu, «nas áreas mais remotas é difícil garantir a assistência necessária para prosseguir o tratamento». Depois, há a grave questão da reinserção «total» da «pessoa curada no tecido social originário: na família, na comunidade, na escola e no ambiente de trabalho». E «nos dias de hoje, talvez este seja o maior obstáculo a superar para quem foi marcado pela hanseníase e para quem trabalha a seu favor: as deficiências, os sinais inconfundíveis deixados pela doença ainda são semelhantes a marcas de fogo». O medo — denunciou o cardeal — com muita frequência predomina «sobre a razão e a falta de conhecimento da patologia por parte da comunidade que exclui as pessoas saradas que, por sua vez, devido ao sofrimento e às discriminações, perderam o sentido da dignidade que lhe é própria, inalienável inclusive se o corpo apresenta mutilações». Deus, rico em misericórdia, a fim de que nos enche dos seus dons, especialmente da abundância do seu perdão. No final da prece mariana o Papa recordou entre outras coisas o dia mundial dos doentes de lepra e saudou os jovens da Ação católica e os grupos presentes. Queridos irmãos e irmãs! Como vedes, chegaram os invasores... estão aqui! Celebra-se hoje o Dia mundial dos doentes de lepra. Esta doença, apesar do seu declínio, ainda está entre as mais temidas e atinge os mais pobres e marginalizados. É importante lutar contra esta enfermidade, mas também contra as discriminações que gera. Encorajo quantos estão comprometidos no socorro e na reinserção social de pessoas atingidas pelo mal de Hansen, às quais garantimos a nossa oração. Saúdo com afeto todos vós, que viestes de diversas paróquias da Itália e de outros países, assim como as associações e os grupos. Saúdo em particular os estudantes de Murcia e Badajoz, os jovens de Bilbao e os fiéis de Castellón. Saúdo os peregrinos de Reggio Calabria, Castelliri, e o grupo siciliano da Associação Nacional de Pais. Gostaria também de renovar a minha proximidade às populações da Itália Central que ainda sofrem as consequências do terramoto e das difíceis condições atmosféricas. E por favor, que nenhum tipo de burocracia os faça esperar e sofrer ulteriormente! Agora dirijo-me a vós, aos jovens e às moças da Ação católica, das paróquias e das escolas católicas de Roma. Este ano, acompanhados pelo Cardeal Vigário, viestes após a «Caravana da Paz», cujo lema é Circundados pela paz: bonito, este lema. Obrigado pela vossa presença e pelo vosso compromisso generoso na construção de uma sociedade de paz. Agora, todos ouçamos a mensagem que os vossos amigos, aqui ao meu lado, nos vão ler. [leitura da mensagem] E agora serão lançados os balões, símbolo de paz. Símbolo de paz... A todos desejo bom domingo, desejo paz, humildade, partilha nas vossas famílias. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista! L’OSSERVATORE ROMANO número 5, quinta-feira 2 de fevereiro de 2017 página 6/7 Aos consagrados o Papa pediu que valorizem a vida fraterna em comunidade Dizer não à cultura do provisório «Imersos na chamada cultura do fragmento, do provisório, que nos pode levar a viver “à la carte” e a ser escravos das modas» face à “hemorragia” «que debilita a própria Igreja» os consagrados estão chamados a valorizar a vida fraterna em comunidade. Foi a recomendação do Papa Francisco aos participantes na plenária da Congregação para os institutos de vida consagrada e as sociedades de vida apostólica, recebidos em audiência na manhã de 28 de janeiro, na Sala Clementina. Amados irmãos e irmãs! É para mim motivo de alegria poder receber-vos hoje, quando estais reunidos em Sessão Plenária para refletir acerca do tema da fidelidade e dos abandonos. Saúdo o Cardeal Prefeito e agradeço-lhe as palavras de apresentação; e saúdo todos vós expressando-vos o meu reconhecimento pelo vosso trabalho ao serviço da vida consagrada na Igreja. O tema que escolhestes é importante. Podemos dizer que neste momento a fidelidade é posta à prova; as estatísticas que examinastes demonstram-no. Estamos diante de uma “hemorragia” que debilita a vida consagrada e a própria vida da Igreja. Os abandonos na vida consagrada preocupam-nos. É verdade que alguns Vivemos numa sociedade na qual a ditadura do dinheiro e do lucro propugna uma visão da existência segunda a qual quem não rende é descartado primeiro é preciso deixar-se evangelizar para depois se comprometer na evangelização deixam por motivo de coerência, porque reconhecem, depois de um discernimento sério, que nunca tiveram vocação; mas outros, com o passar do tempo, não respeitam a fidelidade, muitas vezes poucos anos depois da profissão perpétua. O que aconteceu? Como justamente indicastes, são muitos os fatores que condicionam a fidelidade nesta que é uma mudança de época e não só uma época de mudança, na qual é difícil assumir compromissos sérios e definitivos. Há tempos, um bispo contou-me que um jovem bom com formação universitária, que trabalhava na paróquia, foi ter com ele e disse-lhe: “Eu quero ser padre, mas por dez anos”. A cultura do provisório. O primeiro fator que não ajuda a manter a fidelidade é o contex- to social e cultural no qual nos movemos. Vivemos imersos na chamada cultura do fragmento, do provisório, que pode levar a viver “à la carte” e a ser escravos das modas. Esta cultura induz à necessidade de ter sempre “portas secundárias” abertas a outras possibilidades, alimenta o consumismo e esquece a beleza da vida simples e austera, causando muitas vezes um grande vazio existencial. Difundiu-se também um forte relativismo prático, segundo o qual tudo é julgado em função de uma autorrealização muitas vezes alheia aos valores do Evangelho. Vivemos em sociedades nas quais as regras económicas substituem as morais, ditam leis e impõem os próprios sistemas de referência em desvantagem dos valores da vida; uma sociedade na qual a ditadura do dinheiro e do lucro propugna uma visão da existência segunda a qual quem não rende é descartado. Nesta situação, é claro que primeiro é preciso deixar-se evangelizar para depois se comprometer na evangelização. A este fator do contexto sociocultural devemos acrescentar outros. Um deles é o mundo juvenil, um mundo complexo, rico e ao mesmo tempo desafiador. Não é negativo, mas complexo, sim, rico e desafiador. Não faltam jovens muito generosos, solidários e dedicados a nível religioso e social; jovens que procuram uma verdadeira vida espiritual; jovens que têm fome de algo diverso daquilo que o mundo oferece. Há jovens maravilhosos e não são poucos. Mas entre os jovens há também muitas vítimas da lógica da mundanidade, que se pode sintetizar assim: busca do sucesso a qualquer preço, do dinheiro fácil e do prazer fácil. Esta lógica seduz também muitos jovens. O nosso compromisso mais não pode ser do que estar ao lado deles para os contagiar com a alegria do Evangelho e da pertença a Cristo. Esta cultura deve ser evangelizada se quisermos que os jovens não sucumbam. Um terceiro fator condicionante provém do interior da própria vida consagrada, onde ao lado de tanta santidade — há muita santidade na vida consagrada! — não faltam situações