Sem construir, como pode o homem viver?

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Sem construir, como pode o homem viver?
Série Percurso Educativo
SEM CONSTRUIR, COMO
PODE O HOMEM VIVER?
Enrico Novara é graduado em engenharia civil pelo Instituto
Politécnico de Milão - Itália, especialista em desenvolvimento local.
Coordenador da AVSI (Associação de Voluntários para Serviços
Internacionais) no Brasil, gerenciando projetos de desenvolvimento
humano. Desde 1999 membro do Conselho Diretivo da AVSI.
Marco Coerezza é pedagogo formado na Universidade
Católica Sacro Cuore de Milão. Coordenador da FISM (Associação
de 150 escolas para a infância na Itália). Colaborador da revista
INICIAR - Itália.
Giorgio Vittadini é o Presidente da Companhia das Obras
(Associação sem fins lucrativos fundada em 1986) sediada em
Milão. É professor de Ciências Estatísticas na Universitá Degli Studi
em Milão, Bicocca.
Enrico Novara
Marco Coerezza
Giorgio Vittadini
(palestrantes)
Série Percurso Educativo
SEM CONSTRUIR, COMO
PODE O HOMEM VIVER?
Luisa Cogo
Elisabete R. do Carmo Silva
(organizadoras)
Associazione Volontari
per il Servizio Internazionale
Belo Horizonte
2002
Ministero Affari Esteri - Italia
Cooperazione allo Sviluppo
Sem construir, como pode o homem viver?
Série Percurso Educativo
Organização: Luisa Cogo e Elisabete R. do Carmo Silva
Preparação de textos: Elisabete R. do Carmo Silva e Cilene C. C. Chaves
Revisão: Eneida Maria Chaves
Projeto gráfico: Juliana Vaz
Produção gráfica: Derval O. Braga Júnior (www.megaconsulting.com.br)
Fotolitos: Laser Plus
Impressão: Gráfica Lê
Brasil 2002
Catalogação na Fonte do Departamento Nacional do Livro
C672s
Coerezza, Marco
Sem construir, como pode o homem viver? / Marco
Coerezza, Enrico Novara, Giorgio Vittadini; organizadoras
Luisa Cogo, Elisabete R. do Carmo Silva. Belo Horizonte:
CDM, AVSI, 2001.
66 p.; 21 cm. - (Percurso educativo)
ISBN: 85-88559-02-1 (broch.)
1. Educação - Aspectos sociais - BrasiI. 2. Assistência
social. I. Novara, Enrico. II. Vittadini, Giorgio. III. Cogo, Luisa.
IV. Silva, Elisabete R. do Carmo. V. Título, VI. Série.
CDD: 370.19
Sumário
Apresentação
..............................................7
Obras: Realismo e Criatividade - Enrico Novara
Palestra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Consciência da Identidade e Organização da Escola:
Relato de uma Experiência - Marco Coerezza
Palestra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo? - Giorgio
Vittadini
Palestra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Referências Bibliográficas
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Fichas de Origem - Instituições Conveniadas
. . . . . . . . . . . 45
Apresentação
Apresentação
Este é o segundo livro da série Percurso Educativo, elaborada para auxiliar as
Obras educativas envolvidas no Projeto de Rede de Infância, gerido pela AVSI Associação Voluntários para o Serviço Internacional - e pela CDM - Cooperação
para o Desenvolvimento e Morada Humana - através de um convênio realizado
com a CEI - Conferência Episcopal Italiana - e o MAE - Ministério do Exterior
do Governo Italiano.
O primeiro livro intitulado Educar-se para educar, publicado em meados de
2001, reunia as atas das palestras proferidas no Seminário Educar é um Risco e tinha
como intuito indicar os passos de um percurso educativo no qual a realidade é
abraçada com todos os seus fatores constitutivos, devendo servir de instrumento
para a prática cotidiana dos educadores e de todas as pessoas envolvidas nesses
Centros Educacionais.
Este segundo livro, sob o título Sem construir, como pode o homem viver?, reúne,
nos dois primeiros capítulos, as atas das palestras proferidas por Enrico Novara,
Coordenador da AVSI no Brasil, e por Marco Coerezza, pedagogo italiano
consultor educacional do Projeto Rede de Infância, em um Seminário realizado em
Belo Horizonte, em outubro de 2001. No último capítulo, há uma re-edição de um
texto de Giorgio Vittadini, Presidente da Companhia das Obras, em um curso
proferido em Milão em 2000.
Sem construir, como pode o homem viver? expressa mais do que um título: é
verdadeiramente a pergunta colocada a todos os responsáveis, fundadores e
diretores das instituições educativas associadas ao Projeto Rede de Infância e
Luisa Cogo
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Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
presentes no Seminário, para que estes possam não apenas retomar a postura
educativa, mas ter e manter presente a origem de cada Obra.
Retomar a origem se faz necessário, porque o que aparentemente é um
fato histórico que marca a fundação de uma Obra, na verdade se faz presente hoje,
no cotidiano de cada uma, através da postura educacional adotada, através dos
conteúdos e da metodologia de trabalho, até no nível organizacional. "Tornar
evidente a origem significa tornar evidente a motivação pela qual as Obras
nasceram que é a mesma pela qual elas vivem e continuam vivendo", como indica
Enrico Novara em seu texto.
As Obras que inicialmente surgiram da tentativa de compartilhar as
necessidades encontradas, com uma preocupação educativa, assumiram, com o
tempo, uma importante relevância social, não apenas pelos indicadores quantitativos - pois hoje são atendidas mais de 3.000 crianças em 13 instituições -, não
apenas pelos indicadores qualitativos - uma vez que o serviço oferecido se
diferencia em creches, reforços escolares, acompanhamento no direcionamento
profissional, recuperação nutricional -, mas principalmente porque a metodologia
utilizada se tornou um ponto de referência para mudanças de ordem civil e
existencial em todos os contextos nos quais os Centros Educativos se inserem.
Esse processo de desenvolvimento das Obras ocorreu no tempo e, muitas
vezes, para se colocar como uma resposta à realidade encontrada, sem uma
projetualidade definida passo a passo. Por isso, hoje, cada vez mais se impõe como
um pedido expressado dentro das próprias Obras, além do cuidado com a
proposta educacional e da necessidade de que a forma organizacional e de gestão
sejam adequadas à tarefa assumida.
Este trabalho pretende dar uma contribuição para que todas as pessoas
envolvidas no Projeto Rede de Infância e também para aquelas que se comprometeram
com a construção de ambientes nos quais as crianças sejam reconhecidas como
pessoas e por isso olhadas em todos os seus aspectos constitutivos, ao buscarem
tentativas originais de resposta às necessidades educacionais, possam encontrar
neste texto um instrumento que auxilie o caminho.
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Obras: Realismo e Criatividade
Obras: Realismo e
Criatividade
Enrico Novara
Enrico
Novara
O objetivo do Projeto Rede de Infância1 é ajudar os diretores, os
educadores e todos os funcionários dos centros educativos no trabalho
desenvolvido cotidianamente, tornando mais evidente a motivação e a origem do
trabalho que começou no final dos anos 80. Cada Centro, mesmo tendo uma
história diferente e abordando situações e contextos diversos, possui uma origem
comum, um ponto inicial comum que iremos descobrir ao longo desta reflexão.
No primeiro seminário2, Dom Filippo Santoro ajudou os participantes a
refletirem sobre o conteúdo da experiência educativa, retomando o texto de Luigi
Giussani Educar é um risco3.
Neste segundo momento, queremos retomar o ímpeto que deu origem aos
Centros Educativos, tornando o desejo de compartilhar a vida com as pessoas
encontradas uma realidade operativa que, por sua natureza, desde o começo,
O presente trabalho é uma das atividades previstas no Projeto Rede de Infância do qual fazem parte 13 Centros
Educacionais que nasceram em momentos diversos e situações diferentes, a partir da iniciativa de algumas
pessoas envolvidas com a AVSI (Associação Voluntários para o Serviço Internacional) e que, provocadas pela
realidade, começaram a compartilhar a vida com pessoas que foram encontrando nos bairros e, sobretudo, em
favelas.
1
Estamos nos reportando ao Seminário Educar-se para educar, realizado em Belo Horizonte e Salvador em maio
de 2001 e publicado como o primeiro livro da série Percurso Educativo editado pela CDM-AVSI em 2001,
que tinha como intuito indicar os passos de um percurso educativo no qual a realidade é abraçada com todos
os seus fatores constitutivos e que servisse de instrumento para a prática cotidiana dos educadores e de todas
as pessoas envolvidas nesses Centros Educacionais.
2
3
GIUSSANI, Luigi. Educar é um risco. São Paulo: Companhia Ltda, 1999.
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Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
Pontuar a origem:
tornar evidente a
motivação inicial
mostrou uma dignidade social. Chamamos essas estruturas operativas, que
enfrentam as necessidades nas quais os desejos dos homens se encarnam, de Obras,
"formas de vida nova para os homens" como as chamou em 1982, em Rimini, João
Paulo II, ao relançar a Doutrina Social da Igreja4. As Obras, sendo a tentativa de
responder sistematicamente à necessidade que pressiona a vida, constituem uma
verdadeira contribuição para a novidade do tecido e do rosto social.
Tornar evidente a origem significa tornar evidente a motivação pela qual
os Centros nasceram que é a mesma pela qual eles vivem e continuam vivendo.
Existem instituições que, ao longo do tempo, esquecem a origem e desenvolvem
um trabalho não tendo em conta qual foi a motivação inicial, então se tornam
fracas como postura e/ou como proposta: eu penso que não é o nosso caso. Não
se trata para nós de ter esquecido qual foi a origem, mas se trata de entender e
retomar a origem, uma vez que não é algo que aconteceu, algo que alguém pensou
e que agora temos que fazer um esforço para lembrar.
Pontuar a origem é ajudar-nos a reconhecê-la no cotidiano, no trabalho do
dia-a-dia, o que estamos fazendo agora; por isso, precisamos entender que a
motivação inicial está presente dentro do que estamos desenvolvendo.
O cotidiano de nossas obras é feito do atendimento às crianças, dos
relacionamentos com os pais, de uma proposta educativa que deve ser elaborada
junto com eles; de uma preocupação com as famílias que vivem no entorno dos
nossos Centros; da tentativa de organizar o tempo e o espaço; da tentativa de
aprofundar o relacionamento com as pessoas; e da organização das funções de
cada um. Tudo isso depende da postura de reconhecer dentro das nossas ações
qual foi o motivo original, a forma, a organização do tempo e das funções, assim
como construir uma proposta educativa e construir um plano pedagógico
dependem do fato de viver, de ter claro nas nossas ações a origem pela qual esse
centro começou.
O Meeting pela Amizade entre os Povos é um evento cultural que acontece em Rimini, na Itália, no mês de agosto,
há vinte anos. É um importante encontro com personalidades do mundo político, cultural, científico no qual
todo ano participam milhares de pessoas, discutindo temáticas sugeridas pelo contexto mundial atual. Estamos
aqui nos referindo ao encontro realizado no dia 29 de agosto de 1982, sob o tema Cristo é la piu grande risorsa
dell uomo. La Traccia, p. 987.
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Obras: Realismo e Criatividade
Para nos ajudar no trabalho, nesses dois dias, queremos responder a três
perguntas, duas na tarde de hoje e a última através de uma contribuição de Marco
Coerezza, amanhã.
Enrico Novara
Três perguntas
• A primeira pergunta diz respeito à origem da Obra, aos fatores que
constituem a origem da tentativa de resposta às necessidades encontradas e pelas
quais foi construída uma Obra. Qual é a origem da Obra? Nesta pergunta estão
implícitas outras: quais foram os primeiros passos? Como nasceu aquela Obra
educativa?
• A segunda pergunta é: qual é a natureza específica dos Centros
Educativos que estamos construindo? Porque aquilo que estamos desenvolvendo
são Centros Educativos e não simplesmente assistenciais.
• A terceira pergunta é: que forma operativa pode ser sugerida? Que
forma de organização pode ser sugerida pelas Obras que vocês estão construindo?
