Sem construir, como pode o homem viver?
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Sem construir, como pode o homem viver?
Série Percurso Educativo SEM CONSTRUIR, COMO PODE O HOMEM VIVER? Enrico Novara é graduado em engenharia civil pelo Instituto Politécnico de Milão - Itália, especialista em desenvolvimento local. Coordenador da AVSI (Associação de Voluntários para Serviços Internacionais) no Brasil, gerenciando projetos de desenvolvimento humano. Desde 1999 membro do Conselho Diretivo da AVSI. Marco Coerezza é pedagogo formado na Universidade Católica Sacro Cuore de Milão. Coordenador da FISM (Associação de 150 escolas para a infância na Itália). Colaborador da revista INICIAR - Itália. Giorgio Vittadini é o Presidente da Companhia das Obras (Associação sem fins lucrativos fundada em 1986) sediada em Milão. É professor de Ciências Estatísticas na Universitá Degli Studi em Milão, Bicocca. Enrico Novara Marco Coerezza Giorgio Vittadini (palestrantes) Série Percurso Educativo SEM CONSTRUIR, COMO PODE O HOMEM VIVER? Luisa Cogo Elisabete R. do Carmo Silva (organizadoras) Associazione Volontari per il Servizio Internazionale Belo Horizonte 2002 Ministero Affari Esteri - Italia Cooperazione allo Sviluppo Sem construir, como pode o homem viver? Série Percurso Educativo Organização: Luisa Cogo e Elisabete R. do Carmo Silva Preparação de textos: Elisabete R. do Carmo Silva e Cilene C. C. Chaves Revisão: Eneida Maria Chaves Projeto gráfico: Juliana Vaz Produção gráfica: Derval O. Braga Júnior (www.megaconsulting.com.br) Fotolitos: Laser Plus Impressão: Gráfica Lê Brasil 2002 Catalogação na Fonte do Departamento Nacional do Livro C672s Coerezza, Marco Sem construir, como pode o homem viver? / Marco Coerezza, Enrico Novara, Giorgio Vittadini; organizadoras Luisa Cogo, Elisabete R. do Carmo Silva. Belo Horizonte: CDM, AVSI, 2001. 66 p.; 21 cm. - (Percurso educativo) ISBN: 85-88559-02-1 (broch.) 1. Educação - Aspectos sociais - BrasiI. 2. Assistência social. I. Novara, Enrico. II. Vittadini, Giorgio. III. Cogo, Luisa. IV. Silva, Elisabete R. do Carmo. V. Título, VI. Série. CDD: 370.19 Sumário Apresentação ..............................................7 Obras: Realismo e Criatividade - Enrico Novara Palestra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Consciência da Identidade e Organização da Escola: Relato de uma Experiência - Marco Coerezza Palestra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo? - Giorgio Vittadini Palestra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Fichas de Origem - Instituições Conveniadas . . . . . . . . . . . 45 Apresentação Apresentação Este é o segundo livro da série Percurso Educativo, elaborada para auxiliar as Obras educativas envolvidas no Projeto de Rede de Infância, gerido pela AVSI Associação Voluntários para o Serviço Internacional - e pela CDM - Cooperação para o Desenvolvimento e Morada Humana - através de um convênio realizado com a CEI - Conferência Episcopal Italiana - e o MAE - Ministério do Exterior do Governo Italiano. O primeiro livro intitulado Educar-se para educar, publicado em meados de 2001, reunia as atas das palestras proferidas no Seminário Educar é um Risco e tinha como intuito indicar os passos de um percurso educativo no qual a realidade é abraçada com todos os seus fatores constitutivos, devendo servir de instrumento para a prática cotidiana dos educadores e de todas as pessoas envolvidas nesses Centros Educacionais. Este segundo livro, sob o título Sem construir, como pode o homem viver?, reúne, nos dois primeiros capítulos, as atas das palestras proferidas por Enrico Novara, Coordenador da AVSI no Brasil, e por Marco Coerezza, pedagogo italiano consultor educacional do Projeto Rede de Infância, em um Seminário realizado em Belo Horizonte, em outubro de 2001. No último capítulo, há uma re-edição de um texto de Giorgio Vittadini, Presidente da Companhia das Obras, em um curso proferido em Milão em 2000. Sem construir, como pode o homem viver? expressa mais do que um título: é verdadeiramente a pergunta colocada a todos os responsáveis, fundadores e diretores das instituições educativas associadas ao Projeto Rede de Infância e Luisa Cogo 7 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? presentes no Seminário, para que estes possam não apenas retomar a postura educativa, mas ter e manter presente a origem de cada Obra. Retomar a origem se faz necessário, porque o que aparentemente é um fato histórico que marca a fundação de uma Obra, na verdade se faz presente hoje, no cotidiano de cada uma, através da postura educacional adotada, através dos conteúdos e da metodologia de trabalho, até no nível organizacional. "Tornar evidente a origem significa tornar evidente a motivação pela qual as Obras nasceram que é a mesma pela qual elas vivem e continuam vivendo", como indica Enrico Novara em seu texto. As Obras que inicialmente surgiram da tentativa de compartilhar as necessidades encontradas, com uma preocupação educativa, assumiram, com o tempo, uma importante relevância social, não apenas pelos indicadores quantitativos - pois hoje são atendidas mais de 3.000 crianças em 13 instituições -, não apenas pelos indicadores qualitativos - uma vez que o serviço oferecido se diferencia em creches, reforços escolares, acompanhamento no direcionamento profissional, recuperação nutricional -, mas principalmente porque a metodologia utilizada se tornou um ponto de referência para mudanças de ordem civil e existencial em todos os contextos nos quais os Centros Educativos se inserem. Esse processo de desenvolvimento das Obras ocorreu no tempo e, muitas vezes, para se colocar como uma resposta à realidade encontrada, sem uma projetualidade definida passo a passo. Por isso, hoje, cada vez mais se impõe como um pedido expressado dentro das próprias Obras, além do cuidado com a proposta educacional e da necessidade de que a forma organizacional e de gestão sejam adequadas à tarefa assumida. Este trabalho pretende dar uma contribuição para que todas as pessoas envolvidas no Projeto Rede de Infância e também para aquelas que se comprometeram com a construção de ambientes nos quais as crianças sejam reconhecidas como pessoas e por isso olhadas em todos os seus aspectos constitutivos, ao buscarem tentativas originais de resposta às necessidades educacionais, possam encontrar neste texto um instrumento que auxilie o caminho. 8 Obras: Realismo e Criatividade Obras: Realismo e Criatividade Enrico Novara Enrico Novara O objetivo do Projeto Rede de Infância1 é ajudar os diretores, os educadores e todos os funcionários dos centros educativos no trabalho desenvolvido cotidianamente, tornando mais evidente a motivação e a origem do trabalho que começou no final dos anos 80. Cada Centro, mesmo tendo uma história diferente e abordando situações e contextos diversos, possui uma origem comum, um ponto inicial comum que iremos descobrir ao longo desta reflexão. No primeiro seminário2, Dom Filippo Santoro ajudou os participantes a refletirem sobre o conteúdo da experiência educativa, retomando o texto de Luigi Giussani Educar é um risco3. Neste segundo momento, queremos retomar o ímpeto que deu origem aos Centros Educativos, tornando o desejo de compartilhar a vida com as pessoas encontradas uma realidade operativa que, por sua natureza, desde o começo, O presente trabalho é uma das atividades previstas no Projeto Rede de Infância do qual fazem parte 13 Centros Educacionais que nasceram em momentos diversos e situações diferentes, a partir da iniciativa de algumas pessoas envolvidas com a AVSI (Associação Voluntários para o Serviço Internacional) e que, provocadas pela realidade, começaram a compartilhar a vida com pessoas que foram encontrando nos bairros e, sobretudo, em favelas. 1 Estamos nos reportando ao Seminário Educar-se para educar, realizado em Belo Horizonte e Salvador em maio de 2001 e publicado como o primeiro livro da série Percurso Educativo editado pela CDM-AVSI em 2001, que tinha como intuito indicar os passos de um percurso educativo no qual a realidade é abraçada com todos os seus fatores constitutivos e que servisse de instrumento para a prática cotidiana dos educadores e de todas as pessoas envolvidas nesses Centros Educacionais. 2 3 GIUSSANI, Luigi. Educar é um risco. São Paulo: Companhia Ltda, 1999. 9 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? Pontuar a origem: tornar evidente a motivação inicial mostrou uma dignidade social. Chamamos essas estruturas operativas, que enfrentam as necessidades nas quais os desejos dos homens se encarnam, de Obras, "formas de vida nova para os homens" como as chamou em 1982, em Rimini, João Paulo II, ao relançar a Doutrina Social da Igreja4. As Obras, sendo a tentativa de responder sistematicamente à necessidade que pressiona a vida, constituem uma verdadeira contribuição para a novidade do tecido e do rosto social. Tornar evidente a origem significa tornar evidente a motivação pela qual os Centros nasceram que é a mesma pela qual eles vivem e continuam vivendo. Existem instituições que, ao longo do tempo, esquecem a origem e desenvolvem um trabalho não tendo em conta qual foi a motivação inicial, então se tornam fracas como postura e/ou como proposta: eu penso que não é o nosso caso. Não se trata para nós de ter esquecido qual foi a origem, mas se trata de entender e retomar a origem, uma vez que não é algo que aconteceu, algo que alguém pensou e que agora temos que fazer um esforço para lembrar. Pontuar a origem é ajudar-nos a reconhecê-la no cotidiano, no trabalho do dia-a-dia, o que estamos fazendo agora; por isso, precisamos entender que a motivação inicial está presente dentro do que estamos desenvolvendo. O cotidiano de nossas obras é feito do atendimento às crianças, dos relacionamentos com os pais, de uma proposta educativa que deve ser elaborada junto com eles; de uma preocupação com as famílias que vivem no entorno dos nossos Centros; da tentativa de organizar o tempo e o espaço; da tentativa de aprofundar o relacionamento com as pessoas; e da organização das funções de cada um. Tudo isso depende da postura de reconhecer dentro das nossas ações qual foi o motivo original, a forma, a organização do tempo e das funções, assim como construir uma proposta educativa e construir um plano pedagógico dependem do fato de viver, de ter claro nas nossas ações a origem pela qual esse centro começou. O Meeting pela Amizade entre os Povos é um evento cultural que acontece em Rimini, na Itália, no mês de agosto, há vinte anos. É um importante encontro com personalidades do mundo político, cultural, científico no qual todo ano participam milhares de pessoas, discutindo temáticas sugeridas pelo contexto mundial atual. Estamos aqui nos referindo ao encontro realizado no dia 29 de agosto de 1982, sob o tema Cristo é la piu grande risorsa dell uomo. La Traccia, p. 987. 4 10 Obras: Realismo e Criatividade Para nos ajudar no trabalho, nesses dois dias, queremos responder a três perguntas, duas na tarde de hoje e a última através de uma contribuição de Marco Coerezza, amanhã. Enrico Novara Três perguntas • A primeira pergunta diz respeito à origem da Obra, aos fatores que constituem a origem da tentativa de resposta às necessidades encontradas e pelas quais foi construída uma Obra. Qual é a origem da Obra? Nesta pergunta estão implícitas outras: quais foram os primeiros passos? Como nasceu aquela Obra educativa? • A segunda pergunta é: qual é a natureza específica dos Centros Educativos que estamos construindo? Porque aquilo que estamos desenvolvendo são Centros Educativos e não simplesmente assistenciais. • A terceira pergunta é: que forma operativa pode ser sugerida? Que forma de organização pode ser sugerida pelas Obras que vocês estão construindo? Respondemos à primeira pergunta: qual é a origem dos Centros Educacionais? É uma evidência que não foi através de um projeto que surgiram estes Centros, não foi um projeto da AVSI5 que construiu estas realidades nos contextos mais variados. Quando eu cheguei ao Brasil há nove anos atrás, foi uma surpresa o encontro com essas realidades: foi como descobrir algo que estava existindo e algo extremamente interessante. E eu comecei a perguntar a várias pessoas, para Rosa, para Ana Lídia, para Virgínia, para João Carlos: "mas como é que começaram essas Obras? Por que vocês começaram a construir essas Obras?" Eu tenho aqui um escrito da Rosa, que, a meu ver, resume a motivação e a origem de forma clara. A Rosa explica: "a minha preocupação principal nunca foi a de resolver o problema das pessoas que encontrava, eu desejava para cada uma dessas pessoas, que através da AVSI (Associação Voluntários para o Serviço Internacional) é uma organização não governamental, nascida na Itália nos anos 70 e constituída dentro dos princípios da doutrina social da Igreja Católica. Atua hoje em 32 países, com 95 projetos plurianuais nos setores de saúde, atendimento a crianças em situação de risco, formação profissional, recuperação de assentamentos informais e do ambiente degradado, agricultura e intervenção de emergência. Está presente no Brasil desde 1982, atuando em Belo Horizonte, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus, além de apoiar uma rede de entidades para o atendimento à infância em várias outras cidades do Brasil.. A origem não foi através de um projeto... 