de contratestemunho que tornam difícil a fidelidade. Tais situações, entre outras, são: a rotina, o cansaço, o peso da gestão das estruturas, as divisões internas, a busca de poder — os arrivistas — uma maneira mundana de governar os institutos, um serviço da autoridade que por vezes se torna autoritarismo e outras vezes um “deixar fazer”. Se a vida consagrada quiser manter a sua missão profética e o seu fascínio, continuando a ser escola de fidelidade para os próximos e para os distantes (cf. Ef 2, 17), deve manter o vigor e a novidade da centralidade de Jesus, o fascínio Paolo Veronese, «Bodas de Caná» tarefa antes de tudo de cada um de nós, que fomos chamados a seguir Cristo mais de perto com fé, esperança e caridade, cultivadas todos os dias na oração e reforçadas por uma boa formação teológica e espiritual, que defende das modas e da cultura do efémero e permite caminhar firme na fé. Sobre este fundamento é possível praticar os conselhos evangélicos e ter os mesmos sentimentos de Cristo (cf. Fl 2, 5). A vocação é um dom que recebemos do Senhor, o qual olhou para nós e nos amou (cf. Mc 10, 21), chamandonos a segui-lo na vida consagrada, e é ao mesmo tempo uma responsabilidade de quem recebeu este dom. Com a graça do Senhor, cada um de nós está chamado a assumir com responsabilidade em primeira pessoa o compromisso do próprio crescimento humano, espiritual e intelectual e, ao mesmo tempo, a manter viva a chama da vocação. Isto comporta que por nossa vez mantenhamos o olhar fixo no Senhor, prestando da espiritualidade e a força da missão, mostrar a beleza do seguimento de Cristo e irradiar esperança e alegria. Esperança e alegria. Isto mostra-nos o andamento de uma comunidade, o que há dentro. Há esperança, há alegria? Está bem. Mas quando falta a esperança e não há alegria, a situação está feia. Um aspeto que deverá ser cuidado de maneira particular é a vida fraterna em comunidade. Ela deve ser alimentada com a oração comunitária, a leitura Se a vida consagrada quiser orante da Palavra, a manter a sua missão profética participação ativa nos sacramentos da Eucadeve manter o vigor ristia e da Reconciliae a centralidade de Jesus ção, o diálogo fraterno e a comunicação sino fascínio da espiritualidade cera entre os seus e a força da missão membros, a correção fraterna, a misericórdia em relação ao irmão ou à irmã que peca, a partilha das responsabili- sempre atenção a caminhar sedades. Tudo isto, acompanhado gundo a lógica do Evangelho e a por um eloquente e jubiloso tes- não ceder aos critérios da mundatemunho de vida simples ao lado nidade. Muitas vezes as grandes dos pobres e de uma missão que infidelidades começam por peprivilegie as periferias existen- quenos desvios ou distrações. ciais. Da renovação da vida fra- Também neste caso é importante terna em comunidade dependem fazer nossa a exortação de São muito o resultado da pastoral vo- Paulo: «Já é hora de despertarcacional, o poder dizer «vinde mos do sono» (Rm 13, 11). ver» (cf. Jo 1, 39) e a perseveranFalando de fidelidade e de ça dos irmãos e das irmãs jovens abandonos, devemos dar muita e menos jovens. Porque quando importância ao acompanhamento. um irmão ou uma irmã não en- E gostaria de frisar este aspeto. É contra apoio para a sua vida con- necessário que a vida consagrada sagrada dentro da comunidade, invista na preparação de acompavai procurá-lo fora, com tudo o nhadores qualificados para este que isto comporta (cf. Vida frater- ministério. E digo a vida consana em comunidade, 2 de fevereiro grada, porque o carisma do de 1994, 32). acompanhamento espiritual, digaA vocação, como a própria fé, mos, do guia espiritual, é um caé um tesouro que trazemos em risma «laical». Também os padres vasos de barro (cf. 2 Cor 4, 7); o têm; mas é «laical». Quantas por isto devemos preservá-la, co- vezes encontrei religiosas que me mo se preservam as coisas mais diziam: «Padre, por acaso conhepreciosas, a fim de que ninguém ce um sacerdote que possa ser nos roube este tesouro, e que ele meu guia?» — «Mas, diz-me, na não perca a sua beleza com o tua comunidade não há uma relipassar do tempo. Este cuidado é giosa sábia, uma mulher de Deus?» — «Sim, há aquela velhinha que... mas...» — Vai ter com ela!». Cuidai vós mesmos dos membros da vossa congregação. Já na precedente Plenária verificastes esta exigência, como consta também do vosso recente documento Vinho novo em odres novos (cf. nn. 14-16). Nunca insistiremos o suficiente sobre esta necessidade. É difícil manter-se fiel caminhando sozinho, ou caminhando com a guia de irmãos e irmãs que não são capazes de escuta atenta e paciente, ou que não tenham uma adequada experiência da vida consagrada. Precisamos de irmãos e irmãs peritos nas sendas de Deus, para poder fazer o que Jesus fez com os discípulos de Emaús: acompanhá-los no caminho da vida e no momento da desorientação e reacender neles a fé e a esperança mediante a Palavra e a Eucaristia (cf. Lc 24, 1335). Esta é a tarefa delicada e importante de um acompanhador. Não poucas vocações perdem-se por falta de acompanhadores válidos. Todos nós, consagrados, jovens ou menos jovens, precisamos de uma ajuda adequada para o momento humano, espiritual e vocacional que estamos a viver. Mas devemos evitar qualquer modalidade de acompanhamento que crie dependências. Isto é importante: o acompanhamento espiritual não deve criar dependências. Enquanto devemos evitar qualquer modalidade de acompanhamento que crie dependências, que proteja, controle ou torne infantil, não podemos resignar-nos a caminhar sozinhos, é necessário um acompanhamento próximo, frequente e plenamente adulto. Tudo isto servirá para garantir um discernimento contínuo que leve a descobrir a vontade de Deus, a procurar tudo aquilo que mais agrada ao Senhor, como diria Santo Inácio, ou — com as palavras de São Francisco de Assis — a «querer sempre aquilo que lhe agrada» (cf. FF 233). O discernimento requer, da parte do acompanhador e da pessoa acompanhada, uma aguda sensibilidade espiritual, um pôr-se diante de si mesmo e do outro «sine proprio», com total afastamento de preconceitos e de interesses pessoais ou de grupo. Além disso, é preciso recordar que no discerni- Devemos preservar a vocação como se preservam as coisas mais preciosas a fim de que ninguém nos roube este tesouro e que ela não perca a sua beleza com o passar do tempo mento não se trata apenas de escolher entre o bem e o mal, mas entre o bem e o melhor, entre aquilo que é bom e o que leva à identificação com Cristo. E continuaria a falar, mas terminemos aqui. Queridos irmãos e irmãs, agradeço-vos de novo e invoco sobre vós e sobre o vosso serviço como membros e colaboradores da Congregação para os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica a assistência contínua do Espírito Santo, enquanto de coração vos abençoo. Obrigado! L’OSSERVATORE ROMANO página 8 quinta-feira 2 de fevereiro de 2017, número 5 Missas matutinas em Santa Marta Sexta-feira 27 de janeiro Almas encolhidas A veste do cristão deve ser costurada com «memória, coragem, paciência e esperança» para resistir também às chuvas