Respondemos à primeira pergunta: qual é a origem dos Centros
Educacionais? É uma evidência que não foi através de um projeto que surgiram
estes Centros, não foi um projeto da AVSI5 que construiu estas realidades nos
contextos mais variados. Quando eu cheguei ao Brasil há nove anos atrás, foi uma
surpresa o encontro com essas realidades: foi como descobrir algo que estava
existindo e algo extremamente interessante. E eu comecei a perguntar a várias
pessoas, para Rosa, para Ana Lídia, para Virgínia, para João Carlos: "mas como é
que começaram essas Obras? Por que vocês começaram a construir essas Obras?"
Eu tenho aqui um escrito da Rosa, que, a meu ver, resume a motivação e a origem
de forma clara. A Rosa explica: "a minha preocupação principal nunca foi a de resolver o
problema das pessoas que encontrava, eu desejava para cada uma dessas pessoas, que através da
AVSI (Associação Voluntários para o Serviço Internacional) é uma organização não governamental, nascida
na Itália nos anos 70 e constituída dentro dos princípios da doutrina social da Igreja Católica. Atua hoje em
32 países, com 95 projetos plurianuais nos setores de saúde, atendimento a crianças em situação de risco,
formação profissional, recuperação de assentamentos informais e do ambiente degradado, agricultura e
intervenção de emergência. Está presente no Brasil desde 1982, atuando em Belo Horizonte, Salvador, São
Paulo, Rio de Janeiro e Manaus, além de apoiar uma rede de entidades para o atendimento à infância em várias
outras cidades do Brasil..
A origem não foi
através de um
projeto...
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11
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
... mas compartilhar
uma experiência
vivida
amizade comigo pudesse iniciar a olhar a realidade de forma positiva e a se relacionar com ela de
uma forma diferente".
Isso quer dizer: a origem foi o desejo de comunicar às pessoas
encontradas aquilo que ela vivia, que dava um sentido à sua vida e que por isso
podia ser proposto também aos outros. A origem da construção das nossas
realidades educativas não foi a preocupação em resolver os problemas
encontrados, que eram muitos, mas compartilhar com aquelas pessoas uma
experiência de vida.
O ponto de partida foi a presença de alguém que começou a vivenciar
com as pessoas encontradas uma experiência, compartilhando as necessidades
cotidianas. Nelas aparece uma necessidade maior, comum a todos os homens: a
necessidade de entender o próprio destino.
Este ponto de partida significou e ainda significa algo de novo no
panorama dos programas de desenvolvimento humano e das instituições que,
como as nossas, trabalham num contexto onde as necessidades materiais primárias
muitas vezes não são satisfeitas. Geralmente, neste contexto se prioriza a análise
das necessidades, a identificação daquilo que falta, a definição dos mecanismos
institucionais capazes de solucionar os problemas, tentando mudar as causas que
os provocam. É um esforço lícito no qual também nós somos envolvidos, mas sem
poder esquecer o protagonista, a pessoa, sem a qual as respostas à necessidade são
simplesmente ou um gesto de bondade que procura a própria gratificação ou uma
estratégia política. Em ambos os casos se esquecem ou pelo menos não são
devidamente consideradas duas perguntas fundamentais e originárias da ação: qual
é a necessidade do homem? Quem pode responder à necessidade do homem?
Em um encontro como o de 1959, realizado em Milão com as pessoas que
viviam um gesto de caridade indo com regularidade em algumas aldeias perto de
Milão, cujo tema era o exame das motivações e dos porquês dessas pessoas irem
na Bassa6, Giussani, ao comentar algumas respostas, disse que ir "para socorrer as
Nos anos após a Segunda Guerra Mundial, quando a periferia de Milão ainda não estava em um nível de
desenvolvimento como o atual, onde havia poucas escolas e as famílias tinham problemas econômicos, o
Cardeal de Milão pediu a Dom Giussani (O Movimento Comunhão e Libertação estava iniciando-se na Itália
com os estudantes do ensino médio com o nome de GS) que, dentro daquele primeiro grupo, alguém pudesse
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Obras: Realismo e Criatividade
necessidades" dos outros ainda era uma resposta incompleta, porque era preciso
entender primeiramente qual era a necessidade do outro.
Essa colocação é importante, pois nos leva a pensar no primeiro aspecto
que caracteriza essa nossa tentativa de resposta às necessidades encontradas: se
dependesse do que nós acreditamos ser a necessidade do outro, nós poderíamos
nos tornar violentos ao impor uma resposta que nós acreditamos ser a verdadeira.
Mas se o ponto de partida é o de viver junto com o outro o que eu encontrei,
compartilhando a minha experiência, isso me abre ao reconhecimento do que o
outro realmente precisa, que pode caracterizar-se em uma ação concreta, mas que
se desvela como algo maior que é o desejo de resposta àquilo que define
verdadeiramente uma pessoa, o seu desejo de felicidade, de beleza e de justiça.
Há um grande debate hoje no mundo sobre o que é a pobreza. As
definições mais evidentes são: a pobreza é não ter dinheiro, é estar abaixo de uma
linha de pobreza, é ganhar 100 reais por mês enquanto esses não são suficientes
para comprar a alimentação. Ou dizer que o pobre é aquele que não tem acesso aos
serviços de educação, não tem acesso à saúde etc. Em um encontro acontecido
durante o Meeting pela Amizade entre os Povos7 deste ano (2001), Diamont Martin, que
é o Núncio Apostólico em Genebra e o representante da Santa Sé junto aos
Organismos Internacionais, disse: "o pobre é aquele que não tem possibilidade de
desenvolver os talentos que Deus lhe deu". Essa é uma definição totalmente diferente,
porque não está associada à condição de vida, mas considera a potencialidade de
cada pessoa.
O trabalhar nos contextos "marginais", onde as nossas instituições
surgiram significou olhar para a realidade das pessoas que, tendo perdido as
próprias raízes e indo em outro lugar sem a capacidade de poder construir o
próprio futuro, não tinham a consciência de para onde estavam caminhando.
Enrico Novara
A necessidade do
outro desvela o
desejo de algo
maior
ir passar uma tarde do sábado, ou uma parte do Domingo, para poder fazer alguma coisa com essas famílias.
Esse gesto caritativo era chamado de "Ir na Bassa", uma vez que o lugar é situado ao sul de Milão, uma área
muito plana (bassa significa baixa). Dessa ação, nasceu a idéia da caritativa, isto é de dar uma parte do próprio
tempo para compartilhar com o outro esta companhia. É claro que essa ação não tinha a pretensão de resolver
problema algum.
7
Cf. nota 4 deste capítulo.
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Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
Incapacidade de
responder aos
problemas do outro
Colocar-se ao lado deles significou, antes de mais nada, viver uma presença capaz
de estimular e solicitar a retomada da auto-estima e de enfrentar a realidade. É só
uma presença de alguém que se torna um elemento capaz de aglutinar as
capacidades adormecidas dos homens, que pode provocar uma responsabilidade,
ou seja, uma capacidade de resposta às circunstâncias mesmo que críticas.
O segundo aspecto frente a essa postura de querer responder aos
problemas do outro é que podemos esquecer que não temos a capacidade de fazêlo. Hoje, dia 18 de outubro de 2001, havia uma declaração no jornal O Globo de
uma funcionária da ONU que está trabalhando na fronteira entre o Paquistão e o
Afeganistão dizendo que estava aflita, frustrada, porque, por causa da guerra, não
estava conseguindo atravessar a fronteira para entregar os alimentos aos refugiados
e, por causa disso, o seu trabalho não tinha valor nenhum, esquecendo-se que nós
não temos a capacidade de responder a todas as necessidades que o outro tem,
porque certamente eles não têm apenas a necessidade de alimentação.
A respeito disso é importante considerar a citação contida no livro O eu, o poder,
as obras, de Giussani (2001), no capítulo "Dai-nos um coração grande para amar":
Toda pessoa de boa vontade, diante da dor e da necessidade, começa
imediatamente a agir, mostra-se capaz de generosidade. Porém, para
além da generosidade, embora esta seja louvável, suas tentativas de
resposta às necessidades do momento correm o risco de ter um
derradeiro véu de auto-complacência, ou então uma derradeira sombra
de tristeza. A contribuição da pessoa de boa vontade talvez resolva o
problema naquele momento: mas, e depois? Depois, nada impede que
possa aparecer uma outra dor ou uma nova necessidade (p. 123).
Ele estava falando para um grupo de pessoas envolvidas na ajuda às
pessoas vítimas do terremoto acontecido no norte da Itália em 1976, que destruiu
algumas cidades. Giussani (2001) continua:
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A pessoa pode fazer algo no momento trágico, mas, se não se deixa
levar, distraído pela urgência da ação, compreenderá que suas energias
Obras: Realismo e Criatividade
Enrico Novara
são impotentes diante - digamos a palavra certa - o mal (já que um
terremoto também é um mal, tanto como a morte) (p. 123).
Como Giussani sublinha, quando uma tentativa dá certo, nós acreditamos
na nossa capacidade de ter solucionado um problema daquela pessoa, esquecendonos de fato qual é a origem da necessidade que, de alguma forma, é sempre sinal
de uma necessidade maior. Quando não conseguimos, ficamos tristes.
É necessário voltar ao que entendemos por necessidade do outro: se a
necessidade do outro é a de infinito como a minha, então eu posso realmente
compartilhar dessa necessidade, uma vez que é a mesma necessidade minha. De
outra forma, eu transfiro ao outro parte do poder que eu tenho, que me é dado
pelo meu maior conhecimento (cidadania), pelo poder de construir, de fazer e de
participar da sociedade.
Seria uma questão de distribuição de poder: eu tenho um poder e
generosamente dou um pouquinho dele, uma vez que a distribuição mais
eqüitativa de poder faz bem à sociedade, porque ajuda a construir uma sociedade
melhor.
No primeiro caso, os dois compartilham a verdade, estão no mesmo nível
do ponto de vista humano. No outro caso, um detém um poder que
"generosamente" o leva a socorrer o outro. Não há diferença? Há: eu encontrei
algo que poderá, se ele quiser, tornar a vida dele melhor, mais verdadeira, mais bela
e mais digna.
A origem dos Centros está exatamente nessa diferença que existe entre
querer solucionar os problemas do outro ou querer compartilhar a sua
necessidade. Nós queremos compartilhar a necessidade do outro para
compartilhar o sentido da vida, só isso pode ajudar o outro a se tornar também um
protagonista do contexto social no qual ele está inserido.
Faz-se necessário agora pontuar algumas questões relacionadas ao
método que se desenvolveu dentro da tentativa de responder às necessidades
encontradas e percebidas como sinal de algo maior. O método que desenvolvemos
é fundamental, mas ele não pode simplesmente reproduzir aquilo que acontece em
um contexto menor para um contexto maior.
Observações do
método
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Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
Nós aprendemos a lidar com o desnutrido, a lidar com a criança abandonada, a lidar com a família, portanto aprendemos um método, mas este método, a meu
modo de ver, funciona identificando e apontando alguns elementos que a realidade
nos indica para enfrentarmos juntos com aquelas pessoas aquelas necessidades.
O método nas nossas Obras funciona como a memória, isto é, como se
estivéssemos anotando as coisas que naquele momento deram certo, mas deram
certo porque foi a forma como a realidade nos colocou a caminhar, como dar um
passo. Então, o método é como uma anotação dos passos positivos que a realidade
está nos sugerindo para enfrentar o que encontramos.
Se o método for este, significa que nós não vamos ficar orgulhosos do fato
de estarmos resolvendo um problema, mas que estamos entendendo qual é o
caminho para compartilhar uma necessidade, para responder aos pedidos que a
realidade coloca.
O risco que nós estamos correndo, se desejamos resolver os problemas, é
o de identificar um modelo que deu certo e reproduzir uma ação.
Hoje o método do CREN não é reduzido à reprodução da farinha
enriquecida ou o arroz com feijão, ou medir todas as crianças do Brasil para dizer
quem são aquelas desnutridas. Mas qual é a riqueza do CREN? Comparando à sua
fundação, quando começou em 1993, hoje ele tem um conjunto de dados que a
realidade colocou, compartilhando com aquelas mães e com as crianças uma
necessidade que elas tinham e reconhecendo que aquela necessidade nascia de uma
necessidade igual à minha.
Passando agora à nossa segunda pergunta - qual é a natureza dos nossos
Centros Educativos? - pode nos ajudar muito um documento produzido pela
AVSI8 e que deveria ser apresentado em Nova York no 20 de setembro, dia no qual
estava programado o encontro das Nações Unidas, evento que claramente não
aconteceu depois dos dramáticos fatos do 11 de Setembro.