5 11 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? ... mas compartilhar uma experiência vivida amizade comigo pudesse iniciar a olhar a realidade de forma positiva e a se relacionar com ela de uma forma diferente". Isso quer dizer: a origem foi o desejo de comunicar às pessoas encontradas aquilo que ela vivia, que dava um sentido à sua vida e que por isso podia ser proposto também aos outros. A origem da construção das nossas realidades educativas não foi a preocupação em resolver os problemas encontrados, que eram muitos, mas compartilhar com aquelas pessoas uma experiência de vida. O ponto de partida foi a presença de alguém que começou a vivenciar com as pessoas encontradas uma experiência, compartilhando as necessidades cotidianas. Nelas aparece uma necessidade maior, comum a todos os homens: a necessidade de entender o próprio destino. Este ponto de partida significou e ainda significa algo de novo no panorama dos programas de desenvolvimento humano e das instituições que, como as nossas, trabalham num contexto onde as necessidades materiais primárias muitas vezes não são satisfeitas. Geralmente, neste contexto se prioriza a análise das necessidades, a identificação daquilo que falta, a definição dos mecanismos institucionais capazes de solucionar os problemas, tentando mudar as causas que os provocam. É um esforço lícito no qual também nós somos envolvidos, mas sem poder esquecer o protagonista, a pessoa, sem a qual as respostas à necessidade são simplesmente ou um gesto de bondade que procura a própria gratificação ou uma estratégia política. Em ambos os casos se esquecem ou pelo menos não são devidamente consideradas duas perguntas fundamentais e originárias da ação: qual é a necessidade do homem? Quem pode responder à necessidade do homem? Em um encontro como o de 1959, realizado em Milão com as pessoas que viviam um gesto de caridade indo com regularidade em algumas aldeias perto de Milão, cujo tema era o exame das motivações e dos porquês dessas pessoas irem na Bassa6, Giussani, ao comentar algumas respostas, disse que ir "para socorrer as Nos anos após a Segunda Guerra Mundial, quando a periferia de Milão ainda não estava em um nível de desenvolvimento como o atual, onde havia poucas escolas e as famílias tinham problemas econômicos, o Cardeal de Milão pediu a Dom Giussani (O Movimento Comunhão e Libertação estava iniciando-se na Itália com os estudantes do ensino médio com o nome de GS) que, dentro daquele primeiro grupo, alguém pudesse 6 12 Obras: Realismo e Criatividade necessidades" dos outros ainda era uma resposta incompleta, porque era preciso entender primeiramente qual era a necessidade do outro. Essa colocação é importante, pois nos leva a pensar no primeiro aspecto que caracteriza essa nossa tentativa de resposta às necessidades encontradas: se dependesse do que nós acreditamos ser a necessidade do outro, nós poderíamos nos tornar violentos ao impor uma resposta que nós acreditamos ser a verdadeira. Mas se o ponto de partida é o de viver junto com o outro o que eu encontrei, compartilhando a minha experiência, isso me abre ao reconhecimento do que o outro realmente precisa, que pode caracterizar-se em uma ação concreta, mas que se desvela como algo maior que é o desejo de resposta àquilo que define verdadeiramente uma pessoa, o seu desejo de felicidade, de beleza e de justiça. Há um grande debate hoje no mundo sobre o que é a pobreza. As definições mais evidentes são: a pobreza é não ter dinheiro, é estar abaixo de uma linha de pobreza, é ganhar 100 reais por mês enquanto esses não são suficientes para comprar a alimentação. Ou dizer que o pobre é aquele que não tem acesso aos serviços de educação, não tem acesso à saúde etc. Em um encontro acontecido durante o Meeting pela Amizade entre os Povos7 deste ano (2001), Diamont Martin, que é o Núncio Apostólico em Genebra e o representante da Santa Sé junto aos Organismos Internacionais, disse: "o pobre é aquele que não tem possibilidade de desenvolver os talentos que Deus lhe deu". Essa é uma definição totalmente diferente, porque não está associada à condição de vida, mas considera a potencialidade de cada pessoa. O trabalhar nos contextos "marginais", onde as nossas instituições surgiram significou olhar para a realidade das pessoas que, tendo perdido as próprias raízes e indo em outro lugar sem a capacidade de poder construir o próprio futuro, não tinham a consciência de para onde estavam caminhando. Enrico Novara A necessidade do outro desvela o desejo de algo maior ir passar uma tarde do sábado, ou uma parte do Domingo, para poder fazer alguma coisa com essas famílias. Esse gesto caritativo era chamado de "Ir na Bassa", uma vez que o lugar é situado ao sul de Milão, uma área muito plana (bassa significa baixa). Dessa ação, nasceu a idéia da caritativa, isto é de dar uma parte do próprio tempo para compartilhar com o outro esta companhia. É claro que essa ação não tinha a pretensão de resolver problema algum. 7 Cf. nota 4 deste capítulo. 13 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? Incapacidade de responder aos problemas do outro Colocar-se ao lado deles significou, antes de mais nada, viver uma presença capaz de estimular e solicitar a retomada da auto-estima e de enfrentar a realidade. É só uma presença de alguém que se torna um elemento capaz de aglutinar as capacidades adormecidas dos homens, que pode provocar uma responsabilidade, ou seja, uma capacidade de resposta às circunstâncias mesmo que críticas. O segundo aspecto frente a essa postura de querer responder aos problemas do outro é que podemos esquecer que não temos a capacidade de fazêlo. Hoje, dia 18 de outubro de 2001, havia uma declaração no jornal O Globo de uma funcionária da ONU que está trabalhando na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão dizendo que estava aflita, frustrada, porque, por causa da guerra, não estava conseguindo atravessar a fronteira para entregar os alimentos aos refugiados e, por causa disso, o seu trabalho não tinha valor nenhum, esquecendo-se que nós não temos a capacidade de responder a todas as necessidades que o outro tem, porque certamente eles não têm apenas a necessidade de alimentação. A respeito disso é importante considerar a citação contida no livro O eu, o poder, as obras, de Giussani (2001), no capítulo "Dai-nos um coração grande para amar": Toda pessoa de boa vontade, diante da dor e da necessidade, começa imediatamente a agir, mostra-se capaz de generosidade. Porém, para além da generosidade, embora esta seja louvável, suas tentativas de resposta às necessidades do momento correm o risco de ter um derradeiro véu de auto-complacência, ou então uma derradeira sombra de tristeza. A contribuição da pessoa de boa vontade talvez resolva o problema naquele momento: mas, e depois? Depois, nada impede que possa aparecer uma outra dor ou uma nova necessidade (p. 123). Ele estava falando para um grupo de pessoas envolvidas na ajuda às pessoas vítimas do terremoto acontecido no norte da Itália em 1976, que destruiu algumas cidades. Giussani (2001) continua: 14 A pessoa pode fazer algo no momento trágico, mas, se não se deixa levar, distraído pela urgência da ação, compreenderá que suas energias Obras: Realismo e Criatividade Enrico Novara são impotentes diante - digamos a palavra certa - o mal (já que um terremoto também é um mal, tanto como a morte) (p. 123). Como Giussani sublinha, quando uma tentativa dá certo, nós acreditamos na nossa capacidade de ter solucionado um problema daquela pessoa, esquecendonos de fato qual é a origem da necessidade que, de alguma forma, é sempre sinal de uma necessidade maior. Quando não conseguimos, ficamos tristes. É necessário voltar ao que entendemos por necessidade do outro: se a necessidade do outro é a de infinito como a minha, então eu posso realmente compartilhar dessa necessidade, uma vez que é a mesma necessidade minha. De outra forma, eu transfiro ao outro parte do poder que eu tenho, que me é dado pelo meu maior conhecimento (cidadania), pelo poder de construir, de fazer e de participar da sociedade. Seria uma questão de distribuição de poder: eu tenho um poder e generosamente dou um pouquinho dele, uma vez que a distribuição mais eqüitativa de poder faz bem à sociedade, porque ajuda a construir uma sociedade melhor. No primeiro caso, os dois compartilham a verdade, estão no mesmo nível do ponto de vista humano. No outro caso, um detém um poder que "generosamente" o leva a socorrer o outro. Não há diferença? Há: eu encontrei algo que poderá, se ele quiser, tornar a vida dele melhor, mais verdadeira, mais bela e mais digna. A origem dos Centros está exatamente nessa diferença que existe entre querer solucionar os problemas do outro ou querer compartilhar a sua necessidade. Nós queremos compartilhar a necessidade do outro para compartilhar o sentido da vida, só isso pode ajudar o outro a se tornar também um protagonista do contexto social no qual ele está inserido. Faz-se necessário agora pontuar algumas questões relacionadas ao método que se desenvolveu dentro da tentativa de responder às necessidades encontradas e percebidas como sinal de algo maior. O método que desenvolvemos é fundamental, mas ele não pode simplesmente reproduzir aquilo que acontece em um contexto menor para um contexto maior. Observações do método 15 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? Nós aprendemos a lidar com o desnutrido, a lidar com a criança abandonada, a lidar com a família, portanto aprendemos um método, mas este método, a meu modo de ver, funciona identificando e apontando alguns elementos que a realidade nos indica para enfrentarmos juntos com aquelas pessoas aquelas necessidades. O método nas nossas Obras funciona como a memória, isto é, como se estivéssemos anotando as coisas que naquele momento deram certo, mas deram certo porque foi a forma como a realidade nos colocou a caminhar, como dar um passo. Então, o método é como uma anotação dos passos positivos que a realidade está nos sugerindo para enfrentar o que encontramos. Se o método for este, significa que nós não vamos ficar orgulhosos do fato de estarmos resolvendo um problema, mas que estamos entendendo qual é o caminho para compartilhar uma necessidade, para responder aos pedidos que a realidade coloca. O risco que nós estamos correndo, se desejamos resolver os problemas, é o de identificar um modelo que deu certo e reproduzir uma ação. Hoje o método do CREN não é reduzido à reprodução da farinha enriquecida ou o arroz com feijão, ou medir todas as crianças do Brasil para dizer quem são aquelas desnutridas. Mas qual é a riqueza do CREN? Comparando à sua fundação, quando começou em 1993, hoje ele tem um conjunto de dados que a realidade colocou, compartilhando com aquelas mães e com as crianças uma necessidade que elas tinham e reconhecendo que aquela necessidade nascia de uma necessidade igual à minha. Passando agora à nossa segunda pergunta - qual é a natureza dos nossos Centros Educativos? - pode nos ajudar muito um