mais intensas sem ceder nem encolher. Foi precisamente acerca do «pecado da pusilanimidade» — «ter medo de tudo» e tornar-se «almas encolhidas para se conservarem» — que o Papa advertiu na missa deste dia, recordando que também Jesus admoestou que «quem quer conservar a própria vida, sem arriscar e apelando-se à prudência, a perderá». Francisco, para a sua meditação, partiu da primeira leitura do dia que, observou imediatamente, é um trecho da carta aos Hebreus (10, 3239): «Uma exortação a viver a vida cristã, uma exortação com três pontos de referência, três pontos temporais, digamos assim: o passado, o presente e o futuro». O autor da carta «começa com o passado e exorta-nos a fazer memória: “Irmãos, recordai-vos daqueles primeiros dias”». São — explicou o Papa — «os dias do entusiasmo, de ir em frente na fé, quando se começou a viver a fé, as provações sofridas». Com efeito, «não se compreende a vida cristã, nem a vida espiritual de cada dia, sem memória». E «não só não se compreende: não se pode viver cristãmente sem memória». Trata-se, afirmou Francisco, da «memória da salvação de Deus na minha vida», da «memória dos meus problemas na minha vida: como me salvou o Senhor destes problemas?». Por isso, «a memória é uma graça, uma graça a pedir: “Senhor, que eu não me esqueça o teu passo na minha vida, que eu não me esqueça dos bons momentos, nem dos maus; das alegrias e das cruzes”». Por conseguinte, explicou o Pontífice, «o cristão é um homem de memória». A ponto que «quando lemos a Bíblia, vemos que os profetas nos fazem olhar sempre para trás: pensai no que Deus fez convosco, como vos libertou da escravidão». Porque «a vida cristã não começa hoje, continua hoje». E «fazer memória é sabedoria: recordar tudo, o bom, o menos bom, o mau; tantas graças, tantos pecados, a família, a história pessoal de cada um». Assim «eu vou diante de Deus mas com a minha história, não a devo cobrir, esconder: não, é a minha história, diante da minha alma, diante de ti». Eis que «a exortação a viver bem uma vida cristã começa com este ponto de referência: a memória». Depois, prosseguiu o Papa, o autor da carta aos Hebreus «faz-nos compreender que estamos a caminho, e estamos a caminho à espera de algo, à espera de chegar ou de encontrar». Significa «chegar a um ponto: um encontro; encontrar o Senhor». Com efeito, lê-se na carta: «Só mais um pouco, e aquele que há de vir, vem sem tardar». E imediatamente «nos exorta a viver por fé: “O meu justo por fé viverá”». Aqui entra em jogo «a esperança: olhar para o futuro». Com efeito, explicou Francisco, «assim como não se pode viver uma vida cristã sem a memória dos passos dados, também não se pode viver uma vida cristã sem olhar para o futuro com a esperança do encontro com o Senhor». O autor da carta aos Hebreus escreve «uma frase bonita: “Só mais um pouco...”». Sabemos bem, recordou o Papa, que «a vida é um sopro, passa: quando uma pessoa é jovem, pensa que tem muito tempo diante de si, mas depois a vida ensina-nos aquela palavra, que todos dizemos: “mas como passa o tempo!”». Portanto «a esperança de o encontrar é uma vida em tensão, entre a memória e a esperança, o passado e o futuro». O terceiro ponto «está no meio»: é hoje, ou seja, o presente», afirmou o Pontífice. Trata-se de «um hoje entre o passado e o futuro». E «o conselho para viver o hoje é continuar com esta atitude, que descreve os primeiros cristãos, corajosos, pacientes, que vão em frente, que não têm medo». Porque «o cristão vive o presente — muitas vezes doloroso e triste — corajosamente ou com paciência». Há «duas palavras que agradam muito a Paulo e ao seu dis- Bispos do Camboja e do Laos em visita «ad limina» Na manhã de quinta-feira, 26 de janeiro, Francisco recebeu os prelados da Conferência episcopal do Camboja e do Laos, por ocasião da visita «ad limina Apostolorum» cípulo que escreveu esta Carta: coragem e paciência». «É curioso», observou o Papa, que o autor do texto para dizer «paciência, usa uma palavra em grego que significa “suportar”; e coragem significa franqueza, diz aqui, dizer as coisas de maneira clara, ir em frente de cabeça erguida». São «as duas palavras — prosseguiu — que ele usa tanto, muito: a parresia e a hypomone, a coragem e a paciência». E «a vida cristã é assim». É verdade, reconheceu Francisco, que todos somos pecadores, «quem antes quem depois», e «se quiserdes podemos fazer a lista, mas vamos em frente com coragem e com paciência; não fiquemos ali, parados, porque isto não nos fará crescer». Por conseguinte, explicou o Pontífice, «é assim a nossa vida cristã, como a liturgia de hoje nos exorta a vivê-la: com grande memória do caminho percorrido, com grande esperança daquele belo encontro que será uma boa surpresa». Sem dúvida, insistiu, «não sabemos quando: pode ser amanhã, pode ser daqui a quinze anos, não sabemos, mas é sempre amanhã, é cedo, porque o tempo passa». Contudo, devemos ter sempre «a esperança do encontro». E também a atitude de «suportar, com paciência: «ter paciência, coragem, franqueza», de «cabeça erguida, sem vergonha». Precisamente «assim se leva por diante a vida cristã». Para terminar — evidenciou o Pontífice — «há uma pequena coisa sobre a qual o autor» da carta aos Hebreus «chama a atenção da comunidade à qual está a falar: um pecado». É um pecado «que lhe impede de ter esperança, coragem, paciência e memória: o pecado é a pusilanimidade». Trata-se, explicou Francisco, de «um pecado que não deixa ser cristão, é um pecado que não te deixa ir em frente por receio». Por esta razão «muitas vezes Jesus dizia: “Não tenhais medo”»: precisamente para advertir contra a «pusilanimidade» e deste modo não ceder, não «retroceder sempre», preservando «demasiado a si mesmos» por «medo de tudo», para «não arriscar» apelando-se à «prudência». A ponto que, afirmou o Papa, se pode até dizer que se observam «todos os mandamento, sim, é verdade; mas isto paralisa-te, faz-te esquecer muitas graças recebidas, priva-te da memória, da esperança porque não te deixa ir». E «o presente de um cristão, de uma cristã, é como quando alguém caminha pela estrada e chega uma chuva inesperada e a veste não é de qualidade e o tecido encolhe: almas encolhidas». Precisamente esta imagem expressa bem o que é «pusilanimidade: o pecado contra a memória, a coragem, a paciência e a esperança». Antes de retomar a celebração eucarística, Francisco convidou a pedir na oração ao Senhor que «nos faça crescer em memória, em esperança, e nos dê todos os dias a coragem e a paciência e nos liberte da pusilanimidade», ou seja, da atitude de quantos têm «medo de tudo» e acabam por ser «almas encolhidas para se preservarem». Ao contrário, Jesus diz-nos que «quem quer preservar a própria vida, perdê-la-á». Segunda-feira 30 de janeiro Se o mártir não é notícia Pelos «mártires de hoje», pelos cristãos perseguidos e na prisão, pelas Igrejas sem liberdade, com um pensamento particular pelas mais pequenas: foi a intenção com a qual o Papa celebrou esta missa. Ciente de que «uma Igreja sem mártires é uma Igreja sem Jesus», o Pontífice reafirmou que são precisamente os mártires