Como o tema da conferência era relacionado ao documento "A world fit
for children", da UNICEF, onde é sancionado o direito inalienável de toda criança a
ter acesso à educação básica, o documento preparado tinha por objetivo ilustrar as
8
16
Educate Every Child, in the Family, in the Community, in the Word (AVSI, 2001).
Obras: Realismo e Criatividade
atividades educativas empreendidas pela AVSI em alguns países em via de
desenvolvimento, com crianças que vivem a infância e a adolescência em situações
de guerra, abandono, pobreza e doenças, em particular, apresentando as linhas
fundamentais que orientam o processo educativo, as implicações de método que
delas derivam e a realização operativa das intervenções.
O ponto de partida de toda atividade em relação às crianças é constituído
pelo reconhecimento do seu ser pessoa. Esse termo chama imediatamente a
atenção para o tema da identidade e da construção dessa identidade em contextos
não facilitantes ou decisivamente difíceis, como os contextos nos quais nós
estamos inseridos.
Mas como pode ser definida a identidade pessoal senão como o "estar em
relação", como relação com um outro diferente de si que permite à pessoa
estruturar-se e consolidar-se e, ao mesmo tempo, permite à pessoa sua unicidade?
Através do relacionamento e mediante ele, é possível, para a criança,
crescer. O processo de crescimento implica tanto a identificação positiva da
própria pessoa (portanto, não reduzindo a pessoa baseada nas dificuldades
objetivas criadas pelo contexto de marginalidade ou de desvios que a induziriam a
assumir comportamentos violentos), quanto a possibilidade de se tornar um adulto
responsável e produtivo em relação à sociedade e ao ambiente. A identidade
pessoal é, portanto, o resultado de um processo educativo que se realiza em uma
pertença concreta, palpável nas relações interpessoais.
Todo ser humano para crescer - e o crescimento não pode ser entendido
de maneira reduzida em sentido meramente biológico - tem necessidade de viver a
experiência de uma relação significativa capaz de transmitir o sentido daquilo que
se é e daquilo que se faz. A educação representa, portanto, um processo mediante
o qual a criança pode se tornar um adulto capaz de ter responsabilidade e estar
apto a enfrentar os desafios que a vida cotidiana impõe em situações de risco. Esse
relacionamento se dá em um tempo e em um espaço, em uma casa, com a
assistência, a alimentação, as brincadeiras, a companhia...
Para crescer harmoniosamente, a criança tem necessidade da presença de
adultos, em primeiro lugar, os pais, capazes de fundamentar e orientar o processo
de educação.
Enrico Novara
Construção da
identidade...
... através do
relacionamento
significativo
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Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
Experiência de
confiança
Passos do caminho
educativo:
• Atenção à
tradição da criança
• Envolvimento do
educador na
relação
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Quando a criança estiver com sua família, esta deve ser ajudada, para que
possa melhor desenvolver a sua específica tarefa educativa de construção da
personalidade básica. Essa personalidade pode ser construída se a criança, através
das relações familiares, começar a fazer experiência de confiança. Trata-se de um
elemento muito importante em um contexto de "marginalização": nesses casos é
particularmente difícil ajudar as crianças que normalmente se tornam desconfiadas
para com todas as pessoas que, em qualquer nível, assumem o papel de autoridade
- mesmo que seja profissional - e passam a temer os relacionamentos assim que
esses se tornam mais próximos.
Pelo contrário, quando o adulto pode garantir um eficaz "comportamento
de tratamento", a criança responde com uma postura de confiança que é a base de
todo processo de crescimento. A confiança é a resposta que a criança desenvolve,
se seus pais ou os adultos que lhe estiverem próximos forem dignos de confiança;
ela nasce em um contexto de relacionamentos, entrelaçado de ações concretas.
Desse modo, cria-se um âmbito de relacionamento capaz de assumir
concretamente o cuidado pelo sujeito em crescimento e de iniciar um processo
educativo dinâmico voltado a toda a comunidade de referência. Ao lado dos pais,
outros adultos desempenham um papel fundamental na educação das crianças:
esses adultos podem ser os únicos pontos de referência no processo educativo das
crianças, particularmente nas situações de acentuada marginalização.
Na comparação, no relacionamento contínuo entre adulto e criança, dá-se
o crescimento e a tomada de consciência por parte dos menores.
No confronto contínuo com a pessoa do educador, que a valoriza
constantemente, a criança cresce, verifica suas potencialidades e aprende a ler
criticamente a realidade na qual vive. Para alcançar esse objetivo, o primeiro passo
educativo é uma atenção à bagagem de vida, de valores e de experiências que a
criança carrega consigo, na sua história, desde a sua origem.
O educador tem consciência que a verdadeira educação nasce de uma
comunicação de si e que, por isso mesmo, o primeiro instrumento é o sincero
envolvimento de si mesmo. Toda a liberdade do adulto está sempre em jogo, com
um absoluto respeito pela liberdade da criança. Essa fundamentação indica um
método que permeia também as técnicas empregadas.
Obras: Realismo e Criatividade
O fator comunitário é a dimensão constitutiva de toda ação educativa que
se realiza contínua e cotidianamente em uma trama de relacionamentos capilares
dentro da comunidade de referência. Entende-se, com essas considerações, que o
desenvolvimento de uma pessoa não seja uma questão que diga respeito somente
à criança, mas, pelo contrário, uma empresa evolutiva em conjunto com o sujeito
em crescimento e de quem se ocupa e cresce com ele.
A tarefa educativa, assim definida, não é, e não pode ser, uma empreitada
individual, mas o resultado de um projeto comum, compartilhado pelos adultos
que livremente assumem a responsabilidade de conduzi-lo e que, desde o princípio,
são vistos e reconhecidos pelo contexto social.
Nos países mais vulneráveis, é fácil cair no risco do assistencialismo para
com as crianças, tanto pela urgência das necessidades quanto pela sua gravidade e
amplitude. O itinerário educativo até aqui ilustrado tem uma implicação metodológica distintiva que se evidencia no "assumir a responsabilidade" da pessoa, no
nosso caso da criança, segundo todas as suas dimensões e, conseqüentemente, das
necessidades manifestas e latentes, materiais e espirituais que condicionam o seu
crescimento. Nesse sentido, aspectos da realidade humanamente inexplicáveis
como o sofrimento dos inocentes, as doenças e a morte exigem uma partilha em
uma companhia cotidiana que, aliviando o sofrimento, faça vir à tona o valor da
pessoa e possibilite identificar respostas às necessidades.
Em outras palavras, a resposta à necessidade nunca pode estar desassociada da consideração da pessoa na sua totalidade, mas deve ser global: essa
abordagem torna mais incisiva e eficaz a ação conduzida, seja em relação a cada
criança, seja em relação ao seu contexto de vida. Por aquilo que diz respeito ao
primeiro (cada criança distintamente), esse método permite, como já afirmado
anteriormente, a construção de uma personalidade "positiva"; por aquilo que diz
respeito ao segundo (contexto de vida), o método tem sido particularmente eficaz
em criar novamente vínculos sociais interrompidos devido a conflitos armados e à
violência, em perseguir uma emancipação promocional da comunidade local, em
síntese, em criar ou re-criar uma sociabilidade adequada ao homem.
Os nossos Centros, as nossas Creches, são lugares onde o percurso
educativo que tentamos descrever acontece.
Enrico Novara
• Dimensão
comunitária
Implicação
metodológica:
"assumir a
responsabilidade
pela criança"
19
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
Natureza educativa
dos Centros e
relevância social
20
A natureza das nossas Obras, mesmo que nós cuidemos dos dentes das
crianças, mesmo que nós tentemos engordar e espichar um pouco as crianças,
mesmo que nós distribuamos uma cesta básica etc etc, é principalmente uma
natureza educativa, isto é, ajudar a recuperar o desenvolvimento dos talentos de
cada pessoa.
Portanto, este trabalho tem uma relevância social que deve ser levada em
conta: estamos trabalhando dentro de um contexto social, criando lugares onde é
possível viver uma presença de adultos, que, tomando conta das crianças, dão uma
esperança às famílias e colocam as premissas para que algo de novo possa ser
construído no contexto social.
Consciência da Identidade e Organização da Escola: Relato de uma Experiência
Consciência da Identidade
e Organização da Escola:
Relato de uma Experiência1
Peço desculpas pelo esforço que vocês terão que fazer comigo falando em
italiano, mas não consegui mesmo aprender o português.
Enrico2, aqui no Brasil, e Maria Teresa3, em Milão, pediram-me para contar
a vocês a história do meu trabalho. A princípio, eu não havia entendido o que isso
tinha a ver com a questão que nós tínhamos discutido anteriormente, mas, ouvindo
o que Enrico falava me dei conta de uma coisa: que a obra nasce quando eu me
ponho dentro de uma circunstância, e o que Enrico descreveu sobre a história dele,
me parecia semelhante à minha própria história.
Eu comecei a trabalhar na creche, na qual trabalho até hoje como diretor,
há dez anos atrás. Depois, conheci Rosi Rioli e com ela comecei um trabalho de
formação dentro das creches que se desenvolveu ao ponto de chegar à redação de
uma revista que se chama Iniciar4, dirigida justamente às professoras das creches.
Comecei participando de uma associação de escolas particulares, mais ou menos
150, na Província de Varese na Lombardia, que iniciou um trabalho de formação
das educadoras.
1
Marco Coerezza
Marco
Coerezza
Relato da
experiência
A tradução do presente texto é de autoria de Benedetta Fontana.
Enrico Novara é o Country Representative da AVSI (Associação de Voluntários para Serviços Internacionais)
no Brasil.
2
Maria Teresa Gatti é a responsável pela AVSI, na Itália, coordenadora dos projetos desenvolvidos na América
Latina.
3
4
Itália, Castelbolognese, editora Itaca.
21
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
Com o tempo e junto com outras pessoas que faziam este trabalho, nós nos
demos conta de que o problema não era somente de formação do pessoal; o real
problema era de uma perda da memória, da identidade, da origem dessas escolas,
e percebemos que o nosso trabalho dentro dessas escolas estava sendo como o de
jogar água dentro de um balde furado, porque o problema não era só o de formar
as educadoras, mas de cuidar da escola na sua totalidade.
Então, retomamos a história dessas escolas, constatamos que a maioria
delas nasceu de uma tradição caritativa, que era típica das comunidades cristãs.
Estas escolas nasceram ao final de 1800 e algumas tinham mesmo uma grande
tradição. A partir dos anos 80, estas escolas estavam vivendo um período de
passagem da condução religiosa pelas freiras para a condução pelo pessoal leigo, e
isso tinha determinado uma desorientação.
Além disso, também os gestores, até mesmo eles, tinham perdido a
memória da história à qual eles pertenciam; assim, dentro dessa confusão que tinha
se criado, as escolas seguiam uma forma de condução casual.
E o que mais me interessou em minha percepção foi que dentro dessa
confusão em relação à origem, o que mais tinha sido esquecido foi justamente a
organização da escola. Então, nós nos demos conta de que existia realmente um
nexo fundamental entre a consciência da própria identidade e a organização, a
forma que você dá à ação que você faz dentro da história da instituição.
Outra coisa que percebemos é que a atenção e o cuidado de se recuperar
essa identidade coincidia com aquilo que contava mais para nós, como pessoas, que
era mais importante para nós, como homens, a partir da experiência do
Movimento5: a atenção para com essas obras era a atenção para que se pudesse
fazer memória de Cristo na vida concreta, de forma que Cristo pudesse ser
encontrado por todo mundo; e essas escolas representavam uma grande
possibilidade e potencialidade, potencialidade e possibilidade pela missão da Igreja.
O Movimento Comunhão e Libertação (CL) é um Movimento eclesial cujo objetivo é a educação dos seus
membros na maturidade Cristã e a colaboração na missão da Igreja Católica na sociedade de hoje. Nasceu na
Itália em 1954, quando Monsenhor Luigi Giussani deu vida a uma iniciativa de presença cristã chamada
Gioventú Studentesca (GS - Jovens Estudantes Cristãos) no liceu Berchet em Milão.