documento produzido pela AVSI8 e que deveria ser apresentado em Nova York no 20 de setembro, dia no qual estava programado o encontro das Nações Unidas, evento que claramente não aconteceu depois dos dramáticos fatos do 11 de Setembro. Como o tema da conferência era relacionado ao documento "A world fit for children", da UNICEF, onde é sancionado o direito inalienável de toda criança a ter acesso à educação básica, o documento preparado tinha por objetivo ilustrar as 8 16 Educate Every Child, in the Family, in the Community, in the Word (AVSI, 2001). Obras: Realismo e Criatividade atividades educativas empreendidas pela AVSI em alguns países em via de desenvolvimento, com crianças que vivem a infância e a adolescência em situações de guerra, abandono, pobreza e doenças, em particular, apresentando as linhas fundamentais que orientam o processo educativo, as implicações de método que delas derivam e a realização operativa das intervenções. O ponto de partida de toda atividade em relação às crianças é constituído pelo reconhecimento do seu ser pessoa. Esse termo chama imediatamente a atenção para o tema da identidade e da construção dessa identidade em contextos não facilitantes ou decisivamente difíceis, como os contextos nos quais nós estamos inseridos. Mas como pode ser definida a identidade pessoal senão como o "estar em relação", como relação com um outro diferente de si que permite à pessoa estruturar-se e consolidar-se e, ao mesmo tempo, permite à pessoa sua unicidade? Através do relacionamento e mediante ele, é possível, para a criança, crescer. O processo de crescimento implica tanto a identificação positiva da própria pessoa (portanto, não reduzindo a pessoa baseada nas dificuldades objetivas criadas pelo contexto de marginalidade ou de desvios que a induziriam a assumir comportamentos violentos), quanto a possibilidade de se tornar um adulto responsável e produtivo em relação à sociedade e ao ambiente. A identidade pessoal é, portanto, o resultado de um processo educativo que se realiza em uma pertença concreta, palpável nas relações interpessoais. Todo ser humano para crescer - e o crescimento não pode ser entendido de maneira reduzida em sentido meramente biológico - tem necessidade de viver a experiência de uma relação significativa capaz de transmitir o sentido daquilo que se é e daquilo que se faz. A educação representa, portanto, um processo mediante o qual a criança pode se tornar um adulto capaz de ter responsabilidade e estar apto a enfrentar os desafios que a vida cotidiana impõe em situações de risco. Esse relacionamento se dá em um tempo e em um espaço, em uma casa, com a assistência, a alimentação, as brincadeiras, a companhia... Para crescer harmoniosamente, a criança tem necessidade da presença de adultos, em primeiro lugar, os pais, capazes de fundamentar e orientar o processo de educação. Enrico Novara Construção da identidade... ... através do relacionamento significativo 17 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? Experiência de confiança Passos do caminho educativo: • Atenção à tradição da criança • Envolvimento do educador na relação 18 Quando a criança estiver com sua família, esta deve ser ajudada, para que possa melhor desenvolver a sua específica tarefa educativa de construção da personalidade básica. Essa personalidade pode ser construída se a criança, através das relações familiares, começar a fazer experiência de confiança. Trata-se de um elemento muito importante em um contexto de "marginalização": nesses casos é particularmente difícil ajudar as crianças que normalmente se tornam desconfiadas para com todas as pessoas que, em qualquer nível, assumem o papel de autoridade - mesmo que seja profissional - e passam a temer os relacionamentos assim que esses se tornam mais próximos. Pelo contrário, quando o adulto pode garantir um eficaz "comportamento de tratamento", a criança responde com uma postura de confiança que é a base de todo processo de crescimento. A confiança é a resposta que a criança desenvolve, se seus pais ou os adultos que lhe estiverem próximos forem dignos de confiança; ela nasce em um contexto de relacionamentos, entrelaçado de ações concretas. Desse modo, cria-se um âmbito de relacionamento capaz de assumir concretamente o cuidado pelo sujeito em crescimento e de iniciar um processo educativo dinâmico voltado a toda a comunidade de referência. Ao lado dos pais, outros adultos desempenham um papel fundamental na educação das crianças: esses adultos podem ser os únicos pontos de referência no processo educativo das crianças, particularmente nas situações de acentuada marginalização. Na comparação, no relacionamento contínuo entre adulto e criança, dá-se o crescimento e a tomada de consciência por parte dos menores. No confronto contínuo com a pessoa do educador, que a valoriza constantemente, a criança cresce, verifica suas potencialidades e aprende a ler criticamente a realidade na qual vive. Para alcançar esse objetivo, o primeiro passo educativo é uma atenção à bagagem de vida, de valores e de experiências que a criança carrega consigo, na sua história, desde a sua origem. O educador tem consciência que a verdadeira educação nasce de uma comunicação de si e que, por isso mesmo, o primeiro instrumento é o sincero envolvimento de si mesmo. Toda a liberdade do adulto está sempre em jogo, com um absoluto respeito pela liberdade da criança. Essa fundamentação indica um método que permeia também as técnicas empregadas. Obras: Realismo e Criatividade O fator comunitário é a dimensão constitutiva de toda ação educativa que se realiza contínua e cotidianamente em uma trama de relacionamentos capilares dentro da comunidade de referência. Entende-se, com essas considerações, que o desenvolvimento de uma pessoa não seja uma questão que diga respeito somente à criança, mas, pelo contrário, uma empresa evolutiva em conjunto com o sujeito em crescimento e de quem se ocupa e cresce com ele. A tarefa educativa, assim definida, não é, e não pode ser, uma empreitada individual, mas o resultado de um projeto comum, compartilhado pelos adultos que livremente assumem a responsabilidade de conduzi-lo e que, desde o princípio, são vistos e reconhecidos pelo contexto social. Nos países mais vulneráveis, é fácil cair no risco do assistencialismo para com as crianças, tanto pela urgência das necessidades quanto pela sua gravidade e amplitude. O itinerário educativo até aqui ilustrado tem uma implicação metodológica distintiva que se evidencia no "assumir a responsabilidade" da pessoa, no nosso caso da criança, segundo todas as suas dimensões e, conseqüentemente, das necessidades manifestas e latentes, materiais e espirituais que condicionam o seu crescimento. Nesse sentido, aspectos da realidade humanamente inexplicáveis como o sofrimento dos inocentes, as doenças e a morte exigem uma partilha em uma companhia cotidiana que, aliviando o sofrimento, faça vir à tona o valor da pessoa e possibilite identificar respostas às necessidades. Em outras palavras, a resposta à necessidade nunca pode estar desassociada da consideração da pessoa na sua totalidade, mas deve ser global: essa abordagem torna mais incisiva e eficaz a ação conduzida, seja em relação a cada criança, seja em relação ao seu contexto de vida. Por aquilo que diz respeito ao primeiro (cada criança distintamente), esse método permite, como já afirmado anteriormente, a construção de uma personalidade "positiva"; por aquilo que diz respeito ao segundo (contexto de vida), o método tem sido particularmente eficaz em criar novamente vínculos sociais interrompidos devido a conflitos armados e à violência, em perseguir uma emancipação promocional da comunidade local, em síntese, em criar ou re-criar uma sociabilidade adequada ao homem. Os nossos Centros, as nossas Creches, são lugares onde o percurso educativo que tentamos descrever acontece. Enrico Novara • Dimensão comunitária Implicação metodológica: "assumir a responsabilidade pela criança" 19 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? Natureza educativa dos Centros e relevância social 20 A natureza das nossas Obras, mesmo que nós cuidemos dos dentes das crianças, mesmo que nós tentemos engordar e espichar um pouco as crianças, mesmo que nós distribuamos uma cesta básica etc etc, é principalmente uma natureza educativa, isto é, ajudar a recuperar o desenvolvimento dos talentos de cada pessoa. Portanto, este trabalho tem uma relevância social que deve ser levada em conta: estamos trabalhando dentro de um contexto social, criando lugares onde é possível viver uma presença de adultos, que, tomando conta das crianças, dão uma esperança às famílias e colocam as premissas para que algo de novo possa ser construído no contexto social. Consciência da Identidade e Organização da Escola: Relato de uma Experiência Consciência da Identidade e Organização da Escola: Relato de uma Experiência1 Peço desculpas pelo esforço que vocês terão que fazer comigo falando em italiano, mas não consegui mesmo aprender o português. Enrico2, aqui no Brasil, e Maria Teresa3, em Milão, pediram-me para contar a vocês a história do meu trabalho. A princípio, eu não havia entendido o que isso tinha a ver com a questão que nós tínhamos discutido anteriormente, mas, ouvindo o que Enrico falava me dei conta de uma coisa: que a obra nasce quando eu me ponho dentro de uma circunstância, e o que Enrico descreveu sobre a história dele, me parecia semelhante à minha própria história. Eu comecei a trabalhar na creche, na qual trabalho até hoje como diretor, há dez anos atrás. Depois, conheci Rosi Rioli e com ela comecei um trabalho de formação dentro das creches que se desenvolveu ao ponto de chegar à redação de uma revista que se chama Iniciar4, dirigida justamente às professoras das creches. Comecei participando de uma associação de escolas particulares, mais ou menos 150, na Província de Varese na Lombardia, que iniciou um trabalho de formação das educadoras. 1 Marco Coerezza Marco Coerezza Relato da experiência A tradução do presente texto é de autoria de Benedetta Fontana. Enrico Novara é o Country Representative da AVSI (Associação de Voluntários para Serviços Internacionais) no Brasil. 2 Maria Teresa Gatti é a responsável pela AVSI, na Itália, coordenadora dos projetos desenvolvidos na América Latina. 3 4 Itália, Castelbolognese, editora Itaca. 21 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? Com o tempo e junto com outras pessoas que faziam este trabalho, nós nos demos conta de que o problema não era somente de formação do pessoal; o real problema era de uma perda da memória, da identidade, da origem dessas escolas, e percebemos que o nosso trabalho dentro dessas escolas estava sendo como o de jogar água dentro de um balde furado, porque o problema não era só o de formar as educadoras, mas de cuidar da escola na sua totalidade. Então, retomamos a história dessas escolas, constatamos que a maioria delas nasceu de uma tradição caritativa, que era típica das comunidades cristãs. Estas escolas nasceram ao final de 1800 e algumas tinham mesmo uma grande tradição. A partir dos anos 80, estas escolas estavam vivendo um período de passagem da condução religiosa pelas freiras para a condução pelo pessoal leigo, e isso tinha determinado uma desorientação. Além disso, também os gestores, até mesmo eles, tinham perdido a memória da história à qual eles pertenciam; assim, dentro dessa confusão que tinha se criado, as escolas seguiam uma forma de condução casual. E o que mais me interessou em minha percepção foi que dentro dessa confusão em relação à origem, o que mais tinha sido esquecido foi justamente a organização da escola. Então, nós nos demos conta de que existia realmente um nexo fundamental entre a consciência da própria identidade e a organização, a forma que você dá à ação que você faz dentro da história da instituição. Outra coisa que percebemos é que a atenção e o cuidado de se recuperar essa identidade coincidia com aquilo que contava mais para nós, como pessoas, que era mais importante para nós, como homens, a partir da experiência do Movimento5: a atenção para com essas obras era a atenção para que se pudesse fazer memória de Cristo na vida concreta, de forma que Cristo pudesse ser encontrado por todo mundo; e essas escolas representavam uma grande possibilidade e potencialidade, potencialidade e possibilidade pela missão da Igreja. O Movimento Comunhão e Libertação (CL) é um Movimento eclesial cujo objetivo é a educação dos seus membros na maturidade Cristã e a colaboração na missão da Igreja Católica na sociedade de hoje. Nasceu na Itália em 1954, quando Monsenhor Luigi Giussani deu vida a uma iniciativa de presença cristã chamada Gioventú Studentesca (GS - Jovens Estudantes Cristãos) no liceu Berchet em Milão. 