que apoiam e levam por diante a Igreja. E mesmo se «os meios de comunicação não o dizem, porque não é notícia», hoje «muitos cristãos no mundo são bem-aventurados porque são perseguidos, insultados, encarcerados só por usar uma cruz ou por confessar Jesus Cristo». Portanto, quando nos lamentamos «por nos faltar algo», deveríamos ao contrário pensar «nestes irmãos e irmãs que hoje, em número maior do que nos primeiros séculos, sofrem o martírio». Na sua meditação o Pontífice retomou antes de tudo os conteúdos da carta aos Hebreus. «Quase no final — afirmou — o autor apela à memória: “Chamai à memória os vossos antepassados, chamai à memória os primeiros dias da vossa vocação, recordai-vos, chamai à memória toda a história do povo do Senhor”». Tudo isto «para ajudar a tornar mais firme a nossa esperança: recordar melhor para esperar melhor; sem memória não há esperança». Precisamente «a memória das coisas que o Senhor realizou entre nós — explicou Francisco — nos dá a força para ir em frente e também a consistência». Assim «neste final da carta aos Hebreus, no capítulo 11, proposto pela liturgia nesses dias, há a memória da docilidade de muitas pessoas, começando pelo nosso pai Abraão que saiu da sua terra sem saber para onde ia, dócil: memória de docilidade». «Depois, hoje há duas memórias» observou o Pontífice citando expressamente o trecho da carta proposto pela liturgia (11, 32-40). Antes de tudo «a memória das grandes ações do Senhor, feitas por homens e mulheres, e o autor da carta diz: “Faltarme-ia o tempo se quisesse narrar sobre...”». A ponto que «começa a nomear Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, David: muitos que realizaram grandes ações na história de Israel». Esta «é a memória, podemos dizer, dos nossos heróis do povo de Deus». E «o terceiro grupo» — o primeiro «era aquele de quantos foram dóceis à chamada do Senhor», o segundo «de quantos realizaram grandes coisas» — evoca «a memória dos que sofreram e deram a vida como Jesus». De facto, na carta lê-se: «Outros sofreram escárnio e açoites, cadeias e prisões. Foram apedrejados, massacrados, serrados ao meio, mortos a fio de espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelha e de cabra, necessitados de tudo, perseguidos e maltratados — homens de que o mundo não era digno! — Refugiaram-se nas solidões das montanhas, CONTINUA NA PÁGINA 9 número 5, quinta-feira 2 de fevereiro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 9 Missas em Santa Marta CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 8 nas cavernas e em antros subterrâneos». Numa palavra é a «memória dos mártires». E a Igreja é exatamente «este povo de Deus que é pecador mas dócil, que faz grandes coisas e também dá testemunho de Jesus Cristo até ao martírio». «Os mártires — afirmou a propósito o Papa — são os que levam a Igreja em frente; são os que apoiam a Igreja, que a apoiaram e a apoiam também hoje. E atualmente há mais mártires do que nos primeiros séculos», embora «os meios de comunicação não o digam porque não é notícia: muitos cristãos no mundo hoje são bem-aventurados porque são perseguidos, insultados, encarcerados». Hoje, insistiu Francisco, «muitos estão na prisão, só porque usam uma cruz ou confessam Jesus Cristo: esta é a glória da Igreja e o nosso apoio, mas também a nossa humilhação, nós que temos tudo, que tudo parece fácil para nós e se nos faltar algo nos lamentamos». Mas «pensemos nestes irmãos e irmãs que hoje, em número maior do que nos primeiros séculos, sofrem o martírio». «Não posso esquecer — confidenciou o Papa — o testemunho daquele sacerdote e daquela religiosa na catedral de Tirana: anos e anos de prisão, trabalhos forçados, humilhações, os direitos humanos não existem para eles». Era 21 de setembro de 2014 quando, durante as vésperas na catedral de São Paulo em Tirana, foram apresentados ao Pontífice os comovedores testemunhos de dois sobreviventes das perseguições do regime contra os cristãos: tomaram a palavra a irmã Maria Kaleta e o padre Ernest Simoni, que depois Francisco quis criar e publicar cardeal no consistório de 19 de novembro passado. Também nós, prosseguiu o Pontífice, é justo que «fiquemos satisfeitos quando vemos um grande ato eclesial, que teve um enorme sucesso, os cristãos que se manifestam». E isto pode ser visto como uma «força». Mas «a maior força da Igreja hoje está nas Igrejas pequenas», pequeninas, com poucas pessoas, perseguidas, com os seus bispos na prisão. Esta é a nossa glória e a nossa força hoje». Inclusive porque, afirmou, «uma Igreja sem mártires, ouso dizer, é uma Igreja sem Jesus». Depois Francisco convidou a rezar «pelos nossos mártires que sofrem tanto, por aqueles que estiveram e que estão na prisão, por aquelas Igrejas que não são livres de se expressar: elas são o nosso apoio, a nossa esperança». Já «nos primeiros séculos da Igreja um antigo escritor dizia: “O sangue dos cristãos, o sangue dos mártires, é semente dos cristãos”». «Com o seu martírio, testemunho, sofrimento, até perdendo a vida, oferecendo a vida, semeiam cristãos para o futuro e nas outras Igrejas». E por esta razão, o Papa quis oferecer a «missa pelos nossos mártires, por aqueles que agora sofrem, pelas Igrejas que sofrem, que não têm liberdade», dando graças «ao Senhor por estar presente com a fortaleza do seu Espírito nestes nossos irmãos e irmãs que hoje dão testemunho d'Ele». Anthony Falbo «Quem me tocou?» Terça-feira 31 de janeiro Jesus olha para cada um de nós Jesus não olha para as «estatísticas» mas presta atenção em «cada um de nós». Um por um. A «admiração do encontro com Jesus», aquela maravilha que surpreende quem olha para ele e se dá conta de que o Senhor já «lhe tinha dirigido o olhar», foi descrita pelo Papa Francisco na homilia da missa de hoje. O fio condutor da meditação foi precisamente o «olhar», inspirando-se no trecho da carta aos Hebreus (12, 1-4) no qual o autor, depois de ter frisado a importância de fazer «memória», exorta todos: «Corramos com perseverança, com o olhar fixo no autor e consumador da nossa fé, Jesus». Acolhendo tal sugestão, o Pontífice examinou o evangelho do dia (Mc 5, 2143) para verificar «o que faz Jesus». O detalhe mais evidente é que «Jesus está sempre no meio da multidão». No trecho evangélico proposto pela liturgia «a palavra “multidão”» repete-se três vezes. E não se trata, frisou o Papa, de um ordenado «cortejo de pessoas», com os guardas «que lhe fazem escolta, a fim de que as pessoas não o toquem»: antes, é uma multidão que envolve Jesus, que o «abraça». E ele «permanece ali». Aliás, «cada vez que Jesus saía, a multidão era maior». Talvez, disse Francisco com uma piada, «os especialistas em estatísticas teriam podido publicar: “Diminui a popularidade do Rabi Jesus”». Mas «ele procurava outro aspeto: procurava as pessoas. E elas procuravam-no: mantinham os olhos fixos n’Ele e Ele nelas». Poder-se-ia objetar: Jesus dirigia o olhar «para as pessoas, para a multidão». Contudo, não era assim, explicou o Pontífice: «para cada um». Porque precisamente esta é «a peculiaridade do olhar de Jesus. Ele não massifica as pessoas: Jesus olha para cada um». A prova pode ser encontrada, várias vezes, nas narrações bíblicas. No evangelho do dia, por exemplo, lê-se que Jesus perguntou: «Quem me tocou?», quando «estava no meio do povo, que o comprimia». Parece estranho, os próprios discípulos «diziam-lhe: “Mas tu vês a multidão que se comprime ao teu redor!”». Desconcertados, disse o Papa tentando imaginar a sua reação, pensaram: «Mas talvez ele não tenha dormido bem. Talvez se confunda». Contudo Jesus tinha certeza: «Alguém me tocou!». De facto «no meio daquela multidão Jesus deu-se conta daquela idosa que o tinha tocado. E curou-a». Havia «muitas pessoas» mas ele prestou atenção precisamente nela, «uma senhora idosa». A narração evangélica continua com o episódio de Jairo, ao qual dizem que a filha tinha morrido. Jesus tranquiliza-o: «Não temas! Tem fé!», assim como anteriormente à idosa tinha dito: «A tua fé te salvou!». Também nesta situação Jesus se encontra no meio da multidão, com «muitas pessoas que choravam, gritavam no velório» — com efeito, na época, explicou o Pontífice, era habitual «“alugar” mulheres para que chorassem e gritassem no velório. Para sentir a dor...» — e a eles Jesus diz: «Mas, estai tranquilos. A menina dorme». Os presentes, disse o Papa, talvez «tenham pensado: “Mas ele não dormiu bem!”», e «escarneciam-no». Mas Jesus entra e «ressuscita a menina». O que salta aos olhos, observou Francisco, é que A Conferência episcopal internacional dos Santos Cirilo e Metódio em visita «ad limina» Na manhã de segunda-feira, 30 de janeiro, o Papa Francisco recebeu em audiência os prelados da Sérvia, Montenegro, Kosovo e ex-República Jugoslava da Macedónia, por ocasião da visita «ad limina Apostolorum» da Conferência episcopal internacional dos Santos Cirilo e Metódio Jesus naquele alvoroço, com «as mulheres que gritavam e choravam», se preocupa em dizer «ao pai e à mãe “Dai-lhe de comer!”». É a atenção ao «pequenino», é «o olhar de Jesus para o pequeno. Mas não tinha outras coisas com as quais se preocupar? Não, só disto». Não obstante as «estatísticas que teriam podido dizer: “Continua a queda de popularidade do Rabi Jesus”», o Senhor pregava por horas e «as pessoas ouviam-no, ele falava a cada um». E como «sabemos que falava a cada um?», questionou o Pontífice. Porque se deu conta, observou, que a menina «tinha fome» e disse: «Dai-lhe de comer!». O Pontífice prosseguiu com exemplos, citando o episódio de Naim. Também ali «havia a multidão que o seguia». E Jesus «vê que sai um cortejo fúnebre: um jovem, filho único de mãe viúva». Mais uma vez o Senhor se dá conta do «pequeno». No meio de tantas pessoas «vai, detém o cortejo, ressuscita o jovem e entrega-o à mãe». Em Jericó, quando Jesus entra na cidade, a multidão «clama: “Viva o Senhor! Viva Jesus! Viva o Messias!”. Havia muito rumor... até um cego começa a gritar; e Jesus, apesar de todo aquele barulho, ouve o cego». O Senhor, frisou o Papa, «deuse conta do pequeno, do cego». Tudo isto para dizer que «o olhar de Jesus se dirige para o grande e para o pequeno». Ele, disse o Pontífice, «olha para todos nós, mas olha para cada um de nós. Olha para os nossos grandes problemas, para as nossas grandes alegrias; e olha também para as nossas pequenas coisas, porque está próximo. Assim Jesus olha para nós». Retomando o fio da meditação, o Papa recordou que o autor da carta aos Hebreus sugere para «correr com perseverança, com o olhar fixo em Jesus». Mas, perguntou, «o que nos acontecerá se fizermos isto, se mantivermos o olhar fixo em Jesus?». Acontecerá, respondeu, o que aconteceu com aquelas pessoas depois da ressurreição da menina: «Foram tomados por grande admiração». De facto, «vou, olho para Jesus, caminho na frente, fixo o olhar em Jesus e o que descubro? Que ele olhou para mim». E isto faz-me sentir «grande admiração. É a maravilha do encontro com Jesus». Contudo, para sentir isto, não é preciso ter medo, «como aquela idosa que não teve medo de tocar a bainha do manto». Eis a exortação final do Papa: «Não tenhamos medo! Corramos por este caminho, com o olhar sempre fixo em Jesus. E teremos esta bonita surpresa: encher-nos-á de admiração. O próprio Jesus mantém fixo o seu olhar sobre mim». L’OSSERVATORE ROMANO página 10 quinta-feira 2 de fevereiro de 2017, número 5 Entrevista com o cardeal Lorenzo Baldisseri Amoris laetitia prepara o Sínodo NICOLA GORI Há um traço de união ideal entre o recente sínodo sobre a família e o próximo dedicado aos jovens, explicou o cardeal Lorenzo Baldisseri na vigília da apresentação do documento preparatório da assembleia sinodal que terá lugar em outubro de 2018 sobre o tema: «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional». Nesta entrevista a L’Osservatore Romano o purpurado delineou um primeiro balanço da aplicação da Amoris laetitia, frisando que a exortação apostólica pós-sinodal obteve uma ampla aceitação e relevando a continuidade com o sínodo sobre os jovens, contida em três palavras-chave: alegria, discernimento e acompanhamento. Que balanço pode ser feito na aplicação da Amoris laetitia quase um ano após a sua promulgação? Esta Secretaria geral, a 12 de maio passado, precisamente um mês depois da publicação da Amoris laetitia, enviou às conferências episcopais do mundo inteiro e também a cada bispo uma carta pedindo informações relativas ao modo em que a exortação apostólica pós-sinodal era recebida nos diversos países e, ao mesmo tempo, para conhecer as iniciativas empreendidas para a sua aplicação. Chegaram já inúmeras respostas e ainda continuam a chegar. Das informações recebidas posso afirmar em primeiro lugar que a Amoris laetitia suscitou imenso interesse na comunidade eclesial e em todo o mundo, com um acolhimento muito positivo e enorme aceitação, um verdadeiro dom feito à Igreja e à humanidade. A sua aplicação realiza-se a diversos níveis. A publicação do documento, como se sabe, foi em abril passado e pudemos constatar desde aquele momento que foram organizados encontros, congressos, seminários para estudo e aprofundamento em todo o mundo. Eu mesmo fui convidado a participar em diversas destas iniciativas, tanto na Itália como noutros países. Pronunciei conferências, participei em encontros de apresentação e li relatórios acerca do desenvolvimento do sínodo e da sua relação com a Amoris laetitia. Portanto posso dizer que certamente sou uma testemunha direta da atenção e do compromisso com o qual os bispos observam a exortação apostólica, centrando a pastoral nos valores da família e procurando encarnar do melhor modo possível indicações, sugestões e propostas que ela contém. Concretamente, o que fizeram os episcopados? Muitos bispos encontraram-se com o próprio presbitério para refletir em profundidade sobre os argumentos e as temáticas contidos nas palavras do Papa Francisco. Diversos episcopados ofereceram indicações concretas acerca da modalidade de aplicação do que o texto propõe, em particular dos capítulos seis, sobre as perspetivas pastorais, e oito, que se refere ao acompanhamento, discernimento e integração das pessoas que vivem em situações de fragilidade. Neste