5
22
Consciência da Identidade e Organização da Escola: Relato de uma Experiência
Outra coisa da qual tivemos consciência olhando para essa história foi que
todas essas obras tinham um sujeito, que não era dessa associação que as reunia,
mas cada escola tinha um sujeito que as tinha constituído. Ou seja, existia uma
identidade comum entre essas escolas, dentro de formas institucionais muito
diferentes umas das outras, até do ponto de vista jurídico, e cada uma dessas obras
tinha, justamente na sua origem, um sujeito que as tinha constituído. A hipótese de
trabalho que nós fizemos pode ser apresentada em três aspectos:
Marco Coerezza
Hipótese de
trabalho
• Primeiro: a reconstrução de uma identidade através da recuperação de
uma história e através da recuperação dessa história e da vida da Igreja.
• Segundo: a reconstrução dos sujeitos que fizeram essas obras; ou seja, a
ajuda a cada um desses sujeitos, seja os gestores, seja os educadores, seja os
formadores, a recuperarem a forma da própria tarefa, dentro da obra, do próprio
papel dentro da obra.
• Terceiro: a reconstrução das relações entre esses sujeitos, porque,
seguindo a desordem da qual eu falei antes, cada um desses sujeitos se colocava de
forma particular, própria, frente a essas situações, ficava sozinho.
Eu agora gostaria de explicar para vocês alguns pontos desse projeto para
tentar colocar um pouco melhor as coisas de que eu falei antes.
Gostaria de descrever um pouco esses sujeitos que operam dentro das
instituições, depois de falar um pouco sobre as funções que nós localizamos e
elencamos dentro das obras e também contar algumas coisas a respeito dos
relacionamentos que aí se formaram.
Existem, geralmente, quatro sujeitos dentro dessas obras que são sempre
presentes: o que nós chamamos de gestor, os diretores, as educadores e os que nós
chamamos de sócios (ou associados) da escola.
Os gestores são geralmente os encarregados de trazer a história e a
tradição. Aqueles que, no tempo, deveriam, como primeira função, pelo menos
manter viva a identidade daquela escola. Junto a isso, como segunda função, eles
gerenciariam a escola, quer dizer: coletariam o dinheiro para o funcionamento da
escola, dividiriam os papéis entre as várias pessoas e ofereceriam todos os recursos
Sujeitos presentes
nas instituições
O gestor
23
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
Os sócios
24
necessários dos quais a escola precisava. E a terceira função era, de alguma forma,
manter o relacionamento entre essa escola e a comunidade mais ampla que, de
alguma forma, a gerou, neste caso, a Igreja.
Com o tempo, dessas três funções sobrou prevalentemente só a
administrativa e esses gestores perderam a sua função ideal ou pedagógica. Essa
perda se deu devido ao fato de os novos gestores (aqueles que substituíram os
fundadores das escolas) perderem devagar, com o tempo, este laço com a
comunidade cristã.
Então, esse era o sujeito mais importante ou mais delicado para ser ajudado
e sustentado. Um sinal dessa perda, desse laço da comunidade cristã com o gestor,
está no fato de vermos que essas escolas com o tempo foram perdendo os sócios,
não eram mais a expressão de um grupo de pessoas que permaneciam juntas pelo
reconhecimento de um ideal comum. As escolas tinham se transformado como
formas vazias.
A perda de memória foi uma perda de interesse da Igreja, uma coisa
dolorosa de se reconhecer, mas infelizmente verdadeira, uma perda de interesse da
Igreja para com a obra vista como um instrumento de missão. Como essas escolas
tinham relacionamento com mais ou menos dez mil famílias, imaginem as
possibilidades de encontros que se poderiam realizar com esse amplo número de
pessoas; então, o meu interesse e dos amigos que trabalham comigo, nasceu
mesmo desta dor causada por esse abandono, dessa falta de interesse por uma obra
que tinha que conter o que, de alguma forma, para nós, era o mais importante.
Uma outra coisa que se relaciona com essa perda de memória é a perda dos
sócios: o gestor ficou exatamente sozinho, só como uma pessoa animada pela boa
vontade. Podem acreditar no que Enrico falava sobre o fato da boa vontade não
bastar; isso é verdadeiro e é um drama, aliás, uma tragédia, porque isso quer dizer
também perder o patrimônio. Ou seja, algumas dessas creches passaram para o
Estado e essa passagem, por uma questão jurídica italiana, significou também a
passagem de todo o patrimônio financeiro (imóveis) dessas escolas, com perdas
assustadoras em termos concretos.
A essa altura, nós começamos a perceber um grande risco para nós:
substituir o sujeito do gestor com a associação das escolas. Trabalhamos muito
Consciência da Identidade e Organização da Escola: Relato de uma Experiência
nesse ponto e tentamos nos ajudar muito até que percebemos que a nossa ajuda
devia absolutamente respeitar a realidade e a realidade é que cada escola, mesmo a
menor, tinha um sujeito original que era diferente de todos os outros.
Essa reflexão amadureceu dentro de um contexto maior no qual o Estado,
com as suas escolas, teve um problema econômico e financeiro e estava ajuntando
as escolas em grupos, fechando muitas delas nos pequenos vilarejos e construindo
grandes institutos escolares. Nessa situação, nós fomos contra a corrente, defendemos a existência de todas as escolas, mesmo as menores, com uma autonomia
plena e total. E estamos tentando apoiar as pequenas escolas, criando um centro
de serviços do qual todo mundo pode utilizar-se, com a finalidade de abater alguns
custos de gestão e permitindo a essas escolas manter a autonomia. Dessa forma, o
trabalho se tornou um trabalho de ajuda aos diversos sujeitos a fim de recuperar,
além da identidade, a consciência das funções que cada um deles tinha.
Nós vimos também que algumas funções eram característica de mais de um
sujeito e não de um sujeito só. Por exemplo, o gestor tinha também uma função
pedagógica dentro da instituição, ou seja, a preocupação de que essa obra
mantivesse a correspondência com a própria origem através da tradução dentro de
um projeto educativo adequado. Não é que o gestor tinha que entrar e fazer parte
da elaboração do projeto educativo, mas, com certeza, não podia se esquecer desse
aspecto, porque, se não fosse dessa forma, ele perderia a possibilidade de verificar
a correspondência entre essa obra e a sua origem. Nós começamos a pensar em
cima de uma formação para o gestor não somente nos aspectos técnicos, mas uma
formação também cultural; e fizemos um trabalho de recuperação da consciência,
da importância dessa obra dentro das diversas comunidades, a partir de uma
recuperação, de uma retomada de interesse por parte dos sacerdotes e da
comunidade cristã.
Dentro desse trabalho, nós vimos também a exigência de dar uma forma
operativa, organizacional à obra, e aí trabalhamos com diretores e professores, um
pouco como fizemos aqui, no Brasil, nas duas semanas em que estive aqui. Dessa
forma, escolhemos algumas pessoas que chamamos de coordenadores, cada um
deles cuidava de umas dez escolas da província, começando dentro dessas escolas
um trabalho de formação e de relacionamento entre esses sujeitos.
Marco Coerezza
Diretores e
educadores
25
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
Formação de um
centro de serviços
26
Iniciando esse trabalho, começamos a nos dar conta também das relações
entre esses sujeitos, exatamente porque as funções que podem ser diferentes do
ponto de vista didático e esquemático, mesmo que diferentes, muitas vezes não
podem ser associadas a um sujeito só e também cada uma dessas funções não pode
ser realizada se os sujeitos não estão em relação uns com os outros. Claro que a
preocupação em cima da recuperação da origem, da identidade, é, sobretudo uma
preocupação do gestor, mas não pode ser uma preocupação só do gestor, mas de
todo o pessoal que trabalha ou se identifica com esse ideal originário de forma que,
de verdade, esse ideal se torne o desejo de sua própria vida ou, então, se torna
muito difícil elaborar um projeto que seja, de verdade, correspondente.
A função ideal, então, não é somente uma função dos diretores, mas se
torna uma função dos educadores, dos professores. E isso fez emergir uma questão fundamental: não basta formar os educadores, mas é preciso ter muito cuidado
no momento da escolha do educador. Isso quer dizer que o educador não pode vir
para uma creche ensinar somente para ganhar o dinheiro, para ganhar o pão, mas
tem que trabalhar ali porque ele escolheu trabalhar ali, porque aquele trabalho ali é
a realização do desejo de felicidade que ele tem dentro do seu coração.
Da mesma forma, o educador não pode elaborar um projeto educativo sem
se importar completamente com as problemáticas gestionárias e financeiras,
porque o fato de ter ou não ter dinheiro, ter ou não ter espaço, ter ou não ter
recurso é um dado importante. Como os recursos financeiros e materiais sempre
são limitados em relação ao que nós desejamos, é obvio que nós temos que ver as
prioridades e as prioridades não podem nascer somente do administrador com um
critério apenas econômico e contabilístico, mas devem ser escolhidas a partir de
um critério psicopedagógico.
Duas observações rápidas para concluir. Nesse trabalho, nós nos demos
conta também de que os nossos interesses não podiam permanecer somente na
escola, mas devíamos resgatar a relação e a identidade entre os sujeitos que geriam
as várias escolas, isto é, o que era um trabalho individual em cada escola era
também um trabalho comum entre as escolas. Então, pensamos em juntar essas
escolas em momentos comuns de convivência para a condução do trabalho
educativo.
Consciência da Identidade e Organização da Escola: Relato de uma Experiência
Por exemplo: no começo do ano, nós organizamos uma palestra e nessa
palestra se enfrentou um assunto educativo que nasceu desse trabalho que está
sendo desenvolvido com as escolas e aí surgiram reflexões sobre esse ponto e
também se tentou indicar caminhos a serem percorridos.
Colocamos as escolas em relação entre elas mesmas, através dessa
coordenação de umas dez escolas mais próximas até fisicamente, territorialmente,
e depois disso trabalhamos dentro da associação, para que a associação se tornasse
referência para todas as escolas e para que, através dessa unidade, se pudesse
constituir também um centro de trabalho, um ponto de trabalho, um centro de
serviços, e um ponto de trabalho sobre o credenciamento da escola em relação à
entidade pública, ao estado, região, município. Dessa forma, a gestão dos
relacionamentos com as entidades públicas, com os municípios, não permanece
tarefa da escola sozinha, pois, sozinha, ela teria uma dificuldade muito grande.
Devo concluir dizendo como eu percebo esse trabalho que fiz e que estou
fazendo: eu me dei conta, ainda mais ouvindo o Enrico falar, de que a obra nasce
como gesto de liberdade de uma pessoa que reconhece dentro da realidade uma
necessidade que corresponde à sua própria necessidade de recuperar a memória e
a identidade. No meu caso, era claro que estava coincidindo: recuperar a memória
de Cristo na minha vida. O trabalho que eu estava fazendo com esses amigos era
exatamente a forma que eu encontrei para ajudar essas escolas. Sempre mais me é
claro que a finalidade da obra não é somente a resposta ou a solução a um
problema, ou melhor, a finalidade da obra não se traduz no socorrer, ou seja, na
resolução prática de um problema, mas o horizonte da obra é o eu e a necessidade
de infinito que é contida nele. Agora, o meu EU é o EU de todos os que estão ao
meu redor.
Por fim, elencamos as funções identificadas nas escolas: primeiramente, a
ideal, a função que retoma sempre o ideal, a origem que sustenta e determina o
desenvolvimento da obra.
Depois, existe uma função de gestão e administração que tem a ver com
as ações burocráticas, econômicas, fiscais, com a gestão dos recursos e aquisição dos
materiais o que, geralmente, nas escolas maiores é desenvolvido por uma secretária
e nas escolas menores geralmente por um consultor externo para reduzir os custos.
Marco Coerezza
Funções das
escolas:
• Ideal
• Gestão e
administração
27
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
• Ordenativa
• Projetual
• Atuação
• Verificação
28
Há uma terceira função que chamamos ordenativa, ou seja, a função que
seria própria do diretor e que permanece, quando existe o diretor, numa posição
intermédia entre a gestão e os professores. É a função de organizar o tempo, o trabalho, os turnos, as tarefas, de procurar encontrar os recursos necessários do ponto de
vista pedagógico, de cuidar da comunicação dentro da instituição e dos relacionamentos com o externo, com a comunidade, com os sócios e com as outras entidades.
Existe uma quarta função que chamamos projetual, que não tem a ver
somente com as questões pedagógicas e didáticas, mas considera toda a vida da
escola numa tentativa de dar uma direção, uma orientação e, sobretudo, um sentido
a todos os gestos que estão se fazendo dentro da escola. Por exemplo, uma festa
ou uma excursão, eu as organizo convidando os pais ou sem os pais, dependendo
da finalidade que pretendo dar a esse momento. A função projetual é a função
típica do corpo docente, com os professores e, no caso, com o diretor.