5 22 Consciência da Identidade e Organização da Escola: Relato de uma Experiência Outra coisa da qual tivemos consciência olhando para essa história foi que todas essas obras tinham um sujeito, que não era dessa associação que as reunia, mas cada escola tinha um sujeito que as tinha constituído. Ou seja, existia uma identidade comum entre essas escolas, dentro de formas institucionais muito diferentes umas das outras, até do ponto de vista jurídico, e cada uma dessas obras tinha, justamente na sua origem, um sujeito que as tinha constituído. A hipótese de trabalho que nós fizemos pode ser apresentada em três aspectos: Marco Coerezza Hipótese de trabalho • Primeiro: a reconstrução de uma identidade através da recuperação de uma história e através da recuperação dessa história e da vida da Igreja. • Segundo: a reconstrução dos sujeitos que fizeram essas obras; ou seja, a ajuda a cada um desses sujeitos, seja os gestores, seja os educadores, seja os formadores, a recuperarem a forma da própria tarefa, dentro da obra, do próprio papel dentro da obra. • Terceiro: a reconstrução das relações entre esses sujeitos, porque, seguindo a desordem da qual eu falei antes, cada um desses sujeitos se colocava de forma particular, própria, frente a essas situações, ficava sozinho. Eu agora gostaria de explicar para vocês alguns pontos desse projeto para tentar colocar um pouco melhor as coisas de que eu falei antes. Gostaria de descrever um pouco esses sujeitos que operam dentro das instituições, depois de falar um pouco sobre as funções que nós localizamos e elencamos dentro das obras e também contar algumas coisas a respeito dos relacionamentos que aí se formaram. Existem, geralmente, quatro sujeitos dentro dessas obras que são sempre presentes: o que nós chamamos de gestor, os diretores, as educadores e os que nós chamamos de sócios (ou associados) da escola. Os gestores são geralmente os encarregados de trazer a história e a tradição. Aqueles que, no tempo, deveriam, como primeira função, pelo menos manter viva a identidade daquela escola. Junto a isso, como segunda função, eles gerenciariam a escola, quer dizer: coletariam o dinheiro para o funcionamento da escola, dividiriam os papéis entre as várias pessoas e ofereceriam todos os recursos Sujeitos presentes nas instituições O gestor 23 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? Os sócios 24 necessários dos quais a escola precisava. E a terceira função era, de alguma forma, manter o relacionamento entre essa escola e a comunidade mais ampla que, de alguma forma, a gerou, neste caso, a Igreja. Com o tempo, dessas três funções sobrou prevalentemente só a administrativa e esses gestores perderam a sua função ideal ou pedagógica. Essa perda se deu devido ao fato de os novos gestores (aqueles que substituíram os fundadores das escolas) perderem devagar, com o tempo, este laço com a comunidade cristã. Então, esse era o sujeito mais importante ou mais delicado para ser ajudado e sustentado. Um sinal dessa perda, desse laço da comunidade cristã com o gestor, está no fato de vermos que essas escolas com o tempo foram perdendo os sócios, não eram mais a expressão de um grupo de pessoas que permaneciam juntas pelo reconhecimento de um ideal comum. As escolas tinham se transformado como formas vazias. A perda de memória foi uma perda de interesse da Igreja, uma coisa dolorosa de se reconhecer, mas infelizmente verdadeira, uma perda de interesse da Igreja para com a obra vista como um instrumento de missão. Como essas escolas tinham relacionamento com mais ou menos dez mil famílias, imaginem as possibilidades de encontros que se poderiam realizar com esse amplo número de pessoas; então, o meu interesse e dos amigos que trabalham comigo, nasceu mesmo desta dor causada por esse abandono, dessa falta de interesse por uma obra que tinha que conter o que, de alguma forma, para nós, era o mais importante. Uma outra coisa que se relaciona com essa perda de memória é a perda dos sócios: o gestor ficou exatamente sozinho, só como uma pessoa animada pela boa vontade. Podem acreditar no que Enrico falava sobre o fato da boa vontade não bastar; isso é verdadeiro e é um drama, aliás, uma tragédia, porque isso quer dizer também perder o patrimônio. Ou seja, algumas dessas creches passaram para o Estado e essa passagem, por uma questão jurídica italiana, significou também a passagem de todo o patrimônio financeiro (imóveis) dessas escolas, com perdas assustadoras em termos concretos. A essa altura, nós começamos a perceber um grande risco para nós: substituir o sujeito do gestor com a associação das escolas. Trabalhamos muito Consciência da Identidade e Organização da Escola: Relato de uma Experiência nesse ponto e tentamos nos ajudar muito até que percebemos que a nossa ajuda devia absolutamente respeitar a realidade e a realidade é que cada escola, mesmo a menor, tinha um sujeito original que era diferente de todos os outros. Essa reflexão amadureceu dentro de um contexto maior no qual o Estado, com as suas escolas, teve um problema econômico e financeiro e estava ajuntando as escolas em grupos, fechando muitas delas nos pequenos vilarejos e construindo grandes institutos escolares. Nessa situação, nós fomos contra a corrente, defendemos a existência de todas as escolas, mesmo as menores, com uma autonomia plena e total. E estamos tentando apoiar as pequenas escolas, criando um centro de serviços do qual todo mundo pode utilizar-se, com a finalidade de abater alguns custos de gestão e permitindo a essas escolas manter a autonomia. Dessa forma, o trabalho se tornou um trabalho de ajuda aos diversos sujeitos a fim de recuperar, além da identidade, a consciência das funções que cada um deles tinha. Nós vimos também que algumas funções eram característica de mais de um sujeito e não de um sujeito só. Por exemplo, o gestor tinha também uma função pedagógica dentro da instituição, ou seja, a preocupação de que essa obra mantivesse a correspondência com a própria origem através da tradução dentro de um projeto educativo adequado. Não é que o gestor tinha que entrar e fazer parte da elaboração do projeto educativo, mas, com certeza, não podia se esquecer desse aspecto, porque, se não fosse dessa forma, ele perderia a possibilidade de verificar a correspondência entre essa obra e a sua origem. Nós começamos a pensar em cima de uma formação para o gestor não somente nos aspectos técnicos, mas uma formação também cultural; e fizemos um trabalho de recuperação da consciência, da importância dessa obra dentro das diversas comunidades, a partir de uma recuperação, de uma retomada de interesse por parte dos sacerdotes e da comunidade cristã. Dentro desse trabalho, nós vimos também a exigência de dar uma forma operativa, organizacional à obra, e aí trabalhamos com diretores e professores, um pouco como fizemos aqui, no Brasil, nas duas semanas em que estive aqui. Dessa forma, escolhemos algumas pessoas que chamamos de coordenadores, cada um deles cuidava de umas dez escolas da província, começando dentro dessas escolas um trabalho de formação e de relacionamento entre esses sujeitos. Marco Coerezza Diretores e educadores 25 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? Formação de um centro de serviços 26 Iniciando esse trabalho, começamos a nos dar conta também das relações entre esses sujeitos, exatamente porque as funções que podem ser diferentes do ponto de vista didático e esquemático, mesmo que diferentes, muitas vezes não podem ser associadas a um sujeito só e também cada uma dessas funções não pode ser realizada se os sujeitos não estão em relação uns com os outros. Claro que a preocupação em cima da recuperação da origem, da identidade, é, sobretudo uma preocupação do gestor, mas não pode ser uma preocupação só do gestor, mas de todo o pessoal que trabalha ou se identifica com esse ideal originário de forma que, de verdade, esse ideal se torne o desejo de sua própria vida ou, então, se torna muito difícil elaborar um projeto que seja, de verdade, correspondente. A função ideal, então, não é somente uma função dos diretores, mas se torna uma função dos educadores, dos professores. E isso fez emergir uma questão fundamental: não basta formar os educadores, mas é preciso ter muito cuidado no momento da escolha do educador. Isso quer dizer que o educador não pode vir para uma creche ensinar somente para ganhar o dinheiro, para ganhar o pão, mas tem que trabalhar ali porque ele escolheu trabalhar ali, porque aquele trabalho ali é a realização do desejo de felicidade que ele tem dentro do seu coração. Da mesma forma, o educador não pode elaborar um projeto educativo sem se importar completamente com as problemáticas gestionárias e financeiras, porque o fato de ter ou não ter dinheiro, ter ou não ter espaço, ter ou não ter recurso é um dado importante. Como os recursos financeiros e materiais sempre são limitados em relação ao que nós desejamos, é obvio que nós temos que ver as prioridades e as prioridades não podem nascer somente do administrador com um critério apenas econômico e contabilístico, mas devem ser escolhidas a partir de um critério psicopedagógico. Duas observações rápidas para concluir. Nesse trabalho, nós nos demos conta também de que os nossos interesses não podiam permanecer somente na escola, mas devíamos resgatar a relação e a identidade entre os sujeitos que geriam as várias escolas, isto é, o que era um trabalho individual em cada escola era também um trabalho comum entre as escolas. Então, pensamos em juntar essas escolas em momentos comuns de convivência para a condução do trabalho educativo. Consciência da Identidade e Organização da Escola: Relato de uma Experiência Por exemplo: no começo do ano, nós organizamos uma palestra e nessa palestra se enfrentou um assunto educativo que nasceu desse trabalho que está sendo desenvolvido com as escolas e aí surgiram reflexões sobre esse ponto e também se tentou indicar caminhos a serem percorridos. Colocamos as escolas em relação entre elas mesmas, através dessa coordenação de umas dez escolas mais próximas até fisicamente, territorialmente, e depois disso trabalhamos dentro da associação, para que a associação se tornasse referência para todas as escolas e para que, através dessa unidade, se pudesse constituir também um centro de trabalho, um ponto de trabalho, um centro de serviços, e um ponto de trabalho sobre o credenciamento da escola em relação à entidade pública, ao estado, região, município. Dessa forma, a gestão dos relacionamentos com as entidades públicas, com os municípios, não permanece tarefa da escola sozinha, pois, sozinha, ela teria uma dificuldade muito grande. Devo concluir dizendo como eu percebo esse trabalho que fiz e que estou fazendo: eu me dei conta, ainda mais ouvindo o Enrico falar, de que a obra nasce como gesto de liberdade de uma pessoa que reconhece dentro da realidade uma necessidade que corresponde à sua própria necessidade de recuperar a memória e a identidade. No meu caso, era claro que estava coincidindo: recuperar a memória de Cristo na minha vida. O trabalho que eu estava fazendo com esses amigos era exatamente a forma que eu encontrei para ajudar essas escolas. Sempre mais me é claro que a finalidade da obra não é somente a resposta ou a solução a um problema, ou melhor, a finalidade da obra não se traduz no socorrer, ou seja, na resolução prática de um problema, mas o horizonte da obra é o eu e a necessidade de infinito que é contida nele. Agora, o meu EU é o EU de todos os que estão ao meu redor. Por fim, elencamos as funções identificadas nas escolas: primeiramente, a ideal, a função que retoma sempre o ideal, a origem que sustenta e determina o desenvolvimento da obra. Depois, existe uma função de gestão e administração que tem a ver com as ações burocráticas, econômicas, fiscais, com a gestão dos recursos e aquisição dos materiais o que, geralmente, nas escolas maiores é desenvolvido por uma secretária e nas escolas menores geralmente por um consultor externo para reduzir os custos. Marco Coerezza Funções das escolas: • Ideal • Gestão e administração 27 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? • Ordenativa • Projetual • Atuação • Verificação 28 Há uma terceira função que chamamos ordenativa, ou seja, a função que seria própria do diretor e que permanece, quando existe o diretor, numa posição intermédia entre a gestão e os professores. É a função de organizar o tempo, o trabalho, os turnos, as tarefas, de procurar encontrar os recursos necessários do ponto de vista pedagógico, de cuidar da comunicação dentro da instituição e dos relacionamentos com o externo, com a comunidade, com os sócios e com as outras entidades. Existe uma quarta função que chamamos projetual, que não tem a ver somente com as questões pedagógicas e didáticas, mas considera toda a vida da escola numa tentativa de dar uma direção, uma orientação e, sobretudo, um sentido a todos os gestos que estão se fazendo dentro da escola. Por exemplo, uma festa ou uma excursão, eu as organizo convidando os pais ou sem os pais, dependendo da finalidade que pretendo dar a esse momento. A função projetual é a função típica do corpo docente, com os professores e, no caso, com o diretor. Há uma outra função chamada de atuação, que é típica de cada sujeito pelo papel específico que ele tem: o responsável administrativo deve saber fazer as contas e fazê-lo de uma forma econômica, assim como o diretor deve saber ser diretor e o professor deve saber ser professor. Porém, dentro dessa função de atuação é importante que cada sujeito perceba que cada ação é realizada por todos os sujeitos juntos. Na função de atuação, cada sujeito tem uma tarefa para realizar e tem que realizá-la segundo as suas características; porém, deve ter cuidado porque, dentro da realização, ele deve dar conta aos outros das suas ações. Assim, o professor não pode de manhã sair com os meninos sem avisar para ninguém. O professor avisa o diretor que também precisa avisar os pais, não só para informar do fato que os meninos estão saindo, mas para comunicar a eles qual é o sentido da saída dos meninos. Isso não é uma complicação da vida, mas a tentativa de favorecer, de dar sempre um sentido ao que se faz. Existe depois uma função que tem a ver com a verificação de todo o trabalho. Estamos trabalhando no sentido de que não seja uma avaliação ao nível didático, administrativo, de gestão, mas deve ser uma avaliação mais completa que tem a ver com a obra, a instituição, a escola, o que foi feito nesse ano, qual foi o sentido para onde está indo; dentro desse projeto realizado, quais foram os objetivos que alcançamos com os pais, com a comunidade e com os alunos. Consciência da Identidade e Organização da Escola: Relato de uma Experiência Depois, a última função é aquela que chamamos de credenciamento pelo fato de que a escola tem que ter um relacionamento com o externo, quer dizer, se fazer conhecer, que quer dizer buscar, encontrar recursos, mas que quer dizer também propor um modelo de escola original e de qualidade. Se fazer conhecer não somente pelos pais, porque isso não basta, mas também pela comunidade mais ampla. Essas são mais ou menos as funções que elegemos para o nosso trabalho nas escolas. E poderia ser interessante considerar como estão presentes nos Centros Educativos que fazem parte do Projeto Rede de Infância e por quem estão sendo desenvolvidas. Marco Coerezza • Credenciamento 29 30 Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo? Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo?1 Giorgio Vittadini Giorgio Vittadini Hoje gostaria de comentar a intervenção de Pe. Giussani, publicada em O eu, o poder, as obras: "Dá-nos um coração grande para amar" (2001, p. 123-132), porque me parece ser um juízo sobre como conduzimos as nossas obras. 1. A insuficiência da resposta A primeira questão colocada pelo Pe. Giussani ("I. Diante da necessidade") esclarece duas posições que podemos ter com relação à necessidade. "Toda pessoa de boa vontade, diante da dor e da necessidade, começa imediatamente a agir, mostra-se capaz de generosidade..."; certamente, a generosidade está na raiz das tentativas que vocês, da Companhia das Obras2, fizeram, porque as nossas obras nascem exatamente como tentativas de generosidade. "Porém, para além da generosidade" - prossegue Pe. Giussani -, "embora esta seja louvável, suas tentativas de resposta às necessidades do momento correm o risco de ter um derradeiro véu de auto-complacência ou, então, uma derradeira sombra de tristeza" (p. 123: Tradução de Neófita Oliveira). 1 Duas posições com relação à necessidade Palestra proferida no dia 13 de maio de 2000 pelo Presidente da Companhia das Obras, em Milão. Companhia das Obras, associação sem fins lucrativos fundada em 1986, hoje com cerca de dez mil sócios, tem por finalidade promover o espírito de colaboração entre profissionais e entre empresas, e apoiar a colocação de jovens e desempregados, em continuidade com a presença social dos católicos e à luz dos ensinamentos da Igreja. A Companhia das Obras do Brasil foi constituída em 1999. 2 31 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? A) A nossa capacidade, método para enfrentar uma necessidade 32 Quando nós conseguimos cuidar de alguém, emerge a nossa capacidade como método para enfrentar aquela necessidade. Tende-se a esquecer o fato de que aquela necessidade, de alguma forma, é um sinal de uma necessidade maior e, por isso, depois nos dirige a um malogro mais geral. Pensem em todas as comunidades de dependentes de drogas, que acreditam ter respondido à necessidade porque curaram temporariamente o problema da dependência da droga. Ao invés, sem terem enfrentado a necessidade em sentido radical, as pessoas se jogam de novo na droga. Todas as intervenções em que temos que trabalhar com pessoas que supomos curáveis correm esse risco: enfrentada a necessidade, melhoradas as condições, o risco é que não esteja na raiz [do trabalho] o senso de insuficiência frente à necessidade geral e, portanto, o aspecto de relacionamento com o destino daquela pessoa, em sentido global, mas a capacidade terapêutica de ter enfrentado uma necessidade particular; com o resultado que, depois, a necessidade particular reaparece. A pessoa pode enfrentar o problema de uma mãe adolescente tecnicamente, mas ou a coloca em condições de enfrentar sua condição, ou o fato de ter tirado a adolescente desse problema é, com certeza, um mito. Pensemos em todas as obras de acolhida: se a pessoa não entende que "as suas energias são impotentes frente ao mal", a intervenção que resolveu um problema particular torna-se uma violência ainda maior do que a necessidade que o outro tinha. A acolhida, a dependência de drogas, os desvios: para a pessoa, ou fica clara a insuficiência do que ela faz, ou de alguma forma, a obra de assistência é uma obra violenta, pois diante da necessidade que reaparece de mil formas diferentes, naquele momento a obra parece ser quase uma pretensão, e sendo uma pretensão, deve reduzir [a necessidade]: isto é, não se admite não ter resolvido o problema que está diante da pessoa. Este é o primeiro risco existente nas obras de assistência. É preciso mistificar a realidade. A realidade é que a necessidade é infinita e se manifesta de mil maneiras. Mesmo quando a pessoa nasce "saudável", ela tem uma necessidade a que você não pode responder. Todas as vezes em que se evidencia uma capacidade terapêutica, de método, desvinculada da percepção do homem em seu destino - portanto, muito maior do que qualquer intervenção -, esta ação é praticada; e essas são exatamente as obras Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo? Giorgio Vittadini que talvez mais alcancem em um particular, as obras que curam pessoas curáveis, das quais se espera uma melhora. Segundo aspecto: a tristeza. Há obras que cuidam de pessoas incuráveis. Então, experimentamos um senso de impotência, ou procuramos "forçar", e não nos limitamos a compartilhar uma situação que só pode ser compartilhada. Essa tristeza é como uma espécie de impotência, de raiva, porque a nossa intervenção não produz o efeito que esperamos; porque compartilhar um destino parece ser quase inútil. Ao invés, Giussani coloca a idéia de que a resposta à necessidade - é preciso fazer todo o possível para descobrir que é insuficiente - significa superar o senso da própria impotência. Os dois primeiros temas dizem respeito exatamente a essa dupla derrota das nossas obras. No momento em que pensamos resolver o problema de uma pessoa, ao invés de pensarmos em compartilhar com a pessoa e em ajudar a pessoa a caminhar rumo ao seu destino, percebe-se como uma redução o fato de não conseguir dar uma resposta. Ou não se suporta a idéia de compartilhar o destino de uma pessoa que pode permanecer a vida inteira absolutamente incurável. Em ambos os casos, é uma traição do objetivo pelo qual a obra de caridade nasceu, que foi um abraço da pessoa inteira, assim como era, sabendo que não éramos capazes, mas colocando-nos diante dela. Isso é ainda mais evidente no relacionamento com as instituições públicas: no momento em que o prefeito decide pagar uma intervenção de assistência e talvez também queira ver os resultados, estamos pensando exatamente em medir o que talvez só possa ser compartilhado. Mais uma vez, Giussani diz que os santos, afinal, não resolveram nenhum problema; simplesmente mostraram como o homem deve estar diante de outro homem. Pois, mesmo São Camilo, que inventou os hospitais modernos, ou São João de Deus, fundador dos Fatebenefratelli3, não resolveram o problema. Mostraram como estar diante do homem. É uma investida oposta à investida científica de hoje, que imagina resolver o problema tornando o homem imortal. Fatebenefratelli é uma congregação religiosa, nascida por volta de 1500 na Espanha (Granada), por obra de um padre chamado Giovanni di Dio, que se dedicou a cuidar dos pobres e doentes. B) Senso de impotência frente à necessidade 3 33 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? 2. Consciência de pertencer O que significa estar diante de uma pessoa doente sem sentir essa tristeza ou esse desejo de posse? Giussani (2001) diz: Essa tristeza última deve ser superada, de fato, (...) pela consciência de se pertencer. Pertencendo, a pessoa faz a experiência de uma coesão, de uma coerência das coisas, na qual sua vida se situa, adquirindo um significado. Trata-se justamente de um senso que não pode ser limitado à breve dimensão do tempo e do espaço (...) mensurável por nós mesmos, mas que a supera infinitamente. Só na experiência de tal coesão começa a aparecer no horizonte da nossa consciência a percepção de um significado positivo, apesar de tudo, do tempo; a percepção de algo maior e mais forte do que o mal e a angústia do presente (p. 124). Como superar a tristeza ou o desejo de posse? O senso do destino Isso significa que temos o senso do destino. Se uma freira tem o senso do destino, se ficar a vida inteira ao lado de um deficiente mental grave do Cottolengo4, entende que isso é útil, porque não sabemos - do ponto de vista do destino - a importância e a utilidade que essa pessoa tem com relação ao universo. Se a questão é a utilidade e o sentido, pode ser que essa pessoa seja mais importante do que todos os moradores de Turim daquela época. Porque essa pessoa está nas mãos de Deus. O sentido disso é que o destino não pertence a nós. Então, posso gastar racionalmente a vida inteira - não por um ato heróico, louvável do ponto de vista leigo, mas em última instância irracional -, por um motivo racional: aquela pessoa é o próximo, aproximou-se de mim, e eu não sei quanto ela vale, não posso medir o significado de um homem. Eu posso compartilhar o que se aproxima de mim. Isso torna a tentativa profundamente cheia de sentido, É uma obra de caridade de uma congregação religiosa, nascida por volta de 1800 em Torino por obra de um padre chamado San Giuseppe Benedetto Cottolengo (Bra 1786 - Chieri 1842). A Pequena Obra da Divina Providência, se dedica fundamentalmente a atenção especial à pessoas com deficiências, físicas e mentais. 