Di Fortuna e Dell´Occasione1, di Niccolò Machiavelli
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Di Fortuna e Dell´Occasione1, di Niccolò Machiavelli
230 Aranovich, P. F., Cadernos de Éca e Filosofia Políca 18, 1/2011, pp.221-230 ______. Oueuvres Complètes de Machiavel. Paris: Gallimard, 1952. TRADUÇÃO ______. Discorsi sopra la Prima Deca di Tito Livio. Milano: Rizzoli, 1984. ______. O Príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 1990. ______. Epistolario (1512-1527). Fondo de Cultura Económica, 1990. PRICE, Russell. “The senses of virtù in Machiavelli”. In: Eur. Stud. Review, 3/4, 1973, pp.315-345. Di Fortuna e Dell´Occasione1, di Niccolò Machiavelli Tradução de Patrícia Fontoura Aranovich 1 Texto original retirado da edição Niccolò Machiavelli, I capitoli. Questo testo è distribuito con la licenza specificata al seguente indirizzo Internet: http://www.liberliber.it/ biblioteca/licenze/. La EDIZIONE ELETTRONICA DEL: 18 dicembre 1997. 233 Di Fortuna e Dell´Occasione, di Niccolò Machiavelli Di Fortuna e Dell´Occasione1, di Niccolò Machiavelli Tradução de Patrícia Fontoura Aranovich Tradução de Patrícia Fontoura Aranovich2 DI FORTUNA A GIOVAN BATTISTA SODERINI DA FORTUNA A GIOVAN BATTISTA SODERINI Con che rime giammai o com che versi canterò io del regno di Fortuna, e de’ suo’ casi prosperi e avversi? E come iniuriosa ed importuna, secondo iudicata è qui da noi, sotto il suo seggio tutto il mondo aduna? Temer, Giovan Battista, tu non puoi, né debbi in alcun modo aver paura d’altre ferite che de’ colpi suoi; perché questa volubil creatura spesso si suole oppor con maggior forza, dove più forza vede aver natura. Sua natural potenza ogni uomo sforza; e ‘l regno suo è sempre violento, se virtù eccessiva non l’ammorza. Ond’io ti priego che tu sia contento considerar questi miei versi alquanto, Com quais rimas ou com quais versos, jamais, cantarei eu o reino da Fortuna e seus casos prósperos e adversos? E como, injuriosa e inoportuna, conforme aqui a julgamos, sob seu trono todo o mundo reúne? Temer, Giovan Battista, não podes, nem deves, de modo algum, ter medo de outras feridas que não as de seus golpes; porque esta volúvel criatura freqüentemente se opõe com maior força, onde maior força vê ter a natureza. Sua natural potência cada homem obriga, e seu reino é sempre violento, se uma grande virtù não o amortece E te peço que fiques contente ao considerar meus versos 1 Texto original retirado da edição Niccolò Machiavelli, I capitoli. Questo testo è distribuito con la licenza specificata al seguente indirizzo Internet: http://www.liberliber.it/ biblioteca/licenze/. La EDIZIONE ELETTRONICA DEL: 18 dicembre 1997. 2 Doutora pela Universidade de Paris e pela Universidade de São Paulo, professora de Ética e Filosofia Política na UNIFESP. E-mail: [email protected] 234 Machiavelli, N., Cadernos de Éca e Filosofia Políca 18, 1/2011, pp.231-247 se ci sia cosa di te degna drento. E la diva crudel rivolga intanto ver di me gli occhi sua feroci, e legga quel ch’or di lei e del suo regno canto. E benché in alto sopra tutti segga, comandi e regni impetuosamente, chi del suo stato ardisce cantar vegga. Questa da molti è detta onnipotente, perché qualunche in questa vita viene, o tardi o presto la sua forza sente. Costei spesso gli buon sotto i piè tiene, gl’improbi innalza; e se mai ti promette cosa veruna, mai te la mantiene. E sottosopra e regni e stati mette secondo ch’a lei pare, e’ giusti priva del bene che agli ingiusti larga dette. Questa incostante dea e mobil diva gl’indegni spesso sopra un seggio pone, dove chi degno n’è, mai non arriva. Costei il tempo a suo modo dispone; questa ci esalta, questa ci disface, senza pietà, senza legge o ragione. Né favorire alcun sempre le piace per tutt’i tempi, né sempre mai preme colui che ‘n fondo