Há uma outra função chamada de atuação, que é típica de cada sujeito
pelo papel específico que ele tem: o responsável administrativo deve saber fazer as
contas e fazê-lo de uma forma econômica, assim como o diretor deve saber ser
diretor e o professor deve saber ser professor. Porém, dentro dessa função de
atuação é importante que cada sujeito perceba que cada ação é realizada por todos
os sujeitos juntos. Na função de atuação, cada sujeito tem uma tarefa para realizar
e tem que realizá-la segundo as suas características; porém, deve ter cuidado
porque, dentro da realização, ele deve dar conta aos outros das suas ações. Assim,
o professor não pode de manhã sair com os meninos sem avisar para ninguém. O
professor avisa o diretor que também precisa avisar os pais, não só para informar
do fato que os meninos estão saindo, mas para comunicar a eles qual é o sentido
da saída dos meninos. Isso não é uma complicação da vida, mas a tentativa de
favorecer, de dar sempre um sentido ao que se faz.
Existe depois uma função que tem a ver com a verificação de todo o
trabalho. Estamos trabalhando no sentido de que não seja uma avaliação ao nível
didático, administrativo, de gestão, mas deve ser uma avaliação mais completa que
tem a ver com a obra, a instituição, a escola, o que foi feito nesse ano, qual foi o
sentido para onde está indo; dentro desse projeto realizado, quais foram os
objetivos que alcançamos com os pais, com a comunidade e com os alunos.
Consciência da Identidade e Organização da Escola: Relato de uma Experiência
Depois, a última função é aquela que chamamos de credenciamento pelo
fato de que a escola tem que ter um relacionamento com o externo, quer dizer, se
fazer conhecer, que quer dizer buscar, encontrar recursos, mas que quer dizer
também propor um modelo de escola original e de qualidade. Se fazer conhecer
não somente pelos pais, porque isso não basta, mas também pela comunidade mais
ampla. Essas são mais ou menos as funções que elegemos para o nosso trabalho
nas escolas. E poderia ser interessante considerar como estão presentes nos
Centros Educativos que fazem parte do Projeto Rede de Infância e por quem estão
sendo desenvolvidas.
Marco Coerezza
• Credenciamento
29
30
Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo?
Pertencer e Conhecer: Qual
Profissionalismo?1
Giorgio Vittadini
Giorgio
Vittadini
Hoje gostaria de comentar a intervenção de Pe. Giussani, publicada em
O eu, o poder, as obras: "Dá-nos um coração grande para amar" (2001, p. 123-132),
porque me parece ser um juízo sobre como conduzimos as nossas obras.
1. A insuficiência da resposta
A primeira questão colocada pelo Pe. Giussani ("I. Diante da
necessidade") esclarece duas posições que podemos ter com relação à necessidade.
"Toda pessoa de boa vontade, diante da dor e da necessidade, começa
imediatamente a agir, mostra-se capaz de generosidade..."; certamente, a
generosidade está na raiz das tentativas que vocês, da Companhia das Obras2,
fizeram, porque as nossas obras nascem exatamente como tentativas de
generosidade. "Porém, para além da generosidade" - prossegue Pe. Giussani -,
"embora esta seja louvável, suas tentativas de resposta às necessidades do
momento correm o risco de ter um derradeiro véu de auto-complacência ou,
então, uma derradeira sombra de tristeza" (p. 123: Tradução de Neófita Oliveira).
1
Duas posições com
relação à
necessidade
Palestra proferida no dia 13 de maio de 2000 pelo Presidente da Companhia das Obras, em Milão.
Companhia das Obras, associação sem fins lucrativos fundada em 1986, hoje com cerca de dez mil sócios,
tem por finalidade promover o espírito de colaboração entre profissionais e entre empresas, e apoiar a
colocação de jovens e desempregados, em continuidade com a presença social dos católicos e à luz dos
ensinamentos da Igreja. A Companhia das Obras do Brasil foi constituída em 1999.
2
31
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
A) A nossa
capacidade,
método para
enfrentar uma
necessidade
32
Quando nós conseguimos cuidar de alguém, emerge a nossa capacidade
como método para enfrentar aquela necessidade. Tende-se a esquecer o fato de
que aquela necessidade, de alguma forma, é um sinal de uma necessidade maior e,
por isso, depois nos dirige a um malogro mais geral. Pensem em todas as
comunidades de dependentes de drogas, que acreditam ter respondido à
necessidade porque curaram temporariamente o problema da dependência da
droga. Ao invés, sem terem enfrentado a necessidade em sentido radical, as
pessoas se jogam de novo na droga. Todas as intervenções em que temos que
trabalhar com pessoas que supomos curáveis correm esse risco: enfrentada a
necessidade, melhoradas as condições, o risco é que não esteja na raiz [do trabalho]
o senso de insuficiência frente à necessidade geral e, portanto, o aspecto de
relacionamento com o destino daquela pessoa, em sentido global, mas a
capacidade terapêutica de ter enfrentado uma necessidade particular; com o
resultado que, depois, a necessidade particular reaparece. A pessoa pode enfrentar
o problema de uma mãe adolescente tecnicamente, mas ou a coloca em condições
de enfrentar sua condição, ou o fato de ter tirado a adolescente desse problema é,
com certeza, um mito.
Pensemos em todas as obras de acolhida: se a pessoa não entende que
"as suas energias são impotentes frente ao mal", a intervenção que resolveu um
problema particular torna-se uma violência ainda maior do que a necessidade que
o outro tinha. A acolhida, a dependência de drogas, os desvios: para a pessoa, ou
fica clara a insuficiência do que ela faz, ou de alguma forma, a obra de assistência
é uma obra violenta, pois diante da necessidade que reaparece de mil formas
diferentes, naquele momento a obra parece ser quase uma pretensão, e sendo
uma pretensão, deve reduzir [a necessidade]: isto é, não se admite não ter
resolvido o problema que está diante da pessoa. Este é o primeiro risco existente
nas obras de assistência. É preciso mistificar a realidade. A realidade é que a
necessidade é infinita e se manifesta de mil maneiras. Mesmo quando a pessoa
nasce "saudável", ela tem uma necessidade a que você não pode responder. Todas
as vezes em que se evidencia uma capacidade terapêutica, de método,
desvinculada da percepção do homem em seu destino - portanto, muito maior do
que qualquer intervenção -, esta ação é praticada; e essas são exatamente as obras
Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo?
Giorgio Vittadini
que talvez mais alcancem em um particular, as obras que curam pessoas curáveis,
das quais se espera uma melhora.
Segundo aspecto: a tristeza. Há obras que cuidam de pessoas incuráveis.
Então, experimentamos um senso de impotência, ou procuramos "forçar", e não
nos limitamos a compartilhar uma situação que só pode ser compartilhada. Essa
tristeza é como uma espécie de impotência, de raiva, porque a nossa intervenção
não produz o efeito que esperamos; porque compartilhar um destino parece ser
quase inútil. Ao invés, Giussani coloca a idéia de que a resposta à necessidade - é
preciso fazer todo o possível para descobrir que é insuficiente - significa superar o
senso da própria impotência.
Os dois primeiros temas dizem respeito exatamente a essa dupla derrota
das nossas obras. No momento em que pensamos resolver o problema de uma
pessoa, ao invés de pensarmos em compartilhar com a pessoa e em ajudar a pessoa
a caminhar rumo ao seu destino, percebe-se como uma redução o fato de não
conseguir dar uma resposta. Ou não se suporta a idéia de compartilhar o destino
de uma pessoa que pode permanecer a vida inteira absolutamente incurável. Em
ambos os casos, é uma traição do objetivo pelo qual a obra de caridade nasceu, que
foi um abraço da pessoa inteira, assim como era, sabendo que não éramos capazes,
mas colocando-nos diante dela. Isso é ainda mais evidente no relacionamento com
as instituições públicas: no momento em que o prefeito decide pagar uma
intervenção de assistência e talvez também queira ver os resultados, estamos
pensando exatamente em medir o que talvez só possa ser compartilhado.
Mais uma vez, Giussani diz que os santos, afinal, não resolveram nenhum
problema; simplesmente mostraram como o homem deve estar diante de outro
homem. Pois, mesmo São Camilo, que inventou os hospitais modernos, ou São
João de Deus, fundador dos Fatebenefratelli3, não resolveram o problema. Mostraram
como estar diante do homem. É uma investida oposta à investida científica de hoje,
que imagina resolver o problema tornando o homem imortal.
Fatebenefratelli é uma congregação religiosa, nascida por volta de 1500 na Espanha (Granada), por obra de um
padre chamado Giovanni di Dio, que se dedicou a cuidar dos pobres e doentes.
B) Senso de
impotência frente à
necessidade
3
33
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
2. Consciência de pertencer
O que significa estar diante de uma pessoa doente sem sentir essa tristeza
ou esse desejo de posse? Giussani (2001) diz:
Essa tristeza última deve ser superada, de fato, (...) pela consciência
de se pertencer. Pertencendo, a pessoa faz a experiência de uma coesão,
de uma coerência das coisas, na qual sua vida se situa, adquirindo um
significado. Trata-se justamente de um senso que não pode ser limitado
à breve dimensão do tempo e do espaço (...) mensurável por nós
mesmos, mas que a supera infinitamente. Só na experiência de tal
coesão começa a aparecer no horizonte da nossa consciência a percepção
de um significado positivo, apesar de tudo, do tempo; a percepção de
algo maior e mais forte do que o mal e a angústia do presente (p.
124).
Como superar a
tristeza ou o desejo
de posse?
O senso do destino
Isso significa que temos o senso do destino. Se uma freira tem o senso do
destino, se ficar a vida inteira ao lado de um deficiente mental grave do
Cottolengo4, entende que isso é útil, porque não sabemos - do ponto de vista do
destino - a importância e a utilidade que essa pessoa tem com relação ao universo.
Se a questão é a utilidade e o sentido, pode ser que essa pessoa seja mais
importante do que todos os moradores de Turim daquela época. Porque essa
pessoa está nas mãos de Deus. O sentido disso é que o destino não pertence a nós.
Então, posso gastar racionalmente a vida inteira - não por um ato heróico, louvável
do ponto de vista leigo, mas em última instância irracional -, por um motivo
racional: aquela pessoa é o próximo, aproximou-se de mim, e eu não sei quanto ela
vale, não posso medir o significado de um homem. Eu posso compartilhar o que
se aproxima de mim. Isso torna a tentativa profundamente cheia de sentido,
É uma obra de caridade de uma congregação religiosa, nascida por volta de 1800 em Torino por obra de um
padre chamado San Giuseppe Benedetto Cottolengo (Bra 1786 - Chieri 1842). A Pequena Obra da Divina
Providência, se dedica fundamentalmente a atenção especial à pessoas com deficiências, físicas e mentais.
4
34
Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo?
Giorgio Vittadini
porque nos colocamos diante de um homem apostando no sentido que o Senhor
lhe deu, e, portanto, o próprio gesto torna-se grande.
3. Uma pergunta por sentido
Em ambos os casos, o pertencer que tem como objetivo um sentido - se
vocês quiserem, o senso religioso, diz Giussani (2000) no capítulo IX do próprio
O senso religioso5 - é o nível da razão onde a razão se pergunta "por quê". Então,
assim colocado, o gesto assume um valor que tem peso. Não é possível não sentir
essa percepção como o ponto de partida do próprio trabalho, porque mesmo se
formos ótimos profissionais, se trabalharmos em uma obra nossa sem entender
esse aspecto, o resultado será induzir as pessoas aos erros a que acenei antes. Em
uma obra como a nossa, a pessoa deve ter o senso do destino, ao menos o senso
religioso; ela não pode não sentir que isso é importante; não pode não desejar ter
uma percepção assim da vida.
Nós não podemos contratar profissionais normais, que não sintam isso,
pois, assim, eles não compreenderão o significado do que fazem: ele será reduzido
ao salário que recebem, à organização que existe, à capacidade, ao sucesso que a
obra obtém. O nosso ponto de referência, mesmo do ponto de vista da
competência profissional, são exatamente as irmãs de Cottolengo, ou seja, pessoas
capazes de compartilhar a necessidade até o fim, também tecnicamente; pessoas
cuja ação, paradoxalmente, não tem um valor mensurável. Nosso ponto de
referência são os santos, que adquirem a técnica, uma capacidade, mas colocam
como tema o sentido da pessoa que está diante deles.