trabalho pastoral participam famílias, casais, jovens, associações e movimentos. Constatase uma grande produção de subsídios e de material informativo de todos os tipos para facilitar a compreensão e a difusão do documento. Portanto, a pastoral familiar das dioceses conseguiu captar o espírito do Sínodo sobre a família? Posso dizer que em muitas dioceses a receção da Amoris laetitia, na qual se reflete o espírito do Sínodo, é positiva e propositiva e já se veem os benefícios. Está a tornar-se um instrumento formidável de renovação pastoral, aliás como era o desejo dos padres sinodais e do Papa. Efetivamente estão a compreender o sentido profundo do documento, que quer ser uma renovação da pastoral familiar na continuidade. De facto, um grande número de sacerdotes e de agentes pastorais sentemse solicitado pelo convite do Papa Francisco a uma reflexão realista e criativa sob o ponto de vista pastoral dos conteúdos do documento. De que modo as famílias foram envolvidas? Tendo presente sobretudo o que se afirma nos capítulos quatro e cinco sobre o amor no matrimónio e no capítulo sete acerca da educação dos filhos, começou-se por pensar e programar itinerários de formação à preparação para o matrimónio que vão além dos encontros «oficiais» previstos para os casais que decidem casar; foram propostos encontros de acompanhamento para os casais jovens; assumiram-se compromissos para envolver cada vez mais casais peritos na tarefa de aproximar e acompanhar outros casais que passam por momentos de crise na própria relação. Nalgumas paróquias surgiram grupos nos quais famílias inteiras se encontram periodicamente para rezar unidas, narrar as próprias experiências, partilhar os muitos momentos que experimentam na vida diária, confrontar-se sobre as dificuldades que sentem para se ajudar reciprocamente e procurar juntas indícios de solução aos problemas. Certamente, estamos só no início. O campo das possibilidades para a ação pastoral é muito amplo e os nove meses passados desde a publicação da exortação apostólica são um tempo demasiadamente breve para indicar e realizar todas as potencialidades que ela contém. Mas em todos existe a perceção de que é necessário um compromisso diverso e renovado para apoiar a família no seu dia a dia, feito de acolhimento, proximidade, acompanhamento, partilha dos acontecimentos bons e das dificuldades. Estas são indicações eficazes acerca das modalidades nas quais viver a alegria do amor. O que se poderia responder a quem solicita ulteriores esclarecimentos sobre as indicações pastorais da exortação apostólica? Já foram dadas várias respostas. Expressaram-se inclusive pessoas competentes pelo seu papel e autoridade. Antes de tudo, trata-se de proceder a fim de reforçar a família e garantir a estabilidade do matrimónio e a serenidade da vida familiar. Também é importante apresentar a beleza do matrimónio cristão a quem não vive uma união sacramental. Nos casos de pessoas que saem de uma união falhada, é preciso saber distinguir as situações, as resCONTINUA NA PÁGINA 11 Celebrada no Vaticano a festa de Dom Bosco A mesma missão Dom Bosco não pertence a uma lenda, a um mito nem a uma teoria: é uma pessoa com uma história concreta, que ainda hoje continua a ser significativa, disse o padre Renato dos Santos, diretor técnico da Tipografia Vaticana, celebrando na manhã de 31 de janeiro, na capela do coro da basílica de São Pedro, a missa pela festa litúrgica do santo fundador da família salesiana. Participaram no rito os responsáveis e os funcionários da Tipografia Vaticana, de L’Osservatore Romano e do Serviço fotográfico do jornal. Na homilia o sacerdote — que comemorou o vigésimo quinto aniversário de ordenação — evidenciou que João Bosco ajudava os jovens necessitados precisamente onde viviam, na periferia de Turim, Valdocco. Procurava-os nas situações de vulnerabilidade e dificuldade existenciais para os acolher e lhes oferecer refúgio e liberdade de tudo o que os oprimia. É a mesma missão, recordou o padre Renato, na qual trabalham também hoje em 133 países os salesianos que vivem o carisma do santo. Através dos seus projetos educativos, prosseguiu o celebrante, dom Bosco edificou muitas pontes e encontrou na juventude o sentido mais profundo da sua vida. Depois, comentando o trecho do Evangelho de Mateus proposto pela liturgia, o padre Renato dos Santos exortou a pôr sempre no centro as crianças de hoje a fim de lhes garantir um presente digno. No final da concelebração, monsenhor Dario Edoardo Viganò, prefeito da Secretaria para a comunicação, dirigiu uma saudação ao religioso salesiano entregando-lhe um pergaminho de bênção pelo jubileu sacerdotal assinado pelo Papa Francisco. Em seguida, agradeceu à comunidade pelo trabalho desempenhado ao serviço do Pontífice. Também o diretor-geral da Tipografia Vaticana editora L’O sservatore Romano, padre Sergio Pellini, no início da missa cumprimentou o padre Renato em nome de todos os funcionários. Para a ocasião, sobre o altar foi colocado o relicário de Dom Bosco, exposto pela primeira vez durante a canonização a 1 de abril de 1934, concedido por monsenhor Guido Marini, mestre das celebrações litúrgicas do Sumo Pontífice. L’OSSERVATORE ROMANO número 5, quinta-feira 2 de fevereiro de 2017 INFORMAÇÕES Audiências O Papa Francisco recebeu em audiências particulares: A 26 de janeiro D. Ivo Scapolo, Núncio Apostólico no Chile; D. Miguel Maury Buendia, Núncio Apostólico na Roménia; e os seguintes Prelados da Conferência Episcopal do Camboja e Laos, em visita «ad limina Apostolorum»: Rev.do Pe. Tito Banchong Thopanhong, Administrador Apostólico do Vicariato Apostólico de Luang Prabang (Laos); D. Louis-Marie Ling Mangkhanekhoun, Vigário Apostólico de Paksé (Laos); D. Jean Marie Vianney Prida Inthirath, Vigário Apostólico de Savannakhet (Laos); D. Jean Khamsé Vithavong, Vigário Apostólico de Vientiane (Laos); D. Olivier Michel Marie Schmitthaeusler, Vigário Apostólico de PhnomPenh (Camboja); Rev.do Pe. Enrique Figaredo Alvargonzalez, S.I., Prefeito Apostólico de Hattambang (Camboja); e Rev.do Pe. Antonysamy Susairaj, M.E.P., Prefeito Apostólico de Kompong-Cham (Camboja). A 27 de janeiro Os Senhores Cardeais George Pell, Prefeito da Secretaria para a Economia; e Fernando Filoni, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos. Calendário das celebrações presididas pelo Pontífice Fevereiro A 28 de janeiro A 28 de janeiro Os Senhores Cardeais Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos; e Mauro Piacenza, Penitenciário-Mor, com Mons. Krzysztof Jozef Nykiel, Regente da Penitenciaria Apostólica; e D. Giampiero Gloder, Presidente da Pontifícia Academia Eclesiástica. Bispo de Gokwe (Zimbábue), o Rev.do Pe. Rudolf Nyandoro, até esta data Chanceler da Diocese de Masvingo. A 30 de janeiro D. Francisco Polti Santillán, Bispo Emérito de Santiago del Estero (Argentina); D. Jean-Claude Hollerich, Arcebispo de Luxemburgo; e os seguintes Prelados da Conferência Episcopal internacional dos Santos Cirilo e Metódio, em visita «ad limina Apostolorum»: D. Stanislav Hočevar, Arcebispo de Belgrado (Sérvia); D. János Pénzes, Bispo de Subotica (Sérvia); D. Ladislav Nemet, Bispo de Zrenjanin (Sérvia); D. Đuro Gašparović, Bispo de Srijem (Sérvia); D. Djura Džudžar, Exarca Apostólico para os fiéis de rito bizantino (Sérvia); D. Rrok Gjonlleshaj, Arcebispo de Bar (Montenegro); D. Ilija Janjić, Bispo de Kotor (Montenegro); D. Dodë Gjergji, Administrador Apostólico de Prizren (Kosovo); e D. Kiro Stojanov, Bispo de Skopje (Macedónia), Exarca Apostólico para os fiéis de rito bizantino residentes na ex-República Jugoslava da Macedónia. No dia 26 de janeiro De D. Dorick G. Wright ao governo pastoral da Diocese de Belize City — Belmopan (Belize). De D. Angel Floro Martínez, I.E.M.E., ao governo pastoral da Diocese de Gokwe (Zimbábue). Basílica de São Pedro, 17h30, Santa Missa com os membros dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica De D. Elias Nassar, ao governo pastoral da Eparquia de Saida dos Maronitas (Líbano). 