di sua rota giace. Di chi figliuola fussi, o di che seme nascessi, non si sa; ben si sa certo ch’infino a Giove sua potenzia teme. Sopra un palazzo d’ogni parte aperto regnar si vede, e a verun non toglie l’entrar in quel, ma è l’uscir incerto. Di Fortuna e Dell´Occasione - Tradução de Patrícia Fontoura Aranovich se tiver neles algo digno de ti. E a diva cruel volta, no momento, para mim seus olhos ferozes, e lê o que canto dela e de seu reino. E, ainda que, no alto, sobre todos sente comande e reine impetuosamente, vê quem ousa cantar o seu estado. Esta, por muitos é dita onipotente, porque qualquer um que venha a esta vida, cedo ou tarde sente sua força. Ela tem freqüentemente os bons sob seus pés, enquanto ergue os ímprobos; e se alguma vez te promete alguma coisa, jamais mantém a promessa. De cabeça para baixo coloca reinos e estados segundo seu capricho, e priva os justos, do bem que aos injustos oferece largamente. Esta inconstante deusa e móvel diva os indignos freqüentemente põe sobre um trono onde quem é digno jamais chega. Ela dispõe o tempo ao seu modo; exalta este, derruba aquele, sem piedade, sem lei ou razão. Nem favorecer sempre o mesmo a apraz, por todo o tempo, nem preme sempre alguém que no mais baixo de sua roda jaz. De quem é filha, ou de que semente nasceu, não se sabe; o que é certo é que mesmo Júpiter teme sua potência. Sobre um palácio totalmente aberto se vê reinar, e a ninguém impede a entrada, mas o partir é incerto. 235 236 Machiavelli, N., Cadernos de Éca e Filosofia Políca 18, 1/2011, pp.231-247 Tutto il mondo d’intorno vi si accoglie, desideroso veder cose nove, e pien d’ambizione e pien di voglie. Lei si dimora in su la cima, dove la vista sua a qualunque uom non niega; ma piccol tempo la rivolve e muove. E ha duo volti questa antica strega, l’un fero e l’altro mite; e mentre volta, or non ti vede, or ti minaccia, or prega. Qualunque vuole entrar, benigna ascolta; ma con chi vuole uscirne poi s’adira, e spesso del partir gli ha la via tolta. Dentro, con tante ruote vi si gira quant’è vario il salire a quelle cose dove ciascun che vive pon la mira. Sospir, bestemmie e parole iniuriose s’odon per tutto usar da quelle genti, che dentro al segno suo fortuna ascose; e quanto son più ricchi e più potenti, tanto in lor più discortesia si vede, tanto son del suo ben men conoscenti. Perché tutto quel mal ch’in voi procede, s’imputa a lei; e s’alcun ben l’uom truova, per sua propria virtude averlo crede. Tra quella turba variata e nuova di que’ conservi che quel loco serra, Audacia e Gioventù fa miglior pruova. Vedevisi il Timor prostrato in terra, tanto di dubbii pien, che non fa nulla; poi Penitenzia e Invidia li fan guerra. Quivi l’Occasion sol si trastulla, Di Fortuna e Dell´Occasione - Tradução de Patrícia Fontoura Aranovich Todo o mundo reúne-se ao seu redor, desejoso de ver coisas novas, cheio de ambições e de vontades. Ela permanece no topo, onde jamais recusa seu olhar a qualquer homem; mas, em pouco tempo, o desvia e move. E ela tem duas faces, esta antiga bruxa, uma feroz e a outra tranqüila; e, no momento em que a volta, ora não te vê, ora te ameaça, ora te convida. A quem quer que queira entrar, benigna ela escuta; mas, com quem quer sair depois, se ira, e, freqüentemente, impede a passagem. Dentro, são tantas rodas que se vêem rodar quão variado é o subir até aquelas coisas que cada um que vive tem em mira. Suspiros, blasfêmias e palavras injuriosas se ouvem em toda parte daquelas pessoas que pela Fortuna foram escondidas em seu signo; e quanto mais ricos e poderosos se tornam, tanto mais descortesia se vê neles, tanto são de seus bens pouco reconhecidos. Porque todo mal que vos ocorre se atribui à ela; e se algum bem o homem encontra, crê tê-lo adquirido por sua própria virtude. Entre aquela turba variada