Ou nós conseguimos ter a lucidez de nos perguntarmos o sentido do que
estamos fazendo, ou as nossas obras não se sustentarão no tempo, porque o nosso
único patrimônio é perguntar por que fazemos as coisas; este é o código genético
do qual certas obras nasceram. Perder isso de vista significa não ter mais a
identidade da obra; pois obras de caridade também podem ser multinacionais que
5
GIUSSANI, Luigi. O senso religioso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000 (Trad. de Paulo Afonso Oliveira).
Ponto de partida do
trabalho: qual o
sentido da ação?
35
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
A distinção entre
voluntariado e
caridade
O pertencer
estrutura o ímpeto
da generosidade e
torna os seus efeitos
permanentes
entram no "mercado" da assistência, podem ser feitas por pessoas que apostam no
voluntariado e, portanto, têm o salário e a organização do Estado por trás delas.
Como questão única, devemos tornar presente a pergunta pelo sentido do
que está diante de nós. Ou todos os que trabalham conosco possuem esse tipo de
percepção - aqui se coloca o grave problema da formação -, ou nós acabaremos
por ter obras nas quais as pessoas entendem mal o senso religioso, como problema
ideológico, mas não entendem por que estão ali ajudando alguém a viver uma
situação.
Nesse sentido, Giussani faz uma distinção entre voluntariado e caridade:
"A solidariedade é uma característica (...) instintiva da natureza humana; entretanto,
ela não faz história, não cria obras por continuar a ser uma emoção ou uma
resposta reativa a uma emoção. (...) O que constrói é a resposta consciente à
pergunta: Por que você adere a essa urgência de solidariedade?" A questão é
pertencer: por que aderimos a essa urgência de solidariedade? Pode ser por um
pertencer ideológico, ou pelo pertencer a uma realidade religiosa; para nós, é o
pertencer ao Mistério do fato cristão no mundo.
O pertencer estrutura o ímpeto da generosidade e torna os seus efeitos
mais permanentes. Com relação à reconstrução de Friuli (região da Itália) após o
terremoto de 1976, foi afirmado: "Os muros foram recriados, agora é preciso
recriar o lar." É o oposto da mentalidade moderna normal, segundo a qual quanto
menos se pertence, mais se faz o voluntariado, porque o voluntariado é de todos,
neutro, sem ideologias.
O problema é a resposta, é a resposta à pergunta pelo sentido, por que a
pessoa adere a essa urgência, aonde ela leva você? Você a abraçou por um instinto,
por uma emoção, mas para onde ela o leva? Para onde você quer ir! Essa pergunta
não pode estar no início da obra, ou ser deixada para a Escola de Comunidade do
Movimento6, sem ser uma interrogação que leva a uma mudança contínua da
obra. Pois, de outra forma, não vamos entender nada da escola de comunidade,
não vamos entender nada da obra. A posição do Movimento é uma tensão
A Escola de Comunidade é um momento catequístico de reflexão e comparação pessoal e comunitária dos
membros do Movimento Comunhão e Libertação.
6
36
Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo?
Giorgio Vittadini
contínua a perguntar pelo sentido, é um desejo de afirmar o sentido do que eu
tenho à minha frente. Isso deve acontecer, embora pareça não querer dizer nada
do ponto de vista da estrutura da obra, porque as condições sociais em que
estamos tendem a esmagar essa posição para privilegiar o que diz respeito aos
empreendimentos.
4. A caridade é uma obra
Mas para nós é impossível não começar a partir dessa pergunta, e dessa
resposta, porque ela coloca a nossa obra como método no grande sulco da
caridade. Diz Giussani (2001):
A outra palavra é caridade. Nas igrejas cantam: 'Dá-nos, Senhor,
um coração grande para amar' (Hombres nuevos). Como exemplo do
horizonte ao qual a nossa ação deve corresponder, temos o coração de
Deus feito homem. A caridade acrescenta à solidariedade a
consciência de uma imitação do Mistério do ser que é lei para o ser
humano, de tal modo que ela dispõe sua personalidade a agir com
todas as suas forças, com toda a inteligência e a afeição de que é capaz.
Portanto, a caridade é uma obra, transforma a solidariedade em obra,
por criar um sujeito novo. (...) Dizer sujeito equivale a dizer criador.
O homem se torna criador, isto é, idealizador e realizador de obras.
A obra exige um sujeito. A caridade, portanto, reconduz o ser
humano à razão última do seu agir, e somente ela confere às coisas
aquela permanência, aquela eternidade sem a qual não existe
positividade real, nem se dá a verdadeira construção, não acontecem
'obras'( p. 125).
Dizer caridade e dizer "eu quero perceber o mistério que existe em mim,
e o mistério que tenho diante de mim, perceber que isso é mistério, ou seja, que eu
não sou o dono disso, ele não me pertence, mas me interessa", coloca o sujeito de
quem realiza a obra de modo diverso.
Caridade, imitação
de Deus, transforma
a solidariedade em
obra
37
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
Caridade dimensão
da obra
Voltemos ao discurso dos "agentes", de cada um de nós: o que você tem
em mente? Não é uma questão extra-profissional. Aliás, é a questão através da qual
se revê a profissão, a organização da obra, o seu objetivo, tudo. Pois nós, diferente
dos outros, não concordamos nem sobre o Mistério. Mas o Mistério não é um
fator profissional, não é a questão que, de qualquer forma, interroga todas as
escolhas que as nossas obras fazem; enquanto nós - com o tempo, não de repente,
mas com o tempo -, somos chamados a construir obras nas quais todas as escolhas
são feitas em função da pergunta: qual é a urgência, como essa urgência ajuda a nós
e aos outros rumo ao Mistério? Não podemos fazer uma escolha sem essa
pergunta. E se somos obrigados pelo mercado a dar respostas parciais, também
devemos saber o que dizer. Também podemos ter obras pequenas; mas essas obras
não podem não ter em si essa urgência de pergunta, se nós a temos, porque é a
urgência da caridade.
A caridade não pode ser a dimensão do Movimento7 e não ser a dimensão
da obra. Pois se nós fôssemos objeto da ação das obras que realizamos,
gostaríamos de ser tratados conforme o Mistério, conforme a fé. Não podemos
nos contentar com a resposta técnica. O que queremos para as pessoas que
amamos deve ser para todos, o que coloca uma urgência cultural, radical, de
mudança, que certamente deve se reconciliar com as condições práticas, porém, é
uma urgência de mudança. Não podemos fazer escolhas que se separam da nossa
posição ideal.
Nesse sentido, sintetizei o quinto ponto de Giussani com uma palavra que
não foi escrita, mas está subentendida à questão, a palavra "tradição":
Nessa percepção de si, o indivíduo, solicitado na sua capacidade de
compaixão pelo encontro com uma necessidade humana, adquire uma
educação, estabiliza-se num habitus permanente: começa a
compreender que, do mesmo modo como se comporta diante da
necessidade, deve comportar-se diante de sua mãe, de seu pai, da
esposa, do marido, dos filhos, de todos (p. 125).
Adquirir um habitus
permanente
retornando a
tradição da qual
viemos
7
38
Refere-se ao Movimento de Comunhão e Libertação (Cf. nota 6 neste capítulo).
Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo?
Giorgio Vittadini
Para mim, a primeira questão reside exatamente nas palavras "adquire uma
educação, estabiliza-se num habitus permanente"; porque, nas nossas obras, não
podemos inventar o modo como devemos estar diante do usuário, mas devemos
nos perguntar: o que o carisma do Movimento sugere com relação a isso? O
grande debate dos anos 73-76, em que Giussani quis tomar novamente o
Movimento nas mãos, era justamente o debate sobre a não-separação entre as
escolhas da vida e o carisma do Movimento; como se ele defendesse que o carisma
do Movimento é um fator de leitura da realidade maior do que as escolhas
profissionais. Nós temos uma tradição a ser interrogada, não temos que inventar
nada. Mesmo se adotarmos técnicas, devemos nos perguntar como essas técnicas
respondem ao fator maior que as julga, ou seja, ao carisma.
O problema das nossas obras é retomar a tradição da qual viemos, o
tronco em que fomos cultivados, porque há uma tradição a ser interrogada. Há um
sulco a seguir. Entre outras coisas, o sulco criado nessas obras - é a promessa que
Giussani nos faz - torna-se fator de leitura da realidade inteira, também com pai,
esposa, marido e filhos. Se a identificação com a experiência da tradição faltar, o
que acontece é que "a solidariedade é impetuosa, e difícil não ser unilateral" (p.
126). Isso significa que o aspecto educativo é confundido com o aspecto técnicoinstrumental. O trabalho seria impossível se não tivéssemos uma tradição a ser
interrogada, mas temos uma tradição fortíssima, tanto do ponto de vista do juízo
geral, quanto do ponto de vista do enfrentamento da caridade. Com relação a um
certo problema, nós devemos nos perguntar o que o Movimento nos sugere, pois
a palavra "mudança" é que tem a ver com essa tradição. Quer a obra seja grande
ou pequena, o trabalho cultural de um juízo diferente que a realidade coloca é o
trabalho a ser feito, que ninguém faz. Se não quisermos ser unilaterais, devemos
nos perguntar o habitus que diz respeito à tradição.
5. Um ímpeto humano em ação
Quinto ponto: o que quer dizer enfrentar as coisas conforme a
solidariedade ditada pelo pertencer ao Mistério de Deus, no qual consiste a
caridade? Qual é o resultado? A primeira característica é antes de tudo imaginação
39
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
Imaginação e
criatividade
Dimensão religiosa
Continuidade
40
e criatividade (cf. p. 126). São realmente criadas formas de vida nova para o ser
humano; nós somos chamados a entender como as necessidades que estão diante
de nós podem ter uma resposta diferente das fórmulas dadas hoje pelos outros.
Devemos descobrir um jeito que não é igual ao dos outros, porque Pe. Giussani
não é "os outros", o seu carisma é mais humano. Então, se é mais humano em
geral, também é mais humano na assistência. Há um jeito de olhar a realidade, a
pessoa, que leva em conta mais fatores, e é percebido, construído, nas milhares de
páginas que lemos, olhando o Movimento como fato vivo. Há uma imaginação e
uma criatividade que não nos deixam ser superficiais como os outros; talvez
sejamos menores, mas imaginativos e criativos.
No ano passado, encontrei algumas obras de caridade, como a da Nicoletta
e as mães adolescentes, e ela me contou que uma dessas adolescentes não abortou
porque a encontrou e ela convenceu a menina a ter o filho. Nenhum consultório
realiza esse trabalho, nem mesmo os católicos. A nossa posição é humana, entra no
mérito da questão. Há uma criatividade que é fruto desse trabalho que, repito, não
podemos pretender, mas ao qual podemos tender. As formas não são iguais às dos
outros. "Não vos conformeis aos esquemas do mundo".
A segunda característica é que a criatividade e a imaginação levam em si
algo que para todos é uma violência, mas para nós é a questão fundamental: a
religiosidade. Não existe cultura se não estiver subentendida uma dimensão
religiosa. Aqui, evidentemente, Giussani não fala de religiosidade no sentido da
história das religiões, mas daquele aspecto em que a categoria suprema da razão é
a categoria da possibilidade: que possa existir um Deus que se fez homem. A
religiosidade não é um preconceito, é já ter tudo claro, o que torna difícil levar
alguém a olhar a realidade sem fechamentos.
Terceira característica: a continuidade (Guissani, 2001, p. 127). Para
nós, uma coisa tem valor quando dura no tempo. Depois de algum tempo, a
solidariedade se cansa, não agüenta, as pessoas mudam. Ao contrário, se a
pessoa a realiza por Jesus, pode ficar a vida inteira ao lado de uma irmã do
Cottolengo.
Pertencer e Conhecer: Qual Profissionalismo?
Quarta característica: "O cristão sabe que nenhum homem está isento de
culpa" (Guissani, 2001, p. 128). Quantos erros são cometidos, do ponto de vista
humano e profissional, quando não partimos dessa consideração. É difícil se
corrigir, porque devo admitir um erro; e quando eu admito um erro, parece que
tudo desmorona. Mas, se eu estiver na posição indicada por Giussani, posso fazer
um uso programático do erro, porque o reconhecimento oferece a possibilidade da
mudança.