4 34 Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo? Giorgio Vittadini porque nos colocamos diante de um homem apostando no sentido que o Senhor lhe deu, e, portanto, o próprio gesto torna-se grande. 3. Uma pergunta por sentido Em ambos os casos, o pertencer que tem como objetivo um sentido - se vocês quiserem, o senso religioso, diz Giussani (2000) no capítulo IX do próprio O senso religioso5 - é o nível da razão onde a razão se pergunta "por quê". Então, assim colocado, o gesto assume um valor que tem peso. Não é possível não sentir essa percepção como o ponto de partida do próprio trabalho, porque mesmo se formos ótimos profissionais, se trabalharmos em uma obra nossa sem entender esse aspecto, o resultado será induzir as pessoas aos erros a que acenei antes. Em uma obra como a nossa, a pessoa deve ter o senso do destino, ao menos o senso religioso; ela não pode não sentir que isso é importante; não pode não desejar ter uma percepção assim da vida. Nós não podemos contratar profissionais normais, que não sintam isso, pois, assim, eles não compreenderão o significado do que fazem: ele será reduzido ao salário que recebem, à organização que existe, à capacidade, ao sucesso que a obra obtém. O nosso ponto de referência, mesmo do ponto de vista da competência profissional, são exatamente as irmãs de Cottolengo, ou seja, pessoas capazes de compartilhar a necessidade até o fim, também tecnicamente; pessoas cuja ação, paradoxalmente, não tem um valor mensurável. Nosso ponto de referência são os santos, que adquirem a técnica, uma capacidade, mas colocam como tema o sentido da pessoa que está diante deles. Ou nós conseguimos ter a lucidez de nos perguntarmos o sentido do que estamos fazendo, ou as nossas obras não se sustentarão no tempo, porque o nosso único patrimônio é perguntar por que fazemos as coisas; este é o código genético do qual certas obras nasceram. Perder isso de vista significa não ter mais a identidade da obra; pois obras de caridade também podem ser multinacionais que 5 GIUSSANI, Luigi. O senso religioso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000 (Trad. de Paulo Afonso Oliveira). Ponto de partida do trabalho: qual o sentido da ação? 35 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? A distinção entre voluntariado e caridade O pertencer estrutura o ímpeto da generosidade e torna os seus efeitos permanentes entram no "mercado" da assistência, podem ser feitas por pessoas que apostam no voluntariado e, portanto, têm o salário e a organização do Estado por trás delas. Como questão única, devemos tornar presente a pergunta pelo sentido do que está diante de nós. Ou todos os que trabalham conosco possuem esse tipo de percepção - aqui se coloca o grave problema da formação -, ou nós acabaremos por ter obras nas quais as pessoas entendem mal o senso religioso, como problema ideológico, mas não entendem por que estão ali ajudando alguém a viver uma situação. Nesse sentido, Giussani faz uma distinção entre voluntariado e caridade: "A solidariedade é uma característica (...) instintiva da natureza humana; entretanto, ela não faz história, não cria obras por continuar a ser uma emoção ou uma resposta reativa a uma emoção. (...) O que constrói é a resposta consciente à pergunta: Por que você adere a essa urgência de solidariedade?" A questão é pertencer: por que aderimos a essa urgência de solidariedade? Pode ser por um pertencer ideológico, ou pelo pertencer a uma realidade religiosa; para nós, é o pertencer ao Mistério do fato cristão no mundo. O pertencer estrutura o ímpeto da generosidade e torna os seus efeitos mais permanentes. Com relação à reconstrução de Friuli (região da Itália) após o terremoto de 1976, foi afirmado: "Os muros foram recriados, agora é preciso recriar o lar." É o oposto da mentalidade moderna normal, segundo a qual quanto menos se pertence, mais se faz o voluntariado, porque o voluntariado é de todos, neutro, sem ideologias. O problema é a resposta, é a resposta à pergunta pelo sentido, por que a pessoa adere a essa urgência, aonde ela leva você? Você a abraçou por um instinto, por uma emoção, mas para onde ela o leva? Para onde você quer ir! Essa pergunta não pode estar no início da obra, ou ser deixada para a Escola de Comunidade do Movimento6, sem ser uma interrogação que leva a uma mudança contínua da obra. Pois, de outra forma, não vamos entender nada da escola de comunidade, não vamos entender nada da obra. A posição do Movimento é uma tensão A Escola de Comunidade é um momento catequístico de reflexão e comparação pessoal e comunitária dos membros do Movimento Comunhão e Libertação. 6 36 Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo? Giorgio Vittadini contínua a perguntar pelo sentido, é um desejo de afirmar o sentido do que eu tenho à minha frente. Isso deve acontecer, embora pareça não querer dizer nada do ponto de vista da estrutura da obra, porque as condições sociais em que estamos tendem a esmagar essa posição para privilegiar o que diz respeito aos empreendimentos. 4. A caridade é uma obra Mas para nós é impossível não começar a partir dessa pergunta, e dessa resposta, porque ela coloca a nossa obra como método no grande sulco da caridade. Diz Giussani (2001): A outra palavra é caridade. Nas igrejas cantam: 'Dá-nos, Senhor, um coração grande para amar' (Hombres nuevos). Como exemplo do horizonte ao qual a nossa ação deve corresponder, temos o coração de Deus feito homem. A caridade acrescenta à solidariedade a consciência de uma imitação do Mistério do ser que é lei para o ser humano, de tal modo que ela dispõe sua personalidade a agir com todas as suas forças, com toda a inteligência e a afeição de que é capaz. Portanto, a caridade é uma obra, transforma a solidariedade em obra, por criar um sujeito novo. (...) Dizer sujeito equivale a dizer criador. O homem se torna criador, isto é, idealizador e realizador de obras. A obra exige um sujeito. A caridade, portanto, reconduz o ser humano à razão última do seu agir, e somente ela confere às coisas aquela permanência, aquela eternidade sem a qual não existe positividade real, nem se dá a verdadeira construção, não acontecem 'obras'( p. 125). Dizer caridade e dizer "eu quero perceber o mistério que existe em mim, e o mistério que tenho diante de mim, perceber que isso é mistério, ou seja, que eu não sou o dono disso, ele não me pertence, mas me interessa", coloca o sujeito de quem realiza a obra de modo diverso. Caridade, imitação de Deus, transforma a solidariedade em obra 37 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? Caridade dimensão da obra Voltemos ao discurso dos "agentes", de cada um de nós: o que você tem em mente? Não é uma questão extra-profissional. Aliás, é a questão através da qual se revê a profissão, a organização da obra, o seu objetivo, tudo. Pois nós, diferente dos outros, não concordamos nem sobre o Mistério. Mas o Mistério não é um fator profissional, não é a questão que, de qualquer forma, interroga todas as escolhas que as nossas obras fazem; enquanto nós - com o tempo, não de repente, mas com o tempo -, somos chamados a construir obras nas quais todas as escolhas são feitas em função da pergunta: qual é a urgência, como essa urgência ajuda a nós e aos outros rumo ao Mistério? Não podemos fazer uma escolha sem essa pergunta. E se somos obrigados pelo mercado a dar respostas parciais, também devemos saber o que dizer. Também podemos ter obras pequenas; mas essas obras não podem não ter em si essa urgência de pergunta, se nós a temos, porque é a urgência da caridade. A caridade não pode ser a dimensão do Movimento7 e não ser a dimensão da obra. Pois se nós fôssemos objeto da ação das obras que realizamos, gostaríamos de ser tratados conforme o Mistério, conforme a fé. Não podemos nos contentar com a resposta técnica. O que queremos para as pessoas que amamos deve ser para todos, o que coloca uma urgência cultural, radical, de mudança, que certamente deve se reconciliar com as condições práticas, porém, é uma urgência de mudança. Não podemos fazer escolhas que se separam da nossa posição ideal. Nesse sentido, sintetizei o quinto ponto de Giussani com uma palavra que não foi escrita, mas está subentendida à questão, a palavra "tradição": Nessa percepção de si, o indivíduo, solicitado na sua capacidade de compaixão pelo encontro com uma necessidade humana, adquire uma educação, estabiliza-se num habitus permanente: começa a compreender que, do mesmo modo como se comporta diante da necessidade, deve comportar-se diante de sua mãe, de seu pai, da esposa, do marido, dos filhos, de todos (p. 125). Adquirir um habitus permanente retornando a tradição da qual viemos 7 38 Refere-se ao Movimento de Comunhão e Libertação (Cf. nota 6 neste capítulo). Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo? Giorgio Vittadini Para mim, a primeira questão reside exatamente nas palavras "adquire uma educação, estabiliza-se num habitus permanente"; porque, nas nossas obras, não podemos inventar o modo como devemos estar diante do usuário, mas devemos nos perguntar: o que o carisma do Movimento sugere com relação a isso? O grande debate dos anos 73-76, em que Giussani quis tomar novamente o Movimento nas mãos, era justamente o debate sobre a não-separação entre as escolhas da vida e o carisma do Movimento; como se ele defendesse que o carisma do Movimento é um fator de leitura da realidade maior do que as escolhas profissionais. Nós temos uma tradição a ser interrogada, não temos que inventar nada. Mesmo se adotarmos técnicas, devemos nos perguntar como essas técnicas respondem ao fator maior que as julga, ou seja, ao carisma. O problema das nossas obras é retomar a tradição da qual viemos, o tronco em que fomos cultivados, porque há uma tradição a ser interrogada. Há um sulco a seguir. Entre outras coisas, o sulco criado nessas obras - é a promessa que Giussani nos faz - torna-se fator de leitura da realidade inteira, também com pai, esposa, marido e filhos. Se a identificação com a experiência da tradição faltar, o que acontece é que "a solidariedade é impetuosa, e difícil não ser unilateral" (p. 126). Isso significa que o aspecto educativo é confundido com o aspecto técnicoinstrumental. O trabalho seria impossível se não tivéssemos uma tradição a ser interrogada, mas temos uma tradição fortíssima, tanto do ponto de vista do juízo geral, quanto do ponto de vista do enfrentamento da caridade. Com relação a um certo problema, nós devemos nos perguntar o que o Movimento nos sugere, pois a palavra "mudança" é que tem a ver com essa tradição. Quer a obra seja grande ou pequena, o trabalho cultural de um juízo diferente que a realidade coloca é o trabalho a ser feito, que ninguém faz. Se não quisermos ser unilaterais, devemos nos perguntar o habitus que diz respeito à tradição. 