e nova daqueles que naquele lugar se encontram encerrados, Audácia e Juventude são as que mais se destacam. Se vê o Temor prostrado em terra, com tantas dúvidas que nada faz Penitência e Inveja depois lhe fazem guerra. Ali a Ocasião apenas se diverte, 237 238 Machiavelli, N., Cadernos de Éca e Filosofia Políca 18, 1/2011, pp.231-247 e va scherzando fra le ruote attorno la scapigliata e semplice fanciulla; e quelle ruoton sempre notte e giorno, perché il ciel vuole (a cui non si contrasta) ch’Ozio e Necessità le volti intorno. L’una racconcia il mondo, e l’altro il guasta. Vedesi d’ogni tempo e ad ogni otta quanto val Pazienzia e quanto basta. Usura e Fraude si godono in frotta potenti e ricchi; e tra queste consorte sta Liberalità stracciata e rotta. Veggonsi assisi sopra de le porte che mai, come s’è detto, son serrate senz’occhi e senza orecchi Caso e Sorte. Potenzia, onor, ricchezza e sanitate stanno per premio; per pena e dolore, servitù, infamia, morbo e povertate. Fortuna il rabbioso suo furore dimostra con quest’ultima famiglia; quell’altra porge a chi lei porta amore. Colui con miglior sorte si consiglia, tra tutti gli altri che in quel loco stanno, che ruota al suo voler conforme piglia; perché gli umor ch’adoperar ti fanno, secondo che convengon con costei, son cagion del tuo bene e del tuo danno. Non però che fidar ti possa in lei né creder d’evitar suo duro morso suo’ duri colpi impetuosi e rei; perché, mentre girato sei dal dorso di ruota per allor felice e buona Di Fortuna e Dell´Occasione - Tradução de Patrícia Fontoura Aranovich e vai brincando entre e em torno das rodas, a descabelada e simples donzela. As rodas giram sem cessar dia e noite, porque o céu o quer (a quem não se contraria) que o Ócio e a Necessidade girem em torno delas. Uma conserta o mundo e o outro o estraga. Se vê, todo tempo e a cada instante, o quanto vale a Paciência e o quanto ela basta. Usura e Fraude divertem-se em grupo potente e rico; e entre estes dois companheiros, está a Liberalidade, estraçalhada e rota. Se vêem sentadas, acima das portas que jamais, como já se disse, são fechadas sem olhos e sem orelhas, Caso e Sorte. Potência, honra, riqueza e saúde são os prêmios, por pena e dor, servidão, infâmia, doença e pobreza. Fortuna, o raivoso seu furor demonstra com esta derradeira família, aquela outra dá a quem ela tem amor. O que melhor sorte consegue; entre todos os outros que estão naquele lugar, é que aquele que pega a roda segundo o seu querer; porque os humores que usares em tua escolha, segundo o que para ela é conveniente será a razão de teu bem e de teu dano. Isto não quer dizer, porém, que tu possas confiar nela nem crer evitar sua dura mordida seus duros golpes, impetuosos e maus. Porque, enquanto tu és girado pelas costas, pela roda, agora feliz e boa, 239 240 Machiavelli, N., Cadernos de Éca e Filosofia Políca 18, 1/2011, pp.231-247 la suol cangiar le volte a mezzo il corso; e, non potendo tu cangiar persona né lasciar l’ordin di che ‘l ciel ti dota nel mezzo del cammin la t’abbandona. Però, se questo si comprende e nota, sarebbe un sempre felice e beato, che potessi saltar di rota in rota; ma perché poter questo ci è negato per occulta virtù che ci governa, si muta col suo corso il nostro stato. Non è nel mondo cosa alcuna eterna: Fortuna vuol così, che se n’abbella, acciò che ‘l suo poter più si discerna. Però si vuol lei prender per sua stella e quanto a noi è possibile, ogni ora accomodarsi al variar di quella. Tutto quel regno suo, dentro e di fuora istoriato si vede e dipinto di que’ trionfi de’ qua’ più s’onora. Nel primo loco, colorato e tinto, si vede come già sotto l’Egitto il mondo stette subiugato e vinto: e come lungamente il tenne vitto con lunga pace, e come quivi fue ciò ch’è di bel ne la natura scritto; veggonsi poi