Quinta característica: o objetivo é criar uma casa mais habitável para o ser
humano; isto é, o objetivo das nossas obras é criar um lugar físico, vivente, onde
seja visivelmente possível encontrar as pessoas que assistimos.
Para concluir, vou contar um exemplo que me marcou. Giussani
encontrou recentemente algumas pessoas que moram em Nova York e lhe
contaram o que estava acontecendo, ou seja, que os livros dele se difundem
sozinhos, no sentido de que são lidos em lugares onde o Movimento não existe:
em Nebraska, em South Dakota, inclusive nos círculos protestantes. Tudo
acontece como se não precisássemos organizar nada. Então, ele disse: "Tudo bem,
mas agora as pessoas que leram os livros precisam encontrar um ímpeto humano,
o mesmo que Jesus sentiu pela viúva de Naim". Alguém que diga a eles: "Estou
com você", "precisa de ajuda?", "estou aqui". Aqui ele fala de uma emoção (Cf.
Guissani, 2001, p. 130). Eles precisam encontrar uma emoção, não no sentido
redutivo ao qual acenei no início, mas uma emoção forte, um ímpeto humano, um
tom humano.
Nós podemos organizar tudo, realizar obras e todas as suas
conseqüências, mas podemos não ter esse tom humano. Porque a verdadeira
diferença que torna uma obra de caridade capaz de incidir na história é justamente
uma emoção, é o jeito como alguém que anda pelo hospital olha o doente, como
fala com um dependente; é o jeito como ele acolhe a necessidade particular: as
flores para uma velhinha que faz aniversário traz mais conforto do que abrir ou
fechar a janela do quarto dela. É estar ali, tendendo a afirmar o outro. Essa emoção
não pode ser programada. Em última instância, nós não podemos deixar de julgar
Giorgio Vittadini
Reconhecer o
próprio erro
Criar uma casa
mais habitável para
o ser humano
Um ímpeto humano
caracteriza o
encontro com o
outro...
41
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
... e provoca uma
mudança também
na organização
42
toda a mudança das nossas obras de caridade exatamente a partir da existência
desse toque humano que se torna organização. Seria sentimental se não fosse algo
que muda a estrutura, mas é uma emoção, é um "mulher, não chores", é alguém
que se sente afirmado: a pessoa entende que, naquele instante, ela existe. Sem essa
emoção, as obras de caridade não são acontecimento, são obras de assistência
programada. Mas não é possível substituir o acontecimento do encontro, do
maravilhamento daquele instante ali! Enfim, o juízo mais radical sobre as nossas
obras de caridade é: mas eu vivo essa posição de caridade? Porque "a caridade é
um fator que contesta e penetra todos os outros fatores, a caridade é maior do que
tudo. Ela gera um povo que não pode surgir senão de algo gratuito" (Guissani,
2001, p. 131).
Então, nós não podemos deixar de julgar a nós mesmos com base nisso,
e os outros que estão ali conosco, ao menos com base na simpatia por isso; pois,
se eles forem pessoas completamente estranhas a isso, é melhor procurar outras.
Talvez desse jeito a obra corra o risco de não ficar em pé, mas para que eu quero
ter criado uma obra cuja concepção do mundo aparece como programa, mas não
como coerência?
Esses me parecem ser os pontos de juízo sobre as nossas obras de
caridade, uma revisão de como deveria ser a formação, a organização, a educação
de quem trabalha nelas. Mas, ainda antes disso, o que importa é uma posição que
podemos não ter no instante. Se não for assim, seremos como os gerentes de
muitas estruturas de saúde e de assistência católicas, que estão tão empenhados em
criar a obra que se esquecem de ser cristãos; organizam a resposta dos outros. Mas
onde é que eles estão? E nós, onde é que estamos?
Referências Bibliográficas
Referências Bibliográficas
GIUSSANI, L. O eu, o poder e as obras. Contribuição de uma experiência. [Tradução
vários]. São Paulo: Cidade Nova, 2001.
___________. O senso religioso. [Tradução Paulo Afonso E. de Oliveira]. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
___________. Educar é um risco. Como criação de personalidade e de história.
[Tradução de Neófita de Oliveira]. São Paulo: Companhia Ilimitada, 2000.
COGO, Luisa e CARMO, Elisabete Regina (Orgs.). Educar-se para educar. Belo
Horizonte: CDM:AVSI, 2001.
ROSSI, Geovana. Educate Every Child, in the Family, in the Community, in the World.
AVSI, 2001.
43
44
Fichas de Origem - Instituições
Fichas de Origem
Instituições
Apresentamos a seguir as fichas, intituladas por nós como ficha de
origem, dos Centros Educativos que participam do Projeto Rede de Infância, que
incluem informações referente a estrutura e localização de cada instituição.
ASSOCIAÇÃO SAGRADA FAMÍLIA
Data da Fundação
30/04/1996
Nome dos Fundadores
Iolanda Dematte
Motivação Inicial
Ajudar as crianças carentes
Conveniada à AVSI desde
1998
Responsável Atual
Iolanda Dematte
Características da Obra
Favorecer o desenvolvimento das crianças mais carentes.
Público Atendido
Crianças até 09 anos de idade.
Nº de Crianças
215 crianças
Nº de Funcionários
17
Endereço
Travessa São Benedito, s/nº - Chapada do Rio Vermelho - Salvador, BA
45
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
OBRA PAROQUIAL SANTO ANDRÉ - ESCOLA SANTO ANDRÉ
Data da Fundação
12/11/1975
Nome dos
Fundadores
Anna Sironi; Padre Roberto Etavi; Terezinha de Freitas; Antônio Geonízio Santos
Motivação Inicial
Possibilitar a população local condição de sobrevivência, além de ajuda à formação
profissional.
Conveniada à AVSI
desde
1997
Responsável Atual
Padre Guido Zendron
Características da
Obra
Conveniada com a Escola Municipal
Público Atendido
Crianças de 05 a 12 anos
Nº de Crianças
300 crianças
Nº de Funcionários
16
Endereço
Rua 26 de Abril, 61 - Nordeste de Amaralina - Salvador, BA
46
Fichas de Origem - Instituições
CENTRO EDUCATIVO JOÃO PAULO II
Data da Fundação
03/12/1999
Nome dos
Fundadores
Associação Humano Progresso
Motivação Inicial
Oferecer continuidade da proposta educativa às crianças da Creche João Paulo II e reforço
escolar às crianças e adolescentes do bairro.
Conveniada à AVSI
desde
Desde a fundação, 03/12/1999
Responsável Atual
Pina Carapella
Características da
Obra
Centro de reforço escolar
Público Atendido
Crianças e adolescentes de 07 à 16 anos
Nº de Crianças
322 crianças
Nº de Funcionários
22
Endereço
Rua 1º de Novembro, s/nº - Novos Alagados - Plataforma - Salvador, BA
47
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
ASSOCIAÇÃO CRECHE JOÃO PAULO II
Data da Fundação
20/05/1994
Nome dos
Fundadores
Sociedade Casa Cultura e Fé
Motivação Inicial
A Creche João Paulo II surgiu do encontro de alguns jovens católicos, que faziam a
experiência de pertencer a uma Comunidade Cristã, com alguns moradores da
Comunidade de Novos Alagados.
A partir desse encontro e de um olhar atento à totalidade deste contexto e determinadas
circunstâncias, que tais moradores estavam submetidos é que surgiu o ímpeto de
responder a ima necessidade específica da comunidade; ter uma instituição que abrigasse,
em período integral, crianças de 0 a 6 anos de idade, para que assim suas mães pudessem
trabalhar mais tranqüila e numa perspectiva de vida mais digna.
Foi com este gesto, que a Creche João Paulo dá início às suas atividades, em princípio num
pequeno espaço cedido pela Paróquia local (um ano depois na sua própria sede) não
apenas como um espaço de cuidado para com as crianças, mas também como um lugar
educativo e de esperança para estas crianças e suas famílias.
Conveniada à AVSI
desde
Janeiro de 2001
Responsável Atual
Cláudia Magali Santos do Bonfim
(continua na próxima página)
48
Fichas de Origem - Instituições
ASSOCIAÇÃO CRECHE JOÃO PAULO II
(continuação da tabela anterior)
Características da
Obra
A Creche acolhe cerca de 150 crianças divididas por grupos de faixa etária (berçário I e II,
jardim I e II e alfabetização), de 7:10 h. às 17:30 h. Ao chegarem, as crianças tomam café
da manhã e em seguida envolvem-se nas atividades e brincadeiras com as educadoras.
Cada momento: a rodinha, os trabalhos plásticos, as atividades de leitura e escrita, a
historinha, os jogos dirigidos em grupos, as brincadeiras livres no pátio e no parque, enfim
todas as atividades compõem esse espaço educativo e socializador para estas crianças, que
vivem num contexto de violência, pobreza e desestruturação familiar.No berçário, é onde
recebemos os casos mais graves de descuido e até de abandono familiar. Para algumas
destas crianças, a Creche foi a possibilidade de sobrevivência. A alimentação é outro
aspecto de grande importância, pois muitas destas crianças passam fome e outras até já
apresentam um quadro grave de desnutrição. Por esse motivo é que na Creche é oferecida
uma alimentação balanceada sob a orientação de uma nutricionista e de uma coordenação
médica, de modo que assim se possa suprir as suas carências nutricionais. As crianças
também realizam atividades de higiene e cuidados com o corpo.
Público Atendido
Crianças de 04 meses a 06 anos de idade
Nº de Crianças
150 crianças
Nº de Funcionários
26 funcionários
Endereço
Rua 1º de novembro, s/nº - Novos Alagados - Plataforma - Salvador, BA - Cep: 40.720-000
49
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
CRECHE COMUNITÁRIA JARDIM FELICIDADE
Data da Fundação
03/07/1991
Nome dos
Fundadores
Rosetta Brambilla
Motivação Inicial
Responder aos problemas de educação de muitas crianças necessitadas no Conjunto
Habitacional Jardim Felicidade. A partir de janeiro de 1989 foi construído um espaço para
50 crianças em idade pré-escolar. Com a ajuda do Pe. Luigi Valentini se conseguiram
recursos para viabilização da obra que foi realizada em parceria com AVSI, PBH - Urbel
e Secretaria do Estado, do Trabalho e Ação Social.
Conveniada à AVSI
desde
1993
Responsável Atual
Rosetta Brambilla, Rose Aparecida
Características da
Obra
Atendimento a crianças de 0 a 6 anos em horário integral, de 7:00h às 17:00h.
Público Atendido
Crianças de 0 a 6 anos
Nº de Crianças
108 crianças
Nº de Funcionários
27
Endereço
Av. Professora Gabriela Varela, 580 - Conjunto Jardim Felicidade - Belo Horizonte, MG Cep: 31765-250
50
Fichas de Origem - Instituições
CRECHE ETELVINA CAETANO DE JESUS
Data da Fundação
21/03/1987
Nome dos
Fundadores
Rosetta Brambilla
Motivação Inicial
Tendo em vista as precárias condições de vida em que viviam as famílias da então chamada
favela da Vila Boa União (que mais tarde seria chamado de bairro 1º de Maio), Rosa, Padre
Pigi e outras pessoas da paróquia se uniram para tentarem responder àquelas necessidades.
A partir deste encontro constituiu-se naquela favela um tecido humano muito bonito,
capaz de mudar aquela realidade. Deu-se início então a cursos de tapeçaria, cortes de
costura, alfabetização de adultos, montagem de um ambulatório, catequese, missa e
brincadeiras com as crianças. E depois para responder às necessidades não só de
"sobrevivência" das crianças, mas também por uma questão educativa, foi construída a
Creche Etelvina Caetano de Jesus.
Conveniada à AVSI
desde
1992
Responsável Atual
Rosetta Brambilla, Helena Perdigão
Características da
Obra
Atendimento a crianças de 0 a 6 anos em horário integral, de 7:00h às 17:00h.
Público Atendido
Crianças de 0 a 6 anos
Nº de Crianças
105 crianças
Nº de Funcionários
20
Endereço
Rua Oscar Lobo Pereira, 115 - Bairro 1º de Maio - Belo Horizonte, MG
51
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
CRECHE DORA RIBEIRO
Data da Fundação
06/03/1998
Nome dos
Fundadores
Pe Pigi, pároco da Paróquia de Todos os Santos e Moradores do Conjunto Residencial
Providência ligados ao Conselho Paroquial São Francisco.