1 QUARTA-FEIRA DE CINZAS 5 1º D OMINGO DE QUARESMA Ariccia, início dos exercícios espirituais para a Cúria Romana 10 SEXTA-FEIRA Encerramento dos exercícios espirituais para a Cúria Romana Cidade do Vaticano, 24 de janeiro de 2017. Monsenhor Guido Marini Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias Bispo da Diocese de Itabuna (Brasil), D. Carlos Alberto dos Santos, até esta data Bispo de Teixeira de Freitas-Caravelas. Bispo de Patti (Itália), o Rev.mo Mons. Guglielmo Giombanco, até esta data Vigário-Geral da Diocese de Acireale. D. Guglielmo Giombanco nasceu em Catania (Itália), no dia 15 de setembro de 1966. Recebeu a Ordenação sacerdotal a 7 de setembro de 1991. Disposições especiais No dia 30 de janeiro Administrador Apostólico sede vacante da Eparquia de Saida dos Maronitas (Líbano), D. Maroun Ammar, Bispo Titular de Canata, atualmente Vigário Patriarcal de Joubbé. Prelados falecidos Adormeceram no Senhor: A 24 de janeiro D. Martin Nicholas Lohmuller, exAuxiliar de Filadélfia (EUA). O venerando Prelado nasceu a 21 de agosto de 1919, em Filadélfia (EUA). Recebeu a Ordenação sacerdotal no dia 3 de junho de 1944. Foi ordenado Bispo em 2 de abril de 1970. O Papa confirmou: A 26 de janeiro No dia 28 de janeiro D. Paul Lanneau, ex-Auxiliar de Malinas-Bruxelas (Bélgica). Membros dos Dicastérios da Cúria Romana, os Senhores Cardeais: Blase Joseph Cupich, Arcebispo de Chicago, na Congregação para os Bispos; Dieudonné Nzapalainga, Arcebispo de Bangui, na Congregação O ilustre Prelado nasceu em Anderlecht (Bélgica), no dia 22 de julho de 1925. Foi ordenado Sacerdote a 24 de julho de 1949. Recebeu a Ordenação episcopal em 20 de março de 1982. O Santo Padre aceitou a renúncia: No dia 28 de janeiro Igreja de Santo Anselmo, 16h30, Statio e procissão penitencial; Basílica de Santa Sabina, 17h, Santa Missa, bênção e imposição das Cinzas A 1 de fevereiro para a Evangelização dos Povos; Joseph William Tobin, Arcebispo de Newark, na Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica; e Carlos Aguiar Retes, Arcebispo de Tlalnepantla, no Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso. Renúncias 2 QUINTA-FEIRA FESTA DA APRESENTAÇÃO D O SENHOR XXI DIA MUNDIAL DA VIDA CONSAGRADA Março D. Rudolf Nyandoro nasceu em Gweru (Zimbábue), no dia 11 de outubro de 1968. Foi ordenado Sacerdote a 19 de dezembro de 1998. página 11 No dia 30 de janeiro No dia 1 de fevereiro De D. Josef Hrdlička, ao cargo de Auxiliar de Olomouc (República Checa). De D. Czesław Stanula, C.SS.R., ao governo pastoral da Diocese de Itabuna (Brasil). De D. Ignazio Zambito, ao governo pastoral da Diocese de Patti (Itália). Nomeações O Sumo Pontífice nomeou: A 26 de janeiro Bispo da Diocese de Belize City — Belmopan (Belize), o Rev.do Pe. Lawrence Sydney Nicasio, do clero de Belize, até agora Pároco da Catedral em Belize City. D. Lawrence Sydney Nicasio nasceu em Belize a 5 de setembro de 1956. Recebeu a Ordenação sacerdotal no dia 16 de junho de 1989. Entrevista com o cardeal Baldisseri CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 10 ponsabilidades e as atitudes que elas assumem a fim de proceder gradualmente a uma maior integração na comunidade eclesial. A tal propósito é indispensável um discernimento atento e apropriado pela pessoa, sendo capaz de inserir adequadamente a relação entre a norma e a consciência. Não penso que haja necessidade de acrescentar mais, exceto afirmar que todas as respostas que pedimos já estão contidas no texto da própria exortação apostólica. Existe uma continuidade entre a exortação apostólica Amoris laetitia e o próximo sínodo dedicado aos jovens? A Amoris laetitia indicou a beleza e a força da família, a sua capacidade de resposta às expectativas presentes no coração do homem, a importância do seu papel na sociedade. Uma das finalidades principais do próximo sínodo é ajudar os jovens a aprender a discernir de modo concreto como podem realizar plenamente a sua vida, a fim de que possam gozar a alegria do amor. A maior parte dos jovens orienta-se para a escolha de constituir uma família. Para que a sua escolha seja o mais possível correspondente à sua vocação é importante que tenham instrumentos adequados para se conhecer a si mesmos e se orientar oportunamente na escolha do parceiro e na compreensão dos elementos essen- ciais que permitirão que a sua futura família tenha bases sólidas. Sem querer antecipar nem limitar a riqueza que emergirá do caminho sinodal, penso que se pode sintetizar a continuidade entre a Amoris laetitia e o próximo sínodo com três palavras que se encontram na exortação apostólica: alegria, discernimento e acompanhamento. Corresponde a uma das observações evidenciadas no sínodo sobre a família a escolha de aprofundar a relação entre jovens e escolhas vocacionais? Evidentemente existe uma correlação entre jovens, escolhas vocacionais e família. Quando se fala da família não se pode deixar de considerar o seu momento constitutivo e portanto a idade juvenil, que é aquela na qual cada um elabora um projeto próprio e se orienta para a escolha do estado de vida. A relatio finalis da assembleia sinodal de 2015 recordava que «o desejo de família permanece vivo nas jovens gerações». Certamente, a vocação para o matrimónio não é a única maneira de realizar de modo jubiloso e autêntico a própria existência, mas permanece verdadeiro que «muitos jovens continuam a ver o matrimónio como o grande âmbito da sua vida e o projeto de uma família como a realização das suas aspirações». A Amoris laetitia fala muito desta correlação e estou certo de que o próximo sínodo fará disto um objeto de reflexão. L’OSSERVATORE ROMANO página 12 quinta-feira 2 de fevereiro de 2017, número 5 Sharon Cummings, «Hope» (pormenor) Na audiência geral o Papa falou da esperança na vida depois da morte Realidade certa «Também a nossa ressurreição e a dos nossos amados defuntos não é algo que poderá realizar-se ou não, mas constitui uma realidade certa, dado que está radicada no evento da ressurreição de Cristo», frisou com força o Papa Francisco na audiência geral de quarta-feira 1 de fevereiro, na sala Paulo VI. Eis a reflexão do Santo Padre. Bom dia, amados irmãos e irmãs! Nas catequeses passadas demos início ao nosso percurso sobre o tema da esperança, relendo nesta perspetiva algumas páginas do Antigo Testamento. Agora desejamos começar a esclarecer o alcance extraordinário que esta virtude assume no Novo Testamento, quando encontra a novidade representada por Jesus Cristo e pelo evento pascal: a esperança cristã. Nós, cristãos, somos mulheres e homens de esperança. É quanto sobressai de modo claro desde o primeiro texto que foi escrito, ou seja, a Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses. No trecho que ouvimos, podemos sentir todo o vigor e a beleza do primeiro anúncio cristão. A comunidade de Tessalonica é jovem, recém-fundada; e no entando, não obstante as dificuldades e as numerosas provações, está radicada na fé e celebra com entusiasmo e com alegria a ressurreição do Senhor Jesus. Então, o Apóstolo alegra-se de coração com todos, dado que quantos renascem na Páscoa se tornam verdadeiramente «filhos da luz e filhos do dia» (5, 5), em virtude da plena comunhão com Cristo. Quando Paulo lhe escreve, a comunidade de Tessalonica tinha acabado de ser fundada, e só poucos anos a separam da Páscoa de Cristo. Por isso, o Apóstolo procura explicar todos os efeitos e consequências que este acontecimento singular e decisivo, isto é, a ressurreição do Senhor, comporta para a história e para a vida de cada um. Em particular, a dificuldade da comunidade não consistia tanto em reconhecer a ressurreição de Jesus, todos acreditavam, quanto em crer na ressurreição dos mortos. Sim, Jesus ressuscitou, mas a dificuldade consistia em crer que os mortos ressuscitam. Em tal sentido, esta carta revelase atual como nunca. Cada vez que nos encontramos diante da nossa morte, ou da de uma pessoa querida, sentimos que a nossa fé é posta à prova. Sobressaem todas as nossas dúvidas, toda a nossa fragilidade, e questionamo-nos: «Mas realmente haverá vida depois da morte...? Ainda poderei ver e reabraçar as pessoas que amei...?». Eis a pergunta que há poucos dias, durante uma audiência, uma se- nhora me dirigiu manifestando uma dúvida: «Encontrarei os meus?”. Também nós, no contexto atual, temos necessidade de voltar à raiz e aos fundamentos da nossa fé, de maneira a adquirir a consciência sobre aquilo que Deus fez por nós em Jesus Cristo e o que significa a nossa morte. Todos nós temos um pouco de medo desta incerteza da morte. Vem-me à memória um velhinho, um bom idoso que dizia: «Não temo a morte. Tenho um pouco de medo de a ver aproximar-se». Temia isto. Perante os temores e as perplexidades da comunidade, Paulo convida a manter firme sobre a cabeça, como um elmo, sobretudo nas provações e nos momentos mais difíceis da nossa vida, «a esperança da salvação». É um elmo. Eis o que é a esperança cristã. Quando se fala de esperança, podemos ser levados a entendê-la segundo o significado comum deste termo, ou seja, em referência a algo de bom que desejamos, mas que pode realizar-se ou não. Esperamos que aconteça, é como um desejo. Por exemplo, dizemos: «Espero que amanhã «Espero que amanhã o tempo seja bom!»; mas sabemos que, ao contrário, no dia seguinte o tempo pode ser mau... A esperança cristã não é assim. A esperança cristã é a espera de algo que já se cumpriu; ali está a porta, e espero chegar à porta. Que devo fazer? Caminhar rumo à porta! Tenho a certeza que chegarei à porta. Assim é a esperança cristã: ter a certeza de que estou a caminho de algo que existe, não de algo que eu desejo que exista. Esta é a esperança cristã. A esperança cristã é a expetativa de algo que já se cumpriu e que certamente se há de realizar para cada um de nós. Portanto, também a nossa ressur- nhor. Isto não é fácil, mas aprende-se: viver na na expetativa. Esperar significa e implica um coração humilde, um coração pobre. Somente o pobre sabe esperar. Quem já está repleto de si e dos seus pertences, não sabe depositar a própria confiança em nenhum outro, a não ser em si mesmo. Escreve ainda São Paulo: «[Jesus] morreu por nós, a fim de que nós, quer em estado de vigília, quer de sono, vivamos em união com Ele» (1 Ts 5, 10). Estas palavras são sempre motivo de grande consolação e de paz. Portanto, somos chamados a rezar também pelas pessoas amadas que nos deixaram, a fim de que elas vivam em Cristo e permaneçam em plena comunhão connosco. Algo que me toca profundamente o coração é uma expressão de São Paulo, ainda dirigida aos Tessalonicenses. Ela enche-me da segurança da esperança. Reza assim: «Assim estaremos para sempre com o Senhor» (1 Ts 4, 17). Uma coisa boa: tudo passa, mas depois da morte estaremos para sempre com o Senhor. É a certeza total da esperança, a mesma que, muito tempo antes, levava Job a exclamar: «Sei que o meu redentor está vivo [...] Eu mesmo o contemplarei, vêlo-ão os meus olhos e não os olhos de outrem» (Job 19, 25.27). E assim estaremos para sempre com o Senhor. Vós acreditais nisto? Pergunto-vos: credes nisto? Para terdes um pouco de força, convido-vos a dizê-lo três vezes comigo: «Assim estaremos para sempre com o Senhor». Encontrar-nos-emos lá, com o Senhor. Um apelo a «responder ao clamor da terra e dos pobres» foi lançado pelo Pontífice no final da audiência geral. Saudando como de costume os grupos linguísticos presentes, o Papa dirigiu-se de modo especial à delegação do Movimento católico mundial pelo clima, agradecendo-lhe o compromisso a favor da nossa casa comum nesta época de crise socioambiental. Além disso, recordou a festa da Apresentação do Senhor e o Dia mundial da vida consagrada. Eis algumas das suas saudações. Dirijo uma saudação especial a todos os peregrinos de língua portuguesa, nominalmente aos estudantes vindos de Portugal. Queridos amigos, que a fé na Ressurreição nos leve a olhar para o futuro, fortalecidos pela esperança na vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Deus vos abençoe! Dou as cordiais boas-vindas à delegação do Movimento Católico Mundial pelo Clima e agradeçolhe o compromisso a favor da nossa casa comum nesta época de O Pontífice saúda o coro infantil da Coreia do Sul grave crise socioambiental. Encorajo a continuar a tecer redes a reição e a dos nossos amados defuntos não é fim de que as Igrejas locais respondam com algo que poderá realizar-se ou não, mas cons- determinação ao clamor da terra e dos pobres. titui uma realidade certa, dado que está radiDirijo uma saudação aos jovens, aos doencada no evento da ressurreição de Cristo. Portes e aos recém-casados. Amanhã celebraretanto, esperar significa aprender a viver na exmos a festa da Apresentação do Senhor e o petativa. Aprender a viver à espera e encontrar a vida. Quando uma mulher compreende Dia Mundial da Vida Consagrada. Confio às que está grávida, cada dia aprende a viver na vossas preces quantos foram chamados a proexpetativa de fitar o olhar daquela criança que fessar os conselhos evangélicos a fim de que, há de vir. Assim, também nós devemos viver e com o seu testemunho de vida, possam irraaprender destas expetativas humanas e viver à diar no mundo o amor de Cristo e a graça do espera de fitar o Senhor, de encontrar o Se- Evangelho.