gli Assirii ascender sue ad alto scettro, quand’ella non volse che quel d’Egitto dominassi piue; poi, come a’ Medi lieta si rivolse; da’ Medi a’ Persi: e de’ Greci la chioma ornò di quello onor ch’a’ Persi tolse. Di Fortuna e Dell´Occasione - Tradução de Patrícia Fontoura Aranovich ela costuma mudar os giros no meio do curso; e, não podendo tu mudar de pessoa nem abandonar a ordem da qual o céu te dota, no meio do caminho ela te abandona. Porém, se isto se compreende e nota, seria sempre feliz e beato, quem pudesse saltar de roda em roda. Mas, porque este poder nos é negado pela oculta virtù que nos governa, muda, com seu curso, o nosso estado. Neste mundo, nenhuma coisa é eterna: a fortuna o quer assim, disso ela se embeleza, a fim de que seu poder mais se distinga. Mas se quer ser conforme sua estrela quanto a nós, é possível, a cada hora, acomodar-se ao variar daquela. Todo seu reino, dentro e fora, ilustrado se vê, e pintado, com os triunfos dos quais mais se honra. Em primeiro lugar, colorido e pintado, se vê como já sob o Egito o mundo esteve subjugado e vencido: e como longamente ele venceu, com duradoura paz, e como então o que é belo na natureza se escreveu. Se vêem depois os Assírios ascenderem ao domínio supremo, quando ela não quis que o Egito dominasse mais; depois, como aos Medas se volta alegre, dos Medas aos Persas: e a cabeleira dos Gregos ornou com aquela honra que tirou dos Persas. 241 242 Machiavelli, N., Cadernos de Éca e Filosofia Políca 18, 1/2011, pp.231-247 Quivi si vede Menfi e Tebe doma, Babilon, Troia e Cartagin con quelle, Ierusalem, Atene, Sparta e Roma. Quivi si mostran quanto furon belle alte, ricche, potenti e come al fine fortuna a’ lor nimici in preda dielle. Quivi si veggon l’opre alte e divine de l’imperio roman, poi, come tutto il mondo infranse con le sue rovine. Come un torrente rapido, ch’al tutto superbo è fatto, ogni cosa fracassa, dovunque aggiugne il suo corso per tutto; e questa parte accresce e quella abbassa, varia le ripe, varia il letto e ‘l fondo e fa tremar la terra donde passa; così Fortuna, col suo furibondo impeto, molte volte or qui or quivi va tramutando le cose del mondo. Se poi con gli occhi tuoi più oltre arrivi, Cesare e Alessandro in una faccia vedi fra que’ che fur felici vivi. Da questo esempio, quanto a costei piaccia, quanto grato le sia, si vede scorto, chi l’urta, chi la pigne o chi la caccia. Pur nondimanco al desiato porto l’un non pervenne, e l’altro, di ferite pieno, fu a l’ombra del nimico morto. Appresso questi son genti infinite, che per cadere in terra maggior botto, son con costei altissimo salite. Con questi iace preso, morto e rotto Di Fortuna e Dell´Occasione - Tradução de Patrícia Fontoura Aranovich Aqui se vê Mênfis e Tebas domados, Babilônia, Tróia e Cartago com aquelas, Jerusalém, Atenas, Esparta e Roma. Aqui se mostram como foram belas, altas, ricas, potentes, e como, no fim, a fortuna lhes deu como presa a seus inimigos. Aqui se vêem as obras altas e divinas do Império Romano; depois, como todo o mundo se despedaçou com suas ruínas. Como uma torrente rápida, que tão soberba se tornou, cada coisa se despedaça e em qualquer lugar é alcançada por seu curso e esta parte cresce e aquela abaixa, variam as margens, varia o leito e o fundo, e faz tremer a terra por onde passa; assim a Fortuna, com seu furibundo ímpeto, muitas vezes, aqui ou ali vai transmutando as coisas do mundo. Se, depois, com teus olhos, puderes chegar bem longe, César e Alexandre, em uma face, vês entre os que foram felizes na vida. Por esse exemplo se vê com clareza quanto a esta apraz, quão agradável lhe seja, quem a bate, quem a empurra ou quem a caça. Mesmo assim, ao desejado porto um não chegou, e o outro cheio de feridas foi à sombra do inimigo morto. Em seguida, estas são gentes infinitas