Motivação Inicial
Pier Luigi Bernareggi (Pe. Pigi) e a comunidade local uniram esforços para a viabilização
de um espaço físico possível para a promoção de práticas pedagógicas de educação e
cuidados para com as crianças, tendo como objetivo o desenvolvimento integral das
mesmas. Umas vez construído o espaço, Pe. Pigi pediu à Rosetta Brambilla que assumisse
a coordenação e a gestão deste.
Conveniada à AVSI
desde
1998
Responsável Atual
Rosetta Brambilla, Regina Pereira Alvares
Características da
Obra
Atendimento a crianças de 0 a 6 anos em horário integral, de 7:00h às 17:00h.
Público Atendido
Crianças de 0 a 6 anos
Nº de Crianças
108 crianças
Nº de Funcionários
18
Endereço
Rua Bertópolis, 449 - Providência - Belo Horizonte, MG - Cep: 31.814-050
52
Fichas de Origem - Instituições
CENTRO EDUCACIONAL ALVORADA
Data da Fundação
03/12/1999
Nome dos
Fundadores
Rosetta Brambilla
Motivação Inicial
Responder aos problemas de educação de muitas crianças necessitadas no conjunto
habitacional Jardim Felicidade. A partir de 1995 foi construído um espaço com objetivo
de fornecer a essas crianças um reforço escolar e em dezembro de 1999 se inaugurou o
Centro construído com a ajuda do Pe. Luigi Valentini que conseguiu recursos para
viabilização da obra junto a AVSI, PBH - Urbel e Secretaria do Estado, do Trabalho e
Ação Social. Nessa instituição além de funcionar o apoio escolar, se oferece também
orientação para o trabalho, através de oficinas e cursos profissionalizantes. Esse espaço é
utilizado ainda para a realização de cursos profissionalizantes para adultos oferecidos, em
sua maioria em parceria com a CDM. Abriga dois ambulatórios odontológicos que
atendem às crianças e suas famílias.
Conveniada à AVSI
desde
1999
Responsável Atual
Rosetta Brambilla, Cristina Soffiantini
Características da
Obra
Atendimento a crianças de 7 a 16 anos, em dois turnos, manhã e tarde de 7:00h às 17:00h.
Público Atendido
Crianças de 7 a 16 anos
Nº de Crianças
240 crianças
Nº de Funcionários
17
Endereço
Av. Professora Gabriela Varela, 580 - Conjunto Jardim Felicidade - Belo Horizonte, MG Cep: 31.765-250
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Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
CASA DE ACOLHIDA NOVELLA
Data da Fundação
dezembro de 2001
Nome dos
Fundadores
Rosetta Bambrilla, Marco Antônio Bragança e Maria das G. Nunes
Motivação Inicial
A obra da Casa de Acolhida nasceu a partir da experiência das Creches, ao reconhecermos
a necessidade de algumas crianças serem acolhidas em um lugar onde pudessem ser
olhadas mais de perto, considerando todos os fatores, as suas necessidades naquele
momento e acompanhá-las nesse caminho.
Conveniada à AVSI
desde
Dezembro de 2001.
Responsável Atual
Maria das Graças Nunes (assistente social) e Mariana Poncio Almeida (psicóloga).
Características da
Obra
A Casa Novella se propõe a acolher a pessoa, com todas as suas necessidades e acompanhála nesse caminho. Para isso temos 4 níveis de atendimento: 1) a Casa (abrigo provisório)
atendendo crianças em situação de risco pessoal; 2) acompanhando crianças das Creches
que se encontram em situação de risco social; 3) rede de famílias acolhedoras, que são famílias disponíveis a acolher crianças em situação de risco pessoal, temporariamente, colaborando também no processo de sua reintegração à família de origem e 4) acompanhamento
das famílias de origem, para responder aos vários problemas e necessidades identificadas.
Público Atendido
Crianças de 0 a 6 anos em situação de risco pessoal e/ou social, vítimas de violência
doméstica (negligência, abandono, abuso e exploração sexual, agressão física e psicológica)
e suas famílias, encaminhadas pelo Conselho Tutelar ou pelo Juizado da Infância e da
Juventude. A Casa (abrigo) tem capacidade para receber até 10 crianças (da regional Norte)
e, além dessas, temos a proposta de acompanhar famílias de até 50 crianças das Creches
Etelvina Caetano de Jesus, Dora Ribeiro e Jardim Felicidade.
Nº de Crianças
atualmente (maio/2002) acolhemos 8 crianças na Casa e acompanhamos 45 crianças e
suas famílias que estão nas Creches.
Nº de Funcionários
13 funcionários (carteira assinada), uma diarista (serviços gerais) e duas psicólogas que
prestam serviço para a Casa Novella.
Endereço
Av. Professora Gabriela Varela, 580 - Conjunto Jardim Felicidade - Cep. 31.765-250 - Belo
Horizonte, MG - Tel.: 3434-9390 - e-mail: [email protected]
54
Fichas de Origem - Instituições
CENTRO DE RECUPERAÇÃO E EDUCAÇÃO NUTRICIONAL - CREN
Data da Fundação
dezembro de 1993.
Nome dos
Fundadores
Ana Lydia Sawaya
Motivação Inicial
Recuperação de crianças que apresentavam desnutrição.
Conveniada à AVSI
desde
1994
Responsável Atual
Maria Luisa Pereira Ventura Soares
Características da
Obra
atendimento a criança desnutrida e sua família - atuação na área da saúde e assistencial
(social e educacional).
Público Atendido
crianças desnutridas de 0 a 6 anos e sua família
Nº de Crianças
semi-internato - 48, ambulatório - aproximadamente 80 consultas/mês, comunidade aproximadamente 300 crianças por ano
Nº de Funcionários
22
Endereço
Rua das Azáleas, 244 - Mirandópolis - São Paulo, SP - Cep: 04.049-010
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Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
CRECHE MADRE TERESA DE CALCUTÁ
Data da Fundação
01/02/1988
Nome dos
Fundadores
Pe. Aurelio Riva - Armando e Josephina (Pina) Restuccia
Motivação Inicial
acolher crianças cujas mães necessitavam trabalhar (e não tinham onde deixar seus filhos),
para ajudar e/ou mesmo sustentar.
Conveniada à AVSI
desde
1995
Responsável Atual
Ana Maria / Eliete
Características da
Obra
Assistencial Educativa; pois ficamos com as crianças de 2ª a 6ª feira no horário das 7 às 17
horas, para que seus pais possam trabalhar; dando a elas toda a atenção tanto na parte
pedagógica, educativa como também na social. Recebem 5 refeições, e material pedagógico.
Público Atendido
Crianças na faixa etária de 02 a 06 anos
Nº de Crianças
80 crianças
Nº de Funcionários
12
Endereço
Rua Cel. Donato, 209 - Vila Matilde - São Paulo, SP - Cep: 03.512-030 - Tel. (11) 6653-1433
56
Fichas de Origem - Instituições
CRECHE MENINO DEUS
Data da Fundação
1979
Nome dos
Fundadores
Pe. Luigino (Luis) Valentini
Motivação Inicial
Pe. Luis junto com um grupo de universitários do Movimento Católico Comunhão e
Libertação realizava visitas domiciliares à famílias. Identificaram através dessas a
necessidade, principalmente através da solicitação das mães, da existência de um local
seguro onde seus filhos pudessem ficar para que elas fossem trabalhar. Construiu-se um
galpão através de um mutirão comunitário. Com o tempo ampliou-se o trabalho dando
surgimento a creche.
Conveniada à AVSI
desde
Desde, aproximadamente de 1993.
Responsável Atual
Dulcinéia Solange; Denise Avelãns e Marina Bastos Guardo.
Características da
Obra
Proporcionar uma experiência educativa para as crianças, bem como para os funcionários,
famílias e comunidade.
Na área pedagógica: Proporcionar a criança um ambiente favorável a acolhida e ao
desenvolvimento das necessidades afetivas, psicossociais, motoras e cognitivas através de
trabalhos diversificados, utilizando sempre o brincar como proposta pedagógica.
Na área de saúde/nutrição: Desenvolver ações ambientais, educacionais visando o bemestar físico, mental e social das crianças. Realizar um trabalho de saúde preventiva e
orientação aos pais. Fornecer 5 refeições diárias através de um cardápio balanceado.
Na área social: Desenvolver acompanhamento e orientação às famílias das crianças
atendidas através de visitas domiciliares, reuniões, festas. Dar oportunidade aos pais de
procurarem um trabalho, oferecendo um espaço educativo adequado ao atendimento de
seus filhos.
Público Atendido
Crianças de 0 a 6 anos e 7 meses de ambos os sexos, residentes no conjunto habitacional
Jardim das Graças, antiga favela Minas Gás e da Favela do bairro do Limão em São Paulo.
Nº de Crianças
100 crianças
Nº de Funcionários
21
Endereço
Cel. Euclides Machado, 158 - Freguesia do Ó - São Paulo, SP - Cep: 02.713-000
57
Sem Construir, Como Pode o Homem Viver?
ASSOCIAÇÃO NOSSA SENHORA MÃE DOS HOMENS
Data da Fundação
02/01/96
Nome dos
Fundadores
Pe. Luigi Valentini, Maria Virgínia dos Santos, Sêmea Alcici Assaf, Maria da Glória Alves
Oliveira.
Motivação Inicial
A partir de atividade caritativa em Samambaia com alunos de 5ª à 8ª série, alunos da
professoras Sêmea e Glória, muitos dos quais estavam envolvidos com uso de drogas,
tráfico e pequenos roubos. Com a vinda de Maria Virgínia para Brasília, pessoa com experiência de trabalho em creche, vislumbrou-se a possibilidade de dar inicio a um trabalho
que pudesse ajudar as crianças de Samambaia: retirá-las da rua, oferecer propostas alternativas, prevenção e educação etc. que as impedisse de iniciar cedo o envolvimento nesta
realidade dura. Foi decisivo para o inicio das atividades a obtenção do espaço de uma
Creche que se encontrava desativada a vários anos.
Conveniada à AVSI
desde
1997
Responsável Atual
Maria Virgínia dos Santos
Características da
Obra
Atende a famílias e crianças muito carentes que moram nas quadras próximas à Creche,
oriundas do nordeste do Brasil com baixa escolaridade e mão de obra desqualificada.
Desde o início de suas atividades contamos com o apoio técnico do CREN/SP (Centro
de Recuperação e Educação Nutricional) e com a orientação pedagógica da pedagoga
responsável pela Creche Jardim Felicidade em BH. Em 21/09/99 começamos o atendimento a crianças maiores de 7 anos no Centro de Acolhida Edimar (Reforço Escolar)
dando continuidade ao trabalho da Creche, acompanhando-a junto com a família na vida
escolar e no seu crescimento.
Público Atendido
Crianças de 1 a 7 anos, de famílias encaminhadas pelo CDS (Centro de Desenvolvimento
Social de Samambaia), priorizando aquelas expostas a situação de risco social, maus tratos,
negligência, etc.
Nº de Crianças
80 crianças de 1-6 anos na Creche e 78 crianças no Centro de Acolhida Edimar
Nº de Funcionários
Creche - 13 funcionários e Centro Acolhida Edimar - 04 funcionários
Endereço
QR 419/421 - Área Especial Samambaia - Distrito Federal
Cep: 72.370-190 - Tel. 359-5522 - e-mail: [email protected]
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Fichas de Origem - Instituições
CRECHE CANTINHO DA NATUREZA
Data da Fundação
01 de agosto de 1975.
Nome dos
Fundadores
Pe. José Ítalo Augusto Coelho - Obra Social da Paróquia de Santa Cruz de Copacabana.
Motivação Inicial
Local onde as mães que trabalham possam deixar os filhos.
Conveniada à AVSI
desde
1998
Responsável Atual
Paola Galafassi
Características da
Obra
Atendimento educacional, social, religioso e de saúde a comunidade carente do Morro dos
Cabritos. Funciona de 8:00 h às 17:00 h, com turmas de berçário e maternal, conveniada
com Prefeitura desde 1990.
Público Atendido
crianças de 18 meses até 4 anos e 11 meses
Nº de Crianças
134 crianças
Nº de Funcionários
20
Endereço
Rua Euclides da Rocha, 370/376 - Copacabana - Rio de Janeiro, RJ - Cep: 22.031-100
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