5. Um ímpeto humano em ação Quinto ponto: o que quer dizer enfrentar as coisas conforme a solidariedade ditada pelo pertencer ao Mistério de Deus, no qual consiste a caridade? Qual é o resultado? A primeira característica é antes de tudo imaginação 39 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? Imaginação e criatividade Dimensão religiosa Continuidade 40 e criatividade (cf. p. 126). São realmente criadas formas de vida nova para o ser humano; nós somos chamados a entender como as necessidades que estão diante de nós podem ter uma resposta diferente das fórmulas dadas hoje pelos outros. Devemos descobrir um jeito que não é igual ao dos outros, porque Pe. Giussani não é "os outros", o seu carisma é mais humano. Então, se é mais humano em geral, também é mais humano na assistência. Há um jeito de olhar a realidade, a pessoa, que leva em conta mais fatores, e é percebido, construído, nas milhares de páginas que lemos, olhando o Movimento como fato vivo. Há uma imaginação e uma criatividade que não nos deixam ser superficiais como os outros; talvez sejamos menores, mas imaginativos e criativos. No ano passado, encontrei algumas obras de caridade, como a da Nicoletta e as mães adolescentes, e ela me contou que uma dessas adolescentes não abortou porque a encontrou e ela convenceu a menina a ter o filho. Nenhum consultório realiza esse trabalho, nem mesmo os católicos. A nossa posição é humana, entra no mérito da questão. Há uma criatividade que é fruto desse trabalho que, repito, não podemos pretender, mas ao qual podemos tender. As formas não são iguais às dos outros. "Não vos conformeis aos esquemas do mundo". A segunda característica é que a criatividade e a imaginação levam em si algo que para todos é uma violência, mas para nós é a questão fundamental: a religiosidade. Não existe cultura se não estiver subentendida uma dimensão religiosa. Aqui, evidentemente, Giussani não fala de religiosidade no sentido da história das religiões, mas daquele aspecto em que a categoria suprema da razão é a categoria da possibilidade: que possa existir um Deus que se fez homem. A religiosidade não é um preconceito, é já ter tudo claro, o que torna difícil levar alguém a olhar a realidade sem fechamentos. Terceira característica: a continuidade (Guissani, 2001, p. 127). Para nós, uma coisa tem valor quando dura no tempo. Depois de algum tempo, a solidariedade se cansa, não agüenta, as pessoas mudam. Ao contrário, se a pessoa a realiza por Jesus, pode ficar a vida inteira ao lado de uma irmã do Cottolengo. Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo? Quarta característica: "O cristão sabe que nenhum homem está isento de culpa" (Guissani, 2001, p. 128). Quantos erros são cometidos, do ponto de vista humano e profissional, quando não partimos dessa consideração. É difícil se corrigir, porque devo admitir um erro; e quando eu admito um erro, parece que tudo desmorona. Mas, se eu estiver na posição indicada por Giussani, posso fazer um uso programático do erro, porque o reconhecimento oferece a possibilidade da mudança. Quinta característica: o objetivo é criar uma casa mais habitável para o ser humano; isto é, o objetivo das nossas obras é criar um lugar físico, vivente, onde seja visivelmente possível encontrar as pessoas que assistimos. Para concluir, vou contar um exemplo que me marcou. Giussani encontrou recentemente algumas pessoas que moram em Nova York e lhe contaram o que estava acontecendo, ou seja, que os livros dele se difundem sozinhos, no sentido de que são lidos em lugares onde o Movimento não existe: em Nebraska, em South Dakota, inclusive nos círculos protestantes. Tudo acontece como se não precisássemos organizar nada. Então, ele disse: "Tudo bem, mas agora as pessoas que leram os livros precisam encontrar um ímpeto humano, o mesmo que Jesus sentiu pela viúva de Naim". Alguém que diga a eles: "Estou com você", "precisa de ajuda?", "estou aqui". Aqui ele fala de uma emoção (Cf. Guissani, 2001, p. 130). Eles precisam encontrar uma emoção, não no sentido redutivo ao qual acenei no início, mas uma emoção forte, um ímpeto humano, um tom humano. Nós podemos organizar tudo, realizar obras e todas as suas conseqüências, mas podemos não ter esse tom humano. Porque a verdadeira diferença que torna uma obra de caridade capaz de incidir na história é justamente uma emoção, é o jeito como alguém que anda pelo hospital olha o doente, como fala com um dependente; é o jeito como ele acolhe a necessidade particular: as flores para uma velhinha que faz aniversário traz mais conforto do que abrir ou fechar a janela do quarto dela. É estar ali, tendendo a afirmar o outro. Essa emoção não pode ser programada. Em última instância, nós não podemos deixar de julgar Giorgio Vittadini Reconhecer o próprio erro Criar uma casa mais habitável para o ser humano Um ímpeto humano caracteriza o encontro com o outro... 41 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? ... e provoca uma mudança também na organização 42 toda a mudança das nossas obras de caridade exatamente a partir da existência desse toque humano que se torna organização. Seria sentimental se não fosse algo que muda a estrutura, mas é uma emoção, é um "mulher, não chores", é alguém que se sente afirmado: a pessoa entende que, naquele instante, ela existe. Sem essa emoção, as obras de caridade não são acontecimento, são obras de assistência programada. Mas não é possível substituir o acontecimento do encontro, do maravilhamento daquele instante ali! Enfim, o juízo mais radical sobre as nossas obras de caridade é: mas eu vivo essa posição de caridade? Porque "a caridade é um fator que contesta e penetra todos os outros fatores, a caridade é maior do que tudo. Ela gera um povo que não pode surgir senão de algo gratuito" (Guissani, 2001, p. 131). Então, nós não podemos deixar de julgar a nós mesmos com base nisso, e os outros que estão ali conosco, ao menos com base na simpatia por isso; pois, se eles forem pessoas completamente estranhas a isso, é melhor procurar outras. Talvez desse jeito a obra corra o risco de não ficar em pé, mas para que eu quero ter criado uma obra cuja concepção do mundo aparece como programa, mas não como coerência? Esses me parecem ser os pontos de juízo sobre as nossas obras de caridade, uma revisão de como deveria ser a formação, a organização, a educação de quem trabalha nelas. Mas, ainda antes disso, o que importa é uma posição que podemos não ter no instante. Se não for assim, seremos como os gerentes de muitas estruturas de saúde e de assistência católicas, que estão tão empenhados em criar a obra que se esquecem de ser cristãos; organizam a resposta dos outros. Mas onde é que eles estão? E nós, onde é que estamos? Referências Bibliográficas Referências Bibliográficas GIUSSANI, L. O eu, o poder e as obras. Contribuição de uma experiência. [Tradução vários]. São Paulo: Cidade Nova, 2001. ___________. O senso religioso. [Tradução Paulo Afonso E. de Oliveira]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. ___________. Educar é um risco. Como criação de personalidade e de história. [Tradução de Neófita de Oliveira]. São Paulo: Companhia Ilimitada, 2000. COGO, Luisa e CARMO, Elisabete Regina (Orgs.). Educar-se para educar. Belo Horizonte: CDM:AVSI, 2001. ROSSI, Geovana. Educate Every Child, in the Family, in the Community, in the World. AVSI, 2001. 43 44 Fichas de Origem - Instituições Fichas de Origem Instituições Apresentamos a seguir as fichas, intituladas por nós como ficha de origem, dos Centros Educativos que participam do Projeto Rede de Infância, que incluem informações referente a estrutura e localização de cada instituição. ASSOCIAÇÃO SAGRADA FAMÍLIA Data da Fundação 30/04/1996 Nome dos Fundadores Iolanda Dematte Motivação Inicial Ajudar as crianças carentes Conveniada à AVSI desde 1998 Responsável Atual Iolanda Dematte Características da Obra Favorecer o desenvolvimento das crianças mais carentes. Público Atendido Crianças até 09 anos de idade. Nº de Crianças 215 crianças Nº de Funcionários 17 Endereço Travessa São Benedito, s/nº - Chapada do Rio Vermelho - Salvador, BA 45 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? OBRA PAROQUIAL SANTO ANDRÉ - ESCOLA SANTO ANDRÉ Data da Fundação 12/11/1975 Nome dos Fundadores Anna Sironi; Padre Roberto Etavi; Terezinha de Freitas; Antônio Geonízio Santos Motivação Inicial Possibilitar a população local condição de sobrevivência, além de ajuda à formação profissional. Conveniada à AVSI desde 1997 Responsável Atual Padre Guido Zendron Características da Obra Conveniada com a Escola Municipal Público Atendido Crianças de 05 a 12 anos Nº de Crianças 300 crianças Nº de Funcionários 16 Endereço Rua 26 de Abril, 61 - Nordeste de Amaralina - Salvador, BA 46 Fichas de Origem - Instituições CENTRO EDUCATIVO JOÃO PAULO II Data da Fundação 03/12/1999 Nome dos Fundadores Associação Humano Progresso Motivação Inicial Oferecer continuidade da proposta educativa às crianças da Creche João Paulo II e reforço escolar às crianças e adolescentes do bairro. Conveniada à AVSI desde Desde a fundação, 03/12/1999 Responsável Atual Pina Carapella Características da Obra Centro de reforço escolar Público Atendido Crianças e adolescentes de 07 à 16 anos Nº de Crianças 322 crianças Nº de Funcionários 22 Endereço Rua 1º de Novembro, s/nº - Novos Alagados - Plataforma - Salvador, BA 47 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? ASSOCIAÇÃO CRECHE JOÃO PAULO II Data da Fundação 20/05/1994 Nome dos Fundadores Sociedade Casa Cultura e Fé Motivação Inicial A Creche João Paulo II surgiu do encontro de alguns jovens católicos, que faziam a experiência de pertencer a uma Comunidade Cristã, com alguns moradores da Comunidade de Novos Alagados. A partir desse encontro e de um olhar atento à totalidade deste contexto e determinadas circunstâncias, que tais moradores estavam submetidos é que surgiu o ímpeto de responder a ima necessidade específica da comunidade; ter uma instituição que abrigasse, em período integral, crianças de 0 a 6 anos de idade, para que assim suas mães pudessem trabalhar mais tranqüila e numa perspectiva de vida mais digna. Foi com este gesto, que a Creche João Paulo dá início às suas atividades, em princípio num pequeno espaço cedido pela Paróquia local (um ano depois na sua própria sede) não apenas como um espaço de cuidado para com as crianças, mas também como um lugar educativo e de esperança para estas crianças e suas famílias. Conveniada à AVSI desde Janeiro de 2001 Responsável Atual Cláudia Magali Santos do Bonfim (continua na próxima página) 48 Fichas de Origem - Instituições ASSOCIAÇÃO CRECHE JOÃO PAULO II (continuação da tabela anterior) Características da Obra A Creche acolhe cerca de 150 crianças divididas por grupos de faixa etária (berçário I e II, jardim I e II e alfabetização), de 7:10 h. às 17:30 h. Ao chegarem, as crianças tomam café da manhã e em seguida envolvem-se nas atividades e brincadeiras com as educadoras. Cada momento: a rodinha, os trabalhos plásticos, as atividades de leitura e escrita, a historinha, os jogos dirigidos em grupos, as brincadeiras livres no pátio e no parque, enfim todas as atividades compõem esse espaço educativo e socializador para estas crianças, que vivem num contexto de violência, pobreza e desestruturação familiar.No berçário, é onde recebemos os casos mais graves de descuido e até de abandono familiar. Para algumas destas crianças, a Creche foi a possibilidade de sobrevivência. A alimentação é outro aspecto de grande importância, pois muitas destas crianças passam fome e outras até já apresentam um quadro grave de desnutrição. Por esse motivo é que na Creche é oferecida uma alimentação balanceada sob a orientação de uma nutricionista e de uma coordenação médica, de modo que assim se possa suprir as suas carências nutricionais. As crianças também realizam atividades de higiene e cuidados com o corpo. Público Atendido Crianças de 04 meses a 06 anos de idade Nº de Crianças 150 crianças Nº de Funcionários 26 funcionários Endereço Rua 1º de novembro, s/nº - Novos Alagados - Plataforma - Salvador, BA - Cep: 40.720-000 49 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? CRECHE COMUNITÁRIA JARDIM FELICIDADE Data da Fundação 03/07/1991 Nome dos Fundadores Rosetta Brambilla Motivação Inicial Responder aos problemas de educação de muitas crianças necessitadas no Conjunto Habitacional Jardim Felicidade. A partir de janeiro de 1989 foi construído um espaço para 50 crianças em idade pré-escolar. Com a ajuda do Pe. Luigi Valentini se conseguiram recursos para viabilização da obra que foi realizada em parceria com AVSI, PBH - Urbel e Secretaria do Estado, do Trabalho e Ação Social. Conveniada à AVSI desde 1993 Responsável Atual Rosetta Brambilla, Rose Aparecida Características da Obra Atendimento a crianças de 0 a 6 anos em horário integral, de 7:00h às 17:00h. Público Atendido Crianças de 0 a 6 anos Nº de Crianças 108 crianças Nº de Funcionários 27 Endereço Av. Professora Gabriela Varela, 580 - Conjunto Jardim Felicidade - Belo Horizonte, MG Cep: 31765-250 50 Fichas de Origem - Instituições CRECHE ETELVINA CAETANO DE JESUS Data da Fundação 21/03/1987 Nome dos Fundadores Rosetta Brambilla Motivação Inicial Tendo em vista as precárias condições de vida em que viviam as famílias da então chamada favela da Vila Boa União (que mais tarde seria chamado de bairro 1º de Maio), Rosa, Padre Pigi e outras pessoas da paróquia se uniram para tentarem responder àquelas necessidades. A partir deste encontro constituiu-se naquela favela um tecido humano muito bonito, capaz de mudar aquela realidade. Deu-se início então a cursos de tapeçaria, cortes de costura, alfabetização de adultos, montagem de um ambulatório, catequese, missa e brincadeiras com as crianças. E depois para responder às necessidades não só de "sobrevivência" das crianças, mas também por uma questão educativa, foi construída a Creche Etelvina Caetano de Jesus. Conveniada à AVSI desde 1992 Responsável Atual Rosetta Brambilla, Helena Perdigão Características da Obra Atendimento a crianças de 0 a 6 anos em horário integral, de 7:00h às 17:00h. Público Atendido Crianças de 0 a 6 anos Nº de Crianças 105 crianças Nº de Funcionários 20 Endereço Rua Oscar Lobo Pereira, 115 - Bairro 1º de Maio - Belo Horizonte, MG 51 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? CRECHE DORA RIBEIRO Data da Fundação 06/03/1998 Nome dos Fundadores Pe Pigi, pároco da Paróquia de Todos os Santos e Moradores do Conjunto Residencial Providência ligados ao Conselho Paroquial São Francisco. Motivação Inicial Pier Luigi Bernareggi (Pe. Pigi) e a comunidade local uniram esforços para a viabilização de um espaço físico possível para a promoção de práticas pedagógicas de educação e cuidados para com as crianças, tendo como objetivo o desenvolvimento integral das mesmas. Umas vez construído o espaço, Pe. Pigi pediu à Rosetta Brambilla que assumisse a coordenação e a gestão deste. Conveniada à AVSI desde 1998 Responsável Atual Rosetta Brambilla, Regina Pereira Alvares Características da Obra Atendimento a crianças de 0 a 6 anos em horário integral, de 7:00h às 17:00h. Público Atendido Crianças de 0 a 6 anos Nº de Crianças 108 crianças Nº de Funcionários 18 Endereço Rua Bertópolis, 449 - Providência - Belo Horizonte, MG - Cep: 31.814-050 52 Fichas de Origem - Instituições CENTRO EDUCACIONAL ALVORADA Data da Fundação 03/12/1999 Nome dos Fundadores Rosetta Brambilla Motivação Inicial Responder aos problemas de educação de muitas crianças necessitadas no conjunto habitacional Jardim Felicidade. A partir de 1995 foi construído um espaço com objetivo de fornecer a essas crianças um reforço escolar e em dezembro de 1999 se inaugurou o Centro construído com a ajuda do Pe. Luigi Valentini que conseguiu recursos para viabilização da obra junto a AVSI, PBH - Urbel e Secretaria do Estado, do Trabalho e Ação Social. Nessa instituição além de funcionar o apoio escolar, se oferece também orientação para o trabalho, através de oficinas e cursos profissionalizantes. Esse espaço é utilizado ainda para a realização de cursos profissionalizantes para adultos oferecidos, em sua maioria em parceria com a CDM. Abriga dois ambulatórios odontológicos que atendem às crianças e suas famílias. Conveniada à AVSI desde 1999 Responsável Atual Rosetta Brambilla, Cristina Soffiantini Características da Obra Atendimento a crianças de 7 a 16 anos, em dois turnos, manhã e tarde de 7:00h às 17:00h. Público Atendido Crianças de 7 a 16 anos Nº de Crianças 240 crianças Nº de Funcionários 17 Endereço Av. Professora Gabriela Varela, 580 - Conjunto Jardim Felicidade - Belo Horizonte, MG Cep: 31.765-250 53 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? CASA DE ACOLHIDA NOVELLA Data da Fundação dezembro de 2001 Nome dos Fundadores Rosetta Bambrilla, Marco Antônio Bragança e Maria das G. Nunes Motivação Inicial A obra da Casa de Acolhida nasceu a partir da experiência das Creches, ao reconhecermos a necessidade de algumas crianças serem acolhidas em um lugar onde pudessem ser olhadas mais de perto, considerando todos os fatores, as suas necessidades naquele momento e acompanhá-las nesse caminho. Conveniada à AVSI desde Dezembro de 2001. Responsável Atual Maria das Graças Nunes (assistente social) e Mariana Poncio Almeida (psicóloga). Características da Obra A Casa Novella se propõe a acolher a pessoa, com todas as suas necessidades e acompanhála nesse caminho. Para isso temos 4 níveis de atendimento: 1) a Casa (abrigo provisório) atendendo crianças em situação de risco pessoal; 2) acompanhando crianças das Creches que se encontram em situação de risco social; 3) rede de famílias acolhedoras, que são famílias disponíveis a acolher crianças em situação de risco pessoal, temporariamente, colaborando também no processo de sua reintegração à família de origem e 4) acompanhamento das famílias de origem, para responder aos vários problemas e necessidades identificadas. Público Atendido Crianças de 0 a 6 anos em situação de risco pessoal e/ou social, vítimas de violência doméstica (negligência, abandono, abuso e exploração sexual, agressão física e psicológica) e suas famílias, encaminhadas pelo Conselho Tutelar ou pelo Juizado da Infância e da Juventude. A Casa (abrigo) tem capacidade para receber até 10 crianças (da regional Norte) e, além dessas, temos a proposta de acompanhar famílias de até 50 crianças das Creches Etelvina Caetano de Jesus, Dora Ribeiro e Jardim Felicidade. Nº de Crianças atualmente (maio/2002) acolhemos 8 crianças na Casa e acompanhamos 45 crianças e suas famílias que estão nas Creches. Nº de Funcionários 13 funcionários (carteira assinada), uma diarista (serviços gerais) e duas psicólogas que prestam serviço para a Casa Novella. Endereço Av. Professora Gabriela Varela, 580 - Conjunto Jardim Felicidade - Cep. 31.765-250 - Belo Horizonte, MG - Tel.: 3434-9390 - e-mail: [email protected] 54 Fichas de Origem - Instituições CENTRO DE RECUPERAÇÃO E EDUCAÇÃO NUTRICIONAL - CREN Data da Fundação dezembro de 1993. Nome dos Fundadores Ana Lydia Sawaya Motivação Inicial Recuperação de crianças que apresentavam desnutrição. Conveniada à AVSI desde 1994 Responsável Atual Maria Luisa Pereira Ventura Soares Características da Obra atendimento a criança desnutrida e sua família - atuação na área da saúde e assistencial (social e educacional). Público Atendido crianças desnutridas de 0 a 6 anos e sua família Nº de Crianças semi-internato - 48, ambulatório - aproximadamente 80 consultas/mês, comunidade aproximadamente 300 crianças por ano Nº de Funcionários 22 Endereço Rua das Azáleas, 244 - Mirandópolis - São Paulo, SP - Cep: 04.049-010 55 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? CRECHE MADRE TERESA DE CALCUTÁ Data da Fundação 01/02/1988 Nome dos Fundadores Pe. Aurelio Riva - Armando e Josephina (Pina) Restuccia Motivação Inicial acolher crianças cujas mães necessitavam trabalhar (e não tinham onde deixar seus filhos), para ajudar e/ou mesmo sustentar. Conveniada à AVSI desde 1995 Responsável Atual Ana Maria / Eliete Características da Obra Assistencial Educativa; pois ficamos com as crianças de 2ª a 6ª feira no horário das 7 às 17 horas, para que seus pais possam trabalhar; dando a elas toda a atenção tanto na parte pedagógica, educativa como também na social. Recebem 5 refeições, e material pedagógico. Público Atendido Crianças na faixa etária de 02 a 06 anos Nº de Crianças 80 crianças Nº de Funcionários 12 Endereço Rua Cel. Donato, 209 - Vila Matilde - São Paulo, SP - Cep: 03.512-030 - Tel. (11) 6653-1433 56 Fichas de Origem - Instituições CRECHE MENINO DEUS Data da Fundação 1979 Nome dos Fundadores Pe. Luigino (Luis) Valentini Motivação Inicial Pe. Luis junto com um grupo de universitários do Movimento Católico Comunhão e Libertação realizava visitas domiciliares à famílias. Identificaram através dessas a necessidade, principalmente através da solicitação das mães, da existência de um local seguro onde seus filhos pudessem ficar para que elas fossem trabalhar. Construiu-se um galpão através de um mutirão comunitário. Com o tempo ampliou-se o trabalho dando surgimento a creche. Conveniada à AVSI desde Desde, aproximadamente de 1993. Responsável Atual Dulcinéia Solange; Denise Avelãns e Marina Bastos Guardo. Características da Obra Proporcionar uma experiência educativa para as crianças, bem como para os funcionários, famílias e comunidade. Na área pedagógica: Proporcionar a criança um ambiente favorável a acolhida e ao desenvolvimento das necessidades afetivas, psicossociais, motoras e cognitivas através de trabalhos diversificados, utilizando sempre o brincar como proposta pedagógica. Na área de saúde/nutrição: Desenvolver ações ambientais, educacionais visando o bemestar físico, mental e social das crianças. Realizar um trabalho de saúde preventiva e orientação aos pais. Fornecer 5 refeições diárias através de um cardápio balanceado. Na área social: Desenvolver acompanhamento e orientação às famílias das crianças atendidas através de visitas domiciliares, reuniões, festas. Dar oportunidade aos pais de procurarem um trabalho, oferecendo um espaço educativo adequado ao atendimento de seus filhos. Público Atendido Crianças de 0 a 6 anos e 7 meses de ambos os sexos, residentes no conjunto habitacional Jardim das Graças, antiga favela Minas Gás e da Favela do bairro do Limão em São Paulo. Nº de Crianças 100 crianças Nº de Funcionários 21 Endereço Cel. Euclides Machado, 158 - Freguesia do Ó - São Paulo, SP - Cep: 02.713-000 57 Sem Construir, Como Pode o Homem Viver? ASSOCIAÇÃO NOSSA SENHORA MÃE DOS HOMENS Data da Fundação 02/01/96 Nome dos Fundadores Pe. Luigi Valentini, Maria Virgínia dos Santos, Sêmea Alcici Assaf, Maria da Glória Alves Oliveira. Motivação Inicial A partir de atividade caritativa em Samambaia com alunos de 5ª à 8ª série, alunos da professoras Sêmea e Glória, muitos dos quais estavam envolvidos com uso de drogas, tráfico e pequenos roubos. Com a vinda de Maria Virgínia para Brasília, pessoa com experiência de trabalho em creche, vislumbrou-se a possibilidade de dar inicio a um trabalho que pudesse ajudar as crianças de Samambaia: retirá-las da rua, oferecer propostas alternativas, prevenção e educação etc. que as impedisse de iniciar cedo o envolvimento nesta realidade dura. Foi decisivo para o inicio das atividades a obtenção do espaço de uma Creche que se encontrava desativada a vários anos. Conveniada à AVSI desde 1997 Responsável Atual Maria Virgínia dos Santos Características da Obra Atende a famílias e crianças muito carentes que moram nas quadras próximas à Creche, oriundas do nordeste do Brasil com baixa escolaridade e mão de obra desqualificada. Desde o início de suas atividades contamos com o apoio técnico do CREN/SP (Centro de Recuperação e Educação Nutricional) e com a orientação pedagógica da pedagoga responsável pela Creche Jardim Felicidade em BH. Em 21/09/99 começamos o atendimento a crianças maiores de 7 anos no Centro de Acolhida Edimar (Reforço Escolar) dando continuidade ao trabalho da Creche, acompanhando-a junto com a família na vida escolar e no seu crescimento. Público Atendido Crianças de 1 a 7 anos, de famílias encaminhadas pelo CDS (Centro de Desenvolvimento Social de Samambaia), priorizando aquelas expostas a situação de risco social, maus tratos, negligência, etc. Nº de Crianças 80 crianças de 1-6 anos na Creche e 78 crianças no Centro de Acolhida Edimar Nº de Funcionários Creche - 13 funcionários e Centro Acolhida Edimar - 04 funcionários Endereço QR 419/421 - Área Especial Samambaia - Distrito Federal Cep: 72.370-190 - Tel. 359-5522 - e-mail: [email protected] 58 Fichas de Origem - Instituições CRECHE CANTINHO DA NATUREZA Data da Fundação 01 de agosto de 1975. Nome dos Fundadores Pe. José Ítalo Augusto Coelho - Obra Social da Paróquia de Santa Cruz de Copacabana. Motivação Inicial Local onde as mães que trabalham possam deixar os filhos. Conveniada à AVSI desde 1998 Responsável Atual Paola Galafassi Características da Obra Atendimento educacional, social, religioso e de saúde a comunidade carente do Morro dos Cabritos. Funciona de 8:00 h às 17:00 h, com turmas de berçário e maternal, conveniada com Prefeitura desde 1990. Público Atendido crianças de 18 meses até 4 anos e 11 meses Nº de Crianças 134 crianças Nº de Funcionários 20 Endereço Rua Euclides da Rocha, 370/376 - Copacabana - Rio de Janeiro, RJ - Cep: 22.031-100 59 60