que para cair na terra com tão grande impacto devem ter subido com ela muito alto Com estes jaz, preso, morto e roto. 243 244 Machiavelli, N., Cadernos de Éca e Filosofia Políca 18, 1/2011, pp.231-247 Ciro e Pompeio, poi che ciascheduno fu da Fortuna infin al ciel condotto. Avresti tu mai visto in loco alcuno come una aquila irata si trasporta, cacciata da la fame e dal digiuno? E come una testudine alto porta acciò che ‘l colpo del cader la ‘nfranga, e pasca sé di quella carne morta? Così Fortuna, non, ch’ivi rimanga, porta uno in alto, ma che, ruinando, lei se ne goda e lui cadendo pianga. Ancor si vien dopo costor mirando come d’infimo stato alto si saglia, e come ci si viva variando. Dove si vede come la travaglia e Tullio e Mario, e li splendidi corni più volte di lor gloria or cresce, or taglia. Vedesi alfin che tra’ passati giorni pochi sono e’ felici; e que’ son morti prima che la lor ruota indrieto torni, o che voltando al basso ne li porti. Di Fortuna e Dell´Occasione - Tradução de Patrícia Fontoura Aranovich Ciro e Pompeu, depois que cada um foi enfim pela Fortuna ao céu conduzido. Já vistes em algum lugar como uma águia irada se lança empurrada pela fome e pelo jejum? E como uma tartaruga leva para o alto a fim de que o golpe da queda a rompa e alimenta-se daquela carne morta? Assim a Fortuna, não para que ali fique, eleva-o alto, para que, arruinando, ela se divirta e ele, caindo, se lamente. Admirando os que vêm, depois vê-se como de ínfimo estado, alto se sobe e como ali se vive variando. Onde se vê como ela atormenta seja Túlio e Mário, e como tantas vezes os esplêndidos cornos de sua glória ora cresce ora corta. Vê-se, ao fim, que entre os dias que se passaram, poucos são os felizes; e os que são mortos antes que sua roda retorne ao início, ou que, voltando para baixo os leve. 245 246 Machiavelli, N., Cadernos de Éca e Filosofia Políca 18, 1/2011, pp.231-247 Di Fortuna e Dell´Occasione - Tradução de Patrícia Fontoura Aranovich DELL’OCCASIONE A FILIPPO DE’ NERLI DA OCASIÃO A FILIPPO DE’ NERLI - Chi se’ tu, che non par’ donna mortale, di tanta grazia el ciel t’adorna e dota? Perché non posi? e perché a’ piedi hai l’ale? - Io son l’Occasione, a pochi nota; e la cagion che sempre mi travagli, è perch’io tengo un piè sopra una rota. Volar non è ch’al mio correr s’agguagli; e però l’ali a’ piedi mi mantengo, acciò nel corso mio ciascuno abbagli. Li sparsi mia capei dinanti io tengo; con essi mi ricuopro il petto e ‘l volto, perch’un non mi conosca quando io vengo. Drieto dal capo ogni capel m’è tolto, onde invan s’affatica un, se gli avviene ch’i’ l’abbi trapassato, o s’i’ mi volto. - Dimmi: chi è colei che teco viene? - È Penitenzia; e però nota e intendi: chi non sa prender me, costei ritiene. E tu, mentre parlando il tempo spendi, occupato da molti pensier vani, già non t’avvedi, lasso! e non comprendi com’io ti son fuggita tra le mani. - Quem és tu, que não pareces mulher mortal, de tanta graça que o céu te adorna e dota? Por que não repousas? e por que em teus pés tens asas? - Sou a Ocasião, por poucos conhecida; e a razão pela qual sempre me agito, é que tenho um pé sobre uma roda. Voar não há que ao meu correr se iguale; mas as asas aos meus pés mantenho, para que minha corrida a todos iluda. Meus esparsos cabelos na frente os tenho; com eles recubro o peito e o rosto, para que não me reconheçam quando venho. Todo cabelo me foi tirado detrás da cabeça, por isso, em vão, alguém se afaina se lhe acontece que eu o tenha ultrapassado ou se me viro. - Diga-me: quem é aquela que contigo vem? - É a Penitência; por isso perceba e entenda: quem não sabe me apanhar, essa retém. E tu, enquanto gastas o tempo falando, ocupado com muitos pensamentos vãos, não te dás conta, infeliz! e não compreendes